Lucy havia dormido até às quatro da tarde. Seu corpo estava descansado, mas sua cabeça ainda estava gritando. Ela desceu os degraus da casa quando passava das quatro da tarde encontrou sua mãe sentada no centro da sala. Não falou nada, rumou para a cozinha em silêncio e buscou algo para comer na geladeira.
ㅡ Não vai falar como foi ontem? ㅡ Ouviu a voz de Sun-ha. Lucy não respondeu, caminhou com o prato que já estava feito e coberto por um plástico filme e retirou-o apenas para pôr dentro do micro-ondas. ㅡ Foi ruim? ㅡ a mulher olhou sobre o sofá.
Lucy encostou-se no armário dali e abraçou o próprio corpo dando de ombros.

ㅡ Foi normal.
A mulher franziu o cenho. ㅡ como assim?
ㅡ Só normal.
ㅡ Eu pensei que ao menos você fosse-
ㅡ Tem suco? ㅡ Lucy interrompeu a mãe ao abrir a geladeira. Não queria conversar sobre a noite anterior, ainda mais com ela.
ㅡ Eu fiz suco de melancia. ㅡ a mulher falou ainda observando a garota.

A garota juntou seu suco e seu prato sobre a mesa e sentou-se quieta ali. Ainda vestia o moletom que cobria suas marcas, então ela apenas sorriu fraco quando seu pai adentrou a casa com suas botas sujas de terra.
ㅡ Olá, mocinha. ㅡ o homem sorriu de volta e retirou os sapatos antes de seguir até ela e deixar um beijo sobre a testa dela. ㅡ acordou agora?
Lucy assentiu, comendo seu almoço e vendo agora Sun-ha adentrar a cozinha.
ㅡ Precisamos fazer compras. ㅡ a mulher avisou.

ㅡ Eu e Lucy poderíamos ir. ㅡ Jungso disse e olhou para a filha. ㅡ O que acha?
Lucy apenas deu de ombros mais uma vez.
ㅡ Vou fazer uma lista. ㅡ A mulher avisou buscando um pouco de água.
Lucy terminou sua refeição quieta. Seu pai sentou-se ao seu lado, olhando-a de relance e demorou até que enfim falasse algo.
ㅡ Como foi o baile?
Lucy ergueu-se para lavar o prato que havia sujado.
ㅡ Foi normal.
ㅡ Você se divertiu? ㅡ O homem virou-se para olhá-la. Lucy assentiu. ㅡ E Ryeon, vocês... dançaram juntos?
A pergunta despropositadamente fez um minúsculo sorriso nascer nos lábios da garota. E outra vez ela assentiu.
ㅡ Ele te pediu em namoro?
Lucy parou a esponja no centro do prato e virou rapidamente para fitar o pai. Jungso abriu os olhos impensadamente e riu completamente estranho.
ㅡ É que eu li um livro da sua mãe um dia e o garoto... sabe, pedia a garota em namoro no meio da pista de dança.
Desta vez Lucy riu grande.
ㅡ Isso não é um conto de romance, pai.
ㅡ Eu só achei...
ㅡ Não, Ryeon não me pediu em namoro. Mas ele já falou em casamento. ㅡ ela falou virando-se e segurando o riso por logo saber a reação do homem.
ㅡ Casamento? ㅡ e Jungso já estava de pé. O homem caminhou os poucos centímetros que lhe separavam da filha e olhou-a assustado. ㅡ Que história é essa?
Lucy riu e terminou de lavar o prato, jogando um pouco de água no homem ao olhá-lo.
ㅡ Seu bobo, estou brincando.
ㅡ Mesmo? ㅡ o homem tinha gotículas de água nas bochechas, mas pouco se importou. Queria apenas ouvir uma resposta positiva.
ㅡ Mais ou menos.
E ela não obteve, é claro.
Lucy passou por si, querendo voltar para seu quarto, mas teve seus ombros segurados e seu corpo virado. Seu pai estava de frente a si e ele semicerrava os olhos de forma que lhe divertia.
ㅡ Me explique agora, garotinha...
ㅡ Explicar o quê?
ㅡ Não se faça de boba, Jeon.
Lucy riu divertida outra vez, concordando com a cabeça.
ㅡ Ele só disse que um dia me pediria em casamento e que esperaria que eu aceitasse. Naquele dia no jardim, lembra? Ele falou em termos uma casa com sala de jogos, cinema e uma piscina cheias de boias bregas.
ㅡ Eu não deveria ter dado liberdade para aquele garoto. ㅡ Jungso falou estapeando a testa. ㅡ Olhe só agora, quer ter minha filha só para ele?
ㅡ Eu nunca vou pertencer a um homem, pai. ㅡ Lucy falou enfim passando e subindo as escadas. Ainda ria baixo quando chegou no topo.
ㅡ Ainda bem! ㅡ e ouviu seu pai gritar debaixo.
[...]
ㅡ Eu consegui! ㅡ Ryeon falava dando leves pulinhos.
Havia passado três dias desde o baile e tudo começava a parecer normal outra vez. Lucy já não sentia dores, por mais que as marcas ainda estivessem de forma aparente em sua pele e isso fizesse com que ela apenas usasse moletom, mesmo em tardes quentes como estava fazendo aquele dia.
Estavam todos na praça. Jaesun, Kimi, Mark, Kuan, Daniel... todos do grupo estavam lá. Ryeon, Jerry e Noah até mesmo usavam regatas cavadas para tentar livrar-se do calor, mas Lucy estava sentada no canto e vestia um extenso moletom escuro.
ㅡ Eu vou começar a trabalhar na segunda! ㅡ Ryeon outra vez falou animado, fazendo todos ao redor sorrirem.
ㅡ Você conseguiu mesmo? ㅡ Daniel perguntou e o garoto assentiu sorrindo. ㅡ Parabéns!
Todos desejaram o mesmo a Ryeon. Lucy sorria quando ele se aproximou e sem que pedisse permissão, sentou-se no espaço vago entre suas pernas.
ㅡ Parabéns. ㅡ ela sussurrou, tão perto do ouvido de Ryeon que o corpo do garoto arrepiou. ㅡ Estou feliz por você, oppa.
ㅡ Agora eu vou ter dinheiro livre para levar minha garota para passear. ㅡ ele brincou, também falava baixo e seus dedos já afagavam as bochechas infladas dela. ㅡ Mesmo que em Seul, que provavelmente tudo é bem mais caro.
Lucy riu e negou, mas Ryeon apenas manteve-se olhando-a. Queria beijá-la, mas depois do incidente, ainda não tinha tido a oportunidade.
Ouviram as vozes dos amigos sobressaltarem entre si e isso fez com que Ryeon desviasse os olhos. Lucy riu ao ter seu corpo erguido sem avisos por Jaesun e Ryeon foi puxado por Mark, o que quase fez o garoto voar.
ㅡ Vamos à praia. ㅡ Jaesun falou. Seus olhos fitaram Lucy e ele não encontrou negativa na garota. ㅡ Mas você pode passar mal com esse moletom... ㅡ comentou para apenas ela.
ㅡ Mas oppa, você sabe...
ㅡ Eu sei. ㅡ Jaesun sorriu entrelaçando seus dedos. ㅡ eu vou até à casa da Lu com ela, voltamos já.
Os garotos saíram correndo dali. Eles corriam como loucos pela estrada e Jaesun ria do modo em como Lucy se empenhava para seguir-lhe sem cair. Lucy tinha seu corpo puxado a todo momento e mesmo que seus pés se movessem por vontade própria numa velocidade alta, ela ainda não entendia o porquê de Jaesun está lhe levando para a casa.
ㅡ O que quer? ㅡ ela enfim perguntou quando pararam em frente a casa. Jaesun pôs o dedo indicador sobre a boca e pediu silêncio. Adentraram a casa e passaram de modo agiu sem que Sun-ha os visse da cozinha.
Jaesun foi quem primeiro adentrou o quarto da garota, e puxou-a até que estivesse sentada sobre a cama. Lucy viu quando o garoto foi até seu armário e abriu os olhos, enfim entendendo o que Jaesun queria ali quando ergueu um cropped seu nas mãos.
ㅡ Eu não vou usar isso. ㅡ ela logo disse, abraçando o próprio corpo e encolhendo-se sobre o colchão.
Jaesun abaixou a peça que ainda mantinha erguida no ar e suspirou. O garoto caminhou até onde a amiga estava, sentou-se ao lado dela e buscando sua mão direita, ele olhou-a nos olhos quando perguntou:
ㅡ Ele te deixou com marcas?
Lucy sentiu-se tola quando seus olhos encheram-se de lágrimas. Jaesun segurava sua mão de forma tão significativa para si que era tão bom quanto um abraço, lhe fazia sentir protegida. Lucy assentiu devagar.
ㅡ Eu posso ver?
A garota demorou, mas soltou a mão de Jaesun e juntou ambas no início de seu moletom. Lucy ergueu-o retirando-o e repousou ao lado. Ela usava um top simples para cobrir seus seios, mas nem sequer foi preciso mostrar onde ficavam os machucados, o garoto logo viu as marcas de dedos sobre os braços dela.
ㅡ Nós deveríamos ter ido à polícia. ㅡ ele falou baixo dedilhando com sutileza a pele dela.
ㅡ Sem polícia, Jaesun... Você sabe o que eles falariam quando Sungwon desse a versão dele.
ㅡ Malditos preconceituosos, isso foi um crime!
Lucy negou, buscava de volta o moletom para vestir, mas Jaesun a impediu de fazer.
ㅡ Eu consigo cobrir isso com maquiagem, não use algo tão quente num dia ainda mais quente.
ㅡ Você tem certeza? ㅡ ela olhou-o e viu-o assentir. ㅡ mas e se sair? É praia...
ㅡ Garanto que não vai sair. ㅡ Jaesun sorriu. ㅡ Agora troca de roupa que ainda estão nos esperando.