Capítulo 2
1154palavras
2023-01-19 07:30
Lucy sentia-se atordoada.
Mas não era para menos. Havia passado por um momento que, ao seu ponto de vista, era quase enlouquecedor.
Havia quase beijado Ryeon. Quase...

Jaesun ainda a encarava, à espera de mais do que aquela curta frase, mas a garota apenas respirou de modo profundo e arregalou ainda mais os olhos.
ㅡ Por que está louca? ㅡ indagou, percebendo que ela não falaria.
ㅡ Por causa do Ryeon, é por isso!
ㅡ Ande, me explique melhor, não sou adivinho.
Jaesun voltou a relaxar sobre a carteira. Apoiou as mãos na banca e deitou a cabeça sobre, ainda olhando sua amiga.
ㅡ Ele pediu para dividirmos o fone de ouvido, e pediu para escutarmos música.

ㅡ Mas vocês sempre fazem isso.
ㅡ Sim, mas foi diferente, entende? Eu senti que ele... por um momento quisesse me beijar.
ㅡ Tipo, na boca?
Lucy apenas assentiu, passando a mão sobre seus cabelos e o jogando para o lado, ainda nervosa.

ㅡ E por que você não beijou? ㅡ Jaesun perguntou. ㅡ não é isso que você quer desde os doze anos?
ㅡ Treze. ㅡ corrigiu-o. ㅡ mas esse não é o caso, oppa. ㅡ falou aproximando-se para sussurrar. ㅡ Ele não sabe nada sobre mim.
ㅡ E nunca saberá se você não contar. ㅡ Jaesun sussurrou no mesmo volume. ㅡ Eu já te disse, eu te apoio, o Ryeon com certeza também te apoiará.
ㅡ Eu duvido disso... Ninguém apoia o que eu sou. ㅡ lamenta-se.
ㅡ Deixa de ser boba, eu apoio e não sou ninguém, sou seu melhor amigo. Mas você precisa falar, principalmente para os seus pais, e parar de tomar aquela porcaria sem prescrição. Uma hora ou outra ficará evidente, e o que você fará?
Lucy vinha tomando alguns hormônios escondidos que havia comprado pela internet, mas não fazia muito tempo, seu corpo estava praticamente igual a antes. Jaesun brigou e até tentou tomar e proibir-lhe de tomar aquele tipo de coisa sem acompanhamento médico. Mas sabia que não teria apoio de ninguém além dele. Se não fosse assim, como conseguiria prosseguir?
ㅡ Quando isso acontecer, oppa, eu já vou estar longe. ㅡ disse animada. ㅡ Serei eu mesma e serei dona da minha própria vida.
ㅡ Você sabe que sou contra a tudo isso. Digo, a fazer isso dessa maneira. Você é dona de si mesma de qualquer forma. Mas isso pode até te matar se for ingerido de forma irresponsável. Você nem comprar numa farmácia ou lugar apropriado. Compra por contrabando! Quem garante que é hormônio feminino mesmo?
Jaesun via nos olhos da garota que ela, de coração, não queria fazer desse jeito.
ㅡ Eu só não posso parar, oppa. Não posso...
O garoto suspirou. Aquele assunto não era novo, e sabia bem como a Jeon era insistente.
ㅡ Mudando de assunto. ㅡ voltou a sentar melhor sobre a cadeira ㅡ Você viu o Mark?
ㅡ Aqui? ㅡ referiu-se à escola. O garoto assentiu. ㅡ entrei correndo, Jae, não notei quem estava pelo caminho.
ㅡ Eu queria perguntar se ele vai ao baile... ㅡ murmurou.
ㅡ vai convidar ele?
ㅡ E levar o fora do garoto novato, que é nerd e gato demais? Não Lu, eu não vou, não. Mas pensei que me aproximando, a gente poderia conversar no baile. Isso se ele não for com um par grudento demais.
ㅡ Jae, você fica suspirando por ele sempre que ele passa por aquela porta. Você precisa chamá-lo!
ㅡ É? E por que você também não chama o Ryeon?
ㅡ É diferente.
ㅡ Não é nada.
ㅡ É sim. O Ryeon não sabe de nada.
ㅡ Eu não sei do quê?
E naquele momento, Lucy gelou.
Ela nunca havia virado tão rápido para olhar para alguém, como fez com Ryeon.
ㅡ Nada. ㅡ disse desviando o olhar, mexendo em sua mochila, louca para que Ryeon seguisse para seu rotineiro lugar ali, onde sempre ficava atrás de Jaesun.
Mas, naquele dia, parecia que todo o universo brincava com a sanidade mental da garota, pois seu coração quis saltar por sua boca assim que percebeu que Ryeon depositava a mochila calmamente na carteira ao lado, sorrindo para si ao sentar-se.
ㅡ Olha lá. ㅡ Jaesun cutucou a amiga, suspirando.
A garota ergueu o olhar, vendo que Mark adentrando a sala.
Seus cabelos devidamente penteados e castanhos entregavam toda a sua beleza extraordinária, assim como era também a sua inteligência.
Jaesun suspirou mais uma vez, apoiando a bochecha sobre o punho direito.
Mark ajeitou seus óculos no rosto e sorriu em direção a eles, abaixando o olhar em seguida, e sentando-se a cadeiras de distância, sempre perto demais da lousa.
ㅡ Eu vou me casar com ele. ㅡ balbuciou Jaesun.
Lucy somente sorriu, ouvindo em seguida a risada baixa de Ryeon. Ela olhou de soslaio para o amigo e viu como suas mãos pequenas batucavam sobre a mesa no mesmo ritmo da música em que haviam escutado no ônibus.
A música que a partir daquele momento, Lucy já intitulava como a deles.
Mesmo que não existissem "eles" no mundo.
A professora adentrou a sala, retirando Lucy de seus devaneios. Foi rápida em pedir para que todos pegassem seus livros e abrissem na página correta.
Estudariam a biologia humana aquela manhã.
ㅡ Mas não podia ser outro assunto? ㅡ Lucy reclamou para si mesmo, buscando a página do livro.
ㅡ Falando sozinho? ㅡ Ryeon perguntou, inclinando-se um pouco até que tomasse para si a atenção da garota.
ㅡ São só besteiras na minha mente. ㅡ respondeu baixo.
ㅡ Tem algo diferente em você, Woojin, mas eu não sei.
A garota não queria dar bola para aquilo, mas Ryeon permanecia a olhando, e seu corpo arrepiava-se somente em notar aquilo.
ㅡ Tipo o quê? ㅡ perguntou sem olhá-lo.
ㅡ Não sei. ㅡ disse Ryeon, ainda a olhando. ㅡ Talvez o cabelo? ㅡ Tocou sutilmente os fios compridos. ㅡ estão tão bonitos... você está deixando crescer, eu gostei.
Lucy sorriu pequeno, fitando os cabelos sobre os ombros. Encarou Ryeon ainda os tocando e desviou o olhar, sentindo-se atingida por tudo nele.
ㅡ Preste atenção, ou a senhorita Hyejin irá reclamar. ㅡ pediu, voltando sua atenção para o livro.
Lucy foi prática, fazendo Ryeon soltar seus cabelos antes que ela desmaiasse ali mesmo.
Ele fez como havia sido pedido. Endireitou-se na cadeira e focou na leitura que era iniciada no momento.
Sozinha, a garota liberou o ar preso em seus pulmões. Percebia o sorriso de Jaesun logo atrás de si, não era preciso nem olhá-lo, mas ela fez questão de olhá-lo para constatar. O Kim tinha as sobrancelhas arqueadas e olhava de si para Ryeon.
Tentou não ligar, voltando para a leitura.
Precisou focar-se com almejo, até que seu pensamento tivesse focado somente no que interessava ali, o estudo.
Não podia perder-se com besteiras, sua única saída da vida que tinha era a bolsa integral em Seul, e está, ela tentaria conseguir com toda a garra.