Capítulo 11
2672palavras
2023-01-19 07:47
Ryeon olhou-a por breves segundos e disse:
ㅡ Seu laço é novo?
Lucy sentiu o peito aquecer, tocando o laço.
ㅡ Sim...
ㅡ Ficou muito bom em você, ele é bonito.
A garota não sabia como agir a comentários bons, muito menos comentários bons vindo de Ryeon. Mas park notou o rubro das bochechas dela, e desviando, buscou sua toalha e apenas falou:
ㅡ Vou tomar um banho rapidinho. Você pode ir pondo o filme, certo?
Lucy assentiu e buscou das mãos de Ryeon o notebook, pondo-o sobre sua coxa e abrindo-o.
ㅡ Qual a senha? ㅡ perguntou-o.
Ryeon mordiscou o lábio e sorriu sem jeito.
ㅡ Eu troquei ontem, é... Hm, liu123love
Os olhos de Lucy dobraram de tamanho e sequer Ryeon foi capaz de olhá-los. Adentrou tão rápido o banheiro que Lucy sequer conseguiu desviar os olhos.
Liu123love?
Ryeon falava de Liu? Lucy Liu? A mulher cujo nome de Lucy havia sido inspirado?
E porque Love?
Digitou a senha e viu a tela abrir.
Rapidamente levou a seta para a pasta filmes, e lá, clicou duas vezes no filmes das panteras.
ㅡ Já abri. ㅡ avisou. Olhou a sacola recheada de coisas que havia trazido à frente, e falou: ㅡ Vou buscar alguns potes lá embaixo.
ㅡ Potes? ㅡ perguntou Ryeon enquanto retirava a espuma de seus cabelos. Lavava-os para que nenhum pouquinho de cheiro de suor ficasse ali.
Queria ficar cem por cento limpo e cheiroso.
Talvez apresentável.
ㅡ É, para pôr as batatas em chips.
Ryeon assentiu para si, e murmurou um "ok" ainda dentro do banheiro. Lucy então escorou o computador no canto e ergueu-se, descendo os degraus correndo, assim como fazia desde criança.
ㅡ Senhora Park... ㅡ chamou tímida e viu a mulher olhá-la da mesa. Estava sentada mexendo em seu celular. ㅡ A senhora poderia me dar dois potes grandes, por gentileza?
A mulher sempre amou o modo educado cujo Woojin falava, e assentiu, erguendo-se e buscando em seu armário.
ㅡ Deixe-me adivinhar. Vocês irão assistir às panteras, acertei?
Lucy assentiu, ficando ainda mais tímida.
ㅡ Não sei como não enjoam. ㅡ falou rosé, entregando os potes. ㅡ Eu gostei muito do seu laço, ficou muito bonito no seu cabelo.
ㅡ Ah... ㅡ tocou outra vez no laço aquele dia. ㅡ muito obrigada.
ㅡ Acho que Ryeon também gostou muito, ele te disse isso?
A mulher conhecia seu filho. Mesmo que Ryeon não tivesse lhe dito nada em todos esses anos de amizade com Woojin, a mulher via todas às vezes em que sua face transmutava-se perto do outro. Sabia sim que Ryeon era gay, haviam tido aquela conversa há poucos meses atrás, mas sabia já há alguns anos, que seu filho carregava um apreço enorme por Woojin.
E ela compartilhava disso também.
E a garota assentiu, olhando para a mulher ao vê-la tocar-lhe sobre a bochecha num afago.
ㅡ Sinta-se à vontade aqui, certo? Não irei atrapalhá-los. Mas desçam caso queiram um pedaço de bolo quentinho.
Lucy assentiu, agradecendo os potes e tornando a subir para o quarto do outro.
Nunca havia sentido seu coração tão morno como sentia naquele fim de tarde.
Mas não era novidade que Lucy sempre se sentia confortável demais na casa de Ryeon.
Todas às vezes era bem tratada e podia ficar por horas com Ryeon. Sua mãe sempre pedia para que a porta ficasse aberta, mas apenas para pôr limites, já que ela nunca os interrompia.
E Lucy e Ryeon passavam horas conversando e ouvindo músicas.
A garota sentia um pouco a falta de momentos assim.
Mas, subindo outra vez correndo pela escada, Lucy adentrou alheia no quarto enquanto tamborilava os dedos nos potes.
Seu corpo apenas parou quando viu Ryeon a sua frente, vestido apenas numa cueca preta e passando uma bermuda por seus joelhos.
Lucy virou tão rápido que ficou tonta. Suas bochechas coraram instantaneamente, e Ryeon se desesperou.
Soltou um grito baixo, mas subiu rapidamente a bermuda. Buscou uma camisa e vestiu-a ainda vendo a garota de costas, e só quando estava cem-por-cento vestido é que coçou a garganta e disse:
ㅡ Põe as batatas no pote rosa.
Lucy ainda sentia seu coração bater de modo errôneo. Não sabia sequer como manter controlada a respiração. Mas virou-se, sem encarar Ryeon e buscando a batata e abrindo-a.
Ryeon buscou o computador e sentou na beirada da cama. Encostou-se à cabeceira enquanto seus olhos viam a garota fazer tudo muito rápido.
ㅡ Desculpa. ㅡ pediu.
Lucy ergueu os olhos e Ryeon viu as bochechas coradas.
ㅡ Tudo bem.
Servindo os potes, a garota entregou um a Ryeon e encheu outro com doces.
Sentou ao lado dele e viu-o dar play no filme. Começando a assistir juntos, mas com a sensação esquisita entre eles.
O filme deu início, e sequer uma palavra sobre como as mulheres podiam fazer tudo o que elas quisessem no filme fora dito.
Era a típica frase clichê, e Ryeon e Lucy sempre repetiam juntos, mas, naquele dia, ficaram em silêncio.
Os sons das batatas quebrando-se em suas bocas eram os únicos a serem ouvidos.
Minutos assim, até que Ryeon suspirou, fitando de relance Lucy e vendo os olhos da garota indo ao encontro do seu no mesmo instante.
O filme pausou. A luz única no ambiente era a que adentrava diretamente da janela. Tênue, leve, fazia-os sentir-se como se somente eles existissem sobre a planície terrestre naquele momento.
E de fato era aquele o momento certo.
ㅡ Eu sei o que você quer saber... ㅡ Lucy falou num fio ralo de voz, ainda presa a Ryeon.
ㅡ Eu já entendi como você é. ㅡ respondeu-a. ㅡ Mas, por que não me falou antes? É isso que ainda não entendo...
ㅡ Eu não podia, Ryeon. Eu sequer posso ainda, mas... ㅡ suspirou. ㅡ eu precisei.
ㅡ Você é uma mulher transgênero, não é? Eu entendi isso.
ㅡ Na verdade, sou uma mulher transexual. ㅡ sorriu sem jeito.
ㅡ Há diferença, então? ㅡ perguntou curioso.
Lucy assentiu.
ㅡ Uma mulher transgênero consegue se sentir como a mulher que é mesmo se seu corpo não for padronizado como manda a sociedade. Ela consegue se sentir bem do modo em como nasceu. Porque ela somente não se identifica com o gênero cujo lhe foi imposto ao nascimento.
ㅡ Mas você não se identifica, não é? Você não é um garoto...
Lucy viu o modo em como Ryeon tinha os olhos presos em si, e negou, respirando fundo e tomando um pouco mais de coragem para ir até o fim com aquele assunto.
ㅡ Não. ㅡ sorriu tímida. ㅡ Mas, o termo "transgênero" ㅡ faz aspas ㅡ, vai muito além. Ele é um termo utilizado para incluir pessoas de identidades divergentes, e ele engloba os que não se identificam com os gêneros de nascimento como te disse, mas, ele se encaixa também aos que têm identidade não-binária, que são os que não se identificam com feminino ou masculino, ou também serve para os que se identificam com mais de um gênero.
ㅡ Woah... ㅡ Ryeon falou baixo, olhando-a. ㅡ quanta coisa... Eu não fazia ideia.
ㅡ A maioria das pessoas não faz, Ryeon... Mas, Eu ㅡ olhou-o. ㅡ, me identifico como uma mulher transexual. Porque além do gênero cujo nasci, eu também não me identifico com o corpo que nasci. Eu quero e preciso mudá-lo para me sentir bem. Mas, eu acho que esse é o tipo de assunto que ainda é muito conversado e debatido, então, o melhor é entender e respeitar com o que cada um se identifica.
ㅡ Como eu, que sou um homem gay cisgênero. ㅡ brinca, arrancando uma risada baixa dela. ㅡ Quer dizer… agora, te ouvindo, eu não sei se me identifico mais assim.
ㅡ Não?
ㅡ Não. ㅡ Ryeon respondeu. ㅡ Enquanto estávamos aqui, quietos e em silêncio, o meu coração não desacelerou sequer por um segundo, e ele só batia assim com Woojin.
Lucy não soube o que dizer, não sentia indiferença no modo de agir que Ryeon tinha consigo, mas, sabia que talvez os sentimentos já não fossem mais os mesmos.
Porém, Ryeon continuou.
ㅡ Eu sempre ficava nervoso quando ouvia músicas com ele, ou quando sonhava com ele e acordava com saudade. Eu sempre ficava nervoso quando entrava no ônibus todas as manhãs e tentava me concentrar em qualquer coisa para não olhar por tempo demais para ele, e, eu senti medo quando fui vê-lo no hospital, após achar que havia o perdido para sempre.
Era claro que Ryeon amava Woojin, mas era ainda mais claro que Woojin nunca existiu.
ㅡ Mas... ㅡ o garoto suspirou, retirando o computador de cima de suas coxas e o colocando para o lado, apenas para virar-se para a garota. ㅡ O garoto cujo me apaixonei nunca existiu. Eu sempre achei que era gay porque me apaixonei por um garoto. Eu... Eu achava que tinha tido meu primeiro beijo com um garoto.
Lucy franziu o cenho.
ㅡ Mas você me disse que naquele dia havia beijado Sun.
ㅡ Eu realmente beijei a Sun naquele dia, e não foi a mesma sensação, então aquilo não foi um beijo verdadeiro para contar como o meu primeiro. Eu não senti nada, era tudo somente com ele. Mas eu queria beijar Woojin e puxar de dentro do meu peito aquilo que me atormentava há dias. Eu era tão novo e já me sentia doido por ele, então foi quando eu quis beijá-lo... e com ele eu tive a certeza que estava dando meu primeiro beijo de verdade. Meu primeiro beijo apaixonado.
ㅡ Você sempre gostou dele, não é? ㅡ perguntou-o, rindo baixo, triste. ㅡ me desculpe por te fazer passar por isso...
Ryeon, ainda a olhando nos olhos, segurou ambas as mãos gélidas, fazendo Lucy largar o pote rosa e encarar-lhe com os olhos redondos que tanto amava.
E então ele negou.
ㅡ Eu nunca fui realmente apaixonado por Woojin. Eu sempre fui apaixonado por você. Por isso acho que não sou gay, eu… sou só um homem apaixonado em uma garota agora.
Lucy riu baixinho, negando.
ㅡ claro que não, Ryeon...
ㅡ Claro que sim. Eu sei que rótulos não são tão legais, mas estou convicto disso agora. Sempre foi você, Lucy. E sabe como tenho certeza? Me diz: quem correu comigo até chegar ao centro quando comprei meu primeiro skate?
A garota desviou os olhos, ainda sentindo o toque de Ryeon sobre o seu.
ㅡ Eu.
ㅡ E quem ouviu música comigo no ônibus e depois fugiu?
Desta vez ela riu sem conseguir se controlar.
ㅡ Eu...
ㅡ E quem me deu aquele beijo?
A garota tornou a olhá-lo, sentindo desta vez algo lhe atingir. E foi o sorriso pequeno que Ryeon tinha no rosto.
O sorriso ainda era o mesmo de anos atrás.
ㅡ Também fui eu...
Ryeon riu, sentindo o peito explodir.
ㅡ Exato, você. Você me beijou, Lucy.
A lembrança do dia fazia-os sorrir, com seus corações acelerados num ritmo parecido
ㅡ Estávamos sobre a cama. ㅡ Lucy recordou-se ㅡ Falávamos sobre coisas bobas e sem sentido, e então...
ㅡ Eu te pedi para mostrar como era beijar, e você me beijou. ㅡ respondeu baixo.
ㅡ Eu te beijei... ㅡ repetiu Ryeon. ㅡ Eu te beijei, e me apaixonei. Eu te vi correr comigo até o centro e também te vi fugir de mim aquele dia. Eu fui te ver no hospital, e eu sorri como sempre sorri quando te vi bem. Porque o sorriso era pra você. Somente para você.
Lucy já não conseguia manter os olhos longe dos de Ryeon. Seu coração batia forte, mas isso já era uma característica comum de quando estavam juntos.
Ryeon umedeceu os lábios, soltando a mão direita da garota e afagando sua bochecha. Fazendo-a fechar os olhos em instantâneo e derretendo-se como sempre se derreteu.
ㅡ Eu sou e sempre fui apaixonado por você. Pelo que você é. Por seu sorriso e por suas palavras bobas. Por suas piadas sem sentido ou suas reclamações sobre minha bagunça.
Lucy abriu os olhos, sentindo como se um ímã aproximasse seu corpo do de Ryeon, e viu-o parar a centímetros de distância.
ㅡ Você gosta de mim? ㅡ perguntou Ryeon.
A garota assentiu sem protestar, rendida demais, e focada apenas nos lábios do outro.
Talvez, o pedido de Jaesun fosse atendido.
E Ryeon sentia seu corpo ferver, ansiando para tocá-la.
ㅡ Então, você não ficará brava comigo caso eu te beije, não é?
Lucy sorriu, fechando sutilmente seus olhos e fazendo as bolsinhas cujo Ryeon faltava para morrer de amores aparecer.
ㅡ Você está se referindo a mim no feminino.
Foi impossível para a garota não notar a sutil mudança. Fazia tanta, mas tanta diferença.
ㅡ Você pode me beijar. ㅡ confessou-o.
Ryeon então ergueu sua mão esquerda, prendendo Lucy ali, e sorrindo ao ver o sorriso dela outra vez.
As bocas tocaram-se sutilmente, em um selar casto.
Os pulmões de ambos liberaram o ar preso, e como impulso, as línguas tomaram passe para se encontrarem.
Lucy deleitava-se no toque sutil e calmo de Ryeon. Sentia-o afagar seu rosto com cautela, e sentia o modo em como suas mãos tremiam.
E foi então que ela decidiu tocá-la.
Tocou uma das mãos de Ryeon em si, confirmando o toque, e sorriu entre o beijo, totalmente boba.
Ryeon também sorriu, descendo a mão por a nuca livre dela, sentindo-a inclinar a cabeça e dar mais intensidade ao toque.
Tudo o que passava na mente da garota era como aquele toque era realmente o seu favorito no mundo todo.
Talvez no sistema solar todo.
Não queria mais largar da boca de Ryeon, e intensificava a cada vez que o toque tomava um rumo calmo.
Mas Ryeon precisava de ar. Já bastava o nervosismo completo que sentia, se faltasse o ar com certeza ele desmaiaria.
E ele não pretendia finalizar a noite com algo trágico, então ainda calmo, deslizou sua boca por a dela, finalizando com o lábio inferior da garota entre seus dentes, e um selar longo logo em seguida.
E Lucy ainda se mantinha inerte ao mundo.
Abriu os olhos ainda vendo Ryeon perto demais de si e não conteve o riso.
ㅡ Eu não sei como fiquei tanto tempo sem te beijar. ㅡ confessou Ryeon. ㅡ eu quero te beijar todos os dias.
Lucy negou, sorrindo mais, e afastando-se para prender atrás de sua orelha alguns fios de cabelo que haviam soltado com os toques de Ryeon.
ㅡ Você não pode. ㅡ falou.
ㅡ Eu sei. ㅡ ele disse, tornando a ajeitar-se. Vendo-a tornar ao seu semblante tímida. ㅡ Mas eu sou apaixonado por você, o que posso fazer?
Desta vez, a garota não conseguia mais fitar Ryeon de volta, pois sabia que ele estaria com seu sorriso cafajeste e conquistador.
Ela não conseguia resistir a nenhum dos sorrisos de Ryeon.
Mas sentiu-o segurar sua mão, entrelaçando os dedos, a fazendo olhar.
ㅡ Se não posso te beijar todos os dias, ao menos posso te beijar por mais alguns minutos hoje?
Lucy olhou para seu celular. Havia dito à sua mãe que retornaria à casa às dez, e as horas ali ainda marcavam seis.
Tímida, ela deu de ombros. Lucy ainda poderia beijar Ryeon por muitas horas, mas não falaria tal coisa a ele.
Mas Ryeon sorrateiramente voltou a aproximar-se, sorrindo ainda com a mão entrelaçada à dela, e roubou-lhe um selar na bochecha.
ㅡ Ainda quer assistir ao filme?
A garota negou de prontidão, olhando Ryeon de relance e beijando-o na boca em um selinho.
Um completo impulso seu.
E aquilo foi à deixa que Ryeon precisou para retomar os beijos que queria tanto dar.
A noite ainda teria muitas horas para chegar ao fim para ambos, mas os dois não estavam ligando muito para nada. Isso era até bom, já que teriam tempo suficiente para dar mais beijos.
E tudo o que eles queriam era isso. Apenas isso.
Queriam perder-se em suspiros e gostos, sorrindo a cada pausa, e saboreando-se a cada segundo.
Já que para eles, os segundos eram tudo o que tinham ali.