Capítulo 54
1270palavras
2023-03-30 06:53
- Essa parte é uma das lacunas que tenho - Gustavo disse - Sua mãe nunca mais foi em nenhum evento social, mas faz poucas aparições ao lado de seu pai. Até então, pelo que sei, você reivindicou seu direito de segundo filho e veio morar no Brasil com sua noiva.
- Valentina não era minha noiva. Ela era filha do homem de confiança do meu papa. Tivemos nossa infância juntos, sempre juntos. Enquanto fui afastado, ela recebeu treinamento. Quando voltei, ela era a melhor atiradora da família. Meu papa queria que a gente casasse, mas éramos amigos demais pra isso. Nos três anos seguintes, treinávamos juntos, nossa amizade só crescia. Descobri que ela era apaixonada por um ragazzo de fora da máfia e ela tinha planos de sair da máfia e ir viver em outro país com ele. Como mulher, ela tinha o direito de escolher isso. Quando meu pai me prendeu, ela teve a idéia do acordo. E ela me falou o plano dela: ela se ofereceu pra continuar na máfia até eu cumprir minha parte. Briguei com ela, falei que ela não podia ter feito aquilo porque eu não ia cumprir e não queria ela presa àquela vida pra eu sair da minha prisão. E ela me explicou que o plano dela era viajar comigo pro Brasil para cumprir a tarefa e traria Stefano. E nós três seríamos livres aqui."
- Valentina acreditou mesmo que passaria o Dom pra trás?

- Os três acreditamos. Tudo pronto, os três sorridentes prestes a embarcar, os homens do meu pai pegaram o Stefano. Meu pai nos mandou um vídeo rindo, dizendo que não íamos precisar dele e que ele seria a garantia de um serviço bem feito. Stefano seria seu prisioneiro até ela retornar ao país depois de Maurízzio liquidado. Ainda me falou que pensou em trocar minha prisão pela dela, mas achou melhor deixá-la me ajudar, já que era sua melhor sniper.
- Por isso ela procurou meu pai...
- Valentina propôs ela cumprir a missão em meu lugar, já que não tinha nada a ver com Maurízzio. Chegamos ao Brasil e fizemos tudo para fazer um serviço rápido e limpo. Quando íamos começar, meu pai inventou mais uma. Disse que só aceitaria a parte dele do acordo se a gente casasse, pois teve a certeza de que ela ainda era virgem e fazia gosto da gente casado, e depois do nosso casamento, soltaria Stefano pra procurar outra mulher pra ser feliz. Valentina ficou furiosa e resolveu procurar seu pai e lhe contar tudo. Mas quando estava indo pra lá, recebeu um vídeo de Stefano sendo torturado e a instrução de contar que eu quem ia mata-lo. Ele a ajudou, cuidou dela e enquanto ela estava sobre a proteção dele, achou que se o seduzisse, não poderia mais se casar comigo e meu pai deixaria Stefano e ela em paz. Quando contou a meu pai que se entregou para Maurízzio, ele matou Stefano e mandou que ela saísse de perto dele até segunda ordem. Valentina voltou pra mim destruída, sem esperanças mais na vida. Aí descobrimos que ela estava grávida e eu comecei a cuidar dela e do bebê, e ninguém mais falou nada. Silêncio total da Itália. Achamos que meu pai se arrependeu do que fez a ela, mas descobrimos que ele estava vigiando, esperando a criança nascer. Quando Enrico nasceu, ele já tinha contratado o exame de DNA, e ao receber a confirmação que não era meu filho, ficou ainda mais furioso. Veio pessoalmente ao Brasil para nos ofender, disse que deu uma tarefa fácil pra gente, que era só casar e exterminar a família do Maurízzio e nós além de não cumprir a ordem, ainda deixamos ele colocar outro herdeiro no mundo. Nesse tempo em que Valentina esteve grávida, eu conheci uma moça. Ela quem bateu a foto que tenho de Valentina e Enrico. Meu papa mandou matarem ela e Valentina quase conseguiu salvá-la. A fúria de meu papa era tanta por a gente estar vivendo bem aqui, sem obedece-lo, que ele mandou matar Valentina. Ela escapou. Depois ela sumiu por alguns dias e voltou totalmente destruída. Ele a sequestrou e torturou, principalmente com imagens de toda a sua família sendo desmembrada. Vocês conseguem entender a maldade de uma pessoa que tortura e mata a família do seu homem de confiança? Do homem que o seguiu e foi fiel por toda sua vida?
- Sinceramente não consigo entender nada disso. - Bianca falou com lágrimas nos olhos.
- Óbvio que não, Bianca. Você foi criada longe de tudo isso. Das torturas, das maldades, dos acordos de casamento. Era tudo o que eu queria pra mim. Estava a dois anos no Brasil e não aguentava mais. Tinha que fazer alguma coisa. Não podia viver eu e Valentina sob eterna ameaça dessa forma. Não sei o que ele exigiu de Valentina nesses dias que a torturou, mas minha amiga voltou transtornada.
- Foi isso que ele exigiu dela...

Gustavo falou colocando o celular na frente de Lorenzo, dando o play no vídeo de Valentina contando a Maurício que Enrico era seu filho e dizendo que Lorenzo quem queria mata-lo.
- Por isso minha amiga perdeu o amor pela vida. Viu seu grande amor e sua família morrer e foi obrigada a me trair, me acusar de algo que não cometi.
- E como ela acabou morta e vc chegando até meu pai?
- Meu papa não desistia, era uma obsessão. Existem regras que a gente aprende desde muito cedo na máfia. Duas delas nem o Dom pode quebrar e são passíveis de morte. Por causa de uma delas, ele não fazia o serviço ele mesmo. Você não pode matar um pai, um filho ou um irmão. Se ele sequer desse essa ordem a qualquer um dos homens dele, ele já poderia ser morto. Por isso a obsessão para que eu fizesse. Somente eu ou Fabrízio poderíamos fazer isso por ele, e ele não daria essa missão ao próximo Dom. A última cartada dele, foi ameaçar Enrico. Ele não esperava que Valentina e eu colocasse nossa vida em defender o menino. Como a mim ele também não podia dar a ordem de matar...

- Ele mandou matar Valentina, a mãe do meu irmão - Bianca deixou as lágrimas rolarem livremente.
- Eu peguei o assassino, entreguei a justiça e invoquei a segunda regra.
- Como assim?
- Meu papa fez de tudo pra ter o homem dele de volta e eu sabia que não podia deixar ele voltar impune. Então me lembrei da segunda regra crucial até para o Dom: cúmplice do assassinato de um pai, um irmão ou um filho.
- Mas ele matou a mãe do sobrinho. Não vejo cumplicidade em nenhum assassinato direto.
- Bianca, como você é inocente...
- Também não vejo, Gustavo. Você vê Augusto? - Thales falou pela primeira vez, totalmente pálido.
- Não denunciar nem castigar quem matou é cumplicidade. E ele não castigou minha mãe por matar o pai dele. Eu não poderia contar pra ninguém que ele me mandou matar o irmão. Essa traição é uma das regras. Mas denunciar que minha mama estava presa a tantos anos não era traição e quando fosse averiguado, se descobriria o motivo. E melhor ainda se quem fosse averiguar fosse o outro filho do morto em questão.
- Então depois que Valentina morreu...
- Eu resolvi enfrentar meu pai e ameacei contar tudo para o tio Maurízzio. Me aproximei dele com a desculpa de me ajudar a manter o homem do meu pai na prisão, e assim consegui a atenção do meu papa.