Capítulo 34
1910palavras
2023-02-05 08:22
Todos haviam retornado para suas devidas casas. Lucy, assim que adentrou a dela, viu o pai acabando de temperar a carne de forno em que ele mesmo fazia questão de preparar e esperou para que homem colocasse a travessa no forno, para então contar-lhe a novidade.
ㅡ O que foi mocinha? ㅡ o homem perguntou ainda de costas. ㅡ o que quer me contar, uh?
ㅡ Papai, as notas das provas saíram! ㅡ ela realmente estava se controlando para não gritar, mas a euforia lhe tomava por completa.
ㅡ Era hoje? ㅡ o homem enfim virou-se e viu a filha assentir de forma ligeira. ㅡ e então?
ㅡ Eu passei pai! ㅡ ela falou e o sorriso do homem ganhou vida.
Jungso abandonou o pano que tinha nas mãos e foi de encontro com a garota. Tomou-a em seus braços, apertando-a em um abraço e fazendo-a rir quando ouviu um osso de seu corpo estalar.
ㅡ Oh, me desculpe. ㅡ o homem largou a filha, olhando-a e averiguando se havia algum osso fora do lugar.
ㅡ Estou bem, pai.
ㅡ Onde está essa nota? Eu quero ver.
ㅡ Eu não imprimi o resultado, mas vi no site da escola com Jaesun. Acredita que passei com noventa e sete por cento?
ㅡ É claro que acredito. Quantas noites eu te vi dormindo sobre aqueles cadernos?
ㅡ Isso é muito inacreditável, pai, eu realmente não esperava.
ㅡ Ande, imprima, eu quero mandar uma foto no grupo da família. Vou mostrar como minha filha é inteligente e me gabar, é claro.
Lucy riu negando, olhando o homem.
ㅡ Eles já sabem sobre mim? ㅡ ela quis saber.
ㅡ Acho que sim, suas tias são muito fofoqueiras, sabe disso. Mas eu não entrei no assunto, não sabia se podia ou se deveria ser você a falar e eu apoiar, é um tanto confuso.
ㅡ Está tudo bem. Não precisa falar se não quiser, eu não me importo.
ㅡ Mas se você me permitir, eu falo sim. Eu não quero nenhum jeon ou seja lá o sobrenome falando mal de você. E eu já disse, quero me exibir, mostrar que minha filhinha tem a mente mais brilhante do mundo.
A garota riu negando, sentia-se claramente envergonhada pela mudança que seu pai vinha tendo consigo depois de tudo. Não sabia o verdadeiro porquê, mas ele realmente parecia mais carinhoso e protetor, Lucy gostava, porque era somente dele que vinha o carinho dentro daquela casa.
E foi sentindo a falta e o peso, que ela perguntou ao homem:
ㅡ Onde está a mamãe?
Jungso apenas apontou para as escadas e Lucy sabia que isso indicava o quarto. Ela assentiu, guiando o corpo para cima e pensou algumas vezes antes de bater na porta do quarto.
ㅡ Mãe? ㅡ ela chamou antes de abrir a porta.
Sun-ha estava sentada em frente ao espelho que tinha no extremo do quarto penteando os cabelos. Ela olhou Lucy através do espelho e viu a filha adentrar o cômodo, devagar e com ambas as mãos juntas na frente do corpo.
ㅡ Eu vim te avisar que eu passei no exame da escola. ㅡ Lucy falou baixo.
A mulher então virou-se, erguendo-se e caminhando até a filha.
ㅡ Parabéns. ㅡ sun-ha apenas falou.
A garota sorriu olhando-a. ㅡ Obrigada mãe.
A mulher assentiu, ainda de frente a filha e mesmo que Lucy não quisesse admitir, esperou por um abraço ou um toque mais afetuoso da mulher.
ㅡ Quer algo? ㅡ sun-ha perguntou, virando-se para recolher a toalha que estava sobre a cadeira.
ㅡ Ah... não. ㅡ Lucy falou, aproximando-se da porta.
ㅡ Feche a porta quando sair.
ㅡ Tudo bem. ㅡ respondeu cabisbaixa, mas ainda sorria.
Deixou o quarto da mãe e bufou. Se sentia patética por ainda esperar algo da mulher que claramente apenas lhe odiava.
Mas que culpa ela tinha? Era apenas uma garota que precisava muito do carinho materno.
Lucy sentia falta disso.
Mas a garota adentrou o quarto, jogando os sapatos para o canto e jogando-se sobre a cama. Bufou, não sabendo o porquê de se sentir mal, mas buscou o celular, sorrindo ao ver o grupo que Jaesun havia criado no aplicativo de mensagem.
Grupo: Ninguém nos segura
Jaesun:
|15:18| Sejam bem-vindos, seus trouxas.
Kuan:
|15:18| Gostaria de fazer um protesto inicial. Posso?
Jaesun:
|15:18| Nem vem!
Kuan:
|15:19| Ué, e cadê os meus direitos como cidadão?
Daniel:
|15:19| Docinho, se não for importante você vai ver!
Ryeon:
|15:19| fala logo, Kuan
Kuan:
|15:19| Por que o nome do grupo é "Ninguém nos segura"? Que porra é essa, bro?
Jaesun:
|15:20| Vai à merda! Eu quis assim, vai ser assim!
Kuan:
|15:20| Péssimo gosto.
Jaesun:
|15:21| Vai se ferrar.
Kimi:
|15:22| Gente, tudo certo para fugir? Eu já avisei ao Jerry, ele disse que vai me ajudar.
Jerry:
|15:22| Já separei até a roupa para esse evento.
Jaesun:
|15:22| Eu também já avisei ao Namie, tudo certinho, não é?
Lucy:
|15:23| Mais ou menos
Ryeon:
|15:23| Por quê? Aconteceu alguma coisa com você em casa?
Jaesun:
|15:24| Ryeon todo preocupadinho, hm...
Noah:
|15:24| Está tudo bem com você, Lu? Se precisa eu te ajudo
Kuan:
|15:24| Só observo...
Jaesun:
|15:25| Eu tô de olho também.
Mark:
|15:25| Estamos. Estou aprendendo a ser curioso e fofoqueiro com você, amor.
Jaesun:
|15:25| ah, fofo!!
Kuan:
|15:26| ECA!
Lucy:
|15:26| Gente é sério. Eu ainda não sei como vou fugir.
Ryeon:
|15:26| Isso você pode deixar comigo. Só fica pronta antes das onze e meia e separa alguns lençóis também, eu te aviso quando estiver chegando.
Lucy:
|15:27| Lençol para quê?
Jaesun:
|15:27: Lu, você vai descer por eles, não é óbvio?
Lucy:
|15:28| DESCER?
|15:28| NÃO MESMO!
Ryeon:
|15:28| Por que não?
Lucy:
|15:29| Porque eu tenho amor à vida? Você já viu a altura que é do meu quarto até o chão? Podem ir que eu fico em paz. Podemos fazer uma live até.
Ryeon:
|15:29| Fica sussa, princesa, eu não vou deixar você cair.
Deus... Aquilo era mesmo real? Lucy encarou o celular e viu as diversas mensagens de seus amigos logo em seguida.
Era incrível como o espírito da selvageria habitava entre eles, porque nenhum, além dela, achou aquele plano insano demais.
Mas o dia passou rápido demais. Lucy permaneceu em seu quarto e apenas desceu quando seu pai gritou do início da escada que o jantar estava pronto.
Ergueu-se e foi para o andar debaixo. Antes mesmo de chegar a cozinha, ela pode sentir o cheiro da carne de Jungso. Sua boca salivou.
Sua mãe estava organizando a mesa e Lucy foi até o homem, perguntar se precisava de ajuda. Seu pai entregou-lhe a travessa com a carne e pediu para que ela a colocasse no centro da mesa.
Assim a garota fez, vendo sua mãe buscar os copos e seu pai logo vir com o restante dos alimentos.
Sentaram-se à mesa e sun-ha fez questão de agradecer antes de comerem. A mulher não fazia isso direto, eram poucas às vezes em que ela agradecia de fato, mas por algum acaso ela vinha fazendo aquilo em constantes momentos, e Lucy não protestava, ela só seguia o que a mulher pedia e esperava para poder comer quieta.
Mas naquela noite ela não comeria quieta.
ㅡ Então, ela te contou? ㅡ o homem perguntou a esposa, mas olhava orgulhoso para Lucy.
ㅡ Sim. ㅡ sun-ha respondeu.
ㅡ E qual será o presente deste ano? ㅡ ele perguntou e Lucy ergueu os olhos.
ㅡ Nenhum. ㅡ a mulher outra vez foi breve em sua resposta.
Mas Jungso não ligou.
ㅡ O que quer ganhar?
ㅡ Não precisa de presente pai... ㅡ a garota respondeu-lhe, sorrindo tímida.
ㅡ Mas...
ㅡ Jungso, pare de falar. ㅡ Sun-ha pediu ao buscar seu prato. ㅡ Woojin não trabalha, não faz nada além de estudar. Não precisa ficar mimando o garoto por ele ter feito a única obrigação que tinha na vida.
ㅡ Garota. ㅡ foi o que o homem disse.
Lucy ofegou baixo, com medo do olhar que a mulher lançou ao homem e com medo de que ambos brigassem por sua culpa.
ㅡ E não é mimar, porque se ela estudou e passou, foi por puro esforço e isso merece ser sim recompensado. E não porque deva, mas sim porque como pai, eu quero. Minha filha me orgulha, não orgulha a você?
A mulher não respondeu, apenas depositou o prato do homem na mesa e buscou o seu próprio prato.
Antes era ela quem os servia, uma coisa em que ela fazia questão absoluta em fazer, pois dizia que sua mãe havia lhe ensinado isso, mas depois que soube o que Lucy de fato era, ela não servia mais a filha. E Lucy realmente se sentia magoada com aquilo, não por ter que se erguer e por sua própria comida, ela fazia aquilo tranquilamente, mas sim porque aquela era só mais uma maneira da mulher demonstrar o seu desgosto.
Lucy pôs sua comida e sorriu ao ver seu pai erguer mais um pedaço de carne, entregando-a.
ㅡ Eu pensei em te dar aulas de direção. ㅡ o homem diz. ㅡ Não é tão difícil.
ㅡ Não iria te atrapalhar? ㅡ Lucy perguntou, mordendo a carne e sentindo o gosto tão conhecido por si.
Ela adorava quando seu pai cozinhava.
ㅡ Claro que não. Podemos todas as manhãs, o que acha? Você só irá para Seul no começo do ano, não é? Ainda temos algumas semanas.
ㅡ Tudo bem, então.
Jungso ainda perguntou como seria a definitiva ida da garota para a capital, mas Lucy ainda não sabia responder aquilo. Ela precisaria pesquisar muito a respeito e tentar falar com a universidade caso Jaesun entrasse na mesma, para que ambos ficassem no mesmo dormitório.
Seria menos incômodo se ao menos no lugar onde ela precisasse descansar, estudar e ter seu refúgio, uma pessoa que lhe entendesse e conhecesse ficasse.
Lucy sempre arrepiava quando tentava imaginar outra pessoa consigo. Seus pensamentos sempre eram os piores. Por que ela sabia que se fosse assim, possivelmente teria que vivenciar com o preconceito, e suas atividades básicas, como: dormir, tomar banho ou trocar de roupa, seriam impossíveis de fazer.
Terminaram o jantar e Lucy outra vez se guardou em seu quarto. Sentou-se próximo à janela e olhou a altura daquilo. Ela realmente teria coragem de pular?
Provavelmente não, se ela pensasse com a razão, mas ela lia as incansáveis mensagens de seus amigos no grupo e ria com as fotos que eles mandavam, e isso só a impulsionava para a loucura.
Alguns de seus amigos mostravam as roupas que usariam para "comemorar". Daniel também avisou que havia pedido permissão a seus pais e teve o passe livre para ocupar o terraço de sua casa. O garoto havia colocado alguns lençóis no chão e almofadas. Ele aproveitou o pergolado que havia lá para proteger da chuva - ou do sol - , e estendeu algumas cortinas leves e brancas que sua irmã havia comprado para uma festa também havia feito lá a algumas semanas. Daniel avisou que havia comprado bebidas, não alcoólicas - o que deixou Kuan um tanto inconformado - mas que levassem dinheiro para comprar comida por aplicativo caso ficassem com fome.
A garota outra vez olhou através de sua janela e suspirou com a constatação da altura.
Louca, ela seria louca se pulasse aquilo.
Mas pensando bem, não seria exatamente pular, já que Ryeon mandou ela separar os lençóis para descer e...
Loucura, pura loucura!