Capítulo 37
2256palavras
2023-02-05 08:24
Após passar o dia praticamente inteiro no quarto, Lucy pesquisou sobre a universidade no qual queria se candidatar e ficou feliz por ver que a média para a bolsa que desejava, se encaixava com a nota no qual havia tirado. Seria ofertada cerca de vinte vagas e qualquer candidato sul-coreano poderia se candidatar.
Era de fato uma vaga difícil de se ter, mas ela não desistiria.
Fez anotações sobre os documentos que eram necessários para a universidade e tentou se organizar melhor. Ela pesquisou sobre as acomodações e viu que cada dormitório era ocupado por duas camas. Havia também duas cômodas, duas escrivaninhas e somente um banheiro.

Essa parte a garota se sentiu incomodada. Teria que dividir o dormitório e o banheiro com um garoto e lhe assustava ainda.
Sentiu seu celular vibrar e viu que era uma mensagem de Kimi.
Kimi:
|Está em casa?
Lucy apressou-se para destravar a tela e escrever uma resposta.
Lucy:

|Estou.
Kimi:
|Quer sair para tomar um milkshake? Preciso te contar a novidade.
A garota sorriu e afastou os cadernos que tinha sobre sua coxa.

Lucy:
|Passa aqui em vinte minutos.
Lucy voltou a guardar os cadernos e papéis espalhados e os organizou no canto.
Ela se sentia preguiçosa e já começava a anoitecer, então outra vez apenas escovou os dentes e tomou um banho rápido, vestindo uma calça larga e preto, ponto uma camisa que ia até o meio de suas coxas e calçando chinelos simples.
Viu quando outra mensagem de Kimi chegou no seu celular e buscou-o para guardar no bolso. Geralmente sua mãe não deixava com que ela saísse muito com o aparelho, mas ela não havia feito tal exigência nas últimas semanas, então Lucy sempre o levava junto consigo. A garota amarrou seus cabelos em um coque e deixou como sempre duas mechas soltas na lateral. Ela não passou maquiagem alguma, sua pele parecia muito boa e então decidiu que a mostraria daquele jeito. Passou um pouco de perfume e ouviu a voz de Kimi em sua casa, e assim apressou-se para descer.
ㅡ Vamos? ㅡ Lucy chamou-a, vendo que Sun-ha puxava a garota para o sofá e assim prendê-la em uma gigantesca conversa.
A garota assentiu, pedindo licença à mais velha e caminhando em direção a porta. Jungso estava adentrando a casa naquela hora e cumprimentou Kimi quando a garota passou por si.
ㅡ Precisa de vinte? ㅡ ele olhou para Lucy sorrindo. A garota assentiu, então o homem buscou a nota de vinte mil won de seu bolso. ㅡ volte antes das onze. ㅡ avisou.
Lucy agradeceu-o e guardou o dinheiro no bolso. Ainda eram seis da tarde, o céu começava a ficar laranja e ela amava quando ficava daquele jeito. A garota buscou seu celular e fotografou o céu, em seguida puxou Kimi e mesmo com os protestos da garota, tirou uma selfie de ambas.
ㅡ Se ficou feia eu te processo. ㅡ Kimi ameaçou sorrindo. Lucy virou a tela do celular e mostrou-a. ㅡ Ok, estou linda, pode postar.
Lucy negou, guardando o celular no bolso e começando a caminhar pela calçada com Kimi.
ㅡ Sua mãe falou sobre ontem com você?
ㅡ Sobre ontem? ㅡ Lucy franziu o cenho. ㅡ como assim?
ㅡ A sua vizinha viu quando alguém desceu pela janela do seu quarto e que era uma garota. Ela contou à mamãe que viu que tinha um rapaz junto e que talvez fosse você e que até se beijaram. Ela não conseguiu ver que na verdade era você e Ryeon-oppa, mas ela perguntou à mamãe se você tinha uma namorada agora.
Lucy olhou para Kimi e não demorou a explodir numa risada com a garota.
ㅡ Espera, ela acha que a garota que saiu do meu quarto é minha namorada?
ㅡ Isso mesmo, mas era você mesmo. ㅡ Kimi cobriu a boca quando riu ainda mais alto e pessoas lhe olharam ao redor. ㅡ eu pensei que do mesmo modo em como ela falou com a mamãe hoje, ela tinha falado com a sua mãe também.
ㅡ Não, eu acho que não. E ainda bem, porque minha mãe entenderia na hora que não se tratava de namorada alguma.
ㅡ Eu pensei a mesma coisa, mas ainda bem que a sua vizinha não é uma fofoqueira qualificada, ficamos felizes por esse erro dela, não é?
ㅡ Ficamos sim. ㅡ Lucy riu mais e olhou em volta. ㅡ para onde iremos?
ㅡ Que tal irmos naquela lanchonete nova? Aquela que tem bancos vermelhos e piso preto e branco ladrilhado.
ㅡ Isso foi muito específico, não? ㅡ Lucy disse olhando-a.
ㅡ É que me chamou a atenção. ㅡ a garota sorriu. ㅡ e eles estão com uma promoção muito boa de combo, eu quero experimentar.
ㅡ Tudo bem, vamos.
Seguiram até a lanchonete que ficava somente a alguns minutos de distância. Kimi ficou animada quando buscou uma mesa no canto e que tinha apenas um grande sofá em forma de C. Fizeram os pedidos e até mesmo se encantaram com o ambiente, já que tocava uma música pop em um volume aceitável.
Os pedidos chegaram e ambas as garotas sorriram entre si quando notaram o tamanho dos hambúrgueres.
ㅡ Se não conseguir comer tudo, pode deixar que eu como. ㅡ Kimi falou já comendo o seu.
Lucy se divertiu com o dito, mas tinha a plena certeza que comeria todo o hamburger, junto a suas batatas e bebidas, sem deixar que nada se perdesse.
ㅡ Conta a novidade. ㅡ Lucy lembrou-a.
ㅡ Ah, eu falei com a mamãe sobre a universidade de Seul.
ㅡ Mesmo? E o que ela disse?
ㅡ Que não confiava em mim. ㅡ ela disse rindo e limpou o canto da boca que havia sujado com molho. ㅡ mas que confia em você, então iria pensar a respeito.
ㅡ Woah, vai ser legal se ela deixar, você não acha?
ㅡ Será incrível! ㅡ a garota expressou sua felicidade com leves palminhas. ㅡ Eu, você e Jaesun contra toda Seul.
ㅡ Kuan e Daniel também irão. ㅡ Lucy lembrou-a. ㅡ Mas eles não vão aplicar na mesma universidade que eu e Jaesun queremos.
ㅡ Eu preciso pesquisar mais sobre qual universidade vou tentar. A mamãe está ciente de que eu possa não conseguir a bolsa integral, mas a parcial ainda fica dentro do que podemos pagar.
ㅡ Seria bom se todos pudessem ir, não acha?
ㅡ Eu queria que todos fossem. ㅡ a garota falou com um bico. ㅡ eu não quero ficar longe do Ryeon, a gente 'tá se dando tão bem... Ele até falou em namoro.
ㅡ Ele não quer aplicar em Seul?
ㅡ Ele não vai fazer faculdade, trabalhará com a mãe na empresa e ela disse que ele já se sai muito bem. Mas também o deixou livre caso quisesse tentar, então ele disse que pensará no futuro.
ㅡ Eu penso no Ryeon-oppa também, a gente mal vai se ver quando eu for.
ㅡ Vocês vão continuar juntos?
Lucy parou por alguns segundos, pensativa, mas negou no fim.
ㅡ Acho que não. ㅡ falou com a boca parcialmente cheia. ㅡ Acho que o que eu e Ryeon temos, vai voltar a ser só amizade quando eu for.
ㅡ Você acha? Vocês aparentam se gostar tanto...
ㅡ Eu gosto do oppa, gosto muito mesmo. E eu queria que ele fosse pra Seul comigo e que nos tornássemos namorados lá. ㅡ ela falou rindo, negando para os pensamentos. ㅡ mas Ryeon quer ficar aqui e eu o apoio tanto quando ele me apoia ir. Ele vai me visitar em Seul, ele prometeu, e eu também volto para Busan para visitar meus pais e não vou perder a oportunidade de vê-lo. Mas acho que toda essa coisa de beijos e sabe... esse sentimento adolescente que temos agora, vai acabar.
ㅡ Poxa, eu fico triste por você assim.
ㅡ Eu fico ainda mais. Ryeon beija tão bem que eu poderia beijá-lo até me formar e então eu continuaria beijando-o.
As duas sorriram, mas não era como se fosse uma mentira. Lucy realmente gostava do beijo de Ryeon, ela gostava de Ryeon.
Voltaram para a casa ainda conversando sobre a universidade. Sentaram nos degraus que havia antes da entrada da casa de Lucy e permaneceram por lá.
Passava das oito da noite quando Jaesun mandou uma mensagem para saber onde elas estavam e as convidou para irem ao shopping, já que ele estava precisando de algumas roupas novas.
As garotas concordaram, então Kimi foi para a casa e Lucy entrou, marcando de se encontrarem em torno de trinta minutos e irem juntas até Jaesun.
ㅡ Vai sair? ㅡ Jungso apareceu à porta enquanto Lucy passava com cuidado a prancha sobre os cabelos para alisá-los.
ㅡ Vou ao shopping com Jaesun.
ㅡ Precisa de carona? Eu posso levá-los e esperá-los lá.
ㅡ Não, tudo bem. A gente marcou de encontrar com Jaesun e o pai dele nos levará. Voltaremos de aplicativo, eu acho.
ㅡ Tem certeza? Eu não me importo mesmo de levá-los, não estou fazendo nada agora.
Lucy olhou para o homem e assentiu. Jungsoo sorriu, mas suspirou quando sua filha ficou de pé e repousou a prancha sobre sua bancada. A garota usava um macacão rosa cumprido, junto a uma blusa justa e de manga na cor verde, que ia até o meio de sua cintura, deixando parte de sua pele à mostra.
Não era uma roupa vulgar, Jungso até mesmo achou-a muito bonita, mas ele ainda sentia o medo de ter sua filha na rua junto a todo o preconceito existente, por isso sempre insistia para levá-la onde quer que fosse, ficando assim perto para protegê-la.
ㅡ Ryeon irá? ㅡ ele resolveu perguntar, sentando sobre a cama e olhando o modo cuidadoso em como a garota passava o delineador nas pálpebras.
Ele era num tom rosa, parecia com o de sua roupa, mas havia um cintilante claro ali, talvez fosse uma sombra ou algo do tipo, o homem não saberia distinguir.
ㅡ Não, apenas eu, Kimi e Jaesun.
ㅡ Precisa de dinheiro?
Lucy olhou-o através do espelho e sorriu, virando-se enfim para olhá-lo melhor.
ㅡ Já tenho o suficiente pai, mas obrigada.
ㅡ Tem certeza? Vocês não irão, hm... assistir a um filme ou comer um lanche? É esse tipo de coisa que jovens também fazem no shopping, não é?
ㅡ Sim, é, mas eu realmente tenho o suficiente. E eu não quero que gaste seu dinheiro comigo assim.
ㅡ Assim? Assim como?
ㅡ Com bobagens... Eu deveria arrumar um emprego. ㅡ a garota suspirou, voltando sua atenção para o espelho e espalhando um pouco de iluminador na pontinha de seu nariz.
ㅡ Você não deve, você arruma se quiser. Ainda é a minha criança, é minha responsabilidade.
ㅡ Terei dezoito anos no dia primeiro. ㅡ ela riu.
ㅡ Eu não me importo. Você terá trinta, quarenta anos e ainda continuará sendo minha criança.
Lucy negou, outra vez olhando-o através do espelho, mas desviou para olhar-se uma última vez.
Ela buscou seu perfume doce e espalhou sobre os pulsos e nos cantos de suas orelhas, optando apenas por pôr um pouco sobre suas roupas também.
Jungso realmente gostava de ver o modo prazeroso em que sua filha fazia cada coisa. Ele não gostava de invadir o espaço que a garota tinha, ainda era muito novo ver toda aquela mudança, mas de fato, era bom vê-la feliz.
ㅡ Seus remédios... ㅡ ele falou, quebrando o silêncio. ㅡ já estão quase no fim, não é?
Ouviu-se o suspiro mais uma vez de Lucy e ela assentiu. Não gostava mesmo de ter mais aquelas despesas nos ombros do homem.
ㅡ Amanhã passarei a farmácia e compro, ainda tenho a prescrição que é válida. Também marcarei a sua próxima consulta com a psicóloga, tudo bem?
ㅡ Tudo bem. ㅡ ela disse, caminhando até ele e sentando-se ao seu lado. A caixinha cujo sua mãe havia lhe dado ainda estava sobre a cama, então Lucy buscou-a e abriu-a diante dele. ㅡ A mamãe me deu isso, como um presente por minha nota e por eu estar me tornando uma adulta...
O homem ofegou, buscando a caixinha com o broche e olhando para a filha.
ㅡ Isso é muito importante, você sabe, não é?
ㅡ É... ela disse que foi a vovó que deu quando eu nasci.
ㅡ Sim, se me lembro bem, foi quando você ainda tinha um dia de vida, sua avó pareceu feliz quando te viu.
ㅡ Acho que hoje, seja lá onde ela esteja, ela se decepcionou comigo...
ㅡ Por que diz isso? Você é uma garota educada, tira boas notas e sequer faz bagunças.
ㅡ Mas eu sou uma garota trans, com certeza a vovó não entenderia ou aceitaria. Vemos isso pela mamãe, o ensinamento dela veio da vovó.
ㅡ Sua mãe apenas tem a cabeça fechada demais. Ok que ela foi ensinada de um modo, mas o mundo anda em constante mudança, ela poderia tentar entender, não acha?
ㅡ Eu não tenho direito de cobrar nada dela, pai. Nada de vocês. Vocês me dão tudo, eu sou grata.
ㅡ Nós somos gratos por você. ㅡ ele sorriu e deixou um beijo sobre a testa dela. Jungso entregou a caixinha com cuidado e Lucy guardou-a, então viu o pai se erguer e até riu quando ele se esticou e seus ossos fizeram um barulho engraçado. ㅡ não vou mais te atrapalhar, bom passeio.
O homem despediu-se e rumou para o seu quarto. Lucy buscou o celular e viu mensagens de Kimi e Jaesun, então terminou sua arrumação e desceu.