Capítulo 3
2169palavras
2023-01-19 07:31
ㅡ Você vai ficar só nessa, Jaesun? ㅡ Ryeon perguntou enquanto comia seu sanduíche de geleia de pêssego.
Não aguentava mais ver o amigo suspirar pelos cantos, completamente apaixonado por o novato, e não entendia o porquê dele não ter ido até o mesmo ainda.
ㅡ Quando você quis dar uns beijos no Kuan, você foi direto nele, não foi? ㅡ Lucy bradou, mordendo seu biscoito seco de aveia.

Odiava aquilo.
Mas segundo sua mãe, uma boa alimentação é o que faz o ser humano.
Balela, ela queria estar comendo do sanduíche de Ryeon, e se possível, com Ryeon, como a cena da dama e o vagabundo, onde dividem o espaguete.
ㅡ Ouvi meu nome?
Todos os três sentados à mesa ergueram o olhar e encontraram o rapaz parado ali.
Jaesun revirou os olhos, adorava implicar com Kuan.

ㅡ Sim, falávamos de você e como você é um saco. ㅡ brincou.
ㅡ Isso ainda é amor, não é? ㅡ Kuan sorriu, sentando-se bem ao lado do outro.
ㅡ Onde está seu namorado? ㅡ perguntou olhando-o.
ㅡ Vem já ㅡ deu de ombros, e retirou um pote com laranjas cortadas em rodelas.

Jaesun achava aquilo uma frescura.
ㅡ Olha lá, Jae, você vai perder.
Ryeon falou brincando, mas para Jaesun era mais do que sério.
Via como Sun se inclinava e ria tocando sobre o ombro de Mark.
Jaesun quis cuspir fogo.
ㅡ Será possível que ela quer todo mundo? Não é sua namorada, Ryeon?
ㅡ Ela não é nada minha não. ㅡ defendeu-se.
ㅡ Qual é a do novato? ㅡ Kuan perguntou, fitando Mark e a garota.
ㅡ Jaesun quer casar com ele. ㅡ Lucy explicou e apenas viu seu amigo assentir, ainda vidrado na cena logo à frente.
ㅡ E por que você ainda não chegou nele? Você chegou em mim quando me quis.
E novamente, Jaesun revirou os olhos.
ㅡ É diferente, Kuan. Você não é... Aquilo tudo. ㅡ suspirou novamente.
ㅡ Me senti ofendido, fique sabendo disso ㅡ falou colocando mais um pedaço de sua laranja na boca ㅡ Se eu não tivesse com o Daniel, pegava o grandão só para te desbancar.
ㅡ Eu quebrava as suas canelas. ㅡ respondeu enraivecido, fazendo Kuan apenas sorrir, não dando muita bola.
O horário de descanso seguiu assim, como sempre era. Havia falatórios, brincadeiras bobas, e até brigas.
Ryeon a todo o momento tentava falar com Lucy, e ela até tentava focar-se, mas via a boca dele, e pensava no que havia acontecido mais cedo.
Queria poder ser a garota que é, pois, com certeza estaria beijando Ryeon naquele momento, sem que a achassem repugnante ou que ele saísse correndo.
Seguiram para o tempo restante de aula, tendo enfim aulas de matemática.
Jaesun nunca havia gostado tanto de matemática como estava naquele semestre. Segundo ele, o universo enfim estava sendo bom consigo, colocando-o como o par de Kim Mark naquela matéria.
Lucy observava o jeito que seu amigo sorria torto e abaixava por diversas vezes o olhar, completamente desnorteado com o outro tão perto.
Ela achava engraçado, ver Jaesun tão determinado para algumas coisas, e tão molenga para outras.
Mas sua atenção sempre mudava, e não era para o exercício incompleto em seu caderno.
Sua atenção sempre ia para Ryeon e Sun, logo à frente.
Lucy nunca gostou muito da garota, ela era um tanto irritante, e parecia que esse sentimento só crescia a cada novo momento que ela os presenciava juntos.
ㅡ Qual a necessidade de misturar letra e número? ㅡ Daniel, o par de Lucy, reclamava olhando a equação como se fosse um monstro.
ㅡ É para complicar tudo, 'tá ligado? ㅡ Kuan, que estava logo atrás do namorado, respondeu. ㅡ Quer fugir para dar uns beijos?
ㅡ Nem ouse! ㅡ Lucy foi quem respondeu, segurando o braço do parceiro, quando este já se levantava. ㅡ Precisamos terminar isso, ou eu paro de fazer com você, e você toma um zero imenso.
O garoto quis reclamar, mas não tinha mesmo o que fazer, então bufou, voltando a encarar o caderno, enquanto Kuan reclamava mais que idoso em fila para comprar pão.
Quando todas as aulas chegaram ao fim, Lucy sentia-se um pouco aliviada.
Sentia-se bem por terminar mais um dia no colégio, mas sentia-se mal por ter que voltar para a casa.
ㅡ Eu te odeio, Jaesun. ㅡ falou, quase choramingando.
ㅡ Desculpa, mas é meu pai. Eu tenho que ir para a casa dele hoje.
ㅡ Porque os seus pais tinham que se separar justo agora?
O amigo apenas riu, abraçando-a para se despedir.
Então ela o viu ir, e seguiu sozinha até o ponto de ônibus.
ㅡ Ei, me espera!
Lucy ouviu a voz de Ryeon e o viu correndo como louco em sua direção. Não queria, mas sentiu-se bem por um instante em saber que voltaria com Ryeon.
Quem sabe não ouviam música novamente, não é?
ㅡ Não me esperou por quê? ㅡ O garoto perguntou ofegante, acompanhando os passos lentos dela.
ㅡ Porque você estava conversando com o seu par do baile, eu não queria interromper.
ㅡ Que bobagem. Mas se quer saber, nós estávamos falando justamente sobre o baile. Nós não iremos mais juntos.
ㅡ Como assim não vão? ㅡ Lucy freou os pés, tão bruscos, que fez com que Ryeon batesse em si.
O que aquilo queria dizer?
ㅡ Que eu e ela não vamos mais ㅡ disse alisando seu braço, que doía devido à batida. ㅡ Ela disse que achava que gostava de mim, mas percebeu que não gostava.
ㅡ Mas e você?
Lucy não queria, mas perguntou num impulso.
E se Ryeon gostasse da outra?
ㅡ Eu 'tô de boa, não gosto dela nesse sentido. ㅡ deu de ombros. ㅡ e ela quer o intelectual.
ㅡ Quem? ㅡ franziu o cenho novamente.
ㅡ Mark. Ela disse que acha que está apaixonada por ele, então ia tentar chamá-lo para o baile.
ㅡ Jaesun terá um troço se isso acontecer antes dele ter coragem para chegar no Kim. ㅡ respondeu negando, continuando a andar. ㅡ ele quer muito o chamar para o baile.
ㅡ Eu pensei a mesma coisa, e quer saber? Mark ainda não foi convidado pela Sun, Jae ainda tem suas chances.
ㅡ Mas nem sabemos se Mark curte homens... Jaesun poderia levar um fora.
ㅡ É um risco, não? E não precisa gostar de alguém para se ir a um lugar com a mesma. Eu, por exemplo, iria ao baile somente com você.
Isso queria dizer que Ryeon não gostava dela?
ㅡ Mas eu gosto de você. ㅡ Ryeon continuou sua frase, fazendo a garota olhá-lo.
ㅡ G-Gosta? ㅡ perguntou vendo Ryeon sorrir e assentir, e em seguida, abaixou o olhar não podendo se conter.
ㅡ Claro que gosto. Você gosta de mim também, não é, Woojin?
Lucy sentiu o arrepio que lhe subiu dos pés à cabeça. Não podia dizer a verdade, que ela gostava muito de Ryeon, tanto, que queria se tornar namorada dele um dia. Mas, ela não sabia também qual o sentido da pergunta. Ryeon poderia estar falando apenas do gostar entre "amigos".
Ledo engano.
Lucy não fazia mesmo ideia do que acontecia à sua volta.
Mas, como tudo em sua vida, ela não podia simplesmente ser ela e responder um simples: "Sim, Ryeon, eu gosto". Tinha um roteiro, um padrão para seguir.
E para não deixar com que ele soubesse de si e lhe odiasse, ela procurou a saída.
E esta, estava bem à sua frente, parando no ponto de ônibus e permitindo que o último passageiro embarcasse em si.
Lucy arregalou os olhos e apontou, fazendo com que Ryeon olhasse também.
Ambos correram, gritando e acenando para que o motorista responsável os esperasse.
E para a sorte, aquele era um dia bom.
Ambos embarcaram ofegantes, risonhos demais.
Pagaram com seus passes estudantis e caminharam até a última fileira.
Ryeon desta vez sentou-se ao lado da janela, logo buscando seu celular para pôr outra vez música. Lucy esperou ansiosa, e sorriu quando ele apenas esticou um dos lados em sua direção.
Ouviam Falling, e Lucy arrepiou-se ao lembrar-se da letra forte que Harry cantava.
Ouvia sempre que sentia seu mundo afundar. Sempre que pensamentos ruins lhe assombravam.
Fechou os olhos, navegando na imensidão nublada de sua mente empilhada de coisas ruins.
Sentiu-se amarga de imediato.
Por que tudo era tão difícil para si?
Sabia que queria chorar a cada segundo que passava, era sempre assim. Afundava seu rosto nos travesseiros brancos, e os deixava com rios cinzas e azuis, mostrando o caminho que a sua dor em forma de líquido foi expelida.
Mostrando como as marcas novas de lágrimas ficavam sobre as antigas.
Então veio o refrão que mais a tocava.
What if I'm someone I don't want around?
"E se eu for uma pessoa que não quero por perto?".
ㅡ Eu sou mesmo uma pessoa de verdade?
Perguntou baixo, em um sussurro para si mesma. Negou, sabia que não era, mas Ryeon lhe ouvia, e sem que percebesse, a observava também.
Sentia a dor nos pequenos movimentos que o rosto belo dela fazia bem, e encabulou-se, sem saber como agir.
ㅡ Eu gosto mesmo de você. ㅡ falou, fazendo Lucy suspirar e abrir os olhos lacrimejados.
A garota sorriu.
ㅡ Você não gosta, Ryeon.
Foi a única coisa que ela disse.
Pois, em seguida, se ergueu, pedindo para que o ônibus parasse, mesmo que ainda não fosse a sua parada.
Ryeon seguiu todos os movimentos com os olhos, e viu, através da janela, a garota ir.
Andava com a cabeça baixa, com seus cabelos teimosos cobrindo parte das bochechas, e suas mãos segurando as alças da mochila.
Queria ir atrás, mas não teve coragem.
Não entendeu o que havia acontecido, e nem porque quis tanto dizer aquilo, mas entendia que seu coração estava pesado, e isso era culpa apenas de Woojin.
Lucy caminhou sentindo-se tonta. Queria transcender, mas somente retrocedia.
Tomava tanto dos remédios escondidos, mas ainda continuava presa, dentro daquela carcaça na qual não se agradava nem por um segundo.
Viu o ônibus passar por si, e não quis erguer o rosto para fitar Ryeon, pois sabia que o garoto ainda estaria a olhando.
Era melhor assim, não? Ela estava se afastando.
Afastando todo o erro de perto de Ryeon.
Bufou quando sua barriga roncou. Tinha a mania de, assim que chegasse em casa, correr para trocar-se e enfim se alimentar.
Mas, por sua decisão, lá estava ela, caminhando por vinte e cinco minutos sob um sol de rachar.
Tirava a todo o instante os cabelos grudados de sua testa, mas não adiantava muito.
Viu o alívio quando dobrou a esquina de casa, tendo apenas cinco casas lhe separando de sua cama e de um delicioso prato com macarrão, mas gelou, quando viu que Ryeon estava sentado sob os degraus de cimento da entrada.
Lucy engoliu em seco, mas continuou a andar. Não podia desviar ou voltar, ele já sorria covardemente lindo para ela.
ㅡ O que aconteceu? ㅡ Ryeon perguntou, ainda distante dela.
ㅡ Não quero falar sobre, Ryeon. ㅡ apenas respondeu, parando em frente a ele. ㅡ O que você faz aqui?
ㅡ Eu disse que viria para a sua casa depois da aula, se esqueceu? Você concordou e tudo, e disse que poderíamos ficar no quintal...
Lucy fechou os olhos por breves momentos, se praguejando por ser tão descuidada. Como queria afastar Ryeon assim, se ela mesma dava ideias para que sua cabeça planejasse um tempo perfeito com direito a beijos e tudo?
Mas despertou quando seu cenho franziu, vendo como Ryeon a encarava de forma ansiosa.
ㅡ Você disse que era só à noite, não? ㅡ indagou, confusa.
Ryeon sorriu totalmente sem graça enquanto seus dedos bagunçaram os cabelos de sua nuca.
ㅡ Ok, eu só fiquei preocupado com você... vim aqui para saber de você. Saber porque saiu daquele jeito.
Lucy só deu de ombros, sequer ela saberia explicar suas decisões.
ㅡ Só me diga que está tudo bem e então irei para a casa. Só me preocupa te ver tão triste ultimamente.
ㅡ Estou bem.ㅡ disse, apertando mais as alças da mochila, ainda com o olhar de Ryeon sobre si. ㅡ você pode ir para a casa...
Ryeon suspirou, demorando-se mais, apenas lhe observando
ㅡ Tudo bem.ㅡ ele disse no fim, buscando sua mochila do chão. ㅡ Posso te falar algo antes de ir?
Lucy assentiu, percebendo o modo em como, vagarosamente, Ryeon se aproximou.
ㅡ Seu cabelo está realmente bonito. ㅡ Tocou sutilmente uma mecha fria, molhada de suor, colocando-a atrás da orelha, e deslizando sutilmente o dedo por ali. ㅡ assim como você também está.
Lucy instantaneamente corou, abaixando o olhar e fazendo com que Ryeon sorrisse de si.
ㅡ Até mais, Woojin. ㅡ disse livrando-se, caminhando à frente.
A garota o viu ir, caminhando calmamente. Olhando para trás apenas algumas vezes antes de dobrar a esquina da rua.
Queria entender como funcionava Ryeon, mas tinha a certeza que o garoto era complexo demais.
Tão completo quanto ela. Era demais para si.