Família Forth
—Por favor! me dê dois desses espetos!
A mãe de Cateline pede um pouco de carne para elas comerem, era uma das coisas mais caras que se podia comprar, afinal de contas, era necessário criar ou caçar para obter, ambas coisas complicadas ,principalmente para uma família apenas de mulheres.
Elas criavam vacas, mas não tinham experiência com abate, geralmente pediam para o vizinho o fazer uma a duas vezes no ano, assim davam parte da carne a ele e guardavam o resto, salgando ou cozinhando deixando na banha para preservar e não perder, carne fresca era algo raro de comerem.
—Mãe! e muito caro…. não podemos gastar assim…
Cateline chama a atenção da mãe, que dá uma gargalhada.
—Filha… são apenas dois espetos! e você precisa comer.
Ela fala olhando para a barriga de Cateline, que entende o recado, porém ela ainda se sente mal por comer algo daquele valor.
Lucinda havia sumido entre as tendas, Milenna acha melhor deixar pra lá por enquanto, ela sabia que deveria voltar para a estalagem então uma hora ou outra sua filha estaria lá.
Depois de comer e tomar um pouco de água, elas se preparam para voltar, compraram apenas o básico pois não sabiam se seria menino ou menina, tudo seria costurado com cor neutra.
Antes de partir, Milenna pede mais dois espetos para levar para seus outros dois filhos, ela sempre pensava neles, independente de onde estivessem.
Alguns minutos depois, elas chegam à estalagem de dona Ellen, Lucinda parecia não ter chegado ainda pois sua carroça e cavalo não estavam ali.
Elas param no estábulo soltando os cavalos e logo se dirigem para dentro.
—Mamãe!
Martin já estava acordado ajudando dona Ellen e assim que vê sua mãe e irmã entrando pela porta corre em direção a elas dando um forte abraço em sua mãe.
—Como foi o dia com a tia Ellen?
Milenna pergunta para seu filho que parecia mais interessado no pacote com os espetos.
Ela o entrega, e em minutos ele o devora.
—Esse garoto é fogo! não sei de onde ele tira tanta energia…
Ellen chega cansada, estava na cozinha preparando os pratos dos clientes que esperavam o almoço .
Martin a ajudava, ou pelo menos tentava.
—Desculpe por deixá-lo aqui.. mas não dá para ir com ele até lá, é muito perigoso..
Milenna se desculpa pela bagunça causada por seu filho, ele tinha apenas 10 anos e estava na idade de brincar e aprender coisas novas, não tinham crianças ali na cidade para que ele pudesse ficar junto, pelo menos não da idade dele, talvez ele fosse um dos, se não o mais novo dali, a última criança que nascera em Springdale.
Milenna temia por ele, ela tinha medo de alguém o roubar, haviam muitos ricos e nobres, desesperados por um herdeiro, já chegaram a lhe oferecer dinheiro por seu filho e ela negava, todas as vezes.
—Obrigada por cuidar dele…
Milenna agradece, Ellen era uma das únicas pessoas em que ela confiava seus filhos.
—Não precisa agradecer, eu adoro cuidar dele… já havia esquecido como é bom ter crianças por perto, sou eu quem tenho que agradecer..
Ellen responde com um enorme sorriso em seu rosto, ela era uma pessoa muito doce.
Milenna se lembra do curandeiro, e logo conta a Ellen sobre Cateline, ela sabia que poderia dividir esse segredo .
—Tenho algo pra lhe contar, precisarei de sua ajuda… agora mais que nunca…
Ellen olha espantada, sem entender, mas logo a responde.
—Aconteceu algo? Você sabe que pode contar comigo…
Ellen se aproxima, colocando a mão no ombro de Milenna, que sorri vendo que ela nunca mudara seu jeito meigo.
—Primeiramente, preciso dizer que Cateline está a procura de um homem, ele se chama Felix e é um estrangeiro, ela não me disse muitos detalhes, mas é importante que se o ver por aqui, nos informe.. ela o conheceu em sua estalagem no dia do festival.
Milenna fala sobre o homem e Ellen olha confusa para Cateline, que está longe brincando com seu irmão sem perceber que as duas conversavam.
—Certo… ficarei de olho..
Ellen respondeu assentindo, ela iria ajudar na busca pelo homem misterioso.
—Preciso que mantenha isso em segredo, é algo muito importante…
Milenna fala com um olhar sugestivo e Ellen então entende rapidamente.
—Ah ! Sim..Sim….. claro, eu guardarei segredo!
Ela diz sorrindo ao ver que a garota que vira crescer já era uma mulher adulta.
—E agora, a parte mais importante..
Milenna abre um sorriso de orelha a orelha antes de falar, e Ellen arregala os olhos, sem saber do que se tratava, ela pensava que “Aquilo” já era o assunto importante, não conseguia pensar em mais nada que pudesse vir após.
Milenna se aproxima do rosto de Ellen, falando a seu ouvido, e de repente um grito sai entre elas, como um susto, fazendo com que todos ali dirigissem seus olhares para elas.
O rosto da dona da estalagem estava branco de surpresa, como se ela visse um fantasma.
Rapidamente Ellen agarra o braço de Milenna que ria sem parar a arrastando para a cozinha.
—Oque?! sério? Vocês fizeram o teste? tem mesmo certeza?
Ela estava eufórica, nem mesmo as expressões em seu rosto conseguiam acompanhar as suas emoções.
—Sim!... o curandeiro está vindo para cá.. ele fez o teste 3 vezes a alguns dias.
Ellen congela, ela não acreditava no que ouvira, era mesmo real? um bebê? Será que as coisas estavam mudando, voltando ao normal como antes? ou será que era só mais um caso raro.. de qualquer forma aquilo era bom demais, ela sentia uma imensa felicidade, como se Cateline fosse sua filha, ela sempre a tratou como se fosse, após o falecimento do esposo de Milenna, elas ficaram sozinhas, e ela sentiu mal por tudo aquilo, a guerra também havia tirado seu bem precioso, ela tinha um filho de 19 anos, que morreu junto ao marido de Milenna enquanto protegiam as cidades ao redor, isso deixaram elas muito próximas, fazendo com que se tornassem grandes amigas.
Ellen começa a chorar abraçando Milenna, que também não suporta segurar suas lágrimas de emoção, as duas então choram e sorriem de alegria.
—Parabéns! você não sabe como fiquei feliz com essa notícia, Deus está nos abençoando depois de tudo… tenho orado tanto para que essa guerra acabe logo..
Ellen fala se virando, pegando um tecido para secar seu rosto.
—Obrigada… também tenho orado muito…
As duas secam seus rostos, e bebem um pouco de água.
—Pode ficar tranquila que guardarei esse segredo com minha vida! Você sabe que pode contar comigo para tudo que precisar, sempre estarei aqui..
Milenna abraça Ellen novamente a agradecendo.
—Obrigada! de verdade!
As duas terminam de falar na cozinha e Ellen pega um prato com batatas que estava assando para o almoço ela as leva até uma das mesas, entregando para Cateline.
—Coma querida! irei fazer um suco para você, trago já.
Cateline percebeu o rosto inchado e olhos vermelhos de Ellen e ao olhar para sua mãe, viu que ela estava da mesma forma, logo cai a ficha que sua mãe havia contado tudo a ela.
O rosto de Cateline fica vermelho de vergonha, fazendo com que a dona da estalagem sorria, aquilo não era nada demais, mas para Cateline que era uma garota jovem e pura, parecia ser algo muito vergonhoso, Ellen sai deixando Cateline com seu irmão Martin comendo as batatas.
Sua irmã Lucinda chega logo na hora, vendo Ellen dando as batatas para sua irmã, ela sabia que sua mãe iria contar para sua amiga sobre tudo, logo seu rosto fecha, ela estava com inveja de não ter sido ela a mulher que terá um filho, se fosse, seus planos iriam sair como planejado e a essa altura já estaria casada com Helton..
Ela anda até a mesa se sentando em frente à sua irmã tentando camuflar seus pensamentos com um sorriso de canto.
—Olá irmã.. como foi as compras..?
Cateline pergunta inocentemente com sua boca cheia de batatas.
—Olhe os modos Cate, não irá chamar atenção dos nobres assim! Preciso te ensinar como comer?
Lucinda fala com um tom grosso, quase confrontando sua irmã, que engoliu rapidamente oque está em sua boca, seu rosto fica tristonho na mesma hora.
—Desculpe..
Cateline fica cabisbaixa e continua a comer, agora com mais delicadeza.
Lucinda era mais velha que Cateline, então se achava no direito de corrigi-la desde sempre, sua mãe não gostava disso, mas nem sempre estava por perto para defender sua filha.