Capítulo 18
1937palavras
2023-04-06 10:07
Antônio
Janice bateu à porta com força e meus olhos se voltaram para Rose que continuava olhando para o chão.
— Agora você poderia se sentar? — Apontei para a cadeira na frente da mesa. Ela relutou por um tempo antes de se sentar e voltei a sentar em minha cadeira.
— Olha, eu não vou me desculpar. Não por bater em uma fulana que não sabe nada sobre nós. Você sabe que eu defendo até a morte minhas irmãs e se quiser me mandar embora por causa disso, certo. Mas eu não ia ficar ouvindo ela falar delas sem fazer nada — ela cruzou os braços na altura do peito. Não sei por que eu sentia orgulho dessa atitude dela, mesmo sabendo que não tinha sido certo, aos meus sentimentos ela tinha defendido pessoas que também eram importantes para mim.
— E você acha que a única forma foi entrar em atrito físico com ela?
— Não, mas ela não me deu escolha. Quando dei por mim ela já estava grudada em meus cabelos.
— Está sentindo dor? — Eu não conseguia parar de olhar para a boca dela que a alguns poucos minutos atrás estavam coladas a minha. Agora um grande corte se destacava no canto inferior direito.
— Não, ainda estou com raiva, talvez quando passar eu sinta alguma coisa. — Me levantei e dei a volta na mesa parando em sua frente. Me ajoelhei em sua frente para analisar o estrago que tinha acontecido.
— O que está fazendo? — Ela se afastou quando ameacei tocá-la.
— Cuidando de você, assim como fez comigo. — sua boca se abriu em um O perfeito e sorri com sua cara de surpresa. — Sou tão insensível assim que não sei cuidar de alguns ferimentos? — Ela nada respondeu ficou apenas me encarando enquanto eu analisava cada um. O da boca com certeza era o pior e iria doer bastante quando seu sangue esfriasse, os outros eram apenas arranhões tão parecidos com os meus. — Acho que tiramos a semana para brigar com gatos — tentei diverti-la e um leve sorriso apareceu em seus lábios.
— Pode me tirar uma dúvida? — Falou sussurrando.
— Se eu souber responder — dei de ombros me levantando e encostando na mesa para observá-la.
— O que Janice falou sobre sua esposa pensar sobre mim e minhas irmãs é verdade? — Eu sabia que uma hora ela questionaria aquilo. Eu tinha completa certeza disso.
— Eu não sei te responder. Margareth sempre foi uma pessoa incrível — me lembrei de quando a conheci — Ela era linda, tinha um sorriso encantador e não parecia ser tão insegura quanto era. — cruzei meus braços e encarei os pequenos olhos puxados de Rose — Eu me apaixonei na primeira vez que a vi, ela estava sentada em um banco da praça lendo, junto com a sua dama de companhia. Seus pais não permitiam que ela saísse sozinha. — ela apenas balançou a cabeça — Eu pedi para meu pai descobrir de quem ela era filha, que eu gostaria de conhecê-la e logo descobrimos que ela era filha de um advogado muito respeitado na região. Meu pai marcou uma reunião com ele e lá descobrimos que ela era noiva de Arthur — torci o nariz — Meio que já imaginava que uma mulher daquela não estaria sozinha. — Rose riu sem graça, me deixando prosseguir com meu relato — Então não tinha o que eu fazer, porém alguns dias depois o pai dela nos procurou e disse que faria gosto de me apresentar a ela. Nem eu nem meu pai entendemos nada, mas eu queria descobrir o que estava acontecendo, Arthur é filho de um duque, título muito maior que o meu.
— Você já conhecia Arthur nessa época?
— Já, mas nós nunca fomos uma com a cara do outro, mas ninguém nunca atravessou o caminho de ninguém. Então quando o jantar foi marcado, os pais de Margareth me colocaram sentado ao lado dela e nós pudemos conversar e eu me encantei ainda mais. Ela era esperta, divertida, uma pessoa com a qual eu conseguiria ter no resto da minha vida.
— E o que aconteceu? — Os olhos brilhantes de Rose me fizeram sorrir.
— Arthur chegou durante o jantar, exigindo saber por que não tinha sido convidado se ele já era praticamente da família. O problema é que ele não estava em plenas condições, já que estava bebado o suficiente para ser rude com todos na sala. — Novamente o O perfeito estava lá e eu começava a perceber como eu gostava de surpreende-la.
— E o que ele fez?
— O pai de Margareth não gostou de sua atitude, mandou ele ir embora se recompor que depois conversaria com ele. Minha esposa chorou bastante vendo o acesso de fúria que ele teve em seguida, derrubando tudo da mesa e amaldiçoando a família dela.
— Meu pai com a autoridade que tinha conseguiu colocá-lo para fora, mas não foi o suficiente, ele continuou gritando que Margareth já era dele, que o casamento aconteceria de uma forma ou de outra. Por fim o pai dela cancelou o casamento e nos contou que havia vários boatos das atitudes de Arthur pela cidade. Que sua fama era muito conhecida nos cabarés e que Margareth sempre acabava sabendo do que se passava.
— Coitada. Eu sei o que é ver quem a gente ama sendo passado para trás. Meu pai dizia que só tinha saído com outras mulheres depois que minha mãe o colocou para fora de casa.
— Sua mãe era forte.
— Sim sempre foi, mas continue, me desculpe por ter interrompido.
— Não por isso. Pois bem, comecei a me aproximar de Margareth e sentia que ela era a pessoa que eu queria para minha vida. Eu gostava do tempo que passávamos juntos e da forma carinhosa como ela me tratava. Era perfeito, porém um dia quando eu não pude ir até sua casa ela se desesperou e mandou que sua dama de companhia me encontrasse. Eu tinha acabado de começar na carreira de investigador e um caso tinha sido designado a mim de última hora. — Eu deveria ter percebido que as coisas não seriam tão fáceis — Expliquei para a senhora e disse que no dia seguinte eu iria lá conversar com ela. Minha esposa se desculpou e chorou dizendo que pensou bobagens, disse que nunca mais iria fazer algo como aquilo e naquele dia eu a pedi em casamento para acalmar seus medos. Nos casamos um mês depois.
— Rápido, deve ser um mau dos senhores Campos — gargalhei, pois era verdade tanto eu, quanto André, quanto Álvaro nos casamos de forma abrupta.
— Nós sempre temos certeza do que queremos — suas bochechas ficaram rosadas e aquilo inflou meu ego.
— E o que aconteceu depois que se casaram?
— As demandas de investigação aumentaram e eu sempre tinha que me ausentar por um motivo ou outro, mas nunca deixei de amá-la e eu queria que ela soubesse disso. Eu precisava que ela tivesse certeza do meu amor, então fazia todos os seus gostos. Quando ela perdeu nosso primeiro filho, eu estava em outra cidade investigando o grupo de traficantes que acabaram se envolvendo com o pai de vocês. Quando cheguei o médico já a tinha medicado e a colocado para dormir, eu me senti o pior homem da face da terra. Eu não deveria ter deixado ela tão sozinha.
— Não foi sua culpa, era o destino — ela estendeu a mão para mim e a segurei entre meus dedos.
— Eu sei, mas isso não tira do meu peito a impotência de não ter feito nada pelo meu primeiro filho. Quando ela acordou, ela estava transtornada, dizendo que a culpa era minha de nunca estar por perto, de não a apoiar e não estar presente. Eu me senti ainda pior. — Sua mão se apertou na minha — Foi quando meu pai resolveu morar em Antunes e disse que se Margareth quisesse me ter por perto, teríamos que vir para cá também. Seria mais tranquilo e eu ficaria trabalhando na fábrica que ele tinha acabado de comprar.
— Álvaro falou para Emma sobre os irmãos, nós sabíamos por cima que as esposas não queriam vir para esse fim de mundo.
— Álvaro e sua boa grande.
— Meu cunhado queria impressionar — ela riu e eu também.
— Enfim, quando te sequestraram, Álvaro veio me pedir ajuda e falei para Margareth que eu teria que ajudá-los, de início ela não gostou, mas depois que viu que não tinha mais jeito me deixou ir atrás de você. Na época ela estava prestes a ganhar Otávio e eu sabia que nenhum dos dois corria risco. Deixei o melhor médico de plantão para qualquer coisa que ela precisasse. Janice trabalhava aqui a mais de um ano, provavelmente minha esposa encheu sua cabeça com as tolices que pensava.
— Janice é apaixonada por você — sua voz saiu esganiçada, como se fosse difícil dizer aquilo.
— Ela é apaixonada pela imagem que Margareth deve ter pintado em sua cabeça, eu nunca troquei muitas palavras com ela.
— Mas você mesmo disse que se apaixonou por Margareth quando a viu.
— Me pegou, pode ser, mas eu nunca dei qualquer chance para ela. Ela deve ter percebido o quanto estamos próximos por causa de Otávio e se achou no direito de exigir algo. — Ouvi batidas na porta e ela puxou a mão rápido. — Entre!
— Me desculpe senhor — Bianca entrou com Otávio aos prantos e Rose se levantou em um pulo correndo em sua direção — Ele não quer mais ficar comigo, senhorita. Já tentei de tudo, sinto muito.
Rose
— Não tem problema — peguei o bebê em meus braços e o balancei de um lado para o outro. Suas mãozinhas foram direto para o meu cabelo e fiz uma careta de dor.
—Pode ir Bianca. — Antônio a dispensou e se aproximou de mim — Você está com dor.
— Não é nada — falei vendo o pequeno se acalmar — Ele as vezes puxa um pouco mais forte, mas eu já estou acostumada.
— Rose? — Meus olhos o encontraram ainda mais perto do que antes. — Eu não quero que se afaste, eu quero te conhecer — eu não sabia o que responder — Eu não sei mais como controlar o que eu estou sentindo, mas por favor, se não for recíproco, me avise. — Concordei com a cabeça — Não precisa me responder agora, tem que se cuidar e cuidar de Otávio. Eu vou resolver a burocracia de mandar Janice embora, se precisar chame o dr. Daniel para vir examiná-la e use a tal da babosa, ela faz milagres — sorri com seu comentário e ele fez o mesmo.
— Eu irei pensar, Antônio, eu te aviso quando me decidir. Estou muito confusa com tudo que está acontecendo.
— Não se preocupe, eu entendo — ele pegou uma das mexas do meu cabelo assim como Otávio fazia e a deslizou entre seus dedos. — Só me prometa que vai se afastar de Arthur.
— Eu tenho que conversar com ele e explicar toda a situação.
— Não tenho escolha, não é? — Fiz que não com a cabeça.
— Tudo bem! — Ele relutou em nos deixar, mas saiu deixando um beijo na cabeça de Otávio e um em minha testa.
Eu não sabia o que pensar quando fui em direção a cozinha para terminar de dar algo para Otávio comer.