Capítulo 17
2787palavras
2023-04-02 02:13
Rose
"O que eu deveria fazer agora? Correr para o mais longe dali ou voltar para os braços dele? E eu queria voltar para ele? "
Minha boca ainda formigava com o contato a pouco, eu nunca tinha sido beijada por ninguém, nunca senti o contato tão intenso com alguém. A briga pareceu alimentar ainda mais o que estava sob a minha pele. Era como se o fogo e o gelo duelassem dentro de mim.

Passei a chave na porta para não correr o risco de voltar até aquela sala, eu sabia que eu poderia fazer aquela loucura. A dias eu pensava nele, bem antes de vir morar aqui. Isso começava a ficar mais claro do que qualquer coisa para mim. Eu estive esperando por esse beijo mais do que eu mesmo admitia.
"Eu sou uma iludida, meu Deus. Iludida!"
Não posso simplesmente me apaixonar pelo meu patrão, é tão clichê e tem tudo o que diriam sobre isso. É errado.
Minhas pernas estavam bambas, meu rosto quente.
Tentei não fazer barulho para não acordar Otávio, mas percebi que o bebê já tinha percebido minha presença e começava a se espreguiçar e assim que ele acordasse eu teria que sair daqui e fazer a comidinha dele.
"Deus, me ajude!"

O pequeno sorriso logo se abriu assim que ele me viu, sentando-se no berço. Fui em sua direção e o peguei lhe dando um abraço apertado.
— Quase não dormiu, meu pequeno — meu? Meus sentimentos eram confusos por aqueles homens. Ele levou as mãozinhas aos meus cabelos e se deitou em meu peito, como se soubesse que eu precisasse daquele contato. — O que eu faço, Otávio? Você pode me ajudar? — os olhinhos do bebê se voltaram para mim e o sorriso dele era igual ao do pai. Meu coração errou uma batida. Com certeza eu estava mais encrencada do que gostaria de admitir. Se um dia tivesse que deixar os dois, meu coração ficaria naquela casa.
Troquei a fralda do pequeno e me preparei mentalmente para sair do quarto, eu não sabia quais seriam as possíveis reações do meu corpo quando o visse de novo e nem o que ele faria ou falaria sobre o que aconteceu. E ainda tinha Janice que me viu sair como um furacão da sala dele.
"Meu Deus, que confusão eu me meti"

Abri a porta de vagar me preparando mentalmente, se não fosse por Otávio eu poderia ficar dentro daquele quarto por dias. Era a primeira vez que eu não sabia como enfrentar uma situação.
Desci as escadas devagar deixando minha audição descobrir o que estava acontecendo. Entrei na cozinha sem nenhum sinal de Antônio. Coloquei o bebê no chão e fui até a bancada pegar um mamão para dar para o bebê. Estava terminando de tirar as sementes quando ouvi as vozes de Luana e Bianca.
— Rose você é tão esperta — me virei para olhá-las.
— Por que diz isso? — um arrepio subiu por minha espinha.
— Você sabe como fazer as pessoas felizes — Bianca falou — Eu nunca tinha visto tantos sorrisos em toda a minha vida. — Luana concordou e eu relaxei entendo sobre o que elas estavam falando.
— Sérgio pegou um buquê de rosas para a esposa dele, tudo bem?
— Claro, eu pedi para distribuírem todas. Até as duas que estavam aqui podiam ter levado — apontei com a faca para os vasos sobre a mesa.
— Nossa, até essas, mas eu achei — me virei novamente para terminar de limpar o mamão — Eu achei que você estava gostando do sr. Vasconcelos. — dei de ombros.
— Não sei o que pensar sobre ele, mas depois de hoje, tenho certeza que tenho que conversar com ele sobre limites.
— É que isso foi um exagero, isso foi — Luana se sentou rindo. — Mas foi muito romântico, há foi.
— Engraçado é que você deveria jogar as mãos para o céu por ter alguém interessado em você. Ainda mais por você não ter dote algum — Janice entrou na cozinha ainda mais estranha do que antes.
— Não pedi por isso, nem tenho interesse algum em me casar por enquanto — não fiz questão de me virar.
— Porque está querendo dar o golpe no patrão! — parei o que estava fazendo ao ouvir aquilo. O silêncio na cozinha foi mortal, somente os batuques de Otávio eram ouvidos.
— O que você falou? — soltei a faca me virando para ela.
— Isso mesmo que você ouviu, você se faz de pura e inocente, mas eu conheço tipinhos iguais a você. Você quer o lugar da senhora Margareth, tanto na vida de Otávio quanto na de Antônio.
— Eu a proíbo de falar de mim dessa maneira.
— E quem é você para me proibir de qualquer coisa? Você é a babá aqui, chegou a pouco tempo. Não manda em nada e fica aí achando que é melhor que nós. — Olhei para as outras meninas que negaram com a cabeça, elas não compartilhavam da mesma opinião.
— Você está louca Janice, está criando caso para coisas que não existem.
— A não? E o que foi que eu vi agora pouco? — ela se aproximou de mim, me encarando ferozmente.
— Ele sabe desse amor que você nutre por ele? — a enfrentei, já que era para falar as claras.
— NÃO OUSE FALAR DO QUE VOCÊ NÃO SABE! — Ela berrou me segurando pelos braços.
— Não sei? Você era uma pessoa gentil até começar a colocar caraminholas na cabeça sobre mim e Antônio. — Tentei me soltar, mas ela me apertou mais forte. Para os eu tamanho até que ela era bem forte. Mas eu também sabia como me virar e a empurrei a fazendo perder o equilíbrio. — Se você cuidasse da sua vida, situações como essa seriam evitadas.
— Desde que você chegou, você atrapalha a minha vida, sua vaca! — aquilo me irritou, mais do que eu imaginava. — Era para eu cuidar do Otávio. EU! Eu cuidei da senhora o tempo todo, ela falou que confiava em mim, que seu filho estaria bem cuidado se algo acontecesse a ela. SOU EU QUE TENHO ESSE LUGAR POR DIREITO.
— Pare de gritar, Janice — falei séria. — Eu não sei o que ela te disse, mas deveria ter falado com o senhor Antônio, eu não tenho culpa de ter sido contratada. —Tentei me afastar, mas ela veio em minha direção.
— Claro que tem, você e aquelas suas irmãs bastardas, minha senhora, sempre disse que vocês levariam essa família a ruína. — Fiquei em choque com a informação — Vocês não têm porte, não tem classe, são umas coitadas querendo subir nas posições sociais.
— Não se atreva a falar das minhas irmãs ou eu juro que não me responsabilizo...
— UM BANDO DE INTERESSEIRAS É ISSO QUE VOCÊS SÃO — minha mão voou em seu rosto. Eu nunca admitiria que ela falasse assim delas. Eu não me importo comigo, mas dou minha vida por elas.
Janice revidou o tapa e grudou em meus cabelos tentando arrancá-los na unha. A chutei e a empurrei tentando a fazer soltar, mas ela continuava gritando e me xingando. Comecei a bater em seu rosto para que ela me soltasse.
— Você nunca vai ficar com ele, nunca — sua voz estava baixa para somente eu ouvir. Ao fundo eu escutava os gritos as meninas mandando nós pararmos e Otávio chorando. Essa louca não pararia, eu só precisava tirá-la de cima de mim.
Agora uma de suas mãos puxava meu cabelo para trás e a outra acertava meu rosto, da mesma forma que eu fazia com ela. Isso renderia enormes hematomas, tenho certeza. Ouvi a voz de Sérgio preencher o ambiente e tentar me puxar para trás, mas Janice não me soltava de forma alguma.
— PAREM COM ISSO AGORA MESMO! — o ambiente só se acalmou quando a voz cortante de Antônio predominou sobre todos os ruídos. Janice se afastou e me encarou com seu olhar mortal, como se eu fosse a culpada de todos os males do mundo.
Bianca veio em minha direção e me entregou um pano.
— Coloque em sua boca, está sangrando — sussurrou enquanto eu encarava a ordinária que teve a ousadia de falar de minhas irmãs.
— O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? BRIGANDO EM MINHA CASA COMO DUAS LOUCAS?
—Foi ela que começou — Janice apontou e revirei os olhos, tão típico de pessoas sem caráter.
— Isso é mentira — Luana falou em minha defesa. — Ela estava arrumando o mamão do Otávio quando você chegou a atacando.
— Ela me bateu primeiro, ou você não viu? — ela tentou intimidar Luana.
— Você provocou! — falei em minha defesa.
— Eu não quero saber quem começou ou não, vocês duas pareciam dois animais. — Antônio ficou entre nós e me encarou de uma forma diferente, antes de voltar a falar — As duas no meu escritório agora! — ele saiu na frente e Janice logo correu atrás dele. Fui até a pia lavar minha boca que estava com o gosto de sangue e tentei arrumar meus cabelos.
— Nunca achei que ela seria capaz disso — Bianca estava com Otávio no colo o acalmando.
—Bianca, de o mamão dele para mim, por favor. Eu vou resolver essa situação e talvez eu nem volte. Por favor, não o deixe sozinho.
— Sim, senhorita, não se preocupe. — Dei um beijo no pequeno que me olhava triste.
Antônio
Assim que ela saiu de minha sala eu sabia que tinha errado feio em beijá-la, por mais que eu quisesse muito, eu não deveria. Mas foi mais forte do que eu, a vontade, o desejo de tê-la tão perto.
Janice ficou olhando-a sair e me olhou acusatoriamente, imaginando o que tinha acontecido entre nós.
—Posse te ajudar em algo? — falei ainda irritado pela discussão e minha falta de força de vontade.
— É que eu queria dizer que... — ela se fixou em minha boca, vendo algo que eu não podia imaginar o que era. Passei a mão imaginando que estava suja.
— Que? — a incentivei a continuar.
— Que a Senhorita Rose, mandou todos os funcionários distribuírem as flores pela vizinhança.
— Tudo bem — falei me sentando, ela teve uma ideia muito boa. Melhor que a minha que era colocar fogo em todas elas.
— Tudo bem? — eu não estava entendo aonde ela queria chegar.
— Sim, tudo bem. Tem mais alguma coisa que eu deva saber? — questionei.
— Não senhor — falou seria como se eu estivesse fazendo algo errado.
Ela saiu da biblioteca e eu tentei me concentrar em como arrumaria as coisas entre mim e Rose, agora que eu tinha passado dos limites. Eu não deveria a ter beijado. Eu deveria ter controlado meu impulso. Era só isso que eu precisava, mas fui fraco.
Andei de um lado para o outro imaginando o que eu poderia fazer até que gritos chamaram minha atenção e corri em direção ao som. Encontrei Janice e Rose atracadas umas na outra se estapeando. Sério puxava Rose para trás, mas Janice não a soltava e eu podia ver as marcas vermelhas em ambas as mulheres.
Gritei assustando a todos, até Otávio parou de chorar. Janice soltou Rose, mas não parou de encará-la e isso me assustou. O que ela tinha contra Rose?
Mandei as duas irem para o meu escritório para esclarecer o que tinha acontecido e resolver o que eu faria com ambas.
Janice me seguiu de imediato, já Rose demorou alguns minutos.
— Eu posso explicar ... — mas a cortei, eu queria as duas aqui para ouvir os dois lados. Como investigador eu sabia que sempre havia explicações que uma das partes tentava esconder.
Rose entrou em minha sala dois minutos depois, seu rosto estava vermelho e o corte em sua boca parecia profundo.
— Com licença. — Ela falou entrando e não se sentando na cadeira perto de Janice, preferiu ficar no canto da sala.
— Sente-se — falei e ela se negou não me dando qualquer explicação.
— Ela é insubordinada, uma rebelde, como pode deixá-la com a criança? — Janice me acusou e aquilo era novo para mim. Levantei a sobrancelha tentando entender qual era a dela —Desculpe senhor, mas é verdade. Minha senhora, sempre disse que essas meninas eram a escória e que o senhor Álvaro as trazerem para a família seria a perdição de todos vocês. — Eu não tinha conhecimento sobre isso. Nunca presenciei Margareth falando isso.
— Se você abrir a boca para falar das minhas irmãs de novo.... — Rose alertou e aí estava um ponto que a tiraria do sério. Eu sabia. Ela se entregou aos sequestradores só para dar tempo das mais novas fugirem quando foi preciso.
— Calem a boca as duas. — Rose olhou para o chão e Janice me encarou por um momento antes de fazer o mesmo.
— Quero saber o porquê de toda essa situação. Vocês não são animais para brigarem do jeito que vi.
— Senhor — Janice pediu a palavra e eu a mandei prosseguir — Tudo aconteceu porque essa mulher está tentando seduzir o senhor e eu prometi para minha senhora que cuidaria de vocês. A senhora Margareth havia me deixado designada para cuidar de Otávio quando nascesse e do que o senhor precisasse. Ela escolheu a mim para assumir as responsabilidades caso algo acontecesse a ela.
— Ela nunca me falou nada disso — falei surpreso — Na verdade, foi ela quem me disse para escolher uma babá com experiencia para o nosso filho e até onde eu sei, você não tem qualquer experiência com isso — falei olhando dela para Rose que continuava quieta no canto da sala.
— Mas ela me disse senhor, é verdade. Eu nunca mentiria sobre isso. Ela confiava em mim.
—Mas quem manda nessa casa dou eu — falei sério — Você não tem o direito de tentar passar por cima das minhas ordens.
— Eu não passei, por isso que nunca questionei sobre as babás que contratou, mas esse ai, ela está tentando te afastar do que a sua esposa queria — e o que ela sabia sobre o que Margareth queria?
— Minha mulher não está mais aqui, sou eu quem toma as decisões do que é melhor para mim e meu filho — eu estava irritado com essas novas revelações. Mesmo depois de morta ela tinha deixado fiscais para mim.
— Sim senhor — Margareth sempre foi carinhosa e doce, mas depois de passar o que passou com Arthur ela tinha um ciúme doentio, nada nem ninguém poderia se aproximar de mim. Provavelmente toda essa confusão aconteceu na semana em que fui ajudar Álvaro a procurar por Rose. Com certeza ela fez a cabeça da pobre moça.
— Tem algo a dizer Rose? — olhei para as marcas que começavam a aparecer em sua pele branca, e fechei minha mão para não sentir o impulso que brotava dentro de mim de cuidar dela da mesma forma que ela fez comigo.
— Apenas que se ela continuar insultando a mim e as minhas irmãs, não responderei por meus atos. — Esse era a Rose que eu conhecia.
— Não tenho medo de suas ameaças, sua caça títulos — Caça títulos, essa era nova.
— Silêncio as duas — Rose evitava olhar para mim e isso me fazia sentir impulsos de segurar o seu rosto voltado para o meu. — Eu não gostei do que vi e não vou admitir que coisas assim aconteçam de novo.
— Não vai acontecer, senhor — Janice falou.
— Tenho certeza que não. Janice a partir de hoje você não trabalha mais para mim. — Seus olhos se arregalaram. — Vou acertar com você tudo o que é de direito, mas a partir de hoje não a quero mais aqui.
— O QUE? — ela gritou e isso me enfureceu. — Eu sempre fiz de tudo por sua família e é assim que o senhor me trata? Como se eu fosse a problemática? Não está vendo que está sendo enganado por essa golpista, assim como seu irmão? — vi Rose bufar.
— O que você pensa ou deixa de pensar, não me interessa. Quero que pegue suas coisas e saia daqui agora — me levantei para intimidar.
— E ela? Vai ficar aqui?
— Eu vou resolver a situação dela, da maneira que eu achar melhor e você não faz parte desta conversa. — Ela se levantou irritada e antes de sair encarou Rose que não baixou o olhar minuto algum.