Capítulo 53
1110palavras
2023-03-30 05:31
Lorenzo em silêncio foi percebendo o salão esvaziar, acenderem as luzes, os amigos de Bianca irem embora. Ficaram os "namorados" e "parceiros" apenas. Gustavo, Bianca, Thales e Augusto. Nem Emily teve o direito de ficar. E Lorenzo percebeu que ou eles entenderam tudo errado, ou seu pai tinha cumprido a promessa.
Quando todos já tinham ido embora, Bianca se trocou e sentou com uma água ao lado dele. Ela tinha ficado muito nervosa com a imobilização de Lorenzo, mas Gustavo disse que ele era inocente e o único que poderia tirar ela daquela enrascada.
Gustavo chegou perto deles e ficou em pé ao lado deles, vendo Augusto preparar a maleta para os bisturis elétricos funcionarem todos por um único fio. Thales estava sentado no chão, observando também. Quando Augusto passou um dos bisturis para Thales, os dois ligaram juntos e aquele barulhinho irritante de barbeador elétrico foi assustador no silêncio.
Bianca deu um salto ao ouvir, e Lorenzo arregalou os olhos:
- O que vocês vão fazer?
- Quando Gustavo e Bianca começaram a namorar, eu avisei a ele que se magoasse minha prima, eu iria desmembra-lo com meu bisturi. Ela não deixou e depois eu soube que ela teve um bebê dele e não poderia mais brincar com meus bisturis no pai do filho dela. Mas você! Você ameaçou a vida do meu Gabrielzinho, e ela está muito disposta a me deixar usar esses brinquedinhos novos em você.
- Eu não ameacei a vida de ninguém. Você está louco?
- Não? Você não veio pra cá na intenção de depenar meu tio e deixar minha prima na miséria? Quando o plano A não deu certo, você partiu para o B que era casar com ela e faze-la de sua escrava?
- Não, Thales. Deixa o Lorenzo contar para Bianca a verdade.
- Do que vocês estão falando?
- Lorenzo. Thales e Augusto são cirurgiões, estão muito familiarizados com bisturis e morrendo de ódio de você. Essa é sua única chance de contar toda a verdade para eles e nos ajudar a salvar a vida da Bianca, do Enrico e do Gabriel.
- Gustavo...
- Eu sei boa parte dessa verdade, Lorenzo. Preciso que você preencha algumas lacunas. Depois vou te contar o que seu pai amado armou para você e para Bianca e você vai decidir se vai nos ajudar ou vai ser picotado pelos bisturis dos dois.
- Como vocês me imobilizaram dessa forma?
- Sou médico. Sei quais substâncias usar para imobilizar sua coluna cervical.
- Sei disso. Mas qual foi o truque? Eu fui criado na máfia, estava alerta para vocês me drogarem. Consumi o mesmo que seus amigos.
- Injetei no energético com uma seringa de insulina.
-Extremamente fina, o furo era imperceptível.
- Sim, e o fiz no exato momento que você entrou, pra não dar tempo de o gás sair e você pedir pra trocar. Mas por garantia de não ser dose o suficiente, injetei mais no seu copo enquanto você olhava pra Bianca engatinhando pra você.
Bianca ia ouvindo todos falarem e entendendo parte do plano, mas nada explicava como Lorenzo era inocente e porque o renderam e estavam ameaçando.
- Chega. Vamos começar a falar logo porque estou entendo nada.
Lorenzo olhou pra Gustavo entendendo que estava rendido. Não sabia o que o pai aprontou, mas sabia que se não falasse toda sua versão, Thales iria usar aqueles bisturis nele. Por mais que tenha saído da Itália e deixado aquela violência toda pra trás, não entregaria o pai para eles. Escaparia dos bisturis e voltaria pra máfia, infelizmente. O pai venceu, mas ele continuaria vivo...
- Por onde começo?
- Sua infância na Itália e o Sr Maurício...
"Maurízzio era um tabu em casa. Minha mãe gostava do dinheiro que a máfia trazia, mas não suportava as obrigações. O casamento dela tinha sido arranjado e ela atormentava meu pai de porque tio Maurízzio podia viver tranquilamente fora do país e ele tinha todas as obrigações da máfia. Meu irmão e eu éramos pequenos, aleatórios as brigas, mas papai sempre terminava as discussões dizendo a ela não se preocupar porque o Dom ainda era vivo. Depois, me lembro do luto da morte do meu avô e tempos muito difíceis. Meu pai nos enviou para um internato por 7 anos. Eu num lugar, Fabrizio em outro. Os dois em treinamento constante, sem contato com a família ou o mundo exterior. Falamos diversas línguas, aprendemos todas as artes marciais, tiros. Somos muito bem treinados. Quando voltamos, eu com 15 e Fabrizio com 16, papai disse que continuaria nosso treinamento dali, pois cada um tinha uma missão. Fabrizio seria treinado para ser o Dom e eu para vingar meu avô. E nos levou até às masmorras da mansão, onde minha mama está presa até os dias de hoje."
- Como assim sua mãe está presa?
- Minha mama entregou meu avô para que meu papa chamasse tio Maurízzio para passar o bastão. Meu papa estava atordoado com a perca do papa dele, então fez o que minha mama queria, mas nunca quis sair da máfia. Depois que nos tirou da linha de perigo, ele investigou e descobriu quem foi o informante. Mama deveria ser morta como traidora do Dom, mas meu papa a ama demais e a prendeu. Eu sempre tive um jeito mais delicado de ver as coisas, e aceitei meu treinamento para a missão, sempre visando a maioridade. Meu papa ficou amargo, o Dom mais cruel da Itália. Minha família é temida e eu também tenho medo do meu papa. Quando fiz 18 anos, reivindiquei meu direito de segundo filho. Meu papa me bateu, me prendeu e me torturou por uma semana inteira. Depois me deixou preso por três meses até eu me decidir ser um homem. Depois desse tempo, mandou minha melhor amiga me convencer a aceitar uma proposta: eu cumpria a missão para a qual fui treinado, depois estaria livre para reivindicar o direito do segundo filho.
Bianca ouvia tudo horrorizada. Como um homem pode prender a própria mulher, mãe de seus filhos? Como filhos adultos podem aceitar isso sem questionar ou enfrentar o pai? Deu graças a Deus por seu pai ser o segundo filho e não ter aceitado assumir no lugar do irmão. Lembrou do quanto seus pais eram unidos, principalmente no fim da vida dele, e não se imaginava vivendo esse horror que Lorenzo contava. Não imaginava a mãe presa numa masmorra. Estava com o estômago embrulhado, e embora já soubesse a resposta, resolveu perguntar:
- E qual era sua missão?
Lorenzo a encarou envergonhado, baixou a cabeça e respondeu:
- Matar Maurízzio e toda a sua família.