Capítulo 71
1117palavras
2023-04-07 06:31
Bianca ficou tão irritada com a situação de Gustavo, que se empenhou ainda mais no seu projeto. Primeiro, ela queria adotar duas crianças. Mas achou que seria egoísmo salvar apenas duas crianças para se sentir melhor em ter uma família maior.
Aí aumentou o projeto, pensando que poderia comprar uma casa grande e adotar muitas crianças. Mas descartou a idéia pensando que acabaria virando outro orfanato, pois não teria tempo de dar amor, carinho e educação pra essas crianças e teria que pagar várias pessoas para cuidar.
Enfim teve a ideia de um projeto perfeito. Demandava uma lista do governo, principalmente com os possíveis pais reprovados por não ter casa própria. Finalmente conseguiu essa autorização, e o projeto começaria a funcionar. Se afastou do escritório por duas semanas para acompanhar de perto a demanda. Contratou algumas pessoas e comprou um prédio de apartamentos. Conseguiu que duas assistentes sociais do governo trabalhassem com ela para dar segmento as adoções.

Se tudo desse certo, ao final desses 15 dias ela teria tirado 128 crianças dos orfanatos de São Paulo.
Bianca estava nervosa. Ela trabalhou no projeto sozinha. Desde a idealização, até a execução. Ela sabia que dar um apartamento para os novos pais, poderia ser visto como comprar uma família para as crianças. Mas foi o jeito que encontrou de adotar as crianças e poder cuidar delas, com amor e uma família. Com toda a educação e cuidados que pais com o objetivo de tirar uma criança de orfanatos pudesse dar, e só não o faziam por não ter condições de comprar uma casa.
Quando o projeto foi aprovado pelos órgãos competentes, ela pediu que não fosse divulgado. Não tinha a intenção de conseguir nenhum proveito próprio nisso, nem de atrair espertinhos que quisessem dar o golpe para ganhar um apartamento. A intenção era facilitar a ponte entre as famílias e as crianças sem lar.
Estava escolhendo a roupa que usaria no dia seguinte, para a primeira entrevista de pais quando escutou a batida na porta. Mandou entrar e uma Aisha sem jeito entrou de cabeça baixa.
- O que a senhorita aprontou?
- Eu? Nada. Senti saudades e vim te ver.

- Não me enrola. Você só quer saber de seu pai e de Lorenzo. Sempre que precisa de alguma coisa, procura eles. E está com cara de quem está aprontando. Desembucha logo.
- É que eu queria ter uma conversa de meninas...
- Ora, ora. Sua cínica. Então admite que só me procurou porque seus novos pais não podem resolver.
- Ah, Bianca. Me desculpe. Papai pediu pra evitar contato com você, disse que era melhor uma ruptura. Não entendi bem, mas acho que são sequelas do coma. Ele ficou meio lelé.

- Está bem, vamos conversar. Estarei sempre aqui pra você, Aisha. Do que você precisa?
- Pra começar, que você rasgue o contrato de tutoria dos pais do Paulo Henrique.
- Esse contrato perdeu a validade quando sua mãe obrigou que a justiça americana instituísse um tutor para você.
- Graças a Deus! - Aisha se mostrou bastante aliviada, e Bianca a questionou.
- Porque isso era tão importante?
- Por causa da cláusula de virgindade.
- Você e Paulo Henrique...
- Não. Ainda não. Primeiro queríamos ter certeza que os pais dele não vão ser presos lá. Depois, queria conversar com você antes. Você é o mais perto que tenho de uma mãe. Não posso fazer isso sem conversar com você.
- Me sinto honrada e privilegiada, Aisha. Mas acho você muito nova pra tomar uma decisão dessas. Por isso coloquei a cláusula até 18 anos. Eu mesma só perdi minha virgindade com 23 e ainda assim não acho que estava preparada.
- Você sabe que não tem a ver com idade não é?
- Eu sei, minha pequena. Não vou ficar aqui tentando te convencer. Só quero que você tenha muita certeza, porque himem rompido é igual copo quebrado: não tem mais conserto.
- Eu sei de tudo isso. Mas eu quero e já tenho data pra isso.
- Ora, ora. Como eu, você planejou até o dia que será. E você vai atacar ele e não dar chance de correr como fiz com seu pai, ou vocês conversaram a respeito?
- Conversamos. Na verdade, ataquei ele algumas vezes que correu, porque queria que fosse num lugar nosso, sem medo ou correria. Então chegamos ao consenso de que vou dormir na casa dele no dia que ele se mudar.
- Mas isso já é daqui a 15 dias. Qualquer método contraceptivo não dá tempo. Não pode ser sem preservativos, Aisha.
- Eu sei, já conversamos sobre isso. Até pensei em começar a tomar, mas com todas as pesquisas que fiz e os riscos de trombo e mais um monte de coisas, achei melhor me consultar com uma médica de verdade, não com a doutora internet.
- E fez muito bem. Um profissional vai fazer exames e saber que é melhor pra você. Então você está totalmente decidida a fazer isso?
- Sim, estou. Também vai ser a primeira vez dele, então acho que vai ser bacana a gente se descobrir juntos.
- Vejo que você pensou em tudo. Mas se esqueceu de um detalhe muito importante.
- Você vai me ajudar com todos os detalhes, por isso vim conversar com você. Me ajudar a escolher lingeries, me dar dicas de como me comportar. Mas vejo que você está falando de um detalhe específico. Qual é?
- Vai precisar contar pro seu pai da sua decisão pra conseguir autorização pra dormir na casa do PH.
- Nem morta. Pensei em você me dar cobertura e dizer que estou na sua casa.
- Eu poderia fazer isso, se você fosse alguém que não me importo. Mas você é minha princesinha, e seu pai te educou com uma relação de confiança. A mesma que eu pretendo que ele use com Gabriel. Não posso passar pano pra você. Não só por uma questão de segurança, porque muitas coisas podem dar errado, como também porque mentiras têm pernas curtas. E confiança também é como o copo quebrado, Aisha. Se de repente seu pai descobre o que aconteceu e que você não contou a ele e que eu passei pano pra você, nós duas estaremos em maus lençóis.
- Eu não saberia como ter uma conversa dessas com meu pai, Bianca. Você vai ter que me ajudar com isso também.
- Caramba, Aisha. Vai obrigar seu pai falar comigo?
- Por favor, Bianca. Ou você conta ou ele não vai saber.
- Tudo bem. Vou chama-lo. Fique aqui.
- Deixa que eu chamo. Ele vai arrumar alguma desculpa se você chamar. E Bianca, não vou estar presente na conversa!