Capítulo 29
1384palavras
2023-03-21 20:30
Voltando pra casa no domingo, Bianca sentiu como se o fim de semana tivesse passado voando. Estavam num silêncio gostoso no carro, que ela aproveitou pra ordenar seus pensamentos sobre tudo que viveu nesses dois dias.
Depois do selinho, ela se obrigou a descer pra jogar com Enrico, que passada a timidez inicial, se mostrou um menino bem agradável.
Jogaram até a pizza chegar, conversaram enquanto jogavam e Bianca percebeu o quanto ele era carente de mãe. Enquanto comiam, ela não conseguiu evitar de pensar o quanto atraía isso pra si, mesmo não querendo ser mãe.
Teve Aisha e a necessidade de se colocar na posição de mãe substituta pra atrair a menina para o plano dar certo. Sabia que a usou, mas não deixou ela ser impactada pela vingança. Prova disso era o quanto a menina ainda gostava dela e sempre se falavam. E claro, como estava vendo a adolescente de 14 anos voando alto. Tinha feito cursos de modelagem, Bianca financiou alguns trabalhos pra justificar ela ficar por lá, e Aisha se mostrou bastante talentosa. Pouco tempo depois já estava conquistando seus próprios projetos. Está falando inglês fluentemente, tanto que nem se lembra mais de falar em português com Bianca. E sua formatura está chegando. Ela sabe que vai ter que dar férias pra Gustavo assim que Emily voltar para que ele acompanhe. Isso quer dizer que vai precisar que Lorenzo fique mais um mês.
Teve seu próprio filho, com quem convive pouco. Sabe que sua mãe é quem cria o menino e ela não poderia deixar em melhores mãos.
E agora tem Enrico, que pediu pra ela intervir na mudança dele pra capital. Ela nem sabia como iria fazer aquilo. Só conhecia Lorenzo há uma semana, embora estavam evoluindo rapidamente.
Bianca lembrou que foram dormir depois do jantar. No sábado Enrico bateu em sua porta chamando para o café, e ela percebeu que teve uma ótima noite de sono. Não se lembrava de ter dormido tanto, já eram nove horas da manhã.
Ela tomou banho e desceu. Depois do café, Lorenzo perguntou se ela gostaria de colocar Pé de pano pra se exercitar. Ela ficou olhando pra ele com cara de retardada, pois na cabeça dela Pé de pano era o cavalo do Pica Pau do desenho animado.
Quando Enrico começou a rir, Lorenzo não conseguiu manter a cara séria e começou a rir também.
- É exatamente isso. Quando ele chegou, ninguém conseguia tirar da cabeça de Enrico o cavalo do Pica Pau, então ficou Pé de pano mesmo...
- Em minha defesa, eu tinha 4 anos, não tinha mãe, meu pai trabalhava demais e eu tinha uma babá que amava desenho animado. Ficavamos a manhã inteira na frente da TV bitolados.
- Além de permitir que o menino ficasse recebendo lavagem cerebral pela televisão, ainda deixou ele batizar um cavalo com o nome de Pé de pano?
- Eu queria Stallone, mas ele bateu o pé.
- Stallone é...
- Garanhão em italiano. Que falta de originalidade - Bianca revirou os olhos para Lorenzo.
- Tá vendo? Pé de pano é mais original...
- É mesmo? Como você se sente montando um puro sangue chamando de Pé de pano?
- Um idiota.
- Bem, vamos ver o que o Pé de pano sabe fazer.
- Você sabe montar a cavalo?
- Ela tem um haras, Enrico. Deve ter uns 18 Pés de pano.
- Um pouco mais...
- Puxa, por isso você sabia que o pé de pano é puro sangue sem nem olhar pra ele.
- Sim, imaginei que deve ser uma de nossas crias que papai presenteou Lorenzo.
Lorenzo confirmou assentindo e os três se encaminharam para os estábulos, onde Bianca percebeu que tinha uma égua também. E estava prenha.
Ela olhou o ventre da égua, e percebeu que era uma das suas reprodutoras.
- Ei, essa é a Estrela.
- É sim. Sua última cria e vai se aposentar.
- Acho que faz uns dez anos que não vou ao haras.
- E eu lamento por isso. Seu pai te levava lá sempre. Você se divertia bastante.
Passaram a manhã exercitando o cavalo e Bianca se prometeu tirar pelo menos um fim de semana por mês para visitar o aras da família, pois se lembrou do quanto era bom a sensação de montar.
Depois do almoço, estudaram o caso da adoção juntos, colocaram todos os tópicos em ordem enquanto Enrico jogava vídeo game com um amigo, que dormiu na casa e Lorenzo levou Bianca para sair a noite.
Dançou, se divertiu e bebeu muito pouco. Se lembrou do início da faculdade, onde podia sair como uma jovem despreocupada, não bebia e sempre tinha Thales pra cuidar dela.
Mas com uma diferença. Thales era seu primo e ela não podia acabar a noite pendurada nos lábios dele. E Lorenzo era um putä homão que ela queria muito beijar.
Percebeu que ele bebeu apenas uma dose de whisky e sentiu que a intenção dele era a mesma que a dela: não deixar o álcool afetar suas decisões.
Dançando juntos, ela tomou a iniciativa e o beijou. Ele correspondeu e ela gostou bastante do beijo, mas não foi aquilo que ela esperava. Borboletas no estômago como com Gustavo, levantar o pezinho, explosão de cores...
Se repreendeu. Primeiro porque não tinha que pensar em Gustavo numa hora daquelas. Depois porque essas reações são coisas de adolescentes. Ela era uma mulher, feita, independente e não precisava de nada disso, não acreditava mais em conto de fadas. Então, quando Lorenzo sugeriu saírem dali, foi de bom grado, imaginando uma bela noite de sexo selvagem.
Mas para sua surpresa, ele apenas saiu caminhando com ela de mãos dadas pela madrugada.
Depois de alguns minutos caminhando em silêncio, ele parou numa praça. Bianca olhou confusa de um lado pro outro. Viu que estava deserta, e achou ele bastante audacioso. Nunca tinha feito isso, se expondo, mas achou que seria interessante. Tudo tinha uma primeira vez, então jogou ele sentado num banco e sentou no colo dele de frente e o beijou de novo.
E mais uma vez ele jogou água fria em seus delírios. Apoiou suas pernas presas na cintura dele e levantou com ela no colo. Depois a colocou sentadinha no banco de lado e sentou, ficando de frente pra ela
- Pare de tentar tirar a roupa pra mim, ok?
Muito confusa, Bianca se sentiu rejeitada. Ele foi muito direto!
- Desculpe, eu pensei que você queria...
- E quero, Bianca. Como eu quero! Estou louco por você desde que te vi. Mas analisa a situação como um todo, tá bom? Acabamos de nós conhecer, você já viajou comigo, já conheceu meu filho. Tudo com você é bate e pronto. Você resolve tudo com sexo.
- Você está insinuando que... - o sangue fugiu do rosto dela.
- Não estou insinuando nada, Bianca. Você não percebe não é? Eu não sou esses moleques com quem você se relaciona no modo relâmpago. Você está a muito tempo finalizando qualquer um que se aproxima de você rápido demais pra não ter tempo de se envolver. É uma transa, duas no máximo e você descarta o infeliz da sua vida.
- Não faço isso...
- Julgue suas atitudes como quiser. Eu só estou dizendo que comigo não. Sou um homem, tenho minhas responsabilidades, um filho. Não tenho tempo nem disposição para rompantes. Já passei por essa fase, fiquei viúvo muito cedo. Pegar e não se apegar, fazer sexo por fazer. Não deixar meu telefone, nunca mais ver a mulher. Estou te dizendo que isso não é mais pra mim e eu desejo que não seja mais pra você.
- Não estou entendendo...
- Está entendendo sim porque você é muito inteligente. Se me quer, quer de verdade, tem que ser sério. Um compromisso. Por isso eu trouxe você em casa. Estou dando tempo de a gente se conhecer e se envolver. E esse final de semana é pra você relaxar e não pensar muito sobre isso.
E então ele a beijou de novo. Um beijo natural, com pegada forte. Quando se afastaram, Bianca sorriu e disse pra ele:
- Então, vou pensar nisso. Mas se é com castidade, não pode me beijar desse jeito mais não.
Lorenzo riu e a levou de volta pra casa.