Capítulo 35
1962palavras
2023-02-05 08:22
E Lucy manteve-se agitada dentro daquele cômodo até as onze da noite.
Ouviu quando seu pai desligou a TV e sua mãe trancou a porta. Lucy desligou as luzes e apenas ficou quieta dentro do cômodo, para assim acharem que ela já dormia.
Ouviu os passos de ambos e o barulho da chave. Em seguida o da porta do quarto fechar.

Suspirou sentando-se agora na cama. Seus pais estavam oficialmente indo dormir e a casa estava oficialmente fechada. O que ela faria agora?
Correu até seu guarda-roupa e tentou não fazer muito barulho. Demorou procurando algo por lá, mas desviou seus olhos para a caixa que ainda guardava debaixo da cama.
Não havia mais motivos para que suas roupas ainda ficassem ali, mas a garota ainda tinha medo de que sua mãe as rasgasse ou pusesse um fim, e mesmo que o lugar de posto como esconderijo não fosse tão bom, era onde Lucy sentia segurança para deixá-la.
Deixou a caixa sobre a cama e a abriu. Viu logo suas saias ali, as curtas, e riu. Não podia usar algo como aquilo ainda.
Não é?
Ela realmente ficou pensativa.

Mas e se...
Retirou algumas saias dali e alguns de seus poucos vestidos também.
Lucy não tinha muitas, já que estava sempre comprando as escondidas e com o pouco dinheiro que conseguia juntar, mas havia opções para escolher a vontade e a garota sentia mesmo a vontade de usar uma, qualquer que fosse.
Então ela se ergueu outra vez, rumando para o guarda-roupa e buscando por sua gaveta. Buscou algumas meias calças que tinha e colocou-as sobre a cama.

Sorriu ao ver uma arrastão com furos pequenos ali, seria tão louca ao ponto de usá-la?
E sim, Lucy achou que seria.
Separou-a e buscou uma saia preta que tinha. Outra vez ela riu, parecia ser engraçado, porque ela estava se vestindo para fugir pela janela, e com roupas diferentes.
Teria que vestir algo que lhe deixasse quente o suficiente, já que suas pernas não estariam tão cobertas como deveriam estar.
Separou uma blusa também preta e bastante simples e correu para o banheiro. Teve que amarrar seus cabelos para não molhar os fios, já que cada vez mais eles estavam maiores, e sem que olhasse demais para o próprio corpo se apressou a tomar banho.
Lucy realmente não era a fã número um do próprio corpo, ainda tinha aquela parte sua que lhe deixava desconfortável por simplesmente não fazer parte de como ela realmente se sentia e era, mas foi enquanto espalhava seu hidratante pelo corpo, e ela sorriu contida consigo mesma.
Dedilhando sutilmente os dedos pelo corpo, Lucy parou onde queria. Tocou devagar seus seios e sentiu a pequena e quase imperceptível protuberância que a dias ela vinha sentindo ali.
Era realmente imperceptível para quem visse, mas para ela já era um avanço tão grande, tão significativo.
Pôs-se de pé e vestiu de modo afobado uma de suas cuecas. Lucy sentia-se tão inconformada e desconfortável com aquilo que ela simplesmente arrumava jeitos de esconder e já fazia aquilo há tanto tempo que já se tornava fácil.
Parou a frente do espelho e virou-se mordendo o lábio inferior. Realmente era imperceptível, mas ainda os tocando, Lucy imaginou-se como sempre quis e sorriu mais, porque ela aos poucos estava conseguindo aquilo.
Mas seu celular vibrou, e ela correu para ver quem lhe mandava as mensagens.
Ryeon:
|23:12| Chego em dez minutos.
Os olhos da garota saltaram. Sequer havia separado os lençóis da fuga.
Puxou três ou quatro lençóis e deixou-os separados perto da janela, então se apressou a calçar sua meia calça e logo estava vestindo sua camisa, prendendo-a a meia, aproveitando que o elástico ficava em sua cintura e por fim, vestindo sua saia.
A saia não marcava seu corpo, apenas sua cintura. Ela também não era curta demais, seu fim era no meio das coxas da garota.
Lucy rodou devagar e viu a saia lhe acompanhar e ela sempre amava aquele movimento que o tecido fazia.
Então ela se aproximou do espelho, pensando no que faria de maquiagem sobre seu rosto, já que ela amava tanto; sentou-se e buscou a paleta com algumas cores de sombra e viu uma sutil rosa. Era cintilante, seu brilho não era exagerado e Lucy decidiu por ela. Passou por suas pálpebras e finalizou com um delineado.
Suas bochechas suportaram um blush leve e sua boca seu rotineiro batom de pêssego.
Seus cabelos foram apenas penteados, já que Lucy gostou do sutil brilho que ele também tinha e optou por deixá-lo solto.
Buscou um par de botas pretas e calçou-os.
Olhou-se no espelho e riu outra vez. Se não fosse sua sombra cor de rosa nos olhos que refletia, ela estaria completamente de preto. Buscou o seu perfume e colocou um pouco também, finalizando tudo.
Lucy lembrou dos lençóis e correu até eles. Sentou-se perto da janela e a abriu. Lucy não queria olhar outra vez a altura dali até o chão, mas ela precisava medir quantos lençóis usaria, então deduzindo que tinha o suficiente, ela iniciou os nós.
Amarrava um lençol ao outro, com um nó forte, depois outro e outro, só para garantir. Ela fez isso com os quatro lençóis que separou e assim que finalizou o último, seu celular vibrou outra vez.
Ryeon:
|23:35| Estou aqui.
Lucy correu outra vez para a janela e viu Ryeon lá. O garoto apenas sorriu e acenou.
ㅡ Vem, eu te seguro. ㅡ ele sussurrou.
Lucy negou preocupada. Realmente estava com medo daquilo dar errado.
Procurou ao redor e o único apoio que tinha era seu guarda-roupa, então levou o lençol até lá e amarrou no pé do móvel, fazendo nó atrás de nó, para no fim puxar e garantir que aquilo não viraria e que ela cairia como um pedacinho de pão no chão.
Ela teve que respirar fundo outra vez antes de se posicionar sobre a janela.
Ryeon ainda a esperava debaixo e estava mesmo pronto para segurá-la, mas o garoto ofegou quando viu a roupa que ela usava e teve que se policiar quando o vento sutil bateu contra a saia que ela usava e assim desviou os olhos.
ㅡ Tá doido? Está olhando para baixo por quê? Quer que eu caia no chão? ㅡ Lucy perguntou realmente preocupada, e se ela escorregasse e Ryeon não lhe segurasse?
ㅡ Desculpa. ㅡ Ryeon falou, voltando a olhar para cima, mas focando-se apenas no rosto dela.
Lucy respirou fundo e pediu ao universo para não cair como um pãozinho lá embaixo, e assim apoiou os pés nos tijolos da construção, descendo devagar e agradecendo a cada centímetro que conseguia prosseguir.
ㅡ Vem, eu consigo te segurar. ㅡ Ryeon disse, com os braços erguidos e de frente para ela, realmente perto dela.
Os pezinhos da garota já estavam a altura de seu rosto e ele sentia o leve medo de que eles lhe batessem com força, mas estava ali, perto demais, só para garantir que ela não caísse.
ㅡ Eu tenho medo, Ryeon. ㅡ ela sussurrou, prendendo os dedos com mais força ali.
ㅡ Eu não te deixo cair, juro.
Lucy respirou fundo e assentiu. Seu corpo desceu mais um pouco e Ryeon outra vez desviou o olhar quando as coxas da garota pararam à frente de seu rosto. Lucy fechou os olhos antes de descer os poucos centímetros e sentiu os braços de Ryeon lhe segurar.
Então ela soltou.
ㅡ Viu? Eu não te deixei cair. ㅡ ele sorriu segurando-a e vendo o rostinho assustado agora bem pertinho do seu.
A garota respirou aliviada e teve seu corpo levado para baixo, sentindo agora assim o solo.
ㅡ Vamos? ㅡ Ryeon ergueu a mão para si.
Ela assentiu, entrelaçando os dedos aos dele, mas encolheu-se quando sentiu o frio que a noite fazia.
ㅡ Não trouxe um casaco? ㅡ Ryeon perguntou-a. Ela negou. ㅡ Quer o meu?
ㅡ Não vou te deixar com frio, Ryeon.
ㅡ Então vou subir e buscar um pra você.
ㅡ Subir? Não, e se você cair?
ㅡ Eu já fiz isso uma vez, lembra?
A garota parecia assustada, mas assentiu. Ryeon apenas perguntou onde acharia a peça e subiu com praticidade pela "corda" de lençóis.
Ele não demorou lá e ergueu um enorme casaco amarelo que a garota tinha. Ela assentiu, então Ryeon o jogou e esperou Lucy vesti-lo, para descer em seguida.
Ryeon então entrelaçou sua mão a dela e buscou seu skate. A praça aonde iriam se encontrar não era longe, mas eles não pareciam ter pressa alguma.
ㅡ Você está linda, sabia? Eu fiquei realmente surpreso quando te vi assim, mas... woah, que gata.
Lucy sorriu envergonhada e se encolheu mais, abraçando o braço de Ryeon com suas mãos.
ㅡ Me sinto como se estivesse violando a lei. ㅡ ela conta. ㅡ se meus pais descobrem...
ㅡ Fica sussa, eles não vão. ㅡ Ryeon disse calmo e parou. ㅡ posso fazer uma coisa?
ㅡ O quê? ㅡ ela indagou, também parando os passos.
Então Ryeon olhou ao redor e sentiu a liberdade da rua vazia. Buscou Lucy pela mão e encostou-a a um muro qualquer, pondo seu corpo logo a frente e parando sua boca a centímetros da dela.
ㅡ Posso te beijar?
Lucy sentiu seu corpo arrepiar, mas assentiu, sentindo os lábios de Ryeon avançarem sobre os seus.
Ela ofegou, assim como Ryeon gemeu baixo com o prazer que aquilo lhes proporcionavam.
A garota abraçou Ryeon pelo pescoço e impulsionou seu corpo para frente quando sua cintura foi segurada. As mãos de Ryeon então deslizaram, apertando-a mais contra si e Lucy sentiu-se quente ali.
Mas estavam no meio da rua e já era madrugada. Aquilo podia ser um ato bastante perigoso, já que alguém podia aparecer e fazer alguma maldade.
Então ela cessou o beijo e ofegante, sorriu, afastando a franja de Ryeon, apenas para olhar o rosto dele de perto.
ㅡ Você também está lindo hoje, Ryeon.
O garoto sorriu, roubando-lhe mais um beijo, e outro, e outro...
ㅡ Precisamos ir, Ryeon. ㅡ ela avisou.
Ryeon assentiu, afastando-se e arrumando a bagunça de suas roupas. Lucy também fez o mesmo, arrumando o casacão amarelo e voltando a segurar a mão de Ryeon.
Não demorou para que estivesse na praça e encontrarem todos os outros lá.
Mark estava mais ao canto, junto a Jaesun, Kimi e Jerry. Noah estava no centro da praça, mostrando a Daniel algumas manobras com o skate, enquanto Kuan apenas estava sentado vendo o namorado tentar e as manobras do outro.
Se juntaram aos demais e seguiram pelas ruas.
O plano era realmente irem direto para a casa de Daniel, mas estava tão bom se divertir ali, livres.
Kimi brincava sobre o skate de Jerry e o garoto lhe segurava. Todos os outros apenas riam, e até mesmo Kuan tentou subir no skate de Noah, mas acabou caindo no chão como um pãozinho.
Lucy achou engraçado.
Ela andava junto a Jaesun, de braços dados com o amigo. Eles cantavam e até dançavam. Lucy rodava junto a sua saia e fazia todos compartilharem da liberdade que sentia naquele momento.
Eles seguiram para o terraço, e como ninguém sabia fazer uma fogueira, apenas dois aquecedores foi o que Daniel conseguiu para pôr no centro da roda e aquecer todos os corpos.
Pediram pizza e hambúrgueres, mas a comida realmente parecia o de menos ali.
Brincaram com perguntas, mímicas e dança. A noite passou rápido daquele jeito.
Quando o relógio marcava um pouco mais de cinco da manhã, eles já estavam quietos, enrolados em cobertores e à espera do sol nascer.
ㅡ Eu queria que fosse assim sempre. ㅡ Lucy confessou a Ryeon, já que estava dentro do abraço dele.
ㅡ Um dia será.
Eles sorriram quando o sol nasceu, e realmente desejaram que fosse sempre daquele jeito.