Capítulo 68
1234palavras
2023-04-05 10:29
O tempo foi passando, Andrea chegou para compor o trio de mulheres fortes que eram exemplo pra Bianca, e ela agradecia por isso. Com as três em casa, uma para cada criança, ela sentia que estava tudo sob controle por lá, então voltava cada vez menos. Ela não conseguia ficar em casa, olhando para o filho e Aisha esperando o pai acordar. Não conseguia ver Andrea cuidando da recuperação de Lorenzo e da sanidade da nona pelo que fez ao filho. Não queria pensar que agora tinha a casa cheia, família grande, mas tudo isso em cima de uma enorme tragédia. Mas acima de tudo, não queria encarar Lorenzo, muito mais vítima de toda aquela situação.
Ela olhava Lorenzo, vítima das armações do pai por toda a vida, ser um homem alegre, sorridente. Não era amargo, sempre bem humorado e educado. Se apaixonou por ela e ela o enganou, julgou mal pelo o que o pai começou a pensar dele depois de ser enganado. Mais uma vez vítima de Enzo. E mesmo enganado, mesmo torturado, mesmo ameaçado por Gustavo, arriscou sua vida para salva-lo. E Bianca era grata! Hoje Gustavo estava em coma, mas se não fosse o desvio, o tiro seria bem no meio da cabeça, e Gustavo teria morrido na hora.
Gustavo... A conversa com Aisha deixou Bianca bastante assustada e teve o efeito contrário. Antes ela fazia tudo no automático, pensando em todos. Mas agora tinha medo de voltar pra casa e alguém estar a espreita a esperando pra dar o bote. Ela não queria sofrer, não ainda. Mas as dúvidas de Aisha viraram as dela também. Mas muito piores.
Ela tinha medo de ele morrer, de ficar anos em coma, de voltar em estado vegetativo. Mas também temia ele voltar bem e a rejeitar. Estar com ódio dela por tudo o que ela lhe fez por vontade própria e o fez passar involuntariamente. E ela sabia que essa possibilidade era bem viva. Se fosse ela, com o coração amargo que tinha, não perdoaria.
Uma batida na porta a tirou de seus devaneios. Ela mandou entrar e viu Enrico pedindo licença e entrando na sala dela, sozinho.
- Oi, Bianca. Tudo bem?
- Oi, Enrico. Você veio com quem - Bianca se apavorou imaginando que Lorenzo teria levantado da cama e ido trabalhar. Ele ainda estava fraco e a mãe tinha falado ao telefone que ele estava sendo difícil e teimoso, querendo se exercitar.
- Vim sozinho. Chamei o motorista e pedi pra me trazer.
- Mas você ainda vai fazer 15 anos. Não deveria estar andando por aí sozinho.
- Não fale como se eu fosse uma criança. Eu sou um Dom da máfia, sabia? Comando uma família inteira!
Bianca riu de gargalhar com a cena icônica. Um menino franzino, tímido, que nem deveria ter nascido pêlos pubianos ainda, fazendo pose de mafioso.
- Pelo menos fiz você rir. Só tinha visto isso uma vez e já faz um ano. Você deveria rir mais, você fica muito bonita rindo.
- Desculpe, Enrico. Eu preciso reaprender a sorrir, a ser leve. Não sei quando vou conseguir isso, nesse momento parece que o mundo está sobre minhas costas.
- Eu sei, por isso vim aqui.
- Pra tirar o mundo das minhas costas?
- O mundo eu não consigo, mas posso tirar quatro incômodos.
- Não entendi.
- Vamos nos mudar pra nossa casa no seu condomínio. Conversei com meu pai, e combinamos que não faz sentido ficarmos te incomodando, fazendo super lotação na sua casa, se temos uma casa tão perto. E não somos mais só nós dois. Temos as nonas pra ajudar a se virar agora.
- Eu tinha até me esquecido que vocês têm uma casa no mesmo condomínio. Mas vocês acham justo sair da.minha casa e levar suas nonas pra longe da minha mãe? Ou deixar Aisha e Gabriel sem companhia?
- O que não achamos justo é estar te incomodando a ponto de você nem voltar pra sua casa para não nos encontrar.
- Não é isso...
- Deu pra mentir agora, Bianca?
- Enrico...
- Meu pai e eu concordamos, Bianca. Aisha se sente sozinha, Gabriel sente sua falta. Tia Amélia fez um clube da Luluzinha de senhoras, mas ela já passou muito tempo afastada de você. Eu sei que tudo é complicado para você, mas a vida continua. Mesmo que o Gustavo ainda não tenha voltado, a vida continua. Já faz cinco meses, Bia.
- Não é só o Gustavo, Enrico. Como você acha que me sinto tendo um irmão com a metade da minha idade e eu não tive capacidade de protegê-lo? Meu pai deixou você pra mim, e eu não consegui ainda te abraçar como meu irmão porque tenho vergonha de tudo o que você teve que enfrentar para salvar minha família.
- Nossa família, Bianca. Eu posso não ser o Dom de fato, nem um adulto que toma um tiro na cabeça ou no peito por vocês, mas eu ainda sou o homem da sua família. Você ainda é minha irmãzinha delicada, Gabriel ainda é meu sobrinho e a tia Amélia é minha boadrasta. Eu não vou dizer que sei o que fazer na maioria das vezes, mas tenho uma teoria de tudo o que aconteceu com a gente. Queria dividir com você.
- E pode dividir, Rico. Somos irmãos e podemos dividir tudo. Talvez uma outra opinião me dê uma nova perspetiva. Porque pra mim, não tenho mais nenhuma. Não entendo porque tantas coisas ruins e maldades me tendo como alvo.
- Nosso pai não me deixou pra você. Me deixou para o Lorenzo. Será que ele nunca desconfiou da coincidência de minha mãe ser assassinada por um italiano, deixando um filho da mesma idade do tempo que ele tinha dormido com ela? Ou de que meu pai e o sobrinho dele pudessem ser a mesma pessoa? Você nunca se perguntou se ele não apadrinhou meu pai com tanto carinho e me dava presentes como o Pé de Pano já com a desconfiança? Você reparou como meu pai é parecido com o verme? Nosso pai cresceu com Enzo, ele nunca associou? Mas principalmente: sua carta. Ela diz que o tumor dele se desenvolveu 7 meses depois da infecção. você descobriu 6 meses depois que ele. E ele morreu 4 meses depois que vc descobriu. São 17 meses, quase um ano e meio que ele sabia que eu era filho dele. E que ele imaginava que meu pai era um assassino traidor.
- Você está insinuando...
- Que seu pai não me procurou como filho dele e não me tirou de Lorenzo. Ele não quis me proteger de um assassino?
- Nosso pai faria qualquer coisa pra te proteger. Mas ele estava com câncer. Deixou o Gustavo me namorar por 4 anos sendo casado.
- Você acha que tem um argumento, mas só prova minha teoria.
O telefone de Bianca tocou, e ela rejeitou e perguntou:
- Como meu pai me deixar ser enganada prova a sua teoria?
- Seu pai tinha um propósito com essa atitude. Acho que meu pai tinha um propósito em me deixar com Lorenzo.
O telefone tocou novamente em cima da mesa e Bianca atendeu no viva voz, irritada.
- Senhorita Duprat?
- Sim, sou eu. Quem é?
- Meu nome é Rayane, sou enfermeira do Sírio Libanês. Estou ligando pra avisar que o senhor Namiato acordou...