Capítulo 17
1875palavras
2023-02-05 08:04
Ryeon enfim saiu do banheiro, e sorriu para ela quando começaram a andar para fora. Não trocaram palavras quando precisaram chamar um carro por aplicativo, sequer quando estavam juntos no banco traseiro já indo para a casa.
A timidez do ato ainda pairava entre eles, e foi somente quando desceram do carro e pagaram a conta, que se olharam outra vez.
ㅡ Então... Chegamos. ㅡ disse Ryeon olhando a casa de Lucy.

ㅡ É... ㅡ ela sorriu caminhando com ele até a porta.
E quando chegaram ali, pararam.
ㅡ Eu gostei de hoje... Foi divertido.
ㅡ Eu também gostei muito.
ㅡ Podemos repetir, certo? ㅡ perguntou Ryeon se aproximando. Lucy assentiu. ㅡ Então... Te vejo amanhã na escola?
ㅡ Vê sim.

ㅡ Irá de ônibus?
ㅡ Vou sim.
ㅡ Então te encontro na esquina às sete.
E outra vez a garota assentiu.

Ryeon sorriu, sem que percebessem, estavam próximos outra vez. Seus corpos pareciam imãs.
ㅡ Você precisa ir, Ryeon, está tarde.
ㅡ Boa noite então. ㅡ ele disse sorrindo e se aproximou para selar seus lábios, mas Lucy lembrou-se de onde estavam e de como adoravam fofocar ali, e desviou o rosto. Sabia que mesmo que a rua estivesse completamente vazia, as fofoqueiras de plantão poderiam estar na janela, e assim o beijo direcionado a sua boca, parou em sua bochecha.
E Ryeon sorriu entendendo logo o motivo.
ㅡ Boa noite oppa. ㅡ falou afastando-se.
Ryeon então assentiu, afastando-se devagar e vendo-a tocar a maçaneta. Lucy acenou despedindo-se outra vez quando Ryeon saiu de seu terreno e viu-o acenar uma última vez antes de ajustar seu boné ainda para trás e enfim se ir.
A garota virou-se para enfim adentrar a casa, mas a porta foi aberta antes, e assustou-se quando viu Sun-ha ali.
ㅡ Você não tem vergonha? ㅡ perguntou puxando Lucy pelo braço para entrar e fechou a porta com um estrondo. ㅡ fica agora aos beijos na porta da minha casa?
ㅡ Nossa casa mãe. ㅡ ela respondeu baixo, evitando olhá-la nos olhos. ㅡ e eu não o beijei.
ㅡ Por que você é assim? ㅡ perguntou aproximando-se e segurou o queixo da garota, forçando-a a olhá-la. ㅡ onde eu errei com você?
ㅡ Por favor, me deixe subir. ㅡ pediu educadamente retirando a mão dela de si.
ㅡ Eu sempre te dei tudo, sempre te ensinei o correto. Você não irá me dar esse desgosto. Amanhã vamos cedo à igreja, eu contei ao pastor a sua situação e ele disse para eu te levar que as irmãs iriam orar e te ungir com o óleo da salvação. Ele vai te salvar e libertar desse demônio.
E Lucy ouviu tudo aquilo para no fim rir. Demônio? Sério?
ㅡ Não ria de mim. ㅡ falou Sun-ha estalando uma tapa na bochecha direita dela. ㅡ Seu errado!
Lucy virou o rosto com o impacto e sentiu rapidamente a pele dali queimar. Fechou os olhos, sentindo a vontade de chorar vir, mas respirou fundo quando sua raiva também chegou.
ㅡ Nunca mais toque em mim. ㅡ falou entredentes olhando-a. ㅡ Nunca mais.
ㅡ Eu sou sua mãe, tenho esse direito!
ㅡ Você não pode usar isso para me agredir por eu ser quem eu sou.
ㅡ Você é meu filho, eu te pus no mundo assim, como um homem.
ㅡ Mas eu não sou um homem, nunca fui. ㅡ falou trincando a mandíbula. ㅡ Se me machucar mais uma vez eu vou te denunciar.
ㅡ Está me ameaçando? ㅡ sorriu aproximando-se e mesmo que Lucy se afastasse na mesma velocidade, ainda conseguiu capturar seu pulso. O mesmo que há dias atrás havia machucado. ㅡ Ouse falar outra vez.
ㅡ Está me machucando. ㅡ falou Lucy, um pouco mais alto, sentindo a dor ali. ㅡ Por favor, me solte.
ㅡ Fale o que você é ㅡ disse a mulher, completamente perdida no que chamava de razão. ㅡ Fale que é um homem, eu quero ouvir.
ㅡ Eu sou uma mulher. ㅡ cuspiu ríspida, puxando seu braço de volta e massageando o pulso.
ㅡ Seu insolente!
E Sun-ha ergueu alto a mão, pronta para acertar outro tapa na filha, mas Lucy segurou-a, impedindo, e ouviu os passos de seu pai descendo as escadas.
ㅡ Você não vai me machucar.
ㅡ O que está acontecendo aqui? ㅡ perguntou Jungso, fazendo Lucy soltar a mãe e olhá-lo. O homem se assustou ao enxergar a sutil silhueta da mão desenhada no rosto da filha. ㅡ O que é isso? ㅡ tocou o local.
Não foi preciso respostas faladas para que ele entendesse. Os olhos amargurados de Lucy respondiam sua pergunta e a atitude de logo sair dali e subir as escadas com raiva apenas confirmou.
ㅡ Foi ela quem fez isso? ㅡ ele perguntou. ㅡ A garota abaixou o olhar e assentiu. ㅡ Tudo bem, vá para seu quarto, tome um banho e vá dormir, ok? Amanhã você tem aula cedo.
O homem apenas falou aquilo e beijou a testa da filha. Seu semblante era enraivecido e cansado, e seus passos entregavam isso, mas antes que ele subisse as escadas e adentrasse o quarto onde a mulher estava, Lucy parou-o ao segurar seu pulso.
ㅡ Não briguem. ㅡ pediu olhando nos olhos do pai.
ㅡ Vá dormir, filha.
Lucy assentiu, vendo-o retornar os passos e subir as escadas depressa. A garota suspirou cansada, caminhou até a cozinha e buscou um copo com água. Sua mente parecia um turbilhão, a cada dia mais se enchia de vontade de partir, mas enquanto pensava em conseguir passar nas provas e conseguir sua bolsa para Seul, Lucy lembrou-se que tinha Ryeon agora.
É claro que seu futuro jamais seria empatado por quem quer que seja, e sua decisão de ir para Seul já era certa, mas a garota pensava em Ryeon como seu amigo, deixado para trás e sofrendo com sua ausência.
Lucy não queria que ele sofresse por si.
Mas enfim respirou fundo e focou seus olhos. Estava de frente com a janela da cozinha, e via nitidamente o seu reflexo ali. Suas bochechas ainda estavam rosadas pelo blush ali posto, mas as marcas dos dedos de sua mãe eram ainda mais visíveis. Sobressaltavam a cor e doía no coração da garota.
Tudo o que ela menos queria era ser um desgosto para sua mãe, ela a amava tanto... Mas assim como Lucy parecia estar desapontando a mulher, Lucy também se sentia desapontada com ela. Sabia que sua mãe era retrocedente aos pensamentos atuais sobre a liberdade de ser quem você é, mas nunca imaginou que sofreria ameaças ou agressões dela, por isso, era monstruoso para a garota aquela atitude vinda de sua própria mãe.
Lucy subiu as escadas e ainda pode ouvir os sons abafados de vozes alteradas vinda do quarto de seus pais no fundo do corredor. Não queria, mas sentia-se culpada por eles estarem brigando naquela hora.
Adentrou seu quarto e retirou suas roupas. Entrou debaixo do chuveiro e mesmo que fosse tarde da noite, molhou seus cabelos para aliviar um pouco sua cabeça.
Fechou os olhos e apenas deixou-se banhar por a água corrente, tentando de alguma forma melhorar o que sentia. Mas nada dava certo, então terminou seu banho e demorou em enxugar parcialmente seus fios.
Quando enfim deitou-se para dormir, era quase meia-noite, e buscou seu celular uma última vez antes de cair no sono. As diversas mensagens sequer obtiveram sua atenção, sua visão apenas se focava na mensagem enviada por Ryeon a pouco mais de vinte minutos, e abrindo-a, Lucy sorriu.
Era uma foto de Ryeon, enrolado num lençol branco e com apenas seus olhos de fora. Ele desejava boa noite à garota e finalizava com um beijo e um "te vejo amanhã".
Lucy respondeu sua mensagem, mas assim como Ryeon, ela escondeu seu rosto e tomou cuidado para não aparentar sua bochecha que ainda estava rosada por a agressão, e tirou uma foto como a dele, enviando-o e desejando também boa noite, finalizando com um beijo e um "Te vejo amanhã, bobo".
E foi somente preciso aquilo para Lucy dormir sorrindo.
Caiu em um sono tão profundo, mas com seu corpo tão leve, que apenas despertou quando seu despertador tocou pela segunda vez o seu alarme.
Ergueu-se ainda acostumando o corpo e a visão para o novo dia e quando somente teve a certeza de que não tropeçaria e cairia de cara no chão, ela caminhou. Estava como um zumbi, caminhando enquanto seu corpo alto balançava de leve. Parou de frente ao seu espelho no banheiro e se recusou a olhar-se antes de lavar o rosto, então inclinou-se para abrir a torneira e encheu as mãos com água, jogando sob o rosto e espalhando-a enquanto limpava e lavava.
Enfim ergueu o rosto e analisou-o ali. Sua bochecha não estava mais tão vermelha, apenas um tanto mais rosada que a outra, mas nada que um pouco de maquiagem não resolvesse.
Lucy tomou banho rápido, evitando tocar-se tanto logo cedo, e parou na frente do espelho enquanto arrumava mais uma vez sua gravata.
Fez uma sutil maquiagem no rosto, cobrindo as marcas e usando outra vez um delineado nos olhos. Penteou seus cabelos, abrindo as leves ondas que havia ali e buscou um laço na cor azul-escuro. Dividiu seu cabelo em duas partes, repuxando a superior para prender o cabelo como num rabo de cavalo, deixando a parte debaixo solta e pôs seu laço ali, centralizado da forma em como queria.
Finalizou com um pouco do seu batom agora de morango, sutil como todo o resto e com um aroma delicioso. Borrifou um pouco do perfume de frutas que tinha e buscou seu material, encaixando a mochila no ombro direito para assim descer as escadas da casa.
Na cozinha, Lucy encontrou seus pais sentados sob a mesa. Seu pai sorriu e retribuiu o bom dia que havia desejado, mas sua mãe continuou da forma em como estava, sequer ergueu o olhar.
ㅡ Tenho grupo de estudos hoje, irei demorar um pouco. ㅡ avisou a garota, tentando não focar na mãe.
ㅡ Grupo de estudos? ㅡ perguntou Jungso sorrindo. ㅡ tudo bem, precisa de dinheiro para algo?
ㅡ Não, estou bem. ㅡ sorriu. ㅡ então eu já vou indo...
ㅡ Sem comer antes? ㅡ indagou Jungso e logo negou. ㅡ nada disso, sente-se, precisa comer bem, principalmente pelas manhãs.
ㅡ Mas eu vou perder o ônibus assim pai. Eu como algo no caminho.
ㅡ Não não não. ㅡ falou e se ergueu, indo até o balcão e buscando de lá uma sacola marrom de papel. ㅡ Eu fiz isso para você, pus três sanduíches.
ㅡ Três? ㅡ buscou franzindo o cenho.
ㅡ Sim, dois para você e um para Jaesun.
Lucy sorriu e negou, guardando o pacote em sua mochila.
ㅡ Obrigada. Tchau, pai.
ㅡ Tchau, filha.
O coração de Lucy palpitou forte, ao mesmo tempo em que seu sorriso aumentou. Seu pai também sorriu grande, surpreendendo-se com o sorriso tão leve que a filha tinha, e então abanou as mãos, mandando-a ir.
ㅡ Tchau, mamãe. ㅡ a garota ainda falou, mesmo que a mulher ainda não tivesse olhando em seu rosto.
E continuou daquele jeito, então Lucy apenas se foi embora, não querendo mesmo ligar para a forma em como estava sendo tratada por sua mãe.