Capítulo 27
1135palavras
2023-03-11 21:18
Bianca e Lorenzo almoçaram todos os dias juntos, com Lorenzo contando coisas para Bianca sobre o pai e relembrando seus ataques de adolescente. Bianca nunca se sentiu tão bem, nem tão em paz depois da morte do pai.
Ela entendia que Maurício era pra ela uma figura de amor e de cuidado, mas também sabia que nunca foi rebelde, nem de dar trabalho, então o pai não precisava estar em cima dela cuidando.
Através de Maurício, ela soube coisas do pai que não imaginava, como o programa de bolsas de estudo que ele financiava e Lorenzo continuou financiando para jovens carentes. Todos os anos, inseria 10 jovens com igualdade de gênero na universidade. No ano seguinte, quando eles estavam no terceiro semestre, designava pra estágios meio período pra custear a própria bolsa e dar lugar para o próximo. E treinavam esses futuros novos advogados por 8 semestres. O mais legal era o programa de clientes. A partir do momento que eles começavam o estágio, já podiam começar sua carteira de clientes. Pois todo cliente que eles traziam era defendido por um profissional do escritório. O pagamento ficava para o estudante que montava o caso e era orientado do início ao fim.

Bianca achou essa idéia espetacular, pois se sentia privilegiada por ter aprendido na prática e ter um profissional altamente qualificado a adotando foi decisivo na sua capacitação. E ela nem precisava do dinheiro que ganhava, então saber que todos os anos eles fazem isso por pessoas carentes é uma honra. Ponto pro pai, um filantropo raiz. Daqueles que não precisa divulgar que fazia caridade!
- Não, Bianca. Não pense que isso que fazemos é caridade. Damos uma oportunidade para uma pessoa sem condições de estudar por um ano as nossas custas. Depois, damos estágio para custear seus estudos e a oportunidade de aprender com os clientes que trouxer. E designamos um profissional para o adotar, mas ele quem trabalha no caso, exaustivamente e aprendendo e estudando. Nada mais justo do que ele ficar com o dinheiro desse trabalho para custear suas outras despesas pessoais.
- E com o cliente na carteira dele, que sempre trazem outros e quando ele se forma já tem uma vasta carteira...
- Sim. A maioria desses estudantes monta seu próprio escritório, se especializam e se associam.
- E essa é uma oportunidade de ouro, pois jamais conseguiriam isso sem a bolsa e nós, de fato, não precisamos desses clientes deles.
- Sim, Maurício nos colocou num patamar em que defendemos pessoas muito ricas, celebridades e contratos milionários. Os casos de comunidade, os ditos porta de cadeia, pessoas baixa renda não tem condições de pagar nossos honorários.

- E assim, vcs equilibram um pouco o pêndulo da justiça. Pois essas pessoas tem direito a um atendimento de qualidade mesmo não tendo tanta condição de pagar.
- Nós equilibramos, Bianca. Eu administro o programa, mas a maioria da renda pra custear sai dos cofres do escritório. Sem contar o contrato que cada associado assina em adotar pelo menos um estudante por ano. É tempo do associado que deixamos de ganhar.
- Deixamos de ganhar dinheiro, mas e o prazer de ajudar?
- Isso não tinha preço pro seu pai e não tem pra mim Mesmo porque temos muitos clientes importantes e dois ou três casos que um advogado ajudar alguém a defender não impacta em nada nossa renda.

- Tenho um caso complicado pra você. E posso pagar se for o caso.
- Está me passando seus casos, mocinha? Já não acha que estou sobrecarregado?
- É uma questão particular.
- Que você não pode se representar?
- Sim.
- Pode falar.
- Minha mãe encontrou uma criança nos Estados Unidos que quero adotar e trazer para o Brasil.
- Você é tão jovem, solteira. Porque quer adotar uma criança?
- Eu tive alguns problemas de saúde depois da morte do meu pai e acabei passando por uma histerectomia.
- Sinto muito.
- Tudo bem, já superei.
- E porque uma criança de lá? Temos tantas crianças no Brasil abandonadas...
- Essa criança já vive com minha mãe. Eu já o adotei. Só quero trazê-lo para o Brasil.
- Bianca, qual a primeira coisa que você fala para um cliente depois de o ler?
- Não estou mentindo para você, Lorenzo.
- Diga o mantra, Bianca. O que o seu pai ensinou a mim, a você e muitos outros.
- Não minta pra mim, não importa o quão culpado você seja, vou te defender se você não me esconder nada, nenhum detalhe com o qual eu possa trabalhar e jogar a se favor. - Bianca baixou os olhos e se arrependeu de ter pedido a ele. Deveria ter esperado Emily voltar! Mas o que estava feito, estava feito! - Gabriel é meu filho. Eu tive uma depressão profunda depois do fim do noivado e a morte do meu pai. Tive anemia, descobri da gravidez já no final. Ao invés de ganhar peso, eu perdi. Foi algo difícil que mamãe e eu passamos juntas e eu perdi o útero. Não quero que Gustavo saiba que o filho é dele, então vou adotar meu próprio filho.
- Agora sim, agora eu posso te ajudar. Vou montar o processo, depois a gente fala disso.
- Tá bom, obrigada Lourenço. Só por favor, traz meu filho o mais rápido possível.
- Tudo bem. Agora vamos, hora de almoço acabou. Você já preparou as malas para amanhã?
- Oh, sim, claro! Estou ansiosa para essa viagem, passar alguns dias, mesmo que só um final de semana, longe do escritório, longe de problemas, conhecer seu filho...
- Você vai adorar o Enrico, ele é um adolescente maravilhoso.
- Aposto que sim.
Os dois entraram no escritório sorridentes e encontraram um Gustavo de cara fechada: - Bianca, eu posso falar com você?
- É algum problema, Gustavo?
- É particular.
- Ok. Vamos até minha sala.
Quando entraram, Bianca sentou-se e cruzou os braços diante do peito:
- Pode falar.
- Bianca, semana passada dormimos juntos. Não faz nem uma semana e você nem fala mais comigo! Sequer falar comigo depois disso!
- Mas Gustavo, eu disse para você que era só sexo. Eu sou como o homem que não liga depois! O que você está me cobrando?
- Que dois dias depois você agora morrendo de encantos por esse novo advogado.
- Primeiro: para mim ele não é um novo advogado, ele é um advogado de confiança do meu pai. Segundo: a minha vida particular não te diz respeito, então por favor não mencione mais. E por último, vá cuidar da sua vida.
Quando Gustavo saiu Bianca se debruçou sobre a mesa e ficou pensando: aquela dor esmagadora no meu peito não pesa mais meu coração, gosto muito de estar perto do Lorenzo. Gustavo que se dane!