Capítulo 10
1870palavras
2023-04-13 18:15
Durante o restante da viagem, olhei a paisagem pela janela.
Sentindo o vento bater no meu rosto, tentei puxar conversa com minha loba, o que se mostrou inútil.
Sabia que, apesar de ela estar tão magoada quanto eu, o silêncio era sua maneira de lidar com a dor.
Ela precisava de tempo para processar suas emoções enquanto eu costumava encará-las de frente antes de reprimi-las no fundo da minha mente, se necessário.
Eu não só conhecia bem minha loba, como estávamos em perfeita sintonia. Após minha primeira transformação, dediquei um bom tempo para conhecê-la e deixá-la crescer e explorar o mundo no seu próprio ritmo.
Eu a recebi em minha vida para o que desse e viesse, assim como ela fez comigo, e isso nos tornava inimigas formidáveis para os nossos oponentes.
Mas ao perceber que ela queria ficar sozinha, deixei-a em paz e foquei em chegar na minha antiga casa.
Não tive que esperar muito até Matthews estacionar em frente ao complexo da alcateia de minha mãe antes que eu começasse a importuná-lo, querendo saber quanto tempo faltava para chegarmos.
Como de costume, ela e meus irmãos esperavam em frente à sua casa pela nossa chegada.
Os guardas do lado de fora sempre os avisavam quando alguém cruzava a fronteira, mesmo que a pessoa já tivesse ligado antes.
Após respirar profundamente, abri a porta e desci do carro.
Matthews fez o mesmo e cumprimentou minha família com um breve aceno de cabeça antes de sumir do nosso campo de visão, sem nem dar minha mãe a chance de convidá-lo para entrar.
Que lobo medroso! No entanto, eu não o culpava. Minha mãe tinha mesmo esse efeito sobre as pessoas.
Ao caminhar até ela, joguei-me em seus braços abertos. Minha mãe me conhecia como ninguém.
Ela sabia que não teria voltado tão cedo se não tivesse algo errado.
Meus irmãos me observaram seriamente antes de se virarem para entrar na casa enquanto eu e minha mãe os seguíamos.
Então, sentamos todos em seu escritório que era à prova de som. Afinal, não precisávamos de ninguém fazendo fofoca às custas da minha relação com meu companheiro. Minha família permaneceu em silêncio, esperando que eu contasse qual era o problema.
Depois de cinco minutos, finalmente quebrei o silêncio ao limpar a garganta.
"Meu companheiro tem uma amante", revelei friamente.
Ninguém reagiu em um primeiro momento até minha mãe se pronunciar em um tom severo.
"O que di*bos você quer dizer com isso?"
"Você me ouviu, mãe... Eu flagrei os dois conversando sobre não romper o relacionamento deles, mas o que me deixou mais perplexa foi descobrir que a mãe do Alfa River sabia de tudo.
"Sinceramente, acho que todo mundo em uma posição mais elevada lá dentro tinha conhecimento disso. Tenho certeza que ficaram zombando de mim pelas minhas costas... Eu sabia que estava tudo bom demais para ser verdade", admiti com raiva.
"E o que você vai fazer com essa amante dele?" Luke disparou, enojado.
"Nada", respondi suavemente.
"Como assim você não vai fazer nada?" Minha mãe gritou, furiosa.
"Não vou lutar por algo que nunca foi meu, mãe. Mesmo que ele seja meu companheiro diante da Deusa da lua e por ordem do destino, é outra pessoa que ele deseja.
"Se eu tentar forçar a barra para entrar em seu coração, tenho quase 100% de certeza que ele irá fingir que gosta de mim e não quero isso. Não vou obrigá-lo a ver meu valor, mas também não irei negligenciar meus deveres como luna.
"Devo lealdade à alcateia e não a ele. Entretanto, isso não significa que não irei expô-lo por sua estupidez. Eu vou ensiná-lo uma lição que ele jamais irá esquecer", respondi com a voz repleta de mágoa.
"Agora sim, irmãzinha. Então, qual é o plano?" Lucien indagou do seu jeito atrevido enquanto tentava trazer mais leveza para o clima tenso no escritório.
Luke riu das travessuras do irmão antes de se virar para olhar para a nossa mãe, que tinha um olhar severo no rosto.
Dava para sentir a raiva emanando dela.
Eles estavam lá quando ela ameaçou meu companheiro, que jurou para eles que jamais iria me machucar.
Mas aqui estavam eles comigo, sua irmãzinha, de volta em casa, com o coração partido em mil pedaços.
Eu podia parecer forte e indiferente, mas eles me conheciam bem o suficiente para saber que meu coração já normalmente frio estava tão gelado quanto um iceberg na Antártica agora.
Desde criança, eu era fria e desapegada emocionalmente do mundo até que eu me transformei pela primeira vez e passei a entender algumas emoções que os demais humanos estavam acostumados a lidar todos os dias.
Pouco a pouco, com a ajuda da minha loba, aprendi a desenvolver mais meus sentimentos apenas para ter um punhal cravado nas minhas costas pelo meu companheiro. Sabia que meus irmãos temiam o que poderia acontecer comigo depois de ser traída assim.
Luke estava perdido em pensamentos até que meu tom severo o trouxe de volta à realidade.
"Foi por isso que vim hoje, Lucien. Ainda estou pensando no que fazer, mas até me decidir, queria pedir à mamãe para ligar para o amigo do papai, Hefesto, o deus das habitações, dos móveis, das armas e do fogo.
"Tem algumas coisas que tenho em mente que gostaria de discutir com ele", expliquei antes de começar a detalhar meu plano.
"Ai, isso é bem pesado, mana." Lucien riu quando terminei de falar.
"Bom, esse é o menor dos problemas dele. Eu vou acabar com o psicológico do meu companheiro e atormentá-lo pelo restante de seus dias. Farei da vida dele um inferno até que ele entenda que mexeu com a v*dia errada."
"Caramba! Eu tinha quase me esquecido que você era a mais psicopata entre nós três", Luke brincou.
Antes que pudesse respondê-lo, minha mãe questionou com uma voz grave: "E como fica a cerimônia para selar o vínculo de companheiros, o primeiro acasalamento e o acasalamento da lua cheia?"
"Bom, acho que o destino está do meu lado ou talvez papai tenha dado um empurrãozinho nele porque faremos a cerimônia amanhã e a lua cheia é no dia seguinte. Até lá, Hefesto terá feito tudo o que preciso, então, a verdadeira diversão vai começar."
"E quanto aos seus filhos? Você sabe o que a lua cheia faz com as mulheres da nossa família. É provável que você conceba neste mesmo dia, querida", avisou minha mãe.
"Eu sei, mas isso não muda nada. Essa criança será sangue do meu sangue, assim como do meu companheiro. Não irei negar ao meu filho ou filha o direito de conhecer o pai. Da mesma forma que não estou negando minha responsabilidade como luna."
"Parece que você já tem tudo planejado e eu não poderia estar mais orgulhosa. Neste caso, vou apenas me sentar e observar sem intervir porque se eu o fizer, irei matar alguém. Vou deixar que faça como quiser, mas se precisar de ajuda, não hesite em pedir a mim e a seus irmãos, tá?"
"Tá, mãe", respondi com um leve sorriso no rosto.
Depois de colocar alguns assuntos em dia, chegou a hora de ir embora.
Então, dei um abraço em cada um dos membros da minha família e deixei a casa acompanhada dos meus irmãos enquanto minha mãe ficou para trás para tentar falar com Hefesto.
Caminhamos os três em silêncio até chegarmos ao complexo, onde Matthews se encontrava parado ao lado de seu carro, segurando uma mulher que esmurrava seu peito, enfurecida.
Apertando o passo, aproximei-me deles e perguntei o que estava acontecendo.
"Esse palhaço quer me levar contra a minha vontade", reclamou a mulher.
"Matthews, por que está fazendo isso? Deixe-a ir", ordenei.
"Sinto muito, mas ela é minha companheira e não posso deixá-la fugir de mim", respondeu ele, apreensivo.
"Ah... Sendo assim, posso garantir que ela não irá a lugar nenhum. Então, por favor, solte-a e deixe que eu fale com ela", exigi da forma mais delicada que consegui.
Com grande relutância, Matthews afrouxou seu aperto sobre sua companheira e a virou de frente para mim. Não pude deixar de suspirar, surpresa.
"Kiara! Quando foi que você voltou?" Perguntei a jovem diante de mim, que tinha um olhar tão surpreso quanto o meu no rosto.
"Quando foi que eu voltei? Ah, vá a m*rda! Você fica três anos sem me ver e me pergunta isso? Venha cá e dê um abraço na sua v*dia favorita!" Kiara me repreendeu antes de dar um passo à frente e puxar para um abraço saudoso.
Nós nos abraçamos por alguns minutos até nos separarmos.
Não pude evitar soltar uma risada quando notei que Matthews vigiava cada movimento de Kiara. Era difícil dizer se ele sequer piscava.
Ao me virar para minha amiga, sorri presunçosamente.
"Então, você finalmente encontrou seu companheiro!"
"E você finalmente se tornou luna!" Kiara respondeu com uma risada debochada.
Revirei os olhos diante do seu comportamento infantil.
Então, perguntei seriamente: "Afinal, você vai conosco ou irá rejeitá-lo?"
"Mas que droga, Chaos! É claro que não. Ele pode ser um idiota irritante, mas só é possível ter um companheiro nesta vida e não vou desperdiçar minha chance. Você sabe que odeio viver com arrependimentos.
"Então, prefiro tentar. Mesmo que não dê certo depois, eu ficarei com a consciência tranquila de que fiz tudo ao meu alcance", respondeu Kiara, resoluta.
"Você sabe que vou fazer de tudo para que a gente dê certo. Não existe a menor possibilidade de eu deixá-la ir embora", Matthew nos interrompeu com uma voz grave e rouca, indicando que seu lobo estava na superfície.
Pude ver minha amiga estremecer e até corar quando ouviu isso. Matthews riu com entusiasmo ao notar a reação dela.
Parada ao lado deles, observei a cena inteira em silêncio.
Senti como se uma faca tivesse sido cravada em meu peito ao me lembrar que meu companheiro ainda queria outra mulher, mesmo após me encontrar.
Eu nunca saberia o que era ser amada e abraçada por ele.
Travei meu maxilar ao ouvir Havoc uivando de dor. Embora tivéssemos sido ambas traídas, o golpe foi mais duro nela.
Por mais que ela fosse uma das lobas mais perigosas do mundo, ela não hesitou em entregar seu coração ao nosso companheiro.
Ela sempre sonhou em encontrá-lo e poder viver feliz para sempre com ele, mesmo sabendo que a vida não era como um conto de fadas.
Ainda assim, ela se permitiu ter esperanças, algo que eu desejava poder voltar no tempo para impedi-la quando começou a alimentar esse sentimento.
Não podia deixar de me sentir culpada pelo quanto minha loba estava sofrendo e queria poder fazer para ajudá-la.
Na verdade, eu nem ligava para a minha própria dor, pois já havia a reprimido o máximo que podia, mas Havoc não conseguia fazer o mesmo e isso fazia meu sangue ferver de ódio.
De repente, senti Kiara me sacudir com um olhar preocupado no rosto, o que me vez voltar ao momento presente.
"O quê?" Perguntei, confusa.
"Você estava fazendo aquela cara que sempre faz quando sua cabeça está longe. O que aconteceu?" Ela quis saber.
"Vou te contar quanto estivermos longe daqui. Agora, vá pegar suas malas para podermos ir. Prometo esclarecer tudo assim que pegarmos a estrada."