Capítulo 23
1205palavras
2023-02-26 01:46
Do carro, Bianca ligou para Thales.
- Mulher de Deus, onde você se meteu? Eu estava preocupado.
- Estou indo pra casa agora, você pode ir pra lá?
- É óbvio. Já estou indo.
- Pode levar o Augusto se quiser.
Chegaram quase juntos, Bianca subiu acompanhada pelo primo e o companheiro e Thales foi providenciando um pijama pra ela, enquanto tomava banho.
Depois eles sentaram na cama dela, e Thales foi fazendo carinho no seu cabelo enquanto Augusto massageava seus pés.
- Transei com ele
- Ah, amiga. Isso era inevitável! Pelo menos você se deu uma chance de ser feliz.
- Claro que não, Thales. Apenas fiz sexo. Não o quero de volta em minha vida.
- Eu acho que você está sendo imatura e até infantil, Bia. O cara é o amor de sua vida e está esperando você perdoar ele há quatro anos. Você deveria se dar essa chance real.
- Não, Augusto. Eu dei essa chance pra ele quando descobri tudo. Me dispus a ir resolver tudo pra ele em Minas. E quando eu estava a caminho ele mudou de idéia e pediu pra eu não estragar o casamento dele.
- Você sabe que isso não foi por ela, mas por Aisha, que estava sendo manipulada pra obrigar o pai a continuar com Sirlene.
- Já conversamos isso milhões de vezes, não entendo porque vocês dois defendem tanto ele.
- É porque você o ama, Bia. Você pode piriguetear por aí, torturar ele o quanto quiser, mas é sempre nos nossos braços que você acaba chorando.
- O que queremos, prima, é que você aceite que o ama, que o cara se redimiu pra caramba do erro que cometeu e vocês fiquem juntos.
- Nunca vou ficar com ele.
- E com ninguém, não é? Essa vingança já deu, Bianca. Sirlene já está pobre, humilhada, sem o marido e sem a filha, perdeu a casa que comprou, voltou a morar na casa da mãe doida e interesseira e lava banheiro dos outros pra sobreviver. Gustavo já ficou marcado pra vida toda, quando conseguiu entender o que era criar a filha e se adequar a isso, você fez a menina ir embora deixando ele tão infeliz que ele se arrastou por meses.
- Você se sente feliz de ver o homem que você ama desse jeito?
- Contei a ele da histerectomia.
- Contou tudo? Ou só o que lhe convém?
- Tudo? Vocês se esqueceram do quanto eu me arrastei por meses? Do quanto não pude consolar minha mãe depois que meu pai morreu? Do quão deprimida fiquei a ponto de quase me matar, porque ele me deixou descobrir que era casado e na hora da escolha, preferiu ficar com uma mulher gorda, feia e relaxada com a própria aparência e ignorante, sem estudos e sem ambição? E tudo isso em meio a meu maior drama familiar?
- Seu maior drama familiar você está vivendo agora, Bianca. A morte de seu pai era certeira. Ele provocou. Se absteu de se cuidar por teimosia.
- Não Augusto. Meu maior drama foi descobrir que estava no fim de uma gravidez em meio a uma depressão que me causou anemia profunda. Meu maior drama foi ver minha mãe gritando pra me salvar e deixar meu bebê morrer se tivessem que escolher. Meu maior drama foi sair com vida da mesa de parto e perder meu útero no processo.
- Bia, eu sei que foi muito doloroso tudo o que passou. E que poderia ter sido evitado. Mas você não perdeu só o útero nesse processo. Você perdeu a bondade do seu coração, a doçura da sua alma e a vontade de viver.
- Como perdi a vontade de viver? Estou aqui, forte, recuperada, seguindo a vida e tocando o negócio da família.
- Você se recuperou pra pensar em se vingar de Gustavo, como se ele fosse o único culpado por tudo o que te aconteceu.
- E ele não é?
- Não. Tem muito do destino, da mão de Deus. E se tiver que distribuir culpa, seria 50/50 pra Gustavo e você.
- Então eu sou culpada pela minha desgraça?
- É sim, Bianca. Você não poderia evitar de descobrir que ele era casado, mas você poderia escolher o que fazer com essa informação. Mas você preferiu fugir. Está certo, você precisava estar com seu pai no fim da vida. Mas você poderia escolher qual lembrança ele carregaria, e você deu a ele uma filha cheia de olheiras, magra que só chorava. E ele só podia pensar que era por culpa dele.
- Você está dizendo que meu pai partiu triste?
- Não é isso, Bianca. O Augusto quer dizer que já que você escolheu se afastar de Gustavo e passar o tempo que restava do tio com ele, deveria ter sido forte por você e sua mãe. Mas você deixou a tristeza dos dois fatos te abater e não percebeu que estava grávida. E depois que o tio morreu, você entrou num looping de auto destruição.
- E quase matei meu filho nesse processo...
- Sim, mas graças a Deus vocês dois tiveram uma segunda chance.
- E o que você fez com isso?
- O que eu fiz com isso? Não entendi sua pergunta, Augusto.
- Você e seu bebê tiveram uma segunda chance de vida. Por sorte, você saiu com ele da cirurgia e só perdeu o direito de ter outro bebê. Ou seja, Gabriel vai ser sua única prole. E o que você fez pra agradecer essa dádiva? Abandonou seu bebê com 6 meses pra sua mãe cuidar e voltou pro Brasil pra se vingar do pai dele.
- Augusto...
- Não, Bianca. Eu te abraço, te apoio, te consolo, sou seu amigo e te amo incondicionalmente. Mas não acho certo e tenho que te falar. Essa vingança está sugando seus melhores anos, enquanto seu filho vai fazer 4 anos e você vive longe dele e de sua mãe. Não quer voltar para o Gustavo por birra? É seu direito. Quer que ele ainda sofra mais pelo que te fez? Faça isso, se quiser. Mas não deixe sua mãe sozinha na velhice cuidando do único ser que você gerou na vida.
Thales amenizou a conversa, principalmente mandando ela descansar. No dia seguinte eles teriam a reunião com o associado que iria substituir Emily durante a lua de mel. Ela pediu um afastamento de três meses. Eles iriam viajar o mundo. Escolheu um dos associados mais antigos para cuidar de tudo enquanto ela tivesse fora. Bianca imaginava que seria um dos velhos de óculos dos tempos do pai.
Quando os amigos foram embora, ela ligou pra mãe.
- Oi, filha. Ele está dormindo, você nunca liga essa hora...
- Mamãe, se prepare para voltar. Amanhã vou dar entrada nos papéis da adoção do Gabriel e do passaporte para ele vir pra casa.
- Vai mesmo dar sequência nisso, filha?
- Não vou dar um filho ao Gustavo, mamãe. Vou assumir meu filho como meu e ponto final.
- Você quem sabe, filha. Não acho certo, mas a decisão é sua. Sempre sua.
- Te amo, mamãe. Se tudo der certo, em um ou dois meses vocês voltam pra casa.