CAPÍTULO 66
Luana Davis (quatro meses depois)
Está fazendo quatro meses que eu comecei uma nova vida aqui em Washington. Estou morando numa casa com Louis, mas ainda continuamos sendo apenas amigos. Eu não entendo como as coisas funcionam, não sou nenhuma especialista em relacionamento, já errei muito, e não sei se é cedo pra dizer, mas eu não consigo ver o Louis como homem, talvez eu esteja condenada a amar o homem errado para sempre, pois não pretendo voltar atrás, e o Igor precisa ser apagado da minha história...
Comecei o curso de escultura, e logo na segunda semana me surpreendi com uma proposta de emprego em uma galeria de arte.
O Louis continua no seu mesmo emprego. Eu acredito, que eu tenha tido muita sorte em conseguir um na nossa área, e em tempo recorde, logo que cheguei, fui muito bem recebida, e em todos os lugares que pisei.
Até teve quem tentou começar a me pressionar, mas eu já não sou a mesma boba... afinal de contas mudar de local para viver, ajudou muito a recuperar a minha auto estima.
Hoje eu já consigo voltar a sorrir, e a viver algumas coisas. Embora isso também seja reflexo da grande ajuda de uma amiga que fiz antes de vir para cá, em uma das consultas de retorno em Nova York.
Flash back onn...
— Eu ouvi, o que a sua mãe disse! Me desculpe a franqueza, mas... você não deveria permitir que mais ninguém fale daquele jeito com você! Eu Aprendi muita coisa nessa vida, e a mais importante eu guardei para mim, ninguém mais me humilharia! Não deixe que as pessoas falem assim com você nunca mais! Aprenda a ser cada dia mais forte, coloque barreiras e ultrapasse-as, coloque objetivos, e vença-os! As pessoas se aproveitam de pessoas aparentemente fracas, então seja forte! Eu sei que você consegue! — falou ela, me deixando impressionada, nunca vi alguém tão observadora.
— A minha vida sempre foi assim.. sempre me humilharam e pisaram em mim, eu sempre tive essa dificuldade enorme em me defender e colocar tais pessoas em seu lugar! Mas, confesso que gostaria muito de aprender, já estou cansada disso tudo!
— Você precisa começar isso dentro de você! A cada um que se aproximar com má intenção, coloque no seu lugar, não deixe crescer sobre você, nas primeiras vezes vai ser difícil, mas logo você perceberá que você consegue, e então a cada novo obstáculo, será apenas mais um, e você logo vencerá a todos.
— No trabalho é muito pior sempre acontece do mesmo jeito, e todos acabam rindo e zombando de mim! Não sei qual é o meu problema...
— Seja diferente! Não deixe que se apoderem de você! E quem rir você dá uns petelecos, aposto que é forte, não estou vendo nenhum bracinho fino aí! Se quiser posso te ensinar uns golpes, aprendi vários!
— Sério? Mas você bate em quem se mete contigo? — perguntei.
— Sim! Mas não esqueça o principal... que é o seu posicionamento, se eles disserem que não, que você não conseguirá... diga na mesma hora que consegue, demonstre firmeza e empoderamento, mesmo que eles não estejam andando com você. E depois faça tudo que puder e não puder para conseguir, para eles entenderem que o que você promete, você cumpre. E se algum idiota vier rir, zombar e querer bater boca, você o ameaça... e depois te ensino os golpes que dará quando encontrar com eles na esquina, não precisa nem de duas surras e já estarão todos com um pé atrás, com você.
— Puxa! Pelo jeito você treinou bem não é? Acho que vou querer aprender sim, já estou farta de decidirem por mim. E essa bebezinha linda aí, como se chama? — perguntei olhando para aquela fofurinha que nasceu ontem.
— Emily! Ela é a nossa princesinha... não é Matthew? A propósito... me chamo Beatriz Parker! Vou te deixar o meu número, me liga depois para treinarmos um pouquinho! — disse simpática, e o pai do bebê logo comentou.
— Vai com calma aí, feiticeira! Essa pérolazinha acabou de nascer, e foi tão apressada que nasceu no carro, então ensinar as suas coisinhas agora, não é uma boa ideia! — Falou ele todo amoroso, e achei engraçado o apelido, e o jeito dele... olhando de longe eu tive outra impressão, mas é um babão pela família, como sonhei com isso...
— Nem vem, Matt! Deixa que isso eu resolvo! — Olhou de um jeito, que eu até fiquei com medo, e ele ficou ainda mais com cara de apaixonado.
Flash back off..
— Louis! Estou saindo para o trabalho! Vou precisar ficar até mais tarde, estou com uma nova fase nas molduras que te falei! — comentei.
— Que ótimo! Mas, como conseguiu esse espaço? Dificilmente eles liberam já no começo, deve ter alguém interessado em você! — Falou ele, e as vezes me preocupo, ele deve estar apaixonado por mim.
— Louis... eu, ainda não estou pronta para te receber de forma diferente... sou uma mulher quebrada, Louis, não quero te ver preso a mim...
— Calma, querida! Eu sempre soube o meu lugar na sua vida! Mas, devo confessar que com a convivência, eu também não te vejo mais como eu via, é um pouco estranho... não quero te perder, mas também tenho um certo bloqueio, talvez seja por saber dos teus sentimentos, que são tão claros. — Falou, segurando no meu rosto.
— Eu sinto muito se estou te confundindo, a última coisa que quero é te ver magoado, você é muito especial pra mim! — Nos abraçamos.
— Eu sei! Fica tranquila! Agora vai, que vai chegar atrasada! — Falou.
Eu estou tirando a minha carta de condutora, espero logo comprar um carro, mas preciso que a minha vida artística melhore, e as minhas esculturas fiquem conhecidas, então estou me empenhando bastante.
No trabalho...
— Rebeca, o chefe quer falar com você! — Eu disse a outra artista que começou um pouco antes que eu.
— Ele falou o que queria? Estou com preguiça de ir lá, poderia ver pra mim? — Essa Rebeca é muito folgada.
— Eu não sou sua secretária, vá e veja você mesma! — Respondi a ela.
— Nossa! Você é bem direta, eu estava brincando! — Falou ela.
— É, eu aprendi a ser direta, evita transtornos! Com licença! — Deixei ela me olhando e não dei trela.
Esperei os quinze minutos que o chefe pediu, e então era a minha vez... ele avisou que queria falar comigo depois.
Duas batidas na porta, e ele me deixou entrar.
— Luana! Tem um investidor interessado na sua escultura... “amor eterno”, ele gostou da proposta, e disse que investiria, se puder concluir até o final de semana, ela poderá ser leiloada após a exposição na galeria dele, no sábado! Ele disse que já tem possíveis compradores para ela, se estiver interessada! — Quase caí de costas quando ouvi.
— Está falando sério? Mas, eu ainda nem concluí o curso! — Falei.
— Muito sério! Acho que deveria aceitar de olhos fechados! — Falou ele.
— Caramba! Vou correr contra o tempo, então!
— Ele deixou um contrato pra você, pode ler com calma, e depois assinar! — Ele falou, e eu estava radiante de alegria.
— Claro! — Comecei a ler. — Senhor Nilton Torres? Parece nome brasileiro...
— Eu não o conheço pessoalmente! Mas, o seu advogado é ótimo, pode confiar! — Falou.
— Obrigada! Ainda nem acredito que estou tendo esta oportunidade! — Falei.
— Você é muito talentosa! Já avisei a Rebeca que cuidará das obras do evento, quero você investindo na exposição! Se tudo der certo, você pode dar um salto na sua vida financeira! — Falou empolgado, enquanto eu avaliava e assinava tudo.
Saí de lá, muito animada, e fui direto trabalhar na obra apresentada, que chamou a atenção dos investidores.
— Ué? Não vai mais ajudar no evento? Me falaram que ficaria até mais tarde, cuidando disto! — Falou a Júlia.
— Não... O chefe pediu outra obra, vou trabalhar nela, agora! — Falei.
— O que anda fazendo pra ele, que mal chegou e já foi promovida? — Zombou.
— Provavelmente, o oposto de você! Não passo mais de uma hora trancada na sala dele! Deveria tomar cuidado, quando entrar não esqueça de trancar a porta! — Pisquei pra ela, que abaixou a cabeça, e ficou vermelha na mesma hora.
Trabalhei por vários dias naquilo, coloquei todas as técnicas que aprendi, e quando consegui desenvolver, só tive um dia para descansar para a exposição, então resolvi aceitar o pedido do Louis para jantar, havia um lugar que ele já havia comentado a bastante tempo, e eu enfim, consegui um tempinho para ir.
Mudei todo o meu estilo de roupas, não uso mais as minhas antigas, achei que pareciam muito floridas, e sem estilo, e já as que eu usava como senhora Smith, ficava como uma velha, então criei o meu próprio estilo, e juntei as duas coisas, adaptando os trajes.
— Você está linda! Acho que estou com ciúmes! — Falou o Louis.
— Você sabe que não precisa, né? — Falei, e ele sorriu.
— Você não pensa em ficar solteira pra sempre, né? — perguntou, olhando nos meus olhos, colocando a sua mão sobre a minha, e eu fiquei encabulada com a pergunta.
— Ainda não decidi sobre isso.
— Eu não esqueci do seu sonho! Lute por ele! Quem sabe não encontra o seu príncipe encantado? A Cinderela não esperava e encontrou! — ele falou.
— Quem sabe? — falei, mas a minha mente traiçoeira me lembrou o Igor, e na mesma hora tive a impressão de que ele estava ali, me observando, mas olhei para os lados e vi que eu estava alucinando, então voltei a dar atenção para o Louis, preciso me lembrar que contos de fadas não existem!