Capítulo 65
1578palavras
2023-03-31 19:11
CAPÍTULO 65
Igor Smith
Eu só consegui me levantar daquele gramado, quando senti duas mãos nas minhas costas, alguém me puxou e me abraçou com força.
— Meu neto! O que aconteceu, meu querido? Eu não acredito! Eu sabia que aquela bailarina dos infernos não prestava, até agora não me conformei da Edineide não me esperar! Eu iria acabar com a raça dela! — A minha avó falou, mas eu não sei se ouvi direito... levantei a minha cabeça devagar, a olhando.
— Do que está falando, vovó? Como assim? — Eu não queria ouvir o que ela falaria, se fosse o que eu estava pensando, era decepção demais pra mim...
— Eu acabei com a raça dela, dona Olga! Eu juro! Ela nunca mais vai ter a pele do rosto lisa, porque bonita nunca foi! — Fez o sinal da cruz. — Mas, ela foi presa, e lá não é nada bom! Eu vi muito bem que foi ela quem empurrou a minha menina de propósito, pensando bem, devia ter esfolado a cara dela no asfalto! — A Edineide não parava de falar, e era examente o que eu imaginei.
— Não posso acreditar nisso! Quantos pecados eu cometi? Hein, vó? Eu a amei, e só sofri, que amor era esse? — Chorei.
— Não era, meu filho! Nunca existiu! Você colocou na cabeça que seria ela, e só! Mas, se acalma! Agora a gente precisa pensar com cautela! Eu vou até a delegacia com a Edineide garantir que ela fique por muito tempo lá, e você cuida da sua esposa! — Ela falou.
— Que esposa, vó? Acabou! Ela nunca vai me perdoar! Foi tudo culpa minha, a Elisa ter feito isso é culpa minha, ela estar desamparada, desprotegida, foi tudo, culpa minha! Deveria ter deixado tudo como estava, porque fui mexer? E, agora vou piorar as coisas, serei obrigado a assinar aquele termo! Vou ter que aceitar salvarem a vida dela, mas eu a amo, sou um puta egoísta, e vou salvar ela! Nunca deixaria que ela morresse, embora a dor de perder o meu filho seja insuportável! — Falei chorando.
— Você está certo, filho! Salve a minha neta! Eu já me apeguei tanto a ela, que vai ser difícil se ela decidir ir embora! Mas, ainda tenho esperanças de que ela te ame muito, e te perdoe logo! Posso te dar umas dicas se agora quiser me ouvir! — Falou ela, me abraçando, e até a Edineide que também chorava me abraçou.
— Obrigada, Edineide! Estou te devendo uma bem grande! Não deixou a Elisa fugir! — Falei.
— E, eu vou cobrar! Quero que cuide muito bem da minha menina! — Falou.
Todos os minutos já haviam passado, e eu não tinha visto a Luana, aquilo era doloroso demais, mas eu sabia que eu precisava vê-la, então quando me aproximei da sala em que ela estava, já estavam a levando para a sala de cirurgia...
Quase morri por dentro ao ver o desespero estampado no seu olhar, mas entrei. E, antes que eu conseguisse fazer qualquer coisa, coloquei a mão sobre o rosto dela, acariciando, e aqueles olhos suplicantes me quebraram outra vez...
— Por favor, não machuque meu bebê! Por favor! Não assine. Tudo bem se você não gosta de mim... tá? Por favor, não machuque meu bebê. Por favor, não assine. Não...". — ela chorava cada vez mais.
— Não posso te perder, Luana! Não consigo, eu sinto muito... — Eu já não sabia quem de nós chorava mais.
Ela apertou a minha mão, e implorou.
— Por favor! Pense em Souvenir! Por favor,
não faça isso! Por favor! Eu me lembro que você tem um coração bom! Eu faço tudo o que você quiser, vou embora com ele, não precisará mais me ver... — Eu estava em agonia ouvindo tudo aquilo, era doloroso demais.
— Senhor Smith, precisamos da sua assinatura, a sua esposa corre risco! — O médico falou atrás de mim, e Luana começou a gritar.
— NÃO FAÇAM ISSO! CADÊ O MEU MÉDICO? ELE SABERÁ O QUE FAZER, NÃO MATEM O MEU BEBÊ! — Eu não pude mais...
Fiquei de costas pra ela, com o corpo coberto em lágrimas, e segurei a prancheta do médico. Ele percebeu como eu tremia demais, e apoiou com as mãos dele, para que eu assinasse, enquanto ouvia os gritos mais tristes da minha vida.
"Eu concordo em salvar Luana Smith, e não o bebê."
— Estava no corpo do documento.
— Não assine! Não! — a Luana chorou, e segurei novamente em suas mãos, que eram lavadas por minhas lágrimas.
— Me perdoa! Me perdoa!
O médico guardou o documento, enquanto empurraram a maca para a sala de cirurgia. Nossas mãos foram separadas. E então a porta se fechou, e eu fiquei com o corpo estranho, e logo percebi que não ouvi mais nada.
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Luana Davis
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Não acredito que tiraram o meu bebê de mim! Me senti vazia quando saí daquela sala, e mal ouvia o que me diziam.
Vi todos entrarem, um por vez, mas não conseguia falar, nem responder ninguém, parecia uma porta, sem vida!
A minha mãe, o Louis, a dona Olga, Igor, a madre... Vi todos eles, mas preferi me calar, a dor era imensa, e eu queria poder gritar muito, mas no hospital eu não podia.
— Senhora Smith! A senhora está de alta! Tem dois homens brigando na portaria para ver quem a levará para casa, o seu marido, e um jovem chamado Louis...
— Louis! Eu não tenho mais marido! Eu assinei um acordo de divórcio... quando o bebê nascesse eu estaria divorciada, então...
— Tudo bem, senhora! Vou pedir para subir, então!
Me levaram na cadeira de rodas, e o Louis não disse nada, e nem eu.
Vi o Igor de longe, parecia chorar, deve ser remorso, por ter assinado aquilo, mas o ignorei, enquanto o Louis vinha me ajudando com a cadeira, e me levou no colo até o seu carro.
Sinto que algo mudou em mim! Acho que estou mais forte, mas também mais triste...
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Duas semanas depois
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— Tem certeza que vai embora comigo? — Louis pergunta mais uma vez.
— Claro! A gente já ia, lembra? Já avisei a minha mãe! — Respondi.
— E, o seu divórcio? Como ficou?
— Eu já havia assinado, então não tem problema! Como o bebê já não está na barriga, eu não sou mais casada! — Falei.
— Certo! Vou pegar as malas!
O meu celular tocou...
— Não vai atender? Sabe que ele nunca vai parar, não sabe? — Falou ele.
— Uma hora ele vai! Pedi para a dona Olga, e a Edineide não contarem que eu estou indo embora! Ela já sabe muito bem quais são os meus argumentos, eu já falei mais de mil vezes que não vou perdoá-lo, principalmente por saber que foi mesmo a Elisa quem me empurrou... a Edineide disse que ele não teve culpa, mas eu não confio nele e acho que não vou confiar nunca mais.
Desde que saí do hospital, estou morando no apartamento do Louis aqui em Nova York. Mas a gente está indo embora daqui, e vamos morar em Washington vamos começar aquele curso de esculturas que eu já queria ter ido, e eu vou arrumar um bom emprego lá, pois o Louis já conseguiu transferência do seu emprego daqui para lá, então será tudo simples.
Sou grata a Deus por me trazer o Louis! Ele tem sido um grande amigo para mim, e temos nos dado muito bem, embora ele venha sendo muito paciente, e nunca tentou uma aproximação. Ele sabe o quanto estou sofrendo, e estou em um momento da minha vida que não sei nem direito para qual caminho seguir. Então por enquanto é assim que ficaremos. Eu já tentei conversar com ele sobre isso, mas ele sempre diz que eu não preciso dizer nada, e que ele entende muito bem a situação pela qual estou passando. Espero um dia conseguir retribuir tudo isso que ele fez por mim... E quem sabe não abrir o meu coração para ele.
Depois que saí do hospital, recebi muitas ligações do Igor, algumas mensagens, nada muito íntimo, ele sempre perguntando onde estou, e como estou... mas eu ignoro todas. Não acho que seja o melhor momento para conversar com ele.
A Dona Olga tem me explicado que não foi escolha dele pedir para que salvasse a mim e não o bebê, pois se eu morresse, ele perderia os dois.
Eu não quis contar nada para ela sobre o documento de aborto. Eu acho que ela não aguentaria saber que o próprio neto já queria fazer isso antes, então eu apenas concordei com o que ela falou e deixei passar, mas não posso e não devo perdoar o Igor por isso, então a partir de agora, provavelmente nem nos veremos mais, e ainda penso em trocar de chip quando chegar lá em Washington, não quero nenhum vestígio deles na minha vida, quero recomeçar em algum lugar diferente, pessoas diferentes... não deixarei ninguém pisar em mim, e isso é um fato!
E, embora dona Olga tenha tentado de todo jeito, me entregar dinheiro, eu não aceitei! Não acho que ela seja responsável por mim ou Igor agora por mais que exista esse documento de divórcio rolando, eu sempre deixei bem claro que não queria nada dele, e agora que não tenho mais o meu filho... muito menos!