Capítulo 16
2484palavras
2023-02-05 08:03
As coisas para Lucy ainda eram difíceis em casa.
Talvez mais difíceis do que a garota um dia imaginou estar. Tudo era sempre silencioso agora, Sun-ha não falava com a própria filha há dias, e Jungso sentia-se no meio de uma grande batalha.
Mas a verdade é que, para ocorrer uma batalha, dois ou mais lados precisam se atacar entre si. Naquela casa havia três lados.
Jungso era o lado pacifico. Não gostava de brigas ou intrigas, mas sempre ficava atento para qualquer que fosse o ataque entre as duas mulheres que tinha em casa.
Mas ele sabia que o ataque nunca vinha de Lucy, e sim sempre de sun-ha.
Lucy também era quieta, gostava de respeitar os que lhe deram a vida, mesmo que sentisse que não havia feito nada de errado. Mas depois que sun-ha ter descoberto as suas saias, nem uma palavra sequer havia sido trocada até então.
Na verdade, a mulher até falou com a filha, mas apenas para ameaçá-la, dizendo que se encontrasse qualquer que fosse o tecido na cor errada ou uma peça feminina, ela cortaria em mil pedaços, para assim não ter a chance de reparos.
Mas Jungso não concordava com aquilo e para tentar evitar ainda mais desavenças na sua casa, partindo sempre de sua mulher, a melhor opção que havia pensado ali era a troca da fechadura do quarto da filha, e assim ele fez, garantindo que sun-ha não tivesse acesso à segunda cópia da chave que sobrava.
Mas era angustiante para a garota ter que fechar seu quarto todas as manhãs. E tinha que se certificar sempre, pois se esquecesse de trancar a porta, com certeza sua mãe cumpriria o que havia dito.
Chegava a ser insano.
Mas para falar a verdade, Lucy até se sentia mais livre. Era somente um pouco, mas era bom. Havia contado a seu pai quem era de verdade, por dentro, mas ainda sabia que teria que explicá-lo melhor e até mesmo levá-lo até a psicóloga junto consigo para que ele entendesse com clareza cada coisa.
Mas naquela noite, ela até sorria.
Sorria porque havia sido convidada na noite anterior para ir ao cinema, e havia sido convidada por Ryeon, o que deixava-a completamente eufórica.
Ok, não era um encontro, já que eles realmente queriam muito ir ao cinema assistir a mais um dos filmes da saga de heróis favoritos que havia acabado de ser lançado, e eles já haviam saído junto outras vezes, diversas vezes na verdade, mas nenhuma era como agora.
O pedido de ir ao cinema rendeu uma resposta negativa de Sun-ha logo de início, mas Lucy estava tão animada que sequer deu importância para os muxoxos provocativos que a mulher deixou que escapasse em alto e bom som quando seu pai pediu para que ela fosse, já que precisava de um tempo a sós com a esposa.
Lucy e Ryeon não puderam entrelaçar seus dedos como sentiam vontade de fazer no caminho de ida. Talvez não tivessem prontos ainda para os olhares que aquilo traria sobre eles, mas conseguiram um lugar no fundo da sala, o que era confortável para entrelaçar os dedos ali, e para a sorte de ambos não haviam pessoas ao redor, ou até mesmo a frente, já que estavam na última fileira de cadeiras; então foi Ryeon quem se apressou a entrelaçar os dedos aos da garota quando se sentou lá, no escuro. E Lucy apenas sorriu, sentindo-se uma extrema boba ali.
Ryeon usava uma bermuda folgada na cor preta que ultrapassava os limites de seus joelhos. Lucy sempre achou engraçado como o garoto ficava fofo vestido naquilo. Ele usava também uma camisa larga com mangas longas e que era ao menos dois tamanhos maiores que o seu; nos pés estavam sapatos esportivos na cor branca, junto com meias que iam até sua panturrilha. Lucy nunca entendeu o estilo eclético que Ryeon havia adquirido aos dezessete anos. E agora aos dezoito, ainda não havia deixado de lado. Parecia que o garoto parecia não se importar muito em andar vestido idêntico a um idol atual adolescente, e para completar tudo, Ryeon ainda usava um boné para trás.
ㅡ É estilo. ㅡ era o que ele dizia.
E bem, já Lucy apenas se vestiu completamente de preto. Não tinha muita escolha quando não podia usar o que de fato queria usar. Então sua única opção foi pôr uma calça escura e folgada, junto a um par de sapatos e uma camisa nos mesmos tons. Usava um casaco longo, na cor rosa pastel, por cima de tudo aquilo, e para dar o seu toque em tudo, ela usava um delineado fino de gatinho e atreveu-se a pôr um pouco de blush cor de rosa nas bochechas para dar cor ao rosto tão pálido.
Seus cabelos estavam soltos, com leves ondas que balançavam com o vento. Sua boca suportava um sutil batom na cor pêssego, que exalava o aroma da fruta. Suas orelhas comportavam seus inúmeros brincos e piercings e seu perfume era doce como o néctar de uma flor.
E mesmo se transvestindo de um modo tão obscuro por baixo para ser aceita naquele momento, a garota exalava sua luz e delicadeza.
ㅡ Você está linda. ㅡ sussurrou Ryeon enquanto passava os trailers antecedentes ao filme.
ㅡ Obrigada... ㅡ respondeu ela, sorrindo tímida.
ㅡ Desculpa não ter comprado pipoca para você. Ainda não recebi o dinheiro do meu pai...
ㅡ Está tudo bem. ㅡ ela disse se aproximando e abriu a sacola plástica que carregava. ㅡ eu passei na conveniência antes.
Ryeon negou, mas viu a garota retirar duas latinhas de refrigerante e em seguida pipoca e doces.
Ambos prestaram atenção ao som que deu início ao filme. Tratava-se de um filme de heróis, onde eles lutavam para voltar no tempo e salvar metade da humanidade que havia sido aniquilada pelo vilão.
Era um bom filme, muitos acompanhavam a saga e toda a história, mas Ryeon e Lucy tiveram sorte de pegar uma sessão tão vazia, e logo coisas vieram à mente de ambos.
Não era segredo que Lucy fantasiava uma vida inteira com Ryeon desde sua infância. Ela não conseguia evitar. Sonhava em namorá-lo e beijá-lo até não poder mais. Depois sonhava em ir ao cinema com Ryeon e perder-se aos beijos no escuro dali. Lucy até mesmo pensou em casar-se com Ryeon, o que em sua idade era insano até demais, mas ali, com ambos loucos para se beijarem no escuro do cinema, o medo e a incerteza preenchiam.
Como ela perguntaria a Ryeon se ele queria beijá-la? E se tomasse um fora? Porque era um filme bom, talvez o melhor da atualidade, e Ryeon havia falado tanto sobre suas teorias que amedrontava a garota interromper a experiência dele ali.
Mas sequer foi preciso fazer perguntas. As vontades de Lucy eram compartilhadas por Ryeon. Ele também pensava exatamente a mesma coisa que ela, e tinha exatamente o mesmo medo.
Já pensou, levar um fora porque a sua paixãozinha prefere assistir ao filme do que te beijar?
Onde ele iria enfiar a cara?
Mas enfim, ambos com a incerteza presente, se olharam. E foi incrível. Era como uma imensa bomba colossal de poeira cósmica de todas as cores tivesse acabado de explodir ali, bem entre eles, e vendo os pontos brilhantes e apaixonantes que deixava tudo mais bonito e apaixonante, ambos suspiraram.
ㅡ Você... ㅡ falaram em uníssono.
ㅡ Pode falar. ㅡ disse Lucy, abaixando o olhar.
ㅡ Desculpa. ㅡ pediu Ryeon, sorrindo envergonhado. ㅡ eu só ia comentar em como você está cheirosa hoje.
ㅡ Estou? ㅡ perguntou olhando-o e cheirou o próprio pulso. ㅡ Está muito forte? Exagerei?
E Ryeon negou. ㅡ Não, está perfeito.
A garota sorriu ainda mais boba e tímida para a fala dele, mas desviou os olhos para encontrar os deles mais uma vez, e outra vez, houve a explosão.
Mas agora era diferente, nenhum deles ousaram desviar. Ryeon sorriu, inclinando-se sobre sua cadeia e ainda com os dedos entrelaçados aos dela, ele perguntou:
ㅡ Posso te beijar?
A garota não o respondeu, sequer precisou. Apenas fez como Ryeon, inclinou-se para o lado e juntou seus lábios aos dele.
E Ryeon sentiu o toque aveludado dela junto ao gosto doce do pêssego. Só queria que o toque não tivesse mais fim.
Mas um som alto os fez separar, e riram juntos quando perceberam. Na tela do cinema passavam os heróis viajando através do mundo quântico, e naquele momento, um deles via como seu eu do passado era vergonhoso, quebrando vilões e qualquer coisa que visse a sua frente como se fosse um simples palito.
E assim tiveram que voltar a suas posições iniciais. Não se beijaram mais ali, sequer tiveram vontades. Estavam vidrados na tela e já passava a cena final. O herói brigava fielmente com o vilão, em prol do mundo e da salvação das pedras que fariam voltar à normalidade. Ryeon e Lucy nem ousavam piscar. Lucy apertou os dedos de Ryeon com força quando o vilão conseguiu roubar a luva que carregava as pedras e que dava o poder da destruição.
A garota estava apreensiva, assustada e ansiosa. Viu o vilão sorrir, quando ergueu a mão já calçada na luva e disse sua típica frase: "eu sou inevitável". Ela queria fechar os olhos, sentia-se como se estivesse lá, prestes a desaparecer em poeira como todo o restante do mundo, mas ofegou quando viu-o estalar os dedos e nada acontecer.
Ryeon abriu seus olhos assustado. Olharam-se por breves segundos, mas voltaram a atenção à tela. O mocinho havia ganhado de fato. As pedras estavam consigo e consumia-o por completo, enchendo seu corpo de energia enquanto seus olhos miravam o outro.
Ryeon sorriu, segurando firme também os dedos de Lucy, e quando o homem estalou seus dedos, dando fim a toda a luta, ambos expressaram suas emoções com um pequeno e baixo grito.
E Lucy mesmo assim cobriu sua boca, sorrindo e vendo Ryeon fazendo o mesmo. Ele tinha seus olhos em linhas, sumindo entre as bochechas, e a garota conseguiu ainda sentir-se afetada com aquilo. E sem pensar, ainda sentindo a euforia do ocorrido, ela aproximou-se mais e selou a boca de Ryeon, causando-lhe um breve susto, mas logo sentindo-o segurar suas bochechas e prolongar ainda mais o toque.
Sorriram como dois bobos, voltando à atenção mais uma vez para a tela, e viram todos os que eram do mal se transformarem em pó.
A euforia veio, tudo havia sido como Ryeon havia especulado. Não sabia ao certo, mas sentia que o seu favorito salvaria todos. Ele só não esperava a cena final.
Lucy sentiu uma tristeza pesada em seu coração. Viu o herói cair, mostrando também seu trágico fim. O mundo havia sido salvo, mas ele, como os outros, se tornaria pó no final também.
E aquela cena foi o estopim para Ryeon. A garota nunca havia visto-o chorar tanto por algo como ele chorou ali.
Ryeon soluçava enquanto suas bochechas fartas ficavam vermelhas.
E foi assim até o fim do filme.
As luzes se acenderam e as poucas pessoas ali começaram a sair. Lucy viu-o ainda chorando baixinho, e negou enquanto pensava em algo. Mas nada mais coerente do que se erguer e puxar devagar Ryeon no braço para fazer o mesmo veio a sua mente.
ㅡ Para de chorar!
ㅡ Não dá. ㅡ respondeu ele buscando-a para um abraço.
E ela riu, suspirando e buscando a sacola com as embalagens que iriam para o lixo. Enfim, Ryeon pareceu se situar, e enxugou as lágrimas enquanto assentiu para ela.
ㅡ Passou. ㅡ ele disse.
A garota impensavelmente entrelaçou seus dedos aos dele e puxou-o para fora. Levou-o até o banheiro, e mesmo que fosse desconfortável para ela adentrar o masculino, ajudou Ryeon a lavar seu rosto.
ㅡ Eu sou a pior companhia para um filme. ㅡ ele disse sorrindo. ㅡ Mas aquele fim pau no cu me quebrou.
ㅡ Eu sei, eu sei. ㅡ disse ela sorrindo e enxugando o rosto dele com uma toalha de papel. ㅡ mas é só um filme oppa, tudo bem ainda.
ㅡ Não é só um filme, lu... Ele morreu.
E outra vez a garota riu. Não dava para discutir ali, ela também sentia a morte, mas entendia que de fato, era só um filme.
ㅡ Que horas é essa? ㅡ perguntou Ryeon, um pouco mais recuperado.
Lucy buscou seu celular no bolso e olhou para a tela.
ㅡ São quase dez.
ㅡ Eu prometi te devolver em casa às onze. ㅡ disse Ryeon.
A garota assentiu, mas não entendeu de fato o porquê Ryeon dizia aquilo, seu pai havia sido bastante específico com as regras de horário e ela sempre as respeitava. Mas ela viu Ryeon dar seu sorriso sacana, e logo entendeu.
ㅡ Não. ㅡ disse logo, segurando seu riso. ㅡ eu não vou te beijar aqui.
ㅡ Mas não tem ninguém. ㅡ Ryeon disse olhando ao redor.
Lucy também fez o mesmo, mas tinha medo ainda assim. Viu que a última porta do banheiro estava aberta, então juntou sua mão a de Ryeon e puxou-o para lá.
Era um ato impulsivo seu, mas ela também queria mais daqueles beijos. Então bastou que a porta fosse trancada para que ambos juntassem suas bocas com rapidez.
Ryeon foi quem empurrou o corpo da garota para o canto, prendendo-a na parede e sentindo as mãos dela irem rápidas para seu pescoço, fechando-se ali em um abraço.
E eram como fogo, bastava um pouco de álcool e uma faísca, que logo se tornavam um incêndio.
A garota sentiu Ryeon adentrar as mãos em seu casaco, tocando sua cintura e ofegou quando ele firmou o toque ali.
Ryeon ainda não sabia os limites com ela, então ia devagar sempre, mas seu corpo clamava para ficar colado ao dela, então aproximou-se mais um pouco e sentiu Lucy se encolher.
As bocas foram separadas e Lucy tinha seus olhos abertos como duas enormes jabuticabas assustadas.
Ryeon olhou-a sem entender, com medo de que tivesse feito algo errado, mas os olhos de Lucy foram para baixo, piscando desacreditada ainda mais quando chegou onde queriam, e fazendo o mesmo percurso que ela, Ryeon averiguou o que assustava a garota e sentiu-se envergonhado no mesmo instante.
ㅡ Me desculpe. ㅡ pediu pondo ambas as mãos em sua intimidade enrijecida.
Lucy engoliu em seco e assentiu, abrindo a porta da cabine e saindo às pressas do banheiro.
Nunca havia tido um toque como aquele ou a percepção de um outro corpo sentindo-se atraído pelo seu. Suas bochechas queimavam do lado de fora enquanto esperava Ryeon sair, e ela estava ainda mais chocada com a facilidade de que aquilo se formou.
Como alguém se excita com alguns poucos segundos?
Sua preocupação veio enfim para si, e ela olhou rápido para baixo. Não gostava nem um pouco do que tinha ali, bem no centro de suas pernas, mas para a sua tranquilidade, ele não mostrava diferença alguma.