Depois de dois meses, Gustavo voltou ao trabalho no escritório. Bianca sugeriu que ele trabalhasse de casa, mas ele queria a ação. E ele e Lorenzo saiam pra almoçar juntos todos os dias, fizeram uma grande amizade. Quando ele decidia ir ver Gabriel, Lorenzo, Aisha ou Enrico buscavam na casa de Bianca.
Ninguém falava nada desse afastamento, e Bianca também não questionava. Apesar de sua tristeza, ela estava envolvida num grande projeto que pensou, tirando a ideia da filantropia do pai.
No domingo pela manhã, Lorenzo veio buscar Gabriel para um churrasco na casa dele. A mãe mandou subir para o quarto de Bianca enquanto ela arrumava o menino. Ele bateu, ela mandou entrar.

- Bianca, você está horrível.
- Obrigada, muito gentil de sua parte reparar. O que você quer?
- Vim buscar o Gabriel, marquei um churrasco na minha casa. Todos estão indo pra lá. Gustavo acabou de me avisar que está pegando Paulo Henrique e chega em uns 15 minutos.
- Eu sei, temos uma família grande e eu sou a párea que nunca é convidada.
- É assim que você vê? Pois vou te falar uma coisa. Todos tentaram te trazer de volta a vida, e você se recusou se fechando no coma do Gustavo. Ele acordou e você não.
- Está bem, Lorenzo. Vou continuar fechada em mim, divirtam-se.

- Não. Ninguém vai se divertir nessa família enquanto você não despertar. Estamos todos preocupados. Com você e com Gustavo.
- Não precisam se preocupar comigo, estou bem.
- Está bem? Está armando uma vingança contra mim ou Gustavo ou minha família?
- Seu pai me tirou tudo, e o resto de sua família, inclusive você estão empenhados de tirar o resto. Minha mãe e meu filho agora só tem olhos pra vocês. Mas enfim, eu mereço não é? Não é como se eles tivessem convivido muito comigo nos últimos anos. Não adianta eu tentar me enganar, ninguém me tirou nada. Exceto pelo meu pai, eu mesma desfiz todas as minhas relações.

- Você minimiza demais a importância que tem para as pessoas.
- Você não entende...
- Não. Eu vou te explicar o que eu vejo. Você passou por um processo difícil, uma mutilação, mesmo assim deixou seu filho viver e no seio de sua família. Se não quisesse mesmo ser mãe, teria abandonado ele no hospital nos meses que se seguiram de recuperação. Você o deixou com sua mãe, que você amava mais que tudo na vida, para lhe dar motivação depois do seu pai, e voltou pra casa sozinha pra assumir suas responsabilidades deixando ela lá porque era o melhor pra ela e pra seu filho. Você veio pra casa, se defendendo da dor que Gustavo te causou. Foi o jeito certo? Não, não foi. Mas pensa em quantas coisas boas você fez com seu processo de vingança.
- Coisas boas? Gustavo não deve pensar assim, já que mal trocou duas palavras comigo depois que acordou
- Não é sobre Gustavo nem sobre ninguém além de você, Bianca. Fez inúmeras coisas boas, mesmo que a intenção fosse ruim. A primeira, foi tirar Justin do caminho errado, de uma vida de golpes, em que ele acabaria preso ou morto. Hoje ele é um acessor dos bons, faz a metade do seu serviço e você pode advogar. Um menino extremamente inteligente que agora está aproveitando num emprego sério, ganhando dinheiro limpo sem prejudicar ninguém. Depois, com esse plano maluco de vingança, libertou Gustavo e Aisha da dominação doentia da Sirlene. Ela deu o golpe da barriga no patrão, fodeu com a vida dele. Quando percebeu que ele estava começando a querer voar sozinho, usou Mariane. Ela não se preocupou que a primeira filha era problemática em trazer para um local propício a aumentar o problema. Ela só queria que Gustavo visse que ela tinha problemas e não conseguiria criar a filha dele assim. Aí perdeu Mariane e usou isso por longos anos. Quando ele te conheceu e não cedia mais a essa chantagem, ela mudou para usar Aisha. Você percebeu. Um pai não percebe. Pensa com o coração. Você abriu os olhos dos dois e tirou Sirlene da jogada. Não se culpe pelo afastamento de mãe e filha. Se Sirlene quisesse ter Aisha por perto, se fosse uma mãe de verdade e não a encenação que fazia para Gustavo ver, nem o capeta afastava a filha dela. Você deu a Aisha o carinho, atenção e cuidado que uma mãe de verdade deveria dar, e por isso ela se achegou a você. Depois, mandou a menina para fora do país. Hoje, aos 16 anos, ela é uma brasileirinha vinda do interior do sudoeste e fala três línguas, tem imóveis em seu nome no Brasil e no exterior e seu rosto estampado em propagandas por todo o mundo. Mas principalmente, um projeto de vida. E quer ser igual a você. Você imagina um futuro como esses pra uma menina que nasceu no interior de Minas Gerais, com mãe semi analfabeta e pai gerente de bordel? Com uma irmã que morreu aos 12 anos prostituída vítima do tráfico de drogas?
-Isso é capacidade dela, não fiz nada. Aisha é inteligente e centrada.
- Você deveria melhorar seu senso de justiça Bianca. Você fez bem a Justin, a Gustavo, a Aisha. Até a Sirlene. Ela fez cirurgias, ficou com um belo corpo, aprendeu se cuidar. Ela quem não deu valor ao que você fez por ela. E até com a história da Nicole, você fez bem a ela e ao Gustavo. Deu uma oportunidade de ela sair das condições precárias em que vivia. E Gustavo aprendeu a deixar de ser otario de mulher. Você tentou fazer o mal e só fez bem a ele, Bianca. E ele reconhece.
- Reconhece? Ele pensa igual a você? E porque não me perdoou?
- Porque ele tem uma dívida de gratidão comigo por ter sido ferido pra salvar a vida dele.
- O que?
- Ele sabe que eu te amo, Bianca. E sabe que por mais que tudo aconteceu do jeito que foi, meu sentimento não sumiu só porque eu me envergonho de meu pai ter colocado todos nós naquela situação ou porque sei que você nunca vai ser minha. Na cabeça de Gustavo, se ele deixar o caminho livre, você vai acabar caindo nos meus braços e assim ele vai pagar a dívida que tem comigo.
- Isso é uma idiotice. Eu não vou ficar com você. Eu sinto muito ter feito você se apaixonar por mim, mas aprendi que o melhor para todos os lados é ser sincera, e tenho muito carinho e gratidão por você, mas nenhum sentimento como mulher.
- Eu sei disso, já tentei explicar isso pra ele, mas no fim, ele acha que é só te forçar a ficar com raiva dele que você vai ceder.
- Idiotä. Isso que ele é. Um grande idiotä. E se ele acha que vai me manipular, está enganado. Vou mostrar a ele que não preciso nem dele, nem de você e nem de homem nenhum pra me bastar!