Capítulo 22
1542palavras
2023-04-10 10:06
Rose
Fiquei ali perdida naquele momento por um tempo infindável e ainda assim rápido demais. Tudo que eu precisava era me decidir se queria ou não o conhecer melhor, mas a incerteza de ser apenas um momento de loucura dele me fazia querer esperar um pouco mais.
— Buuuuh — Otávio veio engatinhando ao nosso encontro e abraçou nossas pernas olhando para nós dois com um grande sorriso no rosto.

— Oh meu pequeno — falei me abaixando para segurá-lo. Eu amava demais aquele garotinho. — Você também quer um abraço? — o apertei em meus braços e Antônio abraçou nós dois, fazendo Otávio gargalhar.
—Isso é bom — Antônio tinha os olhos brilhantes pela primeira vez em muito tempo.
— Ele gosta muito de ficar colado a mim, ele ama abraços. — Ele beijou a cabeça do filho.
— Vou ser mais presente na vida dele, eu prometo. — Sorri para aquilo.
— Ele vai gostar muito — Antônio nos soltou e senti que não queria mais ficar sem aquele sentimento de pertencimento que se apoderava de minha alma. Eu queria fazer parte de uma família, da minha família. Desta família.
Sai de perto de Antônio levando Otávio, eu precisava respirar fundo e me acalmar. Eu não podia querer tanto algo assim, era insano, eu não podia exigir nada dele, nem mesmo que me deixasse ser para Otávio a mãe que ele tinha perdido.

— Está tudo bem? — ele perguntou sem se aproximar, provavelmente viu em meu rosto os medos que se passavam dentro de mim.
— Está sim, só lembrei de uma coisa, só isso — eu sabia que ele não acreditaria naquilo, eu mesmo não acreditava que estava me deixando levar tão fácil assim. — Quer que eu comece a procurar onde? — mudei de assunto o rapidamente.
— Rose, não precisa se preocupar com isso, ficar aqui com vocês está me fazendo bem. Não sei se quero mexer com essa história hoje. Já tivemos problemas demais.
— Mas...

— Vamos passar um tempo só nós três sem interferência do mundo, sem qualquer preocupação. Amanhã eu volto para a fábrica e tudo vai voltar ao normal e ai pensamos onde pode ser o esconderijo de Margareth.
— Tem certeza disso?
— Claro que tenho, eu não quero me preocupar mais com nada. Quero ter momentos assim, nós três merecemos isso.
— Mas eu não sou... — ele me encarou feio não me deixando terminar minha frase.
— Você faz parte, Rose. Você é quem está unindo a minha família.
— Não é para tanto Antônio, sua mãe nunca deixaria você se perder ou se afastar de Otávio.
— Já percebeu que ela nem vem mais tanto aqui. Está tão tranquila com você cuidando de nós que nem se preocupa mais.
— Isso é o que você pensa — ri sem graça — As mães sempre se preocupam. Eu que não sou mãe vivo preocupada com Otávio e minhas irmãs, tem horas que acho que minha cabeça vai explodir.
— Você será uma ótima mãe, Rose, tenho certeza disso. — Fiquei vermelha com certeza. Eu perdi o sonho de me casar quando nosso pai perdeu tudo. Um pouco para salvar nossa mãe e o outro para afogar as magoas por não conseguir. Ele não nos deu escolha. E pensando nele, o que será que aconteceu com ele, não que eu me importe, mas...
— Antônio, uma coisa acabou de me ocorrer.
— Diga — ele foi até a cama se sentar e me sentei ao lado dele. Otávio já escorregou por minhas pernas e voltou para o chão.
— Meu pai. — seu olhar ficou mais sério — Nunca mais tivemos notícias dele.
— E isso não é bom?
— Sim, eu acho. Mesmo depois de tudo ele continua sendo meu pai. É estranho pensar que ele pode ter morrido e ninguém se importou.
— Rose, ele vendeu você — Antônio se aproximou de mim me encarando sério — Vendeu a Emma, ia entregar a Bria para aqueles homens nojentos.
— Eu sei, é só que sei lá. É estranho. Me desculpe. — Abaixei meus olhos para não encarar os seus.
— Ei — ele levantou meu queixo com o indicador — Não se desculpe por ser tão boa. Você é umas pessoas mais puras que eu conheço, ninguém pensaria naquele homem e você está aqui me mostrando que pode ser ainda melhor do que eu penso.
— Não exagere.
— Estou falando a verdade, não pense que eu vou permitir que ele chegue perto de você. Por mais que você peça, isso está fora de cogitação. — Ele sorriu de lado.
— Eu não posso mais escolher o que quero, então?
—Pode, mas com relação a sua segurança, eu serei bem inflexível — ri da forma que ele falou. — Não é que eu não confie no seu julgamento, mas seu pai me deu bons motivos para não confiar nele de forma alguma, e mesmo que ele prove que mudou se um dia o encontrarmos, eu vou continuar levando vocês e suas irmãs para longe dele. Eu sei até onde vai a maldade humana.
— Eu agradeço por cuidar de nós — ele fez um leve carinho em meu rosto e não consegui mais me desconectar de seus olhos. Aos poucos ele chegou mais perto e com um toque suave tocou seus lábios nos meus.
— Além de eu não poder fazer isso, você ainda está ferida. — Ele se afastou a contragosto me deixando com uma vontade enorme de mandar tudo pelo ar. Sorri sem graça e voltei a olhar para Otávio que nos olhava com o dedinho na boca.
Antônio
Eu precisava definir logo a minha situação, não dava para fingir que nada acontecia entre nós. A vontade de estar com ela era enorme, mas as vozes que ecoavam em minha cabeça ainda seguravam meus impulsos em rédeas curtas.
— Acho que é melhor eu levar esse rapazinho para dormir.
— Mas já? — olhei indignado — Faça ele dormir aqui, quero ver como faz isso — me levantei para pegar Otávio que já começava a coçar os olhos.
— Não quero mais te atrapalhar, Antônio — se ela soubesse o bem que me faz não falaria essas bobagens.
— Não vou nem responder a isso que acabou de falar. — deitei Otávio em meu braço — É assim? — questionei enquanto ela observava o que eu fazia.
— Sim, mas vou buscar a mamadeira dele, só um minuto — ela saiu me dando tempo de ficar um pouco mais com meu pequeno. Eu conseguia ver nitidamente meus traços nele. Quando nasceu pensei que seria ruivo igual a mãe, mas a vasta cabeleira negra logo tomou conta dos pequenos fios claros com o qual ele nasceu. Otávio era uma cópia minha, se Margareth estivesse viva reclamaria o tempo todo sobre isso.
— Sua mãe seria apaixonada por você — falei para ele que analisava meu rosto sério. Acredito que ele preferia ver muito mais o rosto de Rose do que o meu e se eu fosse ele, também preferiria.
Comecei a cantar uma canção que minha mãe cantava quando eu e meus irmãos eram pequenos, o balancei devagar e fui lembrado das cenas de quando Álvaro ainda era bebê e minha mãe se desdobrava para fazê-lo dormir.
— Seu tio Álvaro sempre deu muito trabalho para a vovó, espero que você não faça o mesmo comigo. — O bebê passou os dedos por minha barba e logo voltou a mão. Com certeza a textura não era algo que ele esperava. Ri com sua carinha curiosa e vi sua mãozinha avançar de novo, agora ele passava os dedinhos com cuidado. Beijei sua mão quando ela se aproximou de minha boca, o que o fez rir e começou o jogo de eu tentar pegá-lo, ele estava feliz comigo e isso me trouxe uma paz imensa. Algo que a muito tempo eu não sentia.
— Aqui — disse Rose se aproximando de leve e me entregando a mamadeira de vidro. — É só oferecer, ele sabe o que fazer — ela se afastou se sentando na cama e me dando espaço para ficar com meu filho. Fiz da forma que ela me disse e entreguei a mamadeira para ele que rapidamente a segurou e colocou na boca, sugando rápido. Seus olhinhos se fecharam e continuei embalando, em poucos minutos a mamadeira estava vazia e a tirei de sua mão continuando embalá-lo.
Rose se aproximou e pegou a mamadeira me fazendo o colocar na vertical e apoiá-lo em meu ombro.
— Assim ele consegue arrotar — confirmei com a cabeça.
O bebê continuava com os olhos fechados e resolvi fechar os meus também e aproveitar aquele breve momento. O clima do quarto era calmo e tranquilo, a brisa leve entrava pela janela deixando o ambiente agradável.
Não sei por quanto tempo fiquei naquele momento de tranquilidade, mas parecia que eu estava em outro mundo, num lugar onde tudo era pacífico. Abri os olhos e encontrei Rose nos olhando, seus olhos estavam úmidos e ali eu tive certeza, era essa vida que eu queria. Ela foi a melhor escolha que eu tive para cuidar de Otávio e por fim de mim.