Capítulo 15
1878palavras
2023-02-05 08:02
ㅡ Como isso aconteceu? Como você se machucou assim? ㅡ perguntava o médico analisando Lucy.
A garota estava sentada na maca no canto do consultório, e Jungso estava bem ao lado.
O homem olhou a garota, e viu seu silêncio, em seguida, olhou Jungso.
ㅡ Precisaremos analisar melhor. ㅡ disse repousando devagar o braço dela. ㅡ O senhor poderia nos deixar a sós? É que preciso examinar tudo milimetricamente e trabalho sempre melhor somente com o paciente.
Jungso assentiu rápido, fitando Lucy antes de sair.
ㅡ Qual a escala de dor entre um e dez? ㅡ perguntou ele sentando ao lado da garota.
ㅡ Acho que oito, talvez nove...
ㅡ Ok. ㅡ o homem suspirou, balançando seus pés no ar assim como Lucy fazia e sequer notava. ㅡ Você quer me contar como isso aconteceu?
ㅡ Como me machuquei?
ㅡ Isso. Você pode confiar em mim. Se alguém te machucou, essa pessoa precisa entender que isso é errado, e podemos acionar a polícia.
ㅡ Não precisa chamar a polícia...
ㅡ Pelo que pude analisar em sua ficha, você é menor de idade, certo? ㅡ a garota a assentiu. ㅡ Mesmo que seja menor de idade, você é protegido pela lei. Se uma pessoa te machuca, ela precisa ser levada à justiça, porque isso é errado, você me entende?
Lucy ouviu tudo o que o homem disse e entendeu sobre o que estava se referindo. Tratava-se de uma agressão física, mas ela acreditava que não havia sido intencional. Sentia-se ainda muito culpada por sua mãe ter descoberto quem ela de fato era.
ㅡ Ninguém me machucou, eu acabei caindo.
ㅡ Tem certeza? ㅡ o homem olhou-a insistindo. ㅡ acredite, é a sua segurança...
ㅡ Eu sei, e obrigada, mas é a verdade.
O homem continuou olhando-a por poucos segundos, mas suspirou assentindo, descendo da maca e parando na frente dela.
ㅡ Seu pulso não quebrou, mas deslocou. Irei enfaixá-lo com uma bandagem elástica, mas passarei alguns exames para que faça tudo bem?
Ela assentiu, sorrindo e vendo o médico ir até seus materiais para buscar a faixa. A garota estendeu o pulso quando o médico pediu e resmungou de dor quando o homem apertou a faixa para que comprimisse o inchaço que já se formava.
ㅡ Nada de esforços com essa mão por pelo menos quarenta e oito horas.
Lucy assentiu outra vez, analisando o pulso preso, e sorriu quando foi liberada para voltar.
ㅡ Lembre-se, qualquer coisa, chamo-me choi si-won, pode me procurar quando quiser.
Lucy despediu-se com uma reverência e agradeceu ao médico. Encontrou seu pai na sala de espera e informou-o dos cuidados que o homem havia lhe instruído.
ㅡ Pai, a mamãe... Vocês brigaram? ㅡ perguntou Lucy quando já estava no carro.
Jungso não queria falar sobre o assunto, mas aproveitou a parada no sinal vermelho e olhou para a garota.
ㅡ Sua mãe errou.
ㅡ Mas ela não fez porque quis.
ㅡ Mas ela fez. ㅡ reprimiu-a. ㅡ não foi correto, anjo. Sua mãe precisa entender que nem tudo ou todos são do jeito em como ela quer. Você está crescendo, sabe com certeza o que quer para a vida, nosso papel é somente apoiar.
ㅡ Mas não é fácil, pai. A mamãe sempre me viu como Woojin. Ela apresentou-me Kimi crente que iríamos namorar, casar e ter filhos. Eu sei que vai ser difícil para vocês.
ㅡ Será, mas é tudo questão de entendimento. Admito que tudo isso ainda está rodando em minha mente, mas... Eu vou tentar. Ela também terá.
O homem voltou a dirigir, prestando atenção à estrada.
ㅡ Me desculpe mesmo pai. Eu, de coração, não queria que vocês passassem por isso. Eu não queria causar dor.
ㅡ E você não causa. Não pense muito nisso, vamos para a casa, você irá jantar e descansar, tudo bem?
Lucy assentiu, olhando a paisagem do fim do dia passar através da janela do carro.
Chegando a casa, recebeu ajuda de seu pai para descer do carro, e mesmo que dissesse que não era necessário, o homem quis levá-la até o quarto.
ㅡ Você quer descer para jantar ou trago aqui para você?
ㅡ O senhor pode trazer? ㅡ sentou sobre a cama. ㅡ eu não sei se a mamãe quer jantar comigo.
ㅡ Não pense nela. Trarei o seu jantar, mas somente por você. Conversarei um pouco com sua mãe depois, ela terá que se desculpar com você.
ㅡ Tudo bem, pai, obrigada.
O homem sorriu e acenou antes de fechar a porta. Sozinha, Lucy repousou sobre a cama e sentiu o cansaço de seu corpo distribuir-se.
Virou-se de bruços tentando não machucar o pulso e viu suas saias ainda ali. Fechou os olhos, suspirando completamente cansada e sequer notou quando o sono a tomou.
Apenas sentiu o toque sutil em sua panturrilha e quando abriu os olhos, viu Ryeon segurando dois pratos na mão.
Lucy rapidamente ergueu-se e franziu o cenho.
ㅡ Boa noite. ㅡ Ryeon disse rindo.
ㅡ O que faz aqui?
ㅡ Vim te ver, mas seu pai disse que você estava descansando. Eu iria embora, mas ele disse que seria bom se você me visse e me pediu para trazer seu jantar.
ㅡ Tem dois pratos aí. ㅡ ela limpou os olhos.
ㅡ Eu vou jantar também, oras.
Lucy negou, ajeitando-se melhor sobre a cama e encostando-se na parede, buscando o prato com Ryeon.
ㅡ Trouxe refrigerantes. ㅡ ele mostrou a sacolinha que estava presa a seu braço. ㅡ comprei o de cola para você e laranja para mim.
A garota aceitou, ainda estranhando a presença de Ryeon ali, mas viu-o sentar do mesmo modo que si e bem ao lado, e abrindo o refrigerante, Ryeon ergue-o para um brinde.
E Lucy brindou, sorrindo contida quanto o fez.
ㅡ O que aconteceu com você? ㅡ Ryeon enfim perguntou, olhando os olhos da garota que sorriam junto consigo, mas estavam repletos de tristezas. ㅡ quem te machucou?
Olhando para o pulso da garota, foi impossível não sentir raiva.
Como podia alguém machucar Lucy?
ㅡ Não foi nada, oppa.
ㅡ Tem certeza?
ㅡ A culpa foi minha também...
ㅡ Eu duvido, mas o que aconteceu?
ㅡ Mamãe viu minhas saias, e acabou que se descontrolou.
ㅡ Ela sabe então? ㅡ Ryeon perguntou. Lucy iniciou seu jantar, mas negou.
ㅡ Acho que ainda não, mas o papai sabe. Eu tive que contar para ele. Eu precisei.
ㅡ E ele te machucou também? ㅡ Ryeon outra vez perguntou. Sua comida esfriava sobre o prato, mas ele não sentia vontade alguma de comê-la. Queria apenas saber de Lucy, era o seu principal motivo ali.
Mas surpreendeu-se quando a garota sorriu e o fez tímida.
ㅡ O papai é um anjo, oppa, ele não me machucaria assim.
ㅡ E ele entendeu você?
ㅡ Ele vai entender, eu acho. Mas eu contei tudo oppa. Eu só contei! Sabe o alívio que isso me traz? Ele sabe, a mamãe saberá uma hora, você, o Jaesun... Todas as pessoas que importam para mim sabem, eu estou enfim sendo eu.
ㅡ E mesmo que alguém não te aceite, você vai continuar sendo você. ㅡ Ryeon disse com um sorriso no rosto. ㅡ e eu estou completamente orgulhoso disso.
ㅡ Você se orgulha de mim? ㅡ perguntou curiosa.
ㅡ E como não me orgulhar? ㅡ sorriu outra vez.
Lucy envergonhou-se e tentou cobrir o sorriso com o macarrão que levou até a boca, mas assim que engoliu-o viu seu sorriso nascer mesmo assim.
Era quase impossível não sorrir com Ryeon.
ㅡ Você será livre. ㅡ disse Ryeon com a boca cheia de macarrão. ㅡ e eu estarei te aplaudindo de pé.
ㅡ Eu espero por isso a minha vida toda, oppa.
Continuaram a comer juntos e Lucy ficou contente por perceber que com Ryeon, mesmo tudo tendo mudado um pouco, as conversas continuavam sendo as mesmas.
ㅡ É óbvio que o Jerry é o mais bonito. ㅡ dizia Ryeon deitado ao lado de Lucy enquanto assistiam um episódio qualquer de Anne with an E.
ㅡ Ele é bonitinho, mas o Gilbert é bem mais. Ele é esforçado, e só isso faz dele um excelente personagem.
ㅡ Mas o Jerry se esforça também. Ele aprende a ler em um celeiro! E escrevendo o alfabeto na matéria, lu!
ㅡ Aigoo, não adianta, Gilbert é melhor.
ㅡ Jerry!
ㅡ Gilbert!
ㅡ Sabe o que é melhor do que qualquer Gilbert ou Jerry?
ㅡ O quê? ㅡ olhou-o.
ㅡ Eu e você. ㅡ Ryeon sorriu grande vendo os olhos da garota dobrarem de tamanho. ㅡ Me deixa te beijar, por favor...
ㅡ Aish, pare com isso. ㅡ pediu se erguendo. ㅡ não peça isso aqui, Alguém pode ver.
ㅡ Eu fecho a porta. ㅡ disse, numa tola tentativa de beijar a garota cujo seu coração supria sentimentos fortes. ㅡ Eu só queria te dar um beijinho...
ㅡ Eu também queria Ryeon, mas não pode.
Ryeon fez bico, e Lucy revirou os olhos. Estava pronto para avançar e tentar pela primeira vez roubar um beijo de Lucy, mas ouviu os passos que indicavam que alguém estava subindo as escadas, e com a porta aberta, logo viram que se tratava de Jungso.
ㅡ Desculpa incomodar vocês, mas... Ryeon, já são quase onze da noite, esta tarde.
ㅡ Já estou indo tio. ㅡ sorriu.
O homem semicerrou os olhos para o garoto e negou. Sabia bem que aquele chamado tio tão inocente era para ganhar pontos consigo.
ㅡ Os pratos ㅡ o homem apontou pedindo-os. ㅡ irei lavá-los.
Ryeon recolheu-os, entregando ao homem e agradecendo mais uma vez pela refeição.
De pé, encarou Lucy quando Jungso se foi.
ㅡ Preciso ir...
Lucy tomou cuidado outra vez para não machucar o pulso e se pôs de pé. Caminhou até Ryeon e sorriu quando parou a sua frente. Sentiu o típico revirar de estômago que sempre o acompanhava quando parava ao lado do outro e piorou tudo quando ele sorriu.
ㅡ Então... Tchau?
Ela assentiu, mas não queria despedir-se mais. Tocou sutilmente a mão de Ryeon e viu seus dedos se encontrarem com os dele, entrelaçando sutilmente, e quando juntos enfim, ela olhou-o e sorriu.
Apressou-se para olhar uma última vez para o lado de fora e constatando que não tinha ninguém ali, avançou contra os lábios de Ryeon.
O garoto ofegou com surpresa, mas foi ligeiro ao tocá-la de volta, segurando em sua cintura quando rapidamente suas línguas se encontraram.
Não durou muito, mas era como o melhor beijo que podiam dar. Lucy findou devagar o ósculo e ainda com os olhos fechados, sentiu Ryeon tocar o seu nariz com o dele.
Deram mais um selinho. E outro, e outro, não queriam mais se desgrudar. Mas tiveram. Então, com Ryeon indo contra a sua vontade, a garota acenou em despedida, e quando ouviu o barulho da porta indicar que ele já havia saído da casa, correu para a janela e viu-o caminhar encolhido na noite fria.
Ryeon vestia um casaco preto, denso, e ficava como um garotinho dentro dele quando encolhido.
O garoto que estava bagunçando completamente a cabeça da garota.
Como podia, tudo dar tão errado e tão certo no mesmo dia?
Bom, Lucy não entendia, mas parecia o rumo que sua vida havia decidido tomar, e ela, só esperava que isso desse certo no fim.