Capítulo 43
2613palavras
2023-02-05 08:33
Lucy estava no meio de seu quarto, jogava para todos os lados peças de roupas e suspirava a cada vez que não encontrava o que procurava.
ㅡ Como você conseguiu perder essa meia assim? ㅡ perguntou Jaesun, sentado junto a si e procurando o adereço também.
ㅡ Eu não sei oppa, estava aqui. Sempre guardei aqui.

ㅡ Algum problema? ㅡ Jungso apareceu à porta, olhando a bagunça que os jovens faziam no centro do cômodo.
ㅡ Minha meia calça, pai. Ela sumiu!
ㅡ Sumiu? ㅡ Jungso franziu o cenho. ㅡ Não está junto do seu vestido?
ㅡ Não, deveria estar, mas não está. Eu tenho certeza que deixei lá, mas agora sumiu.
ㅡ Não está no seu guarda-roupa? ㅡ Jungso caminhou até ele e viu Jaesun negar.
ㅡ Eu já procurei por aí, tio. Realmente sumiu.

ㅡ Olharam na máquina de lavar?
ㅡ Esse tipo de peça não se lava na máquina tio. ㅡ Jaesun riu revirando mais uma caixa junto a Lucy. ㅡ Estraga tudo.
ㅡ Ela não pode sumir assim. ㅡ Lucy choramingou fazendo bico quando a última caixa foi esvaziada.
Jungso analisou tudo ao seu redor, vendo que, aparentemente, tudo já havia sido mesmo revirado.

ㅡ Vou perguntar se sua mãe viu ou sabe onde ela está. ㅡ Jungso falou dando as costas aos jovens.
ㅡ Se ela viu, ela rasgou. ㅡ Jaesun apenas balbuciou baixo, mas o tom foi capaz de fazer com que Jungso ouvisse.
Sun-ha não seria capaz de algo assim.
Ele desceu as escadas e ouviu o som da voz de sua esposa cantarolando no jardim frontal. Caminhou até lá e encontrou-a regando as poucas flores que havia ali.
ㅡ Lucy está procurando por uma meia calça, você a viu?
ㅡ Não o chame assim. ㅡ Sun-ha reclamou baixo. ㅡ sabe como isso ainda soa para mim...
ㅡ Você não vai se acostumar se caso continuar negando assim.
ㅡ Talvez eu nem queira.
Jungso respirou fundo, não queria entrar em tal assunto naquele dia. Não no dia em que veria pela primeira vez sua filha vestida num vestido de baile.
Quando tal pensamento passou por sua mente? Jamais conseguiria pensar que um dia teria uma filha e que veria ela num vestido de baile. Ele estava nervoso e ansioso.
ㅡ Você viu?
ㅡ Está na máquina de lavar.
ㅡ Mas Jaesun disse que não pode lavar porque- ㅡ Jungso parou no mesmo instante em que entendeu o propósito ali. ㅡ foi intencional, não é?
ㅡ Do que está falando? ㅡ A mulher olhou-o.
ㅡ Você está tentando boicotar o dia dela? ㅡ Sun-ha desviou o olhar, parecia triste. ㅡ claro que está... ㅡ Jungso negou decepcionado. ㅡ você tem noção de como ela está ansiosa por isso? É um dia importante.
ㅡ Eu não quero que ele ande por aí fantasiando um mundo cor de rosa, Jungso. Existem muitas pessoas ruins que matam esse tipo de gente, você sabia? Se ele quer viver isso, que viva dentro de casa, sem que ninguém veja ou o machuque.
ㅡ Você está machucando ela assim, mesmo que não fisicamente.
ㅡ Você está inconsciente sobre a gravidade disso, não vê o problema real. Eu só quero protegê-lo.
Jungso virou-se sem querer continuar mesmo aquela conversa e adentrou a casa. Foi até onde a chave de seu carro estava e buscou-a. Vestiu um casaco e saiu.
Ele estava com raiva, não entendia porque Sun-ha continuava com toda essa negação quando Lucy estava feliz do modo em como estava. Ele sabia que existia sim, pessoas como Sun-ha havia dito, pessoas que machucam por pura maldade humana, mas essas pessoas não eram a maioria e por mais que ele quisesse cuidar e proteger Lucy, Jungso sabia que deixá-la ser quem ela era, era o melhor.
Ele não sabia de fato para onde estava dirigindo, mas sabia que com certeza acharia uma loja de meias no centro da cidade. Dirigiu de modo rápido até lá e logo parou em frente a uma loja de lingeries. Não sabia se acharia a meia que sua filha precisava, mas olhou por bons longos minutos as diversas meias e lingeries expostas na vitrine, então resolveu entrar para procurar.
ㅡ Olá. ㅡ Uma moça se aproximou. Ela estava sorridente, vestia um tipo de uniforme, então Jungso presumiu que ela era uma das que trabalhavam ali. ㅡ Posso te ajudar?
ㅡ É... Sim. ㅡ ele sorriu e se virou para apontar para a vitrine. ㅡ Aqui tem outras meias além daquelas?
ㅡ Oh, sim. Me acompanhe, por favor. ㅡ ela respondeu-o, caminhando a frente e Jungso apenas a seguiu.
Havia várias lingeries espalhadas, das mais ousadas às mais compostas. Jungso tentava não olhar muito, sentia-se estranho em estar numa loja de roupas íntimas já que nunca sequer precisou ir a uma. Para a esposa, era sempre ela que escolhia as peças que queria. A mulher sempre fazia questão de ir comprar e não pedia opinião ou a companhia dele. E ainda assim, as lingeries de Sun-ha não eram tão ousadas como aquelas.
Mas para Lucy, lá estava ele, caminhando com uma vendedora por entre tantas lingeries, apenas para comprar uma meia calça e deixá-la feliz.
ㅡ O senhor tem um modelo em específico? ㅡ a mulher parou sobre uma seção apenas de meias. ㅡ Temos diversos tipos.
ㅡ Bom, eu... é para a minha filha. ㅡ Jungso falou olhando a diversidade que tinha à sua frente.
ㅡ Mas não há um modelo em específico?
ㅡ Ela irá para um baile. Eu não sei o modelo, mas é daquelas que não podem ir à máquina de lavar, sabe?
A mulher riu baixo e assentiu. Buscou algumas meias e as colocou sobre o balcão de vidro que havia próximo de onde estavam. Jungso atentou-se às peças e tocou-as quando a mulher pediu enquanto explicava cada tipo.
ㅡ Essa é uma meia de fio fino, é quase na tonalidade da pele. Temos diversas cores.
ㅡ Essa é bem fina... acho que deve ser dessa.
ㅡ Certo, e qual cor?
Jungso riu nervoso olhando para a mulher e buscou o celular.
ㅡ Só um minuto.
O homem discou rapidamente o número da filha e esperou a chamada ser atendida. A mulher ainda aguardava sorridente, e logo Jungso ouviu o som da voz de Jaesun atender a chamada.
ㅡ Jaesun, me diga qual o tipo, a cor e o fio da meia.
A atendente riu outra vez e até mesmo Jaesun parecia acompanhá-la, pois riu alto do outro lado da linha.
ㅡ Onde o senhor está?
ㅡ Numa loja de meias. Existem várias, eu não sei qual escolher.
ㅡ Oh... é, hm... fio número dez, cor bege claro.
ㅡ Oh, tudo bem. Muito obrigado pela ajuda, garoto. Onde ela está?
ㅡ Está no banho.
ㅡ E está bem?
ㅡ Está bem triste pela meia, mas acho que está bem.
ㅡ Não conte sobre essa ligação a ela, ok? Quero fazer uma surpresa.
Jaesun riu outra vez, mas concordou antes de finalizar a ligação. Jungso buscou a meia do modelo e cor certa e caminhou junto a mulher para o caixa. Ainda olhava as diversas lingeries ali e sentiu-se estranho outra vez, mas cutucou o ombro da mulher ainda ao seu lado e teve a atenção dela outra vez.
ㅡ Você tem... hm, sabe... ㅡ ele apontou para o busto. A mulher franziu o cenho. ㅡ minha filha é... Ela precisa de sutiãs, você teria algum, também?
A mulher assentiu outra vez e separou a meia-calça para caminhar outra vez com Jungso em seu encalço.
ㅡ Qual o número que ela veste?
ㅡ Número? Tem isso?
A mulher olhou-o e tentou não rir outra vez, não queria deixá-lo desconfortável, por mais que a situação fosse engraçada, ainda era um cliente ali.
ㅡ Sim, mas qual a idade dela? Podemos encontrar algo.
ㅡ Ah, ela tem quase dezoito.
ㅡ Oh, é quase uma adulta. ㅡ A mulher comentou buscando alguns. ㅡ temos alguns com bojo, suporte, mas também temos uns bem sutis.
Jungso reparou outra vez nas peças que a mulher colocou sobre o balcão e coçou a nuca confuso.
Ele nunca tinha reparado no tamanho ou opções que uma única peça poderia ter.
ㅡ Ela não tem muito... ㅡ e outra vez ele apontou para o busto.
ㅡ Volume? ㅡ ele assentiu. A mulher buscou um entre os demais e mostrou-o. ㅡ esse tem a base de renda, mas não há suporte ou algo do tipo. É delicado, mas há um pequeno bojo removível para caso ela queira aumentar o volume dos seios.
Será que Lucy queria aumentar o volume dos seios? Céus, quão confuso era comprar um sutiã...
ㅡ Quero um desse. ㅡ pediu sentindo suas bochechas queimarem com a súbita vergonha que lhe veio.
ㅡ Temos a calcinha que também é conjunto, gostaria de ver?
Os olhos do homem faltaram pular. Jungso encarava a mulher como se ela tivesse dito algo que o deixasse completamente assustado. Mas a verdade era que ele apenas estava surpreso. Ok, talvez estivesse um pouco assustado, nunca pensou em ter uma filha ou que um dia estaria numa loja de lingeries para comprar algo feminino.
Mas mesmo assim o homem assentiu devagar. A vendedora olhava-o com olhos grandes e brilhantes, que sorriam a todo o instante. Era impossível dizer não.
A mulher mostrou-lhe a calcinha, mas Jungso não quis olhar demais. Sentia que era algo muito invasivo. Pediu para embrulhar tudo para presente e ainda com vergonha, pagou pelas compras.
Não sabia qual seria a reação da filha ao ver que ele havia comprado uma calcinha.
Era uma calcinha!
Jungso realmente estava nervoso, e sua postura não mudou quando ele chegou em casa e adentrou a casa com a pequena sacola em mãos.
ㅡ Onde foi? ㅡ Sun-ha perguntou. Estava descendo as escadas, e acabou por encontrar Jungso nos primeiros degraus.
ㅡ Fui resolver uma coisa. ㅡ ele disse sem querer parar, mas a mulher impossibilitou sua subida.
ㅡ O que é isso? ㅡ perguntou para a sacola. Jungso olhou-a e viu a mulher ofegar quando leu a escrita com a logo à frente. ㅡ Você não foi comprar uma meia para ele, não foi?
ㅡ Para ela? Fui. ㅡ o homem disse desviando e seguindo para cima. ㅡ não vou deixá-la triste num dia como hoje.
ㅡ Você não tem cérebro? ㅡ a mulher seguiu junto a ele. ㅡ é um absurdo.
ㅡ Absurdo é você, como mãe, priorizar o seu bem-estar e não o da nossa filha!
ㅡ Meu bem-estar? Eu quero protegê-lo do mundo.
ㅡ Não, sabemos que você apenas não quer que suas amigas da vizinhança falem. Ou você acha que eu não percebi que depois de tudo isso, elas te deixaram?
ㅡ Isso é apenas mais um motivo.
Jungso freou os passos já bem próximo do quarto da garota. Virou-se e encarou a mulher mais baixa que si. Ele olhou bem nos olhos dela e percebia que uma mistura de sentimentos pintavam o escuro de suas íris.
ㅡ Essas pessoas não são suas amigas. Não são nada, porque te abandonaram. Nós somos sua família, não te abandonaríamos nem se você pedisse, então por que é tão difícil deixá-la apenas viver do modo em como quer?
ㅡ Porque é errado, Jun... ㅡ A mulher suspirou. ㅡ Eu sou mãe, eu tenho medo.
ㅡ Eu também tenho Sun-ha, mas isso não pode impedir ela de viver. É confuso, eu sei, mas é real. É nossa filha, não é Woojin.
A mulher suspirou de modo cansado. Jungso realmente não queria que ela ficasse triste ou que suas palavras lhe magoassem, mas era necessário. Já havia semanas daquilo e Sun-ha nem sequer havia conversado de maneira clara e objetiva com Lucy. A mulher nem sequer quis ir nas tantas consultas que sua filha esteve com a psicóloga ou nas vezes em que foi até o endocrinologista. Sun-ha não estava sequer tentando entender o que se passava na realidade daquela casa.
Jungso virou-se quando ouviu a porta do quarto de Lucy ser aberta e Jaesun sorriu ao vê-lo ali.
ㅡ Conseguiu? ㅡ O garoto perguntou animado, olhando a sacola nas mãos do homem.
Jungso assentiu e sentiu Jaesun puxá-lo pela mão.
Adentraram o quarto e Jungso ofegou quando encontrou Lucy sentada na ponta de sua cama, tocando de modo alheio uma das pedras do vestido.
A garota já estava vestida, mas não parecia completamente feliz. Seus pés estavam descalços e um par de tênis 'all star' repleto de brilho prateado, jogado bem a frente.
Os olhos do homem ainda estavam sobre a roupa no corpo dela, e ainda que ele estivesse caminhando para perto, ele se sentia nervoso pelo simples fato dela estar absurdamente linda ali.
Lucy ergueu os olhos para fitar o pai e sorriu. O homem estendeu o pacote em sua direção e ela buscou-o surpresa.
ㅡ Um presente para você. ㅡ O homem disse baixo.
Lucy ajeitou-se sobre a cama e leu os dizeres na sacola. Sabia que a logomarca disposta ali era bastante conhecida e encarou seu pai uma última vez antes de abri-la.
Retirou primeiro a meia de lá. Ficou surpresa de início, sua euforia enquanto abria a embalagem fez Jaesun sorrir, mas a garota mudou o ritmo quando tocou o tecido delicado.
ㅡ Pai... ㅡ ela voltou a olhar Jungso e sorriu. Inconscientemente o homem já ria também.
Sun-ha permanecia na porta, ela ainda estava abismada com a imagem de Woojin sob um vestido.
ㅡ Essa é ainda mais delicada. ㅡ Jaesun comentou tocando o tecido. ㅡ O senhor mandou bem.
ㅡ Veja o restante, eu... Hm, eu não sei se ficará bem, mas caso queira, eu tenho a notinha para trocar.
Lucy buscou então o que havia dentro e assim que retirou de lá, pode ver o sutiã. Olhou primeiramente para Jaesun, mas seguiu com os olhos assustados para Jungso.
O homem tinha outra vez as bochechas vermelhas, nem sequer conseguia encarar Lucy nos olhos, então olhou para a parede logo acima da cabeça dela e coçou a garganta.
ㅡ Woah... ㅡ Jaesun buscou-o das mãos de Lucy e pôs sobre seu próprio busto. ㅡ É lindo, senhor Jeon.
Sun-ha adentrou o cômodo e olhou aquilo de perto. Jaesun segurou o tecido com força, com medo de que a mulher tomasse de si e rasgasse, mas ela apenas continuou olhando para aquilo como se fosse algo extremamente atípico.
Lucy piscou sem jeito para ela, e manteve a mão que segurava agora a calcinha também fechada. Sentia o modo em como sua mãe olhava para aquilo, mas não sabia distinguir se era raiva ou apenas desgosto.
Enfim a mulher resolveu sair dali. Saiu a passos firmes e pesados, fazendo todos - inclusive Jungso - respirar de modo profundo.
O homem passou as mãos por seus cabelos e respirou fundo outra vez. Deixou um sorriso escapar quando olhou para os adolescentes ali, mas pediu licença para ir.
Lucy e Jaesun ouviram quando o som da porta do quarto ao lado bateu com força e sabia que talvez os adultos teriam mais uma dentre as tantas conversas sérias que vinham tendo.
ㅡ É tudo por minha culpa. ㅡ Lucy bufou. Jogou-se na cama, enquanto Jaesun olhava-a.
ㅡ Eu disse que sua mãe terá que te entender um dia, seja de bom grado ou não. ㅡ Jaesun comentou e buscou ambas as mãos da garota, puxando-a para cima e forçando-a a sentar outra vez. ㅡ Anda, calça a meia que daqui a pouco é dá o horário do baile e ainda estaremos nos arrumando.
A garota encarou os olhos de Jaesun e viu-o sorrindo. Viu seu reflexo no espelho no canto de seu quarto e respirou fundo antes de se erguer e terminar de se arrumar.