Capítulo 12
1216palavras
2023-02-12 09:28
Bianca desembarcou em Minas Gerais e sua secretária já tinha alugado um carro com motorista pra ela. O combinado era ela pegar a menina na escola, o pai já tinha autorizado, e depois deixa-la de volta para o transporte levar pra casa. Bianca não contou para Gustavo, mas ela levaria a menina para casa e conversaria com Sirlene também.
Quando já estava no carro, a meio caminho da escola, resolveu avisar Gustavo que já estava chegando.
Quando ligou o celular, tinha várias mensagens dele. A primeira dizia: "por favor, não estrague meu casamento"

Bianca não entendeu nada e começou a ler as outras. Ele contava que quando chegou em casa naquela madrugada, tinha uma mensagem de Aisha, chingando ele por fazer a mãe chorar.
Ele se justificava que Sirlene foi mais rápida do que ele e levou a menina para o lado dela. E chamava ela pra falar com ele várias vezes. Dizendo pra ela não viajar e eles encontrarem outra solução juntos.
Como ela não respondeu, ele mandou o print da mensagem bem mal criada da filha. Na mensagem, Aisha dizia que ele era sujo, que não esperava aquilo dele, trair a mamãe dela , deixar as duas passar necessidades enquanto ele luxava em São Paulo com essa vadia. Que ela odiava ele e pra ele ficar com a riquinha desesperada por homem e nunca mais aparecer lá, que ela não queria ver ele nunca mais. Mas, se ele largasse a vadia e voltasse pra casa, ela perdoava ele.
Depois ele mandou a resposta que deu a ela, dizendo que não ficaria mais com a Bianca, mas não poderia largar o emprego que pagava a escola e transporte dela e que permitia ela ter internet, celular, notebook e vida confortável. Que viajaria nesse fim de semana pra eles conversarem e se entender.
Bianca olhou aquelas mensagens enojada. Não estava mesmo com raiva da menina. Percebia claramente que ela tinha sido manipulada pela mãe. Estava com ódio de Sirlene por ser baixa e usar as duas filhas pra segurar um homem que não queria ficar com ela. E magoada com Gustavo por vários motivos. Um deles era não repreender a filha por falar palavrão. Depois por ser um covarde e não mostrar pra filha que ela não era nenhuma riquinha vadia desesperada por homem. E mais, por ceder mais uma vez a chantagem emocional de Sirlene.
Bianca começou a imaginar que no fundo, ele amava aquela mulher dele feia, gorda e ignorante. E que gostava dessa situação de puxa e solta que ela fazia com ele. Entendeu que só por considerar perdoar ele ter escondido por 4 anos seu relacionamento conturbado, já se tornava a vadia que a menina a acusava.

O motorista a avisou que chegaram e ele estaria a disposição dela. Ela respondeu a mensagem dele, dizendo que não tinha mais o que ser discutido, ele tinha feito a escolha dele. Que ela ia conversar com a Aisha para lhe fazer um favor e depois eles conversavam. Desligou o celular e foi buscar a menina.
Quando Aisha apareceu, sem entender porque foi orientada a pegar suas coisas que a patroa do pai veio buscá-la, olhou com ódio para Bianca que chegou bem perto dela, fingindo abraça-la e disse:
- Por favor, não faz escândalo.
A menina assentiu e a seguiu. Ela assinou o livro de ocorrências e saiu. No carro, pediu ao motorista para levá-las ao melhor restaurante da cidade. As duas ficaram em silêncio no carro e Aisha tirou seu celular.

- Você pode ligar para jogar ou ver YouTube. Mas não pode entrar em nenhuma rede social, ok?
- Quem você pensa que é pra me dar ordens?
- Pra te dar ordens, ninguém. Mas posso te aconselhar a não estar on line em horário de aula e evitar broncas da sua mãe mais tarde.
Aisha considerou e guardou o telefone.
- Não é porque você deu uma dentro que pode se sentir a maioral.
- Aisha, se você se desarmar, vamos poder ter uma conversa madura. Sei que você é uma mocinha educada e vai conseguir ter uma conversa civilizada comigo.
- Você é o que? Um unicórnio encantado? Eu te chamei de vadia. VA DI A!!! E você diz que eu sou educada?
- Está vendo como você é muito bem educada? Você sabe que é errado e não deveria falar essas palavras feias. Você estava muito nervosa quando fez isso. Eu entendo. Só não deixe virar hábito.
- Ah, vai se ferrar. Você não é minha mãe.
- Não, e nem tenho idade pra isso. E não vim aqui pra conversar com você como mãe. Não tenho vontade e nem paciência pra educar ninguém. Tampouco vim aqui falar com você como a namorada do papai. Primeiro porque homens casados não deveriam ter namoradas, segundo porque não sou nada de seu pai. Se te deixar mais a vontade pra conversar comigo, quero que saiba que só tive conhecimento do relacionamento dos seus pais ontem. E já coloquei um fim no meu relacionamento com ele, independente de ele ficar ou não com sua mãe.
- Sério? Você vai largar o osso?
- Já larguei, Aisha. Olhe bem pra mim. Você acha mesmo que eu preciso ficar correndo atrás de homem casado ou ficar com uma pessoa que me enganou por 4 anos?
- 4 anos? Já estava com meu pai a 4 anos?
- Sim. Vamos almoçar e eu te conto tudo, vamos conversar como duas coleguinhas de idade próxima, ok?
Entraram no restaurante, pediram e enquanto aguardavam, Bianca contou como era cortejada antes de conhecer o pai dela e como se envolveram. Depois que começaram a comer, ela cumpriu os dois objetivos dessa conversa. O primeiro, era alertar Aisha do quanto seria ruim para os três, se ela se permitisse ser moeda de troca na relação dos pais. Contou o que a mãe vinha fazendo com o pai desde que a irmã morreu e disse que ela não precisava responder, mas pra ela pensar se valia a pena a mãe manter o pai por perto sob coação.
O segundo, ela contou pra Aisha que seu pai tinha, com sorte, 6 meses de vida. E explicou que estava lhe contando isso porque ela disse ao pai que o odiava. Que ninguém poderia saber como seria o dia de amanhã, e se ela tivesse a tristeza de todos os dias estar se despedindo do pai, sem saber quando seria a última vez, ela entenderia a futilidade dessas palavras. Depois de comer, ela perguntou se poderia tomar sorvete. Bianca perguntou se ela já menstruava e ela disse que não. Deixou ela tomar o sorvete, com o alerta de que coisas muito geladas eram terríveis para a TPM
Aisha meio que virou amiga dela. Bianca salvou o número dela, ignorando as várias mensagens de Gustavo e a levou pra casa. Deixou a menina lá e foi embora. Não queria e nem precisava do confronto com Sirlene. A achava uma mulher patética. Tinha muita empatia pela dor que ela sofreu. Mas Gustavo não era culpado pela perca dela, então ela não podia ficar castigando ele. Menos ainda mantendo ele preso a ela por pena.
Tinha tomado uma decisão, e começou a colocar em prática antes mesmo de entrar no avião de volta pra São Paulo.