Capítulo 31
1810palavras
2023-02-05 08:19
Lucy arrumava o vestido largo com alças compridas que havia comprado a meses e nunca sequer havia colocado sobre seu corpo com o intuito de usá-la naquela cidade.
Naquela tarde, então, ela optou por ousar. Ainda estava chateada com o fato de não poder mudar seus documentos, então faria a transição social de forma custosa, e para isso ela precisaria de muita paciência e coragem.
E estranhamente ela se sentia encorajada ali.

Pôs a vestimenta sobre o corpo e viu como realmente era folgada. Não marcava sua cintura como a maioria de suas roupas faziam, mas agradava-a e até mesmo a camisa que optou pôr por dentro a animava.
Sairia de vestido, era isso que importava.
Sentou-se perto do espelho para arrumar os cabelos e ouviu baterem em sua porta. Ela olhou através do espelho e viu Jungso adentrar o cômodo.
Os olhos do homem logo foram para a roupa dela e Lucy sentiu-se apreensiva ao notá-lo.
ㅡ O que acha? ㅡ perguntou-o.
ㅡ Sente-se à vontade?

ㅡ Sinto.
ㅡ Então tudo bem, ele é bem bonito.
ㅡ E não é curto. ㅡ ela ergueu-se e mostrou que o tecido batia em sua panturrilha.
ㅡ É realmente bonito. ㅡ ele analisou. ㅡ Ficou muito bem em você.

ㅡ Você acha, pai? ㅡ ela sorriu e outra vez passeou as mãos por ele.
ㅡ Sim, eu acho.
O homem observava como a alegria dela transbordava ao receber o elogio.
ㅡ De que horas Ryeon virá?
ㅡ ele já está chegando.
ㅡ Ok, então termine e desça, esperarei lá embaixo.
Jungso havia se oferecido para levá-los até a praia e garantiu que os levaria de volta também. Mas a realidade era outra, ele era apenas um pai com medo de que sua filha sofresse com o preconceito do mundo e queria estar por perto para caso precisasse protegê-la.
Sabia que não seria sempre assim, que infelizmente Lucy hora ou outra enfrentaria o preconceito sozinha, mas enquanto ele pudesse protegê-la, ele faria sem sequer pestanejar.
Lucy terminou de arrumar seus cabelos e ergueu-se. Os fios estavam quase ultrapassando seus ombros e isso animava-a. Fez uma leve maquiagem e passou um pouco de seu doce perfume. Depois, buscou um par de meias que ia um pouco acima de seus calcanhares e calçou um par de sapatos.
Viu através da janela quando Ryeon chegou e acenou, e então apenas recolheu sua bolsa junto a seus pertences indispensáveis e desceu.
Passou por Sun-ha e apenas viu o olhar enojado e cheio de raiva que a mulher lhe lançou, mas não queria focar tanto naquilo, a faria mal, então rumou para o lado de fora e mesmo que ainda sentisse um pouco envergonhada, respirou fundo com a sensação boa quando sentiu o vento balançar sutilmente o vestido.
ㅡ Woah, como você está linda. ㅡ disse Ryeon aproximando-se.
Lucy sorriu contida e como sempre, encolheu seus ombros. O garoto aproximou-se e tocou sutilmente uma mecha de seu cabelo, aproximando-se para beijá-la na boca, mas recebendo apenas a bochecha.
Lucy abriu os olhos rapidamente e olhou para seu pai. O homem estava encostado em seu carro e observava a cena bem a sua frente.
Soltou um pigarro e rapidamente Ryeon afastou-se, arregalando os olhos também e só então lembrando que não estava a sós com a garota.
ㅡ Vamos? ㅡ o homem falou, mas olhou de modo duro para Ryeon.
Ele assentiu rápido, buscando a mão de Lucy e guiando-a até o carro.
Ele pensou em abrir a porta do carro para a garota entrar, mas Jungso foi mais rápido e o fez, deixando com que sua filha entrasse e quando estava já sentada, fechou com força a porta.
Park Ryeon sobressaltou e engoliu em seco, ainda com os olhos arregalados, quando Jungso virou para si e apenas apontou um dedo em sua direção.
ㅡ Estou de olho em você.
O homem caminhou para o lugar do motorista e Ryeon sorriu torto, abrindo a porta que acabara de ser fechada para sentar ao lado da garota.
ㅡ Onde vocês querem ficar? ㅡ Jungso perguntou, dando partida no carro.
ㅡ Pode nos deixar próximo ao píer, nós vamos andando até lá. ㅡ disse Lucy, buscando sutilmente a mão de Ryeon para entrelaçar a sua.
Jungso então dirigiu em meio à conversa que os adolescentes ditavam no banco de trás. Ouviu algo sobre estudos, alojamentos, roupas e até mesmo, trabalho. Achou fofo que mesmo tão novos, eles já pareciam querer de forma certa o que queriam.
ㅡ Educação física é o melhor para mim. ㅡ disse Ryeon ainda no assunto. ㅡ Eu amo esportes, e os assuntos sobre, sempre me dão curiosidade. Conversei com minha mãe e ela me apoiou muito.
ㅡ Quer se tornar um atleta? ㅡ perguntou Jungso, sem desviar a visão da estrada.
ㅡ Não, pensei em aulas. Quero fazer licenciatura para poder dar aulas para crianças, sabe? Daquelas bem pequenininhas.
ㅡ Ryeon, mas você não tem a paciência necessária para isso. ㅡ disse Lucy, explodindo em uma risada alta.
ㅡ Mas não acho que seja tão difícil assim, eu ponho medo, elas iriam me obedecer.
ㅡ Garoto, você não põe medo em ninguém. ㅡ falou Jungso, acompanhando a risada da filha. ㅡ mas talvez com o seu modo persistente, você consiga algo.
ㅡ O senhor acha que é uma boa ideia, tio? Sabe, dizem que o salário não é lá essas coisas...
ㅡ Não busque algo através do tamanho do salário que receberá, se é isso que você quer e que te deixa animado, apenas faça.
ㅡ Papai tem razão, oppa, não devemos fazer nada com o pensamento na remuneração, apenas devemos focar no bem-estar ao fazê-la.
ㅡ E você, Lu, você quer fazer moda pelo quê, afinal?
ㅡ Há tantas disciplinas diferentes... Mas eu sempre fui boa com desenhos, talvez eu foque mais nesta parte. Tenho desenhado alguns modelos de roupas de gêneros neutros por somente passatempo, sabe, mas talvez eu consiga entrar para alguma equipe de moldes ou desenhos de alguma marca famosa, é o máximo que posso conseguir.
ㅡ Ou talvez você crie a sua própria marca, já pensou?
ㅡ Não sonhe tão alto Ryeon, nenhuma mulher como eu conseguiria isso no país onde vivemos, e outra, precisaria de muito dinheiro envolvido, precisaria de uma equipe e um ateliê, jamais daria certo...
ㅡ Não diga isso, meu anjo. ㅡ Jungso olhou-a através do retrovisor. ㅡ Você sabe que pode fazer o que quiser no mundo que com certeza fará sucesso. Eu iria amar ter uma filha famosa, uh?
ㅡ Aigoo pai... Não sonhe tão alto, você e Ryeon precisam entender que pensar assim é bom, mas a realidade é completamente diferente.
ㅡ A realidade somos nós mesmo que fazemos, então se a sua for ter o máximo que puder, ela acontecerá, basta você lutar.
ㅡ Ryeon tem razão filha, você é a sua própria realidade, faça dela algo bom.
Lucy sentia-se estranhamente encorajada com as palavras de ambos, mas ela realmente sabia que a realidade era mais dura do que apenas falar. Sabia que almejava muitas coisas, até mesmo a sua própria marca, mas não ousava pensar demais, isso seria realmente impossível.
ㅡ Assim que quiserem voltar, me liguem. ㅡ Jungso avisou, despedindo-se deles.
Lucy assentiu, acenando para o homem que logo se foi com o carro, mas que ela sabia que permaneceria por perto.
ㅡ Você está realmente linda. ㅡ falou Ryeon, virando-se ligeiro para ele e se aproximando. ㅡ agora, por favor, me deixa te beijar.
E ela sorriu, mostrando outra vez seus dentes avantajados e assentiu.
O som calmo das ondas dava a calma necessária para eles, mas Lucy suspirou apenas quando sentiu Ryeon repousar ambas as mãos em suas bochechas.
Fechou os olhos sutilmente e sentiu o carinho que os dedos dele deixava, depois, sentiu-o pressionar os lábios fartos sobre os seus, e assim, envolveu a cintura do outro.
Beijavam de forma lenta, tão calmo que fazia o tempo querer parar, mas afastaram-se quando ouviram uma buzina feroz de carro e olharam na direção.
ㅡ Parem com essa pouca-vergonha na rua, seus imundos!
Lucy arregalou os olhos ao ver que um grupo de homens de meia-idade era quem dizia aquilo. Ryeon olhou fervendo de raiva para todos ali, mas logo os viu seguindo seu rumo com o carro.
ㅡ Me desculpa por isso. ㅡ ele disse, virando-se e fitando o rosto ainda assustado da garota.
ㅡ Tudo bem, eu preciso me acostumar, não é...
E Ryeon não pôde falar nada quanto aquilo. Era dolorido demais ter que ver sua garota passando por aquilo, mas o preconceito era podre, fedia, e infelizmente, o país cujo haviam nascido ainda era um dos mais fechados para qualquer que fosse a comunidade dentro do movimento lgbtqia+ e exalava o preconceito de forma comum e até mesmo como se fosse um padrão de diversão.
Mas não tinha nada de divertido em ofender, machucar e até mesmo tirar a vida de pessoas cujo simplesmente são quem são, porque tal ser humano não gosta daquilo.
O preconceito é imundo.
ㅡ Mas você não é imunda. ㅡ Ryeon quis enfatizar, quando voltou a se aproximar e agora segurava firme as mãos dela. ㅡ você é linda, amável, um anjo. ㅡ sorriu, fazendo-a sorrir também. ㅡ e vai mostrar a todos como isso é superior a qualquer que seja o preconceito desses babacas.
ㅡ Eu amo quando você tenta me pôr para cima, oppa... ㅡ disse sorrindo cabisbaixa, e sentiu os dedos de Ryeon retornarem ao seu rosto. ㅡ obrigada por isso.
ㅡ Eu também amo. ㅡ ele disse sorrindo e se aproximou para selar outra vez os lábios dela. ㅡ Amo mesmo.
Sorriram juntos e Ryeon tomou a frente para puxar a garota para mais perto de si.
Os cabelos de Lucy balançavam com o vento, assim como seu vestido também, e isso era fantástico.
Caminharam de mãos dadas pela areia e até mesmo brincavam enquanto a chutavam. Foram juntos até o píer e Ryeon se atreveu a ir até à ponta. As ondas estavam pacatas, então em algum momento ele conseguiu fazer com que Lucy se chegasse mais.
Sentaram-se na ponta e olharam o vasto mar, onde seu fim não era possível de ver.
ㅡ Um dia, lá no futuro, quando estivermos firmados em nossas vidas...
Lucy virou o rosto e fitou Ryeon, que olhavam além de forma fixa e pensativa.
ㅡ O que tem?
ㅡ Eu te pedirei em casamento.
A garota continuou olhando-o, mas apenas viu Ryeon apoiar os braços atrás de seu corpo e relaxar daquela forma, erguendo a cabeça enquanto o vento frio ainda lhe agradava.
ㅡ Espero que aceite. ㅡ disse com os olhos fechados.
Lucy sorriu negando, mas fez o mesmo que o garoto, apoiando as mãos para trás e fechando os olhos ao sentir que seus dedos tocaram sutilmente os dele sobre a madeira.
ㅡ Eu posso pensar a respeito.