Já eram quase sete da noite e Lucy e Jaesun ainda estavam naquele quarto.
ㅡ Andem logo! ㅡ Gritou Jungso do final da escada. ㅡ irão se atrasar.
O homem havia se comprometido em levar todos para o baile, mas não buscaria a pedido deles. Lucy contou que talvez eles fossem para a casa de Daniel depois e só voltassem no amanhecer. Jungso concordou com a condição de que ela não ingerisse de maneira alguma bebida alcoólica. Lucy prometeu que não iria.

A garota terminava de fazer cachos em seus cabelos. Segurava o modelador de cachos numa mão, enquanto empurrava Jaesun com outra para que saísse de sua frente. O garoto tentava ver como estava sua roupa, mas com apenas um espelho grande o suficiente ali era quase impossível.
Lucy não gostava de compartilhar.
Kimi chegou logo em seguida, apressando Jaesun para que ele fizesse a maquiagem que ela havia escolhido.
O garoto bufou, mas sentou junto a ela na cama e fez com calma toda a maquiagem em tons cintilantes.
Quando enfim Lucy terminou com seu cabelo, ela passou os dedos para abrir mais os cachos e sorriu quando os fios balançaram com sutileza e pousaram sobre seus ombros.
Sua maquiagem já estava pronta e brilhava tanto quanto sua roupa ou sapatos. Havia feito uma camada sutil de base e pó sobre o rosto. Seus olhos estavam iluminados com um tom rosa que se agregava ao dourado. Havia feito o delineado de sempre, mas havia colocado cílios postiços pela primeira vez.

Sentia os olhos pesarem, era um pouco estranho. Mas ela achou que aquilo ressaltava seus olhos grandes e redondos e apenas finalizou a maquiagem com um sutil tom de rosa em suas bochechas e um pouco de iluminador também.
Jaesun riu quando a garota tentou fazer como havia visto na internet e passou iluminador na ponta do nariz. Lucy não tinha a mínima noção de quantidade e estava com seu nariz brilhando tanto que parecia uma estrelinha.
Jaesun foi a salvação, ele mesmo disse isso enquanto retirava o excesso da maquiagem. Olhou-a por fim, segurando em suas bochechas e falou enquanto ria:
ㅡ Eu poderia te beijar agora mesmo.

Lucy fez uma carinha desgostosa enquanto ouvia Jaesun e Kimi rirem alto. A garota finalizou tudo com um sutil batom cor de pêssego e pôs seu perfume.
Estava pronta e assim olhou sua imagem uma última vez. Ela gostou de sentir o vestido sobre sua pele outra vez e brincava sempre com a parte aberta que dava a visão de sua coxa desnuda. A meia fazia sua pele transluzir em um tom perolado, e seus sapatos brilhavam com o toque de Daniel.
A amiga virou para os outros e viu-os também prontos. Lucy buscou seu celular e desceu com os amigos para encontrar com Jungso.
Ela mexia no celular quando chegaram à parte debaixo, estava alheia numa conversa com Ryeon e nem sequer viu quando sua mãe ainda da cozinha olhou-a outra vez surpresa.
Jaesun foi o primeiro que viu o olhar da mulher sobre a filha. Kimi viu logo em seguida. Lucy por fim foi puxada para a realidade quando Jaesun cutucou-a no ombro e a fez erguer o olhar.
A garota fitou a mãe e viu os passos lentos e incertos que ela dava em sua direção. Respirou fundo, pois não queria brigar mais. Não naquele dia. Um dia tão importante para si.
Sun-ha parou a sua frente e ainda menor, ergueu os olhos para fitar os da outra.
Jungso chegava na sala naquele momento e parou os passos quando também viu a cena. Todos ao redor pareciam receosos e incertos do que a mulher poderia causar à filha apenas para que ela não fosse ao baile.
Sun-ha tinha os olhos marejados, seu peito subia e descia de modo rápido com o ar que respirava. O silêncio ainda era vultuoso, e continuou quando a fechou os olhos e deixou com que suas lágrimas caíssem.
Lucy tentou avançar para ampará-la, mas sua consciência fez com que ela parasse. Doía em si, ver sua própria mãe chorar por ela, por algo que ela não tinha escolha, mas ela não podia deixar-se levar por algo que era dela. Sua identidade.
Lucy ergueu o nariz e segurou o bolo que subia por sua garganta e as lágrimas que queriam descer por seus olhos. Ela se aproximou da mãe e, incerta, passou seus longos braços pelo tronco pequeno.
Sun-ha sumiu nos braços da filha, mas não conseguiu retribuir o aperto. O coração de Lucy continuava magoado por tudo, mas seus lábios sorriram e deixaram um beijo sobre a bochecha esquerda da mulher. Um beijo apenas para que ela entendesse que estava tudo bem.
Afastou-se e soltou os braços do abraço e viu a mulher soluçar devagar. Sun-ha ergueu a mão direita e tocou o rosto de Lucy. Ficou daquela maneira por vários segundos e em silêncio. Todos olhavam a cena assustados, mas entendiam o que tal momento representava ali.
Era Lucy reluzindo e predominando a sua própria identidade.
A garota esperou que o toque da mulher findasse. Ela sabia que sun-ha não lhe desejaria um bom baile ou elogiaria suas roupas, então apenas esperou quieta.
Quando a mulher deixou com que seus dedos deslizassem e o toque enfim findasse, Lucy encheu seus pulmões de ar e liberou de forma vagarosa. Olhou nos olhos da mãe uma última vez antes de seguir seu caminho.
Sentiu o vento da noite quieta colidir contra seus braços nus e sentiu seus pelos eriçarem. Ela suspirou, olhando para os amigos que vinham logo atrás e sorriu para ambos.
Jaesun foi o primeiro a abraçá-la forte e deixar um beijo sobre sua bochecha, Kimi apenas o seguiu e riu quando abraçou ambos juntos.
Jungso abriu a porta do carro para que os três entrassem e pediu para que eles colocassem o cinto, rumando em seguida para a casa de Ryeon.
[...]
Ryeon terminava de arrumar o smoking azul-marinho que sua mãe havia alugado e sorriu como bobo para sua imagem no espelho.
Roseanne também ria, estava encostada na porta do quarto do garoto e admirava-o como uma mãe orgulhosa.
ㅡ Quer ajuda com a gravata? ㅡ rosé perguntou sentando na ponta da cama.
Ryeon negou.
ㅡ Não vou usar uma, me incomoda demais.
A mulher negou, mas não podia obrigar o filho a usar uma. Viu-o arrumar os cabelos recém-tingidos e sorriu outra vez quando ele começou a fazer poses na frente do espelho.
ㅡ Será que todos vão gostar? ㅡ Ryeon perguntou-a referente ao cabelo. ㅡ essa cor não é exagerada?
ㅡ Amor, se você gostou, é apenas isso que importa. Mas seus amigos irão com certeza gostar. Você ficou lindo.
Ryeon olhou-se outra vez no espelho e passeou os dedos pelos fios acobreados outra vez. Ele verdadeiramente sentia-se feliz, conseguia imaginar-se como a Dylan Sanders, e ria abobalhado toda vez que lembrava que esse era um desejo antigo seu.
Ele até mesmo esperava ansiosamente para que Lucy visse seus fios e tivesse a mesma percepção. Os adolescentes sempre quiseram ser como as personagens de "As panteras" e agora que Ryeon se sentia como tal com seu cabelo novo, seria com certeza a Dylan da Alex e só esperava Lucy para montar a dupla.
Ouviram o som da buzina na frente da casa e Rosé foi até a janela. Viu Jungso descer do carro e acenar. Ela retribuiu o aceno e pediu para que ele esperasse que Ryeon já desceria.
ㅡ Passou perfume? ㅡ Rosé perguntou ao filho. Ryeon correu até seu armário e buscou-o para pôr um pouco sobre suas roupas. ㅡ Não exagera assim! ㅡ a mulher falou tomando o recipiente das mãos dele e despejou apenas um pouco sobre o pescoço, nuca e pulsos dele. ㅡ Já escovou os dentes? ㅡ Ryeon assentiu. ㅡ certo. Nada de bebida alcoólica, entendeu?
ㅡ Nem um pouquinho? ㅡ A mulher semicerrou os olhos, fazendo-o rir. ㅡ estou brincando.
ㅡ Confio em você. ㅡ ela disse por fim sorrindo.
Ryeon sorriu de volta para a mãe, mas apressou-se para descer as escadas. Roseanne vinha logo atrás, mas tudo o que Ryeon queria era ver como Lucy estava.
Julgava que linda, porque Lucy sempre estava linda.
E quando ele abriu a porta da frente de sua casa, ele ofegou alto ao ver ela bem ali, a sua frente.
Lucy estava de pé na frente do carro, Estava com as mãos encolhidas a frente do copo, mas sorria contida para Ryeon e tinha seus olhos sobre os cabelos alaranjados dos outro.
Jungso também saiu do carro, sorrindo pequeno ao ver a cara que Ryeon tinha para Lucy, ele havia provavelmente ficado daquele mesmo jeito quando viu sua filha naquele vestido também. Os olhos do homem também fitaram os fios cor de abóbora do garoto, ele franziu o cenho por nunca ter visto Ryeon sem o seu rotineiro cabelo castanho, mas percebeu como até uma cor vívida e que também era por sua vez extravagante, Ryeon ainda ficou bonito. Roseanne parou a porta, tão surpresa quanto Ryeon, mas Park não esperou para se aproximar e deu fim aos poucos metros que lhe separavam da garota.
Lucy encolheu-se mais, nunca pensara que estaria tão envergonhada como estava ali. Ryeon não disse nada de início, apenas segurou suas mãos e delicadamente, trouxe-a para perto de si.
A garota tinha a respiração baixa, mas estava nervosa. Seu peito subia e descia com sutileza, mas seus olhos piscavam em ansiedade. Ryeon soltou sua mão esquerda e fez-lhe virar em completa admiração. Lucy deu um giro vagaroso à sua frente, com o vento balançando seus leves cachos e também seu vestido, fazendo-o dançar como uma leve pluma no ar e fazendo-os se encontrar, como sempre se encontravam outra vez. Ryeon aspirou em deleite a fragrância que, em constante, adentrava suas narinas e lhe presenteava com o mais doce dos aromas. Ele sorriu quando os corpos outra vez estavam próximos, um de frente para o outro, e sentiu seu coração outra vez gritar com o tanto que lhe enchia estar tão perto de sua paixão.
Os olhos do Park brilharam, o mundo ao seu redor não mais existia, era apenas ela ali. Somente ela.
Ryeon sentiu quando seu coração acelerou mais. Era o mais puro sintoma de todo o seu sentimento por ela, mas vagou seus olhos uma última vez por todo o corpo da garota, detalhando como era belo, ainda mais coberto pelo tecido fino e cintilante que reluzia sobre ela. Ele enfim suspirou apaixonado e parou seus olhos sobre o negrume dos grandes olhos de jabuticaba que lhe notavam também.
Ele aproximou-se mais, tampouco se importando realmente com tudo e beijou-a com sutileza nos lábios.
ㅡ Está linda. ㅡ ele sussurrou.
Lucy sorriu cúmplice, deixando com que seus dentes avantajados aparecessem mais e que Park se sentisse perdido ao lhes notarem.
O sorriso era o mais belo que ele já havia visto.
Park tocou-a na bochecha esquerda e Lucy repousou sua mão sobre a dele, apenas para sentir mais de Ryeon.
Em seguida, seus olhos foram guiados outra vez para os fios do Park. Seus dedos guiaram-nos para lá e Lucy sorriu divertida quando os tocou.
ㅡ Está laranja. ㅡ comentou fazendo o Park rir,
ㅡ Sou como a Dylan Sanders agora, senhorita Alex.
Lucy cobriu a boca e riu baixinho, se divertia com as bobagens de Ryeon, mas sabia que aquele sempre fora um desejo dele. Ryeon sempre invejou como os cabelos da personagem pareciam fogo e sempre quis saber como ficavam em você caso um dia resolvesse pintar seus próprios fios também.
E, bem, Lucy gostou muito. Gostou ainda mais por aquilo deixar aparentemente Ryeon mais feliz consigo mesmo.
ㅡ Você ficou muito bonito, oppa.
Os outros ao redor apenas via a cena que do casal juntinhos, quietos. Era como uma típica cena de filme adolescente. Jaesun riu com Kimi, enquanto Jungso encarava aquilo sem reação alguma. Park Roseanne cobriu a boca com a mão e segurou-se para não exalar sua euforia ao ver Ryeon deixar mais um selar sobre Lucy e ainda permanecer juntinhos e conversando em sussurros.
Eram fofos, ela diria. Estavam presos em um mundo somente deles.
Jungso coçou a garganta, mas não foi o suficiente para assolar o clima daqueles dois. Ryeon ainda se atreveu a rodopiar Lucy mais uma vez, apenas para fazê-la rir, pois ainda se encontrava tão absorto nos detalhes de sua garota, que precisa apreciá-la mais para crer que tudo era de fato real.
Lucy, enfim notando os olhares ao redor, outra vez se encolheu. Ela virou devagar, não totalmente e olhou para seu pai. O homem desviou os olhos no mesmo instante, como se nem sequer tivesse visto algo e a risada alta de Rosé foi tudo o que ela ouviu.
Ryeon enfim voltou para a realidade, suas bochechas instantaneamente ficaram rubras e ele piscou nervoso quando também olhou para Jungso.
Lucy decidiu ir até Rosé, cumprimentar a mulher e ouvir de modo eufórico como estava linda daquele jeito. Ryeon fez o mesmo, indo até Jungso para cumprimentá-lo, mas o homem logo pôs seu semblante sério, tão sério que Ryeon podia jurar que sentiu sua barriga doer no mesmo momento em que parou de frente ao mesmo.
ㅡ B-Boa noite, senhor Jeon. ㅡ ele até se curvou.
Jungso franziu o cenho por não ouvir um "tio" na frase, mas respondeu-o educadamente.
ㅡ Tudo bem? ㅡ Ryeon ousou perguntar.
ㅡ Sim, está, mas ficará ainda mais caso possamos conversar um pouco agora, tudo bem para você?
Ryeon piscou atordoado, mas assentiu.
ㅡ Claro...
Jungso olhou Lucy ainda conversando com rosé e também olhou para os adolescentes que saiam de seu carro para ir até Lucy e também cumprimentar a mãe de Ryeon.
Jungso viu o momento perfeito para si.
ㅡ Vamos estabelecer regras aqui, ok? ㅡ falou, mas não deu sequer tempo para Ryeon lhe responder de volta. Logo, o homem estava com a mão erguida, listando as "regras" de modo claro para que Ryeon entendesse. ㅡ Sem mão onde não pode, sem álcool, sem baderna, e sem beijos... grudentos demais.
Ryeon ouvia tudo quieto, mas pensava consigo mesmo: O que seria um beijo grudento demais.
Mas antes que perguntasse, Jungso aproximou-se mais.
ㅡ Um palmo é a distância máxima para quando for fazer... isso. Só a toque se ela quiser, só a beije se ela quiser, e se ela não quiser, irá respeitá-la, entendeu? ㅡ Ryeon assentiu rápido, compreendendo as regras. Ele não seria louco de fazer algo sem que Lucy permitisse. ㅡ Estou confiando em você, entendeu?
Ryeon riu quando ouviu aquilo, mas Jungso apenas ergueu uma sobrancelha sem obter uma resposta do outro. Logo Ryeon percebeu seu erro e cessou seu riso, aprumando a postura e respondendo, de modo límpido, um:
ㅡ Sim, senhor.
Jungso aceitou a resposta, tocando sobre o ombro esquerdo de Ryeon para deixar dois tapinhas lá. Ryeon engoliu em seco quando o homem virou para olhar a filha e pode respirar aliviado sem que ele percebesse.
Quando Lucy retornou, Rosé se aproximou e chamou Jungso para perto de si e pediu ajuda ao homem para tirar uma boa foto dos jovens juntos.
Jungso não entendia muito das tecnologias novas, mas buscou o celular da mulher e com ela junto a si, olhando a tela do celular, viu os jovens se agruparem a frente e viu Ryeon buscar Lucy para perto de si. O garoto segurava-a pela cintura, o que fez Lucy rir, mas quando ele encarou os olhos do mais velho, Ryeon se apressou a desgrudar um tantinho o corpo e mediu, sem que Lucy visse, a medida de um palmo de distância.