Capítulo 14
1072palavras
2023-02-14 00:55
Gustavo pensou bastante no que Thales lhe falou. Sirlene estava postando enlouquecida. Ele deu um notebook pra Aisha de aniversário e Sirlene aprendeu a usar as redes sociais. Isso estava o incomodando também.
Depois de muito pensar, ele entendeu que tinha que começar seu plano para afastar ela de sua vida e manter a filha mais próxima. Agora que estava como vice presidente, ganhava bem mais do que antes e poderia fazer as visitas duas vezes por mês. Ele combinou também de levar a menina pra São Paulo nas férias escolares, tanto do meio do ano quanto no final.
Foi o primeiro natal que a família biológica passou com ela. Ela percebeu que tinha uma nova família ali, mais acolhedora que a de Minas.

Ele foi se afastando de Sirlene no tempo que Bianca passou fora, principalmente depois que o pai morreu. Ele percebeu que Bianca lhe daria o um ano que ele lhe pediu. Então tinha que fazer alguma coisa pra por fim a obsessão de Sirlene nesse tempo. Ele prometeu a Bianca que resolveria e resolveu.
E teve certeza que suas deduções estavam certas. No mês anterior sua bonequinha fez 12 anos. E Bianca mandou pra ela um Playstation 5 de presente. Ela pirou total.
Não só Bianca se manteve afastada dele no um ano que pediu, mais também estava agradando sua filha. Isso era um bom sinal!
Ele tinha colocado um ponto final na relação com Sirlene. E Aisha foi fundamental para ele conseguir isso. Ela, aconselhada por Bianca, foi conversando com a mãe e lhe fazendo entender que não valia a pena manter aquele casamento. Que era melhor ela conhecer outra pessoa na cidade, já que não queria sair de lá, e ter um marido por perto todos os dias.
Naquele momento, Gustavo estava livre para pedir a mão de Bianca em casamento. Não importava quando ela voltaria, mas ele sentia que era breve, pois o prazo que ele pediu se findou em um mês. Então ele mandou fazer um anel desenhado exclusivamente pra ela, e faria o pedido assim que ela voltasse. Estava girando a caixinha na mão em seu escritório quando ouviu a comoção do lado de fora. Guardou a caixa no bolso e abriu a porta, se surpreendendo com a visão de uma loira, esbelta, de ombros em pé. Muito altiva, num terninho sob medida, com um coque bem alinhado, acompanhada por um homem negro, de porte atlético, mais musculoso do que ele e que emanava poder e inteligência.
Quando seus olhos cruzaram com o de Samara, pode ver um breve lampejo de doçura, que durou meia fração de segundo antes que ela endurecesse o olhar e sem sorrir ou mostrar qualquer simpatia, lhe estendeu a mão:

- Bom dia, Senhor Namiato. Prazer em revê-lo.
Gustavo pegou a mão dela e levou aos lábios, tentando um beijo de boas vindas. Nem seus lábios encostaram e ela puxou o braço.
- Bem, já me deram as boas vindas, agora vamos ao trabalho. Vou pra minha sala e aguardo o Sr Namiato lá em uma reunião em meia hora pra me colocar a par de todos os acontecimentos.
Gustavo nem podia acreditar. Ela estava fria, distante, uma profissional seca.

Resolveu dançar conforme a música que ela tocava, se apresentou na reunião, falou pouco pois Emily já tinha deixado ela bem consciente de tudo. Achou um péssimo sinal aquele homem fazer parte da reunião.
Ao final, ela o apresentou como seu acessor e disse que ele estaria hospedado na casa dela até encontrar um lugar pra se estabelecer. Depois que dispensou Emily e Justin pra irem pras suas novas salas, disse pra Gustavo que esperava ele na casa dela as 21 para um jantar e conversarem. E o dispensou também.
Tudo sem nenhuma emoção.
Ele ligou pro ramal dela perto da hora do almoço, convidando pra almoçar com ele, mas ela recusou e apenas disse que no jantar conversariam.
Ele trabalhou mal humorado o restante do dia, depois foi pra casa, escolheu sua melhor roupa de dia a dia, seu melhor perfume e colocou a caixinha do anel no bolso. Ela não iria agir como se nunca tivesse acontecido nada entre os dois.
Quando tocou a campainha, no horário marcado levando um vinho de qualidade, percebeu que não era um jantar íntimo para conversarem. Era uma reunião de boas vindas com os amigos dela, e todo o momento Justin seguindo ela de perto.
- Agora todos os meus amigos estão completos. É tão bom ver todos vocês! Senti muitas saudades de todos.
Bianca estava num vestido de alcinhas lilás soltinho, uma rasteirinha com Strauss e só tinha uma gargantilha com um pingente de um menininho de boné, nenhuma outra jóia. Estava com os cabelos soltos e Gustavo não pode deixar de notar que ela estava deixando crescer, não mais usando o Chanel de bico que usou por anos enquanto estava com ele. A pele se mostrava bronzeada. Alguém perguntou e ela disse que passou um tempo em Manhattan antes de voltar.
Gustavo foi acompanhando alguns acontecimentos pelas perguntas dos amigos dela, ele mesmo não tinha coragem de falar nada. Estava se sentindo deslocado ali. Algo tão impessoal como um amigo. Ouviu as condolências sobre o pai dela, e também a emoção dela em contar como foram tempos difíceis e o quanto a mãe sofreu.
Alguém perguntou quando a mãe voltaria e só aí Gustavo se deu conta que não tinha visto dona Amalia, e ela apenas respondeu que a mãe fixou residência em Portland e que não tinha intenção de voltar nem para visitas, que ela faria duas visitas por ano para vê-la.
Gustavo fechou a cara na mesma hora. Como Bianca hospedaria o acessor bonitão em casa sozinha? Não conseguiu se impedir de formular essa pergunta em voz alta.
- Ah, Gustavo. Deixe de ser hipócrita. Primeiro essa casa é muito grande para eu viver nela sozinha. Só não me desfiz por ser a morada dos meus pais, mas nem eu pretendo ficar morando aqui. Estou procurando uma cobertura pra mim. Depois, não é como se eu fosse uma donzela frágil que não possa ter a companhia de um homem, não é? Tenho 25 anos, meu amigo, tenho permissão pra dormir sobre o mesmo teto que um homem!
Todos riram e Gustavo se sentiu atingido em cheio. Ele não sabia o papel que teria em sua vida dali por diante, mas ela deixou claro que tudo mudou.