Capítulo 30
1322palavras
2023-03-23 04:41
No domingo, Lorenzo mandou os três pra piscina e foi fazer churrasco. Bianca colocou um mini biquíni e foi renovar o bronzeado. Percebeu que apesar de uma boa olhada maliciosa, Lorenzo não fez nenhum movimento íntimo, nenhuma tentativa de beija-la, um carinho, nada.
De bruços no sol, pensando nisso, teve a compreensão que ele não fez nada em nenhum momento na frente do Enrico. E isso lhe mostrou a real intenção do que ele falou. Percebeu que essa era a responsabilidade de ser pai. Lorenzo não poderia ficar de graça com ela na frente do filho se não fosse evoluir para um relacionamento sério. Não é correto dar esperanças a um menino tão carente de mãe.
E percebeu que essa seria sua responsabilidade também mais para frente. Quando se tem um filho, deixa de ser um só. Não se pode mais pensar no que quer pra si e tem que começar a pensar em um todo, que sua vida agora inclui outra pessoa pela qual você é responsável física, financeira e emocionalmente. E tomou ciência da lição que Lorenzo lhe passou com esse final de semana: estava disposta a deixar de ser só uma pra trazer Gabriel da segurança em que ele se encontrava? Abriria mão da vida regada a álcool e sexo sem compromisso que estava acostumada desde que voltou ao Brasil?
Porque não poderia mais simplesmente sair do serviço e ir pro bar se esfregar em algum cara que levaria pra sua suíte e deixaria um bilhete de despedida no dia seguinte.
Não poderia mais ir pra casa e se embebedar até cair em um final de semana apenas porque queria. Teria agora seu pequeno e sua mãe por perto e seu comportamento deveria ser condizente a uma mulher de 27 anos, CEO de um grupo duramente solidificado e mãe!
- Estou vendo mais fumaça saindo de sua cabeça do que da churrasqueira. - Bianca levantou a cabeça e viu Lorenzo agachado a seu lado, se desviando do sol, com um prato com carne servindo-a.
Sorriu, se levantou, sentou com as pernas cruzadas e pegou o prato agradecendo.
- Estava pensando na conversa que tivemos ontem.
- Isso é bom. Pensar antes de fazer as coisas vai te fazer crescer. Mas não pense muito porque sua cabeça vai pegar fogo. Aproveite o domingo. - Lorenzo tirou o prato das mãos dela que ficou olhando pra ele, sem entender - Me desculpe...
Antes que Bianca pudesse decifrar o pedido de desculpas, Enrico e Daniel puxaram ela, rolando pra dentro da piscina. Ela afundou e rapidamente voltou a superfície, olhando furiosa os dois garotos que riam as gargalhadas e já tinham nadado para longe dela. Olhou Lorenzo com o prato dela na mão, sorrindo.
- Aproveite o domingo, Bianca.
Ele colocou o prato na mesa e se afastou, deixando as três crianças fazendo guerra de água dentro da piscina
O almoço e restante da tarde foi muito agradável, Lorenzo avisou que ele a levaria naquela noite e estaria de volta na noite seguinte. Enrico amuou, mas não podia fazer nada. Bianca percebeu que embora os dois fossem muito amigos, a palavra de Lorenzo era bastante respeitada.
Depois que arrumou tudo, deu um beijo em Enrico que lhe deu um olhar bastante significativo. No carro, Bianca repassou tudo o que viveu esperando Lorenzo tomar a estrada, para então fazer a primeira tentativa.
- Escuta, Lorenzo. Eu acho sua relação com Enrico bastante estreita. Bem bonito de ver o quanto ele te respeita e vocês tem parceria.
- Sim. Não foi nada fácil criar filho sem mãe, principalmente porque eu estava em treinamento com seu pai e tinha que me dedicar bastante, o que me deixava pouco tempo para ele. Mas acho que me saí bem.
- Se saiu ótimo. Enrico é um menino muito bom, bem educado, e te ama incondicionalmente. E principalmente, te respeita muito.
- Você vai conseguir fazer o mesmo pelo seu filho quando ele chegar. Vou usar alguns contatos para trazê-lo o mais breve possível.
- Obrigada.
- Mas tem uma coisa que eu posso fazer, e em uma semana a criança está no Brasil.
- Como?
- Sua mãe fazer a adoção. Mando uma assistente social confirmar que a criança vive com sua mãe há bastante tempo e é bem cuidada. Terça feira o juiz autoriza a saída dele do país. Quarta conseguimos a dupla cidadania e sua mãe pode fazer as malas.
- Vou pensar nisso e falar com ela. Não teria problema de ser meu irmão...
Bianca se sentiu esperançosa com a possibilidade. De repente, queria mais daquilo. Família reunida, sua mãe e seu filho perto. Se pudesse ter isso em uma semana, seria melhor ainda. Mas, percebeu que Lorenzo desviou a atenção dela do assunto que tentou abordar.
Ficou brava, ela nem se deu conta! Mas pensou um pouco e compreendeu. Os dois foram treinados pelo pai, sabem ler seu locutor, sabem apertar botões para desviar as pessoas. Ela teria que se esforçar mais, pois ele era bom. Muito bom.
- Agora vamos falar de você. Me diz, porque você não quer fazer o desejo do seu filho e se mudar pra capital?
- Porque a vida dele não é na capital. Em casa ele tem amigos, um sistema de apoio. Toda a vida dele foi projetada pra Valinhos. Não tem o menor nexo ele vir pra capital só pra eu não ter que dirigir três horas por dia.
- Mas é tudo o que ele mais quer. Ficar perto de você. Acredito que você deveria cumprir o desejo dele.
- Enrico tem 14 anos, Bianca. Ele ainda não sabe o que mais quer. Hoje ele enfezou com isso, de morar na capital. Se eu cedo agora, daqui um ano quando perceber que essa cidade é caótica, o trânsito infernal, poluição, sem Pé de pano, difícil de fazer novas amizades, ele vai querer voltar e não vai mais ter a rede de apoio que eu montei tão cuidadosamente. Aí vai ficar rebelde, querendo sair a noite e desobedecer. Vou ter em casa um adolescente revoltado, que vai enfezar com outra coisa, talvez até se mudar pra Itália.
- Como você é exagerado. Não foi assim que criou seu filho...
- Não é exagero, Bianca. É a realidade. Preciso pensar lá na frente, e você sabe que ninguém em sã consciência trocaria o interior pela capital.
- Acho que tudo o que ele quer é ficar perto de você.
- Ele está perto de mim, meu bem. E qual seria a diferença se eu me mudasse pra lá com ele. Teria que sair pra trabalhar do mesmo jeito e ele passaria o dia sozinho. E ninguém garante que eu teria que dirigir menos tempo no trânsito dentro da cidade do que eu dirijo na estrada pra casa. As vezes, como hoje, preciso ficar na cidade e ele não me vê, mas isso não está acontecendo só agora. E se eu me mudar, vai ser uma constante. Pelo menos uma vez por semana vou ter que dormir em Valinhos por conta da minha reunião jantar com os associados.
Bianca ficou calada, e Lorenzo desviou a atenção da estrada para olha-la. Sorriu
- O que foi? Acabaram os argumentos?
- Você está determinado e com o coração fechado. Podemos falar sobre isso em outro momento.
- Em qualquer momento que você quiser fazer o que Enrico te pediu, a resposta será não. Ele não vem pra capital. Mas já que não quer conversar, pode colocar uma música pra gente.
Bianca colocou sua playlist pra tocar como provocação. As vezes ele parecia um velho, chato. Tinha certeza que ele odiaria as músicas que ela gosta, então apertou o play e aumentou o som. E pra sua surpresa, ele começou a se movimentar na sequência das batidas e cantar junto.
Ela se deu por vencida, sorriu e os dois seguiram nessa harmonia, cantando e dançando no carro até em casa