Capítulo 21
1532palavras
2023-04-09 10:05
Antônio
A atenção que ela dedicava a Otávio me encantava, ela não precisava fazer tanto e pela grande quantidade de babas que eu tive, eu sabia como elas não faziam nem um terço do que Rose se dispunha a fazer.
Não havia uma coisa naquela mulher que não estivesse mexendo com sentimentos dentro de mim, eu precisava resolver tudo que envolvia Margareth, mesmo com a promessa e com as coisas que eu vinha descobrindo. Mesmo querendo a conhecer melhor, eu não podia arrastá-la para a confusão que estava em minha vida, eu precisava estar 100% presente em qualquer coisa que pudesse surgir entre nós, se ela me desse a oportunidade.
— Seria pedir demais que me ajudasse mais uma vez? — ela afastou o rosto de minha mão se lembrando de algo.
— Se estiver no meu alcance.
— Me ajude a procurar o último diário? — ela olhou para Otávio que agora se recusava a comer qualquer coisa e continuava entretido.
— Ele não vai dormir tão cedo, ficarei acordada por um bom tempo — ela suspirou.
— Claro, que tolo eu sou, você precisa descansar, deixa que eu fico com ele, você já está fazendo demais. — me recriminei por não prestar atenção nos sinais.
— Não, não é isso. Eu quero te ajudar, Antônio, de verdade, mas eu não sei como, Otávio vai mexer em tudo junto comigo. — Ela sorriu com carinho para meu filho — Ele é um menino muito curioso — cantarolou fazendo coceguinhas em sua barriga o que o fez gargalhar.
— Fiquem comigo essa noite — ela levantou os olhos para mim — Nós ficaremos no quarto procurando, se ele dormir, colocamos na minha cama.
— Nós estamos falando de muita bagunça — ela falou reforçando o seu posicionamento.
— Eu não me incomodo, desde que consigamos achar o bendito diário.
— Tudo bem, mas depois não diga que eu não avisei. — Seu sorriso tímido me fez sorrir — Mas acho que agora é a nossa vez de comer — ela ergueu os braços e pegou Otávio o com cuidado o dando um abraço antes de o deixar livre para engatinhar pela sala enquanto jantávamos.
— Somos dois adultos, acha que não damos conta? — ela riu um pouco mais alto.
— Vou deixar que tire suas próprias conclusões, senhor conde — ela continuou rindo enquanto se servia. — Quer que eu o sirva? —ela me transmitia tanta paz nesses momentos que eu achava impossível não me atrair cada vez mais.
— Se não for incomodo — ofereci meu prato e ela foi me perguntando tudo o que eu queria.
— Se quiser mais alguma coisa é só pedir.
— Eu quero tanta coisa Rose ...
— Como? — ela me olhou em dúvida e só então percebi que falara em voz alta.
— Nada, pensei alto — falei não tendo coragem de encará-la. Tinha horas que eu me esquecia que não podia falar tudo o que eu queria para ela. Que ela não era alguém com que eu podia compartilhar minha vida. Ainda!
O jantar foi rápido, o tempo todo ela parava para segurar Otávio e comi bem rápido para pegá-lo e deixar que ela pudesse comer tranquilamente. Assim que terminamos, subimos para o meu quarto e logo Otávio já saiu mexendo em tudo.
Quando o vi ali, percebi que em dois meses ele faria um ano e eu nunca tinha passado um tempo de qualidade com ele. Eu estava tão focado em arrumar tudo, em não pensar no que eu estava perdendo que perdi praticamente um ano da pessoa mais importante da minha vida.
Rose estava sentada no chão e ele fazia caretas para ela a cada coisa nova que ele encontrava, me sentei ao seu lado e quis ter um pouco daquela atenção para mim. Só um pouquinho.
— Mostra pro papai também, querido — ela falou entregando para mim o pequeno botão que ele tinha pegado perto da cômoda — Isso é caca, não pode pôr na boca. Entregue para o papai, ele vai ficar feliz. — Ela sorriu e Otávio fez o que ela pediu me mostrando o objeto preto que encontrou no chão. Seus olhinhos felizes encheram meu coração de ternura. As pequenas descobertas aqueceram uma parte do meu corpo que estava fria e esquecida.
— Obrigado — falei para Otávio e para Rose. Seus olhos se pousaram em mim e o sorriso de entendimento pousou a sua boca, A energia entre nós fluía livre, como uma força atraindo um para o outro. Nossos corpos lentamente se moviam de encontro um do outro e eu tinha certeza de que ela queria tanto quanto eu.
— AHHHHHHHHHH — Otávio gritou chamando nossa atenção. Aparentemente o bebê queria atenção somente para ele e perceber que Rose não estava disponível o deixou bravo. Ele parou em sua frente e se apoiou para levantar enroscando os dedinhos em seus cabelos, me matando de inveja.
— Acho que temos mais um Campos ciumento. — Comecei a rir e ela me acompanhou.
— Pelo visto sim — ela abraçou o bebê que deitou o rosto em seu ombro e me encarou sorrindo.
— É meu filho mesmo, não posso negar — me levantei para tentar espairecer um pouco. Todos os sentimentos estavam mexendo muito comigo e eu não tinha certeza do que pensar a respeito.
Rose
Quase o beijei de novo!
Se Otávio não tivesse se infiltrado entre nós eu teria o beijado de novo sem nenhum remorso. Mordi a boca e senti a dor se alastrar, tinha me esquecido do pequeno corte. Levei a mão e senti o gosto metálico se espalhar pela minha língua.
— Ai — falei baixinho, porém Antônio ouviu e se agachou novamente a minha frente.
— O machucado abriu de novo, espere que vou buscar um pano.
— Não precisa — mas ele já tinha ido em direção ao banheiro — Otávio me encarava e apontava o dedinho para minha boca. — É um dodói que a titia fez, meu amor, papai foi pegar um paninho para sarar, não se preocupe. — Ele continuava hipnotizado.
— Aqui — Antônio se agachou de novo em minha direção e segurou meu rosto delicadamente apoiando o pano em seguida. Otávio colocou a mãozinha dele junto a do pai para ajudar e me encantei com a cena.
— Eu estou bem desconfiado que meu filho é apaixonado por você — ele falou em tom de brincadeira, mas seus olhos me transmitiam um sentimento vivo.
— E eu por ele — falei sem perder seu olhar um minuto se quer — Mas do que eu achava que pudesse ser possível — nossos olhos ficaram conectados e dessa vez o bebê não fez nada para quebrar o elo. Eu podia sentir o calor de sua mão se espalhando por toda minha face e meu coração querendo sair do meu peito, tudo entre nós estava intenso demais. Ele fechou os olhos por um breve momento e beijou minha testa.
— Não sei se um dia vou conseguir te deixar ir embora — ele sussurrou e tirou o pano de minha boca, se afastando logo em seguida.
Se meu coração já batia rápido, agora ele praticamente queria sair do peito, eu simplesmente estava tão atraída por Antônio que não conseguia perdê-lo de vista. Chacoalhei a cabeça para tentar afastar essa loucura, abraçando Otávio e me levantando com o bebê no colo.
— Eu não sei por onde começar a procurar — ele falou com a voz rouca.
— Ela tinha algum lugar especial onde gostava de ficar? — Tentei afastar a avalanche de emoções que duelavam dentro de mim.
— Não sei, ela gostava do jardim, do escritório e do nosso quarto. — ele ficou pensativo ainda de costas para mim — E quando a gravidez de Otávio começou a avançar, ela também ficava muito tempo no quarto dele. — confirmei com a cabeça.
— Temos que olhar em todos, se bem que acho que no jardim não teria onde ela esconder um diário — Otávio começou a querer descer do meu colo e o coloquei novamente no chão para suas explorações.
— Aqui no closet acho que não encontraremos mais nada. — Ele se virou para mim — Talvez fosse melhor começar a procurar nesses outros lugares.
— Talvez — concordei — No quarto de Otávio, hoje mesmo eu vou procurar, não se preocupe — ele apenas balançou a cabeça.
— Tem horas que eu nem sei se quero achar isso. Está acontecendo tanta coisa que eu ...
— É complicado — mesmo não sabendo qual seriam minhas reações cheguei mais perto dele — Descobrir o porquê de tudo isso é assustador.
— Com certeza assustado define bem o sentimento que estou sentindo agora.
— Vou te ajudar no que precisar — ele deu um passo em minha direção e depois outro. Parecia ter medo de ficar tão perto de mim.
— Você está mudando completamente tudo aqui dentro, Rose. Eu nem sei o que pensar...
— Antônio, eu... — mas não tive tempo, ele me puxou para seus braços e me abraçou forte e eu nem sabia que precisava disso tanto quanto ele.