Capítulo 55
1121palavras
2023-03-30 08:02
- Conseguiu a atenção de seu pai?
- Sim, fiz um vídeo para o tio Maurízzio contando que minha mãe estava presa há mais de uma década porque entregou meu avô para uma família rival. Que meu pai sabia e preferiu não castiga-la e pra ele tomar cuidado que poderia ser a próxima vítima. Meu pai veio pra conversar comigo, perguntou o que eu queria pra não divulgar o vídeo. Falei pra ele que queria invocar o direito do segundo filho e que queria que ele deixasse o tio Maurízzio em paz. E também que ele parasse de querer a deportação do assassino da Valentina. Ele me perguntou o que eu ia fazer, e disse que ia viver perto do tio Maurízzio. Ele aceitou minhas condições, só exigindo que eu não contasse ao seu pai quem eu era. Achei razoável. Antes de ir embora, ainda exigiu que eu não contasse do Enrico e me jurou que ia me deixar em paz, mas que se algum dia alguém desconfiasse que eu era da máfia, eu voltaria com meu rabinho entre as pernas e ia substituir meu irmão como Dom se ele quisesse. Ele e eu concordamos que isso só poderia acontecer se eu precisasse da ajuda dele ou da máfia pra sair de alguma encrenca. E acho que essa é uma encrenca que eu preciso da ajuda dele...
- Não entendi. Fizeram um acordo de cavalheiros e pronto? Seu pai te deixou em paz?

- Sim. Eu estava perto demais de Maurício pra ele arriscar. E eu me aproximei para protegê-lo, mas a verdade é que eu fui o maior beneficiado. Tinha tio Maurício como meu pai. Um papa bom, compreensivo, amigo. Que era temido não pela sua ruindade ou pelas atrocidades que poderia fazer, mas por sua justiça. Tinha uma família normal, tranquila. Tia Amélia era uma mãe perfeita. Dona Magda era a governanta mãe substituta mais incrível que alguém poderia ter. Eu tinha uma família e era feliz. Preferi não conviver com você, pois te achava uma menina fútil, sem graça, e que não dava valor a família maravilhosa que tinha. Sabia que tinha que me afastar, pois tinha medo de seu pai ou sua mãe reconhecer os traços dele no Enrico. Não sabia se ele tinha associado a "minha esposa" com a mulher que ele tentou proteger na inocência dele, então tinha medo de que ele reconhecesse Valentina no filho dele. Em parte, essa preocupação era pelo acordo com meu pai, mas a maior parte era por mim mesmo. Enrico foi o que me sobrou de Valentina, minha melhor amiga que morreu por minha covardia. Amei Enrico como meu filho, e entregá-lo a Maurício seria como perder tudo o que eu tinha. Então me mudei para o interior, segui trabalhando com seu pai e tinha uma vida perfeita. Quando você entrou na faculdade, seu pai chegou a me perguntar se eu não gostaria de te conhecer melhor e ser seu tutor. Corri de você, até que conheceu o Gustavo e eu fiz a checagem a pedido dele. Estranhei quando ele disse pra deixar o barco correr e pensei como ele era diferente de meu pai. Se fosse senhor Enzo, teria cortado os bagos de Gustavo. Mas entendi que ele queria que você amadurecesse. Até gostei disso e pretendo usar com Enrico. Acompanhei sua evolução e passei a te admirar. Seu trabalho era impecável e você era mais forte do que parecia. Tudo ia muito bem, até pouco tempo antes de seu pai adoecer. Ele mudou comigo, mal falava ou me recebia. Achei providencial porque queria me afastar dele também. Apesar de ama-lo, recebi uma visita desconfortável de meu pai. Ele disse que seria bom eu ter criado Enrico, pois ele seria o próximo Dom. Meu irmão só tem filhas mulheres e "meu filho" será o sucessor. Falei pra ele que um simples exame de DNA prova que ele não é meu filho e não tem direito. Aí ele me lembrou que é filho do Maurício, o único filho homem. Fiquei preocupado que se ficasse perto do Maurício, ele voltasse a me pressionar para mata-lo e preparar o sucessor. Mas aí seu pai ficou doente e com muito custo eu consegui convencê-lo a se tratar. Mas infelizmente, ele não resistiu ao câncer. Quando perdi seu pai, perdi o meu também. Não entendi como foi tão rápido. E me isolei mais ainda em Valinhos, já que nem sua mãe estava no Brasil pra eu visitar. Então você voltou, forte, poderosa, linda e solteira. E comecei a perceber que estava me apaixonando por você. Comecei a vir pra capital mais vezes pra te ver, e pagar mulheres parecidas com você pra passar a noite comigo. E não percebi que estava sendo vigiado de perto, até receber uma ligação do meu pai me lembrando da regra.
- Você não pode se envolver com uma prima de primeiro grau e a sua mulher tem que ser virgem...
- Sim. Então me afastei de você de novo, só te acompanhando de longe, mas não vinha mais te ver e não contratava mais acompanhantes. Até Emily me fazer a proposta de substituí-la. Entendi como um sinal e que eu ia tentar. Eu nunca fui nenhum santo, nem celibatário. Tinha meus casos, meus pega e não se apega. Não podia arriscar meu papa matar uma mulher só pq se aproximou de mim. E também sempre gostei da minha relação com Enrico sem ninguém mais. Mas quando recebi a proposta, tinha uma coisa em mente: precisava me testar. Saber se o que sentia por você era uma paixão de verdade, ou apenas o comodismo de saber que meu papa não ia te matar, pois a família do Maurício fazia parte do acordo. E quando te reencontrei, me descobri mais do que apaixonado. Descobri que sempre te amei. Por você, por quem você era, por isso te pedi em casamento muito rápido. E por isso não te toquei. Sabia que você não era a virgem que a máfia exige, mas enquanto eu não consumasse o ato em si, nós dois éramos virgens um pelo outro. Quando você começou a divulgar desenfreadamente nosso casamento, eu liguei pro meu papa e contei que a gente ia se casar, e falei pra ele que a lei do primeiro grau e virgindade não se aplicava a mim pq eu não pertencia mais a máfia! Ele nunca mais falou comigo. Entendi que quando falei isso pra ele, ele me deserdou como fez com seu pai quando foi contrário a ele.
- Aí que você se engana, Lorenzo. Quando você o enfrentou, ele decidiu igual como com Maurício. Colocar em prática a vingança dele e sua morte, que ele começou a preparar há muitos anos...