Capítulo 49
1484palavras
2023-03-27 22:33
Bianca entrou no ônibus de excursão com Aisha apertando sua mão e falando que ia dar tudo certo. Ela não queria ir, mas Aisha, muito madura, tomou as rédeas da situação e os dois, Gustavo e ela passaram a dar ordens em Bianca como se fosse a mesma menina mimada que Gustavo conheceu.
E ela estava cansada. Esgotada na verdade. Não sabia como sua vida chegou aquele ponto. Não entendia como o pai permitiu que tudo chegasse naquele ponto. Nem reconhecia a inteligência do pai naquela carta! O desculpou, achando que a emoção de reencontrar o irmão e o câncer cerebral influenciaram sua decisão de escrever a carta, dando instruções erradas a Bianca que seguiria a risca como era da vontade dele.
Bianca seguiu todas as instruções de Gustavo no dia anterior, mesmo sem entender do que se tratava a maioria. Passou todas as suas senhas pra ele, transferiu a ele alguns arquivos de bens pessoais que só ela tinha permissão de mexer. Comprou três celulares novos. Para eles ter contato sem ser rastreados.
Fora isso, ocupou o restante do seu dia com um projeto pessoal. Conversou com Helena pra saber se era o desejo dela ser ajudada a conseguir um visto. Pra sua surpresa, Helena disse que queria voltar para o Brasil, mas tinha medo de ser presa e deportada. Então Bianca procurou alguns contatos, pagou a multa e se responsabilizou por leva-la de volta pra casa.
Ao anoitecer, Gustavo estava procurando a internet, em um notebook totalmente desconhecido, formas de elevar a temperatura corporal. Ela o deixou fazer a pesquisa em silêncio, depois ele pediu que ela entrasse em contato com a comissária que estava com as coisas dela pedindo pra trazer de volta.
- Eu vou fingir estar doente pra não viajar com vocês. E preciso que pareça muito real, então vou precisar de escutas e de um médico que venha me ver amanhã. Já entrei em contato com um charlatão pra isso. Mas preciso que tudo seja escutado. E que você não esqueça. A partir do momento que essa mala voltar, estamos mudos.
Bianca concordou, providenciou sua mala de volta, espalhou as roupas pelo seu quarto e deixou que Gustavo desse o show dele. Sentia que nada mais poderia dar certo, mas enfim, não tinha muitas escolhas.
Ela e Thales tinham criado um código para se comunicarem pela internet. Era tão simples que ninguém descobriria. Ela mandava uma mensagem pra ele aleatória e ao final assinava Bianca Rose. E então ele sabia que a primeira letra de cada palavra continha a frase que ela queria mandar. Ele respondia que Bianca Rose era top, pra mostrar que entendeu. Pela manhã, ela tinha mandado ele comprar um celular descartável também, depois ele mandou pra ela uma mensagem engraçada perguntando se ela já estava pedindo esmolas em outro país e que ia mandar umas moedinhas pra ela. E começou a mandar pix com valores irrisórios. Gustavo foi quem entendeu que os valores sequenciais era o número do celular novo. E ele mesmo respondeu pra Thales parar com a palhaçada quando percebeu que tinha um número inteiro. Confirmou ligando para os números que conseguiu e assim Bianca pode contar pra ele de forma segura o que descobriram.
Estava viajando com Thales ajudando Gustavo do Brasil e Gustavo com uma mega operação sem rastros. E ela simplesmente não podia fazer nada. Ele pediu pra Bianca "esquecer" um casaco da mala no quarto dele.
Durante a viagem, Aisha arrumou confusão com uma colega e teve suas atividades suspensas por dois dias. O que obrigou Bianca a ficar com ela no quarto. Elas não poderiam conversar, a não ser na piscina, e quando puderam sair pra piscina do hotel, Bianca a agradeceu por isso.
- Menina, achou mesmo que eu deixaria você enlouquecer lá sozinha? Fique calma, Bia. Meu pai tem o contato do pior e do melhor em Minas. Ele é filho de general. Vai dar tudo certo.
Aisha contava coisas sobre sua infância e o que sabia que o pai viveu. Bianca só tinha do passado dele o que ele lhe contou quando descobriu que ele era casado. Assim, ela foi conhecendo melhor o homem por quem sempre foi apaixonada.
Na noite do segundo dia do castigo de Aisha, ela escreveu " Prepare-se" em seu bloquinho de conversas mudas e saiu com uma mochila e sobretudo.
Bianca aproveitou esse tempo sozinha pra mandar SMS para Gustavo e Thales. Por mais seguros que tivessem, ainda era melhor falar por uma forma que ninguém poderia rastrear tão facilmente.
Mas não demorou mais que uma hora houve a batida na porta. Um policial segurava Aisha pelo braço e estava acompanhado do monitor da turma dela.
- Senhora, podemos entrar?
- Claro. O que houve, senhor?
- A senhora sabe que o uso de álcool para menores de 21 anos é proíbido nesse país?
- Claro que sei, mas não tenho álcool aqui e sou maior de idade, senhor.
- Mas a senhorita aqui não é, e estava com uma garrafa de vodka na piscina do hotel.
- Aisha, você consumiu álcool?
- Não xenhora, mamãe. Exe polichial bonitão nom xabe o que tá falanoooo - o cheiro de álcool que exalou dela quando falou em português tudo enrolado, lhe desmentia.
- Não sou sua mãe, Aisha. E você tem que falar em inglês para que o policial te entenda.
Bianca pegou Aisha pelo braço, questionando com o olhar ao policial se poderia. Ela não sabe o que Aisha estava pensando, mas dessa vez não seria só um castigo de monitores. Bianca poderia ser presa pois era a responsável por ela. Colocou Aisha sentada na namoradeira de sua cama, que imediatamente tombou para o lado, com a respiração bem pesada e até roncando.
- O que vai acontecer agora, senhor policial?
- Bem senhora...
- Senhorita. Não sou mãe dela mesmo. Sou ex namorada do pai dela e mãe do filho dele. Estou aqui apenas para lhe fazer um favor.
- Então, senhorita. A monitora nos procurou, informou que a mocinha é brasileira, se não podíamos apenas contê-la pra não estragar o passeio das outras crianças. Levamos em consideração que a cultura de vocês é bem diferente da nossa e que a moça não causou nenhuma confusão.
- Nossa, senhor. Obrigada. Sei que as leis de vocês são rígidas e severas. Sou Bianca Duprat, advogada no Brasil. Muito prazer.
-Prazer, Senhorita. Mas a senhora entende que não podemos deixa-la totalmente livre, sem nenhum castigo?
- Entendo, claro. E o que seria?
- Se a senhora permitir, faremos uma busca no quarto dela por mais bebidas alcoólicas, estando o lugar limpo, ela vai ficar detida lá até o final da excursão, sem contato com os outros colegas ou hóspedes. Ela tem acesso a piscina e só e não pode sair do hotel nem entrar em outros quartos. E a senhora deverá acompanhá-la a todo tempo.
- Mas porque isso, senhor?
- Para que garanta que ela não tenha acesso a bebidas alcoólicas durante a estadia dela aqui. E senhora, entendo que a cultura de vocês é diferente, mas ela é uma criança e não deveria beber. Vocês deveriam procurar ajuda pra ela enquanto é tempo.
- Claro senhor, concordo com tudo o que o senhor disse. Nem sabíamos que ela estava consumindo bebida alcoólica e não permitimos isso.
Bianca acompanhou a vistoria no quarto e percebeu que foi uma vistoria minuciosa demais. Depois, sob o olhar do policial, buscou Aisha cambaleante em seu próprio quarto para tomar banho. Colocou ela na namoradeira da cama dela enquanto o policial fechou a porta, por dentro do quarto.
- Mandou bem, Steve. E aí? Como foi a revista? - Aisha se levantou imediatamente quando o policial fechou a porta, totalmente lúcida e falando normalmente.
- Nada. Tudo limpo.
- O que está acontecendo aqui?
- Bianca, você acreditou mesmo que estou me embebedando? Stive é um amigo policial que atendeu uma ocorrência pra mim uma vez. Ele está aqui como um favor. Eu não bebi, Bia.
- Mas está fedendo a vodca e seu hálito mais ainda
- Usei a vodca que o Stive comprou pra mim como perfume e escovei os dentes com ela. Também fiz gargarejo. Precisava ser real pra monitora. Assim, meu castigo de prisão domiciliar seria merecido e meu quarto revistado pra saber se não teria escutas aqui também. Pronto. Agora estamos livres pelos próximos 3 dias e depois podemos ir embora pra casar você.
E assim foi feito. Bianca passava o dia no quarto dela longe das escutas de suas roupas, falavam sobre o plano livremente.
Ao final da excursão, viajaram aliviadas para o hotel, onde um Gustavo sorridente as aguardava.
Sem falar nada, entraram no jatinho, guardando todas as roupas e mesmo assim fazendo um teste de gravação pra saber se não seriam ouvidos. Tudo devidamente checado, voltaram pra o Brasil, com Aisha e Helena a bordo.