Capítulo 18
2377palavras
2023-02-05 08:05
Caminhou os poucos metros de casa até a esquina e viu Ryeon se apressar para chegar até lá. Ele andava distraído, fechava o cinto em torno de sua calça, mas quando findou o feito e ergueu os olhos vendo-a já ali, ele sorriu.
ㅡ Bom dia, linda. ㅡ disse assim que parou e abraçou-a com afeto, deixando um beijo em sua bochecha.
ㅡ Ryeon, não faz isso aqui. ㅡ reclamou, afastando-se, mas sorriu ao encará-lo. ㅡ bom dia...

ㅡ Irá comigo ao grupo de estudos hoje? ㅡ perguntou caminhando ao lado da garota, rumo ao ponto de ônibus.
ㅡ Claro que irei. ㅡ respondeu animada. ㅡ Separei um caderno novo e algumas canetas de cores diferentes para organizar os tópicos que o professor irá nos administrar.
ㅡ Woah, eu não trouxe nada novo assim. ㅡ disse rindo enquanto coçava sua nuca. ㅡ Uma caneta e as últimas folhas do meu caderno são tudo o que tenho.
ㅡ É o suficiente. ㅡ disse a garota, sentando-se enquanto retirava sua mochila para pôr sobre as penas. ㅡ já decidiu no que irá aplicar?
ㅡ De verdade? Pensei em diversas coisas, mas nenhuma me chamou mesmo a atenção, e você?
ㅡ Pensei em moda. ㅡ respondeu-o. ㅡ Sempre pensei nisso, mas tinha medo de admitir. Eu vejo tantas coisas atuais e até desenho algumas peças, talvez seja o que eu deva fazer.

ㅡ Woah, que legal.
ㅡ Mas não é nada definido ainda. Eu também pensei em enfermagem e letras, coisas completamente diferentes.
ㅡ Isso é verdade. ㅡ sorriu olhando-a. ㅡ mas... Como irá fazer para ir?
ㅡ Como assim?

ㅡ Digo, você é Lucy, precisa se formar como Lucy, não é?
ㅡ Sim. ㅡ disse e suspirou, encostando-se melhor ali e relaxando o corpo. ㅡ eu conversei sobre isso com a psicóloga. Ela disse que tem certeza de que isso não é um delírio ou uma forma de chamar a atenção de alguém, mas ela falou que seria bom eu conversar com meus pais antes, talvez até levá-los lá numa das consultas para explicá-los todo o processo.
ㅡ Espero que eles entendam. Afinal, é a sua vida.
ㅡ Papai entende, eu acho que ainda é confuso para ele um pouco, mas ele entende.
ㅡ E sua mãe?
Com um suspiro, Lucy negou. ㅡ ela me odeia.
ㅡ Eu não acredito nisso. ㅡ respondeu Ryeon. ㅡ ela parece gostar de você.
ㅡ Ela gostava do Woojin. ㅡ olhou-o. ㅡ mas agora ela sabe que ele não existe, e não aceita a Lucy. Ela até disse que era um demônio que estava em mim. ㅡ negou rindo amargurada. ㅡ eu a decepcionei.
ㅡ Ela te decepcionou, eu vejo. ㅡ Ryeon diz, deitando a cabeça sobre o ombro da garota. ㅡ mas não desanime, faltam poucos meses para que você se vá, ela precisa entender o quanto antes.
ㅡ Espero que ela entenda, porque eu irei de qualquer forma.
O ônibus chegou, ambos se ergueram e adentraram-no. Sentaram-se lado a lado e com o ronco da barriga vazia de Lucy, dividiram um dos sanduíches de pasta de avelã preparado por Jungso.
E enquanto mastigavam em silêncio, Ryeon perdia-se sozinho entre os seus pensamentos.
ㅡ Se você quiser ㅡ falou rompendo o silêncio e fazendo Lucy olhá-lo. ㅡ eu te espero.
ㅡ Como assim?
ㅡ Esperar, sabe... Como seu namorado.
Lucy engasgou-se. Tossiu tão forte que Ryeon se assustou e deu alguns tapinhas em suas costas.
ㅡ Namorado? ㅡ perguntou ela enquanto se recuperava.
ㅡ Foi um modo de falar. ㅡ disse ele ainda preocupado. ㅡ Nós saímos, nos beijamos, ficamos de mãos dadas... É quase um namoro.
É?
ㅡ Não. ㅡ respondeu respirando melhor depois do susto. ㅡ quer dizer, eu acho que não.
ㅡ Você não quer namorar comigo?
ㅡ Que pergunta é essa?
ㅡ Namora comigo?
ㅡ É um pedido?
ㅡ Não. Quer dizer, é?
ㅡ E eu que sei?
Ambos pararam por um momento e ficaram em silêncio. Não entendiam o que havia acabado de acontecer, mas explodiram juntos em um riso tosco e alto bem ali.
ㅡ Me desculpe. ㅡ pediu ela.
ㅡ Tudo bem...
ㅡ Mas não precisa me esperar Ryeon, até porque você irá até lá me visitar.
ㅡ Irei?
ㅡ Irá. E eu te mostrarei a cidade e levarei para um jantar.
ㅡ De namorados?
A garota olhou-o e viu-o balançando as sobrancelhas. Negou enquanto deixava um tapinha sobre o ombro dele e apenas continuou a comer.
Logo estavam adentrando a escola, e Lucy se assustou quando chegou em seu armário e viu Jaesun se aproximar, correndo em desespero.
ㅡ Ele me beijou. ㅡ falou o garoto, respirando alto.
ㅡ O quê? Quem? ㅡ perguntou sem entender.
ㅡ Alguém te beijou à força? ㅡ perguntou Ryeon, também perdido no garoto.
Mas Jaesun negou, arrumando a respiração enquanto exalava seu sorriso retangular, e somente após segundos de recuperação, ele disse:
ㅡ Nós nos beijamos.
E olhando para Ryeon, a garota entendeu do que se tratava o "nós", solto por Jaesun.
ㅡ O nerdão? ㅡ perguntou Ryeon surpreso.
ㅡ Chame-o de nerdão mais uma vez e eu vou te deixar dois centímetros mais baixo. ㅡ ameaçou Jaesun.
ㅡ Você beijou o Mark? ㅡ perguntou Lucy, sorrindo quando viu seu amigo sorrir mais e assentir. ㅡ Minha nossa.
ㅡ Como isso aconteceu?
ㅡ Estávamos conversando no parque outra vez. Ele me chamou para andar de bicicleta por lá, e mesmo que eu sequer goste, eu fui. Mas foi tão gostoso...
ㅡ Eu imagino. ㅡ a garota suspirou junto ao amigo.
ㅡ Romântico, foi romântico. ㅡ concluiu Jaesun. ㅡ Estávamos debaixo de uma árvore e ele estava me explicando o porquê das árvores precisarem de cobertores no inverno. Ele falava com tanta ternura, tanta paixão que eu só consegui ficar olhando-o como um bobo.
ㅡ E como rolou o beijo? ㅡ indagou Lucy, completamente curiosa.
ㅡ Só aconteceu. ㅡ falou Jaesun. ㅡ Numa hora estávamos falando das árvores e ele tocou a minha mão sobre o tronco, mostrando-me a textura dela. Mas estávamos tão próximos que o clima veio, e foi Mark quem se aproximou e me beijou, encostando-me devagar a árvore.
ㅡ Ah, tão romântico. ㅡ suspirou mais uma vez Lucy.
Ryeon sorria para o modo abobalhado que ambos estavam à sua frente, mas pensava se deveria beijá-la numa árvore também.
ㅡ Eu nunca gostei tanto de árvores. ㅡ disse Jaesun, pensativo.
ㅡ Oh, e falando em árvores. ㅡ falou Ryeon, chamando a atenção de ambos. ㅡ o Groot chegou.
Apontando disfarçadamente, Ryeon mostrou a entrada para ambos. Lucy sorriu simpática e Jaesun exageradamente. Mark adentrava o lugar e sorria tão exagerado quanto.
Acenando para Jaesun, foi à deixa para que o garoto abandonasse seus amigos e fosse até ele.
Lucy e Ryeon olharam a cena de ambos tímidos se cumprimentarem, e era fofo.
ㅡ Eae seus trouxas. ㅡ Kuan os cumprimentou, estava de mãos dadas ao namorado, Daniel, e sorria.
ㅡ Bom dia gente. ㅡ Daniel também os cumprimentou.
ㅡ Bom dia. ㅡ respondeu Ryeon.
ㅡ Bom dia, Dani. ㅡ respondeu Lucy.
ㅡ Está bonito hoje. ㅡ constatou Daniel, olhando para Lucy.
ㅡ Hey! É bonita, amor. Esqueceu? ㅡ Kuan falou, fazendo o namorado lembrar-se do que haviam conversado e arregalar os olhos.
ㅡ Ah, verdade, me desculpe. ㅡ pediu logo olhando-a.
Lucy sorriu e negou. A garota, junto a Jaesun, decidiu contar mais de si mesma para os demais também. Foi difícil, é claro, principalmente porque simplesmente reuniu todos e contou como se jogasse uma bomba no meio do grupo e todo o seu corpo tremia naquele segundo com medo das reações, mas Lucy confiava neles.
Lucy queria tanto tomar aquela iniciativa que até perguntou à psicóloga como opinião o que deveria fazer. A mulher disse apenas que se eles eram amigos, e se sentissem a segurança de contar, não haveria problema, mas que era uma única e própria decisão da garota.
Mas ela decidiu, simplesmente contou e depois riu com as interrogações que ficou nitidamente gravada na cara de cada um. Mas como se pisasse em ovos, cada um foi respeitoso nas dúvidas, o que foi bom para Lucy. Deixaram-na contar um pouco e explicar do modo em como queria e até onde se sentia confortável, e no fim, todos a abraçaram, dando-lhes seus apoios e carinhos.
Afinal, o grupo era composto disso. Apoio e carinho… era um ciclo composto por pessoas heteras e gays, a maioria do segundo grupo já havia sentido como o preconceito de não ser aceito por quem é, doía, e só queriam mostrar acolhimento a ela.
E Lucy se sentia muito acolhida ali.
Seguiram juntos para a primeira aula e até mesmo cumprimentaram Mark quando ele sentou nas cadeiras próximas dali.
Se separaram na segunda aula e se encontraram outra vez no refeitório. Sentaram todos juntos numa mesa central e Lucy entregou o sanduíche de Jaesun, mesmo que quisesse comê-lo também.
ㅡ Gulosa. ㅡ foi o que Jaesun chamou-a quando escondeu seu sanduíche da amiga. ㅡ o tio fez para mim.
ㅡ Mas você trouxe tangerinas, eu posso comer os dois.
ㅡ Não, tome uma tangerina e me deixe em paz.
A garota buscou a tangerina satisfeita e sentada ao lado de Ryeon, debulhou-a dividindo com ele.
E o garoto sorriu ao aceitar, deixando o pote que havia levado com alguns cookies à frente, permitindo-a pegar alguns.
E eram assim, todos. Dividiam seus lanches e suas conversas, e até mesmo Mark se enturmou rápido quando descobriu que assim como ele, Kuan tinha apreço pela música, especificamente o rap.
Chegando a hora de irem de volta a suas aulas, Ryeon cutucou Lucy, e chamando-a para perto e assim poder sussurrar no seu ouvido, ele disse:
ㅡ Vamos à biblioteca?
ㅡ Mas agora? ㅡ olhou-o de perto. ㅡ Temos que voltar para a sala de aula.
ㅡ É só uma aula, depois buscamos o assunto com Jaesun.
ㅡ O que você quer fazer lá? ㅡ perguntou.
ㅡ Vem comigo.
E juntando os dedos aos de Ryeon, Lucy caminhou pelos corredores da escola sem entender nada. Não largaram as mãos quando adentraram o elevador, e chegando ao último andar da instituição, foram para o fundo da biblioteca.
ㅡ Aqui tem alguns livros de heróis. ㅡ falou Ryeon.
ㅡ Eu não acredito que você me fez gazear aula para ver gibi.
Ryeon riu e olhou-a, ainda segurando sua mão e puxou-a para mais perto.
ㅡ Eu te chamei para poder te beijar.
ㅡ Aqui? Está louco?
ㅡ Ninguém vai ver.
ㅡ Mas é errado, oppa.
ㅡ Mas é bom. ㅡ retrucou.
ㅡ Só um? ㅡ piscou olhando-o e olhando ao redor.
ㅡ Unzinho só, prometo.
A garota sorriu e se aproximou, sentindo Ryeon segurar rapidamente sua cintura quando suas bocas se encontraram.
Mas a verdade é que sabiam bem que não seria somente um. E Lucy até agradeceu por ser horário de aula e não ter ninguém naquela área.
É errado? Demais, mas como Ryeon citou, é bom. Beijavam-se e se perdiam em meio aos toques.
Lucy estranhamente sentia cada vez mais a vontade de ter Ryeon apertando-a e beijando-a, aumentando. Seu corpo arrepiou-se quando Ryeon puxou seu lábio inferior com os dentes, e ela suspirou quando se sentiu quente.
ㅡ Já está bom, oppa.
Ryeon afastou-se chupando o lábio dela e assentiu. Ainda estavam juntos, as mãos ainda estavam presas nas roupas, já que sempre puxavam devagar, mas depois que o fôlego retornou, Ryeon sorriu, sentindo seu coração derreter-se ao tê-la tão perto como estava.
ㅡ Você é mesmo linda. ㅡ falou ele, tocando a bochecha dela. ㅡ como uma fada.
ㅡ Você é bobo, isso sim. ㅡ disse ela roubando um selar rápido. ㅡ E por falar em fada, você soube da festa a fantasia de Halloween?
ㅡ Vi sim, e pensei em ir com você.
ㅡ Comigo?
ㅡ É, você. Nós não comemoramos no meu aniversário, então não pudemos nos divertir.
ㅡ Mas eu te dei um presente. ㅡ lembrou a garota. ㅡ E você gostou, não foi?
ㅡ Demais. ㅡ falou erguendo a chave de casa e mostrando o chaveiro que Lucy havia lhe dado dias antes, em seu aniversário e que continha uma foto de ambos juntos. ㅡ você usa o seu, não é?
ㅡ Uso, mas está na chave do meu quarto. ㅡ respondeu.
ㅡ Mas enfim, você irá comigo, não é?
ㅡ Não sei, até pensei em ir, mas a fantasia que vi não é adequada.
ㅡ E qual foi?
ㅡ De "as patricinhas de Beverly Hills". Mas Jaesun não irá aceitar usar comigo, tenho certeza. E eu nem sei se meus pais irão permitir que eu use uma saia também, mesmo como uma fantasia.
ㅡ Precisa ser em par?
ㅡ Não, mas... Eu e ele sempre combinamos as fantasias, seria legal.
ㅡ Se Jaesun não quiser ir, eu vou. ㅡ falou e Lucy apenas riu. ㅡ É sério.
ㅡ Ah, ok. Mas anda, precisamos voltar.
ㅡ Me dá mais um beijinho? É só um...
E ainda sorrindo, a garota se aproximou, tomando cuidado para ver se tinha alguém por perto outra vez, e tocando os lábios de Ryeon com os seus logo em seguida.
Sorriram juntos quando o primeiro beijo findou, sabiam que queriam bem mais que somente um, então perdendo-se mais uma vez entre tantos beijos, o horário da aula foi completamente tomado por outro feito.
E sabiam mesmo que aquilo não era bom de ser feito, matar aula enquanto queriam ir para a faculdade era o estopim.
Mas realmente não se importavam ali. Lucy suspirou longamente quando sentiu a reação estranha de seu corpo mais uma vez, e Ryeon, bom... Ryeon estava se controlando ao máximo.
Seu corpo cheio de hormônios aflorava seu desejo. Não era diferente para a garota, mas ela sequer entendia. Sentia pela primeira vez como era bom o toque e o beijo de Ryeon em si, havia algo diferente, mas não sabia explicar o que. Lucy apenas entendia que queria mais e mais daquilo.
Ryeon sentia tudo queimar. Sentia os dedos de Lucy apertarem-se em sua nuca de uma forma como nunca apertaram antes, mas controlava-se para não assustá-la outra vez com seu corpo respondendo a isso. Ele não queria fazê-la fugir de si outra vez.
Mas ambos os adolescentes queimavam entre si. E estava cada vez mais difícil controlarem-se.