Capítulo 16
2288palavras
2023-04-04 10:00
Antônio
Minha vontade era de voltar no hotel e esmurrar a cara de Arthur até que mais nada sobrasse. Ele realmente tinha coragem de me enfrentar da forma que fez, quis passar por cima do que eu havia dito e ainda distorceu as coisas. Era um verdadeiro filho da puta. Mas suas visitinhas para a Rose estavam com os dias contados e se ela não gostasse do que eu estava prestes a falar, ela que procurasse outro lugar para trabalhar.
Bati a porta da casa de Álvaro e Hortência me atendeu com seu sorriso cortes.
— Boa tarde, senhor Antônio.
— Boa tarde, diga a Rose que vim buscá-la — não fiz questão de ser simpático, as palavras de Arthur ainda rodavam minha cabeça.
— Sim senhor. — Eu estava impaciente e só queria colocar tudo aquilo a limpo, eu precisava de respostas dela e nem sabia porque isso mexia tanto comigo.
Vi Rose e as irmãs se aproximarem, Bria carregava Otávio que se divertia com a mais nova, não se interessando em momento algum com a minha presença.
— Cunhado, não te vejo a algum tempo — Emma estava enorme, mas isso não a impedia de continuar radiante.
— Eu ando muito ocupado, como você e o bebê estão, Emma?
— Inchada, cansada, mas logo, logo chegaremos ao momento esperado — sorri para ela olhando vez ou outra para Rose que analisava meu semblante. Com certeza ela já tinha percebido que as coisas não estavam tão bem quanto ela pensava ao sair de casa.
— É assim mesmo, Margareth teve os mesmos desafios, mas não se deixou abater, assim como você — ela confirmou com a cabeça — Vim buscar Rose, tive uns assuntos para resolver aqui perto e aproveitei para passar aqui. — A olhei indicando para irmos.
— Não quer esperar Álvaro chegar? Sei que pode ficar apenas mais um pouco.
— Hoje não será possível, mas marcaremos um jantar aqui ou em minha casa, preciso resolver alguns assuntos que deixei pendentes quando sai de casa.
— Tudo bem, dessa vez passa, mas marque esse jantar o mais rápido possível, em pouco tempo não terei a oportunidade de passar um tempo com vocês. Terei que ficar de resguardo — ela alisou a barriga me lembrando.
— Não se preocupe, hoje mesmo já confirmo com Rose e mando um mensageiro até você — ela concordou e Rose foi abraçar a irmã. As duas cochicharam algo e uma olhou para a outra com uma ternura genuína que a muito tempo eu não via. As menores foram abraçadas logo em seguida e Otávio relutou em sair do colo de Bria, que também não parecia querer soltar meu filho.
— Prometo que logo trago ele de novo para brincar com você, querida. Não vou falar para irem até a casa de Antônio, pois nesse momento Emma precisa descansar.
— Não se preocupe irmã. Nós entendemos perfeitamente, então volte sempre que quiser, amamos suas histórias. — Dulce fez o comentário.
— Elas só falam em você, nem parecem querer morar comigo. — Emma reclamou.
— Não seja ciumenta, Emma — eu gostava da interação delas, era sadia, muito diferente do pai que as apunhalou pelas costas e as jogou na mão de criminosos. Toda vez que me lembro dessa história meu sangue ferve.
Saímos da casa de Emma em direção ao carro. Sérgio já nos esperava com a porta aberta e Rose entrou com Otávio e eu logo em seguida na parte de trás.
— Como foi seu dia hoje? — Não olhei para ela, se eu falasse o que tinha acontecido, seria bem provável que a briga começasse ali mesmo.
— Conversamos em casa — meu semblante mostrava para ela que as notícias não eram boas.
— Tudo bem — ela falou num sussurro. Ouvi Otávio balbuciar algumas coisas e ela conversar com carinho com o meu pequeno. Tudo para ele sempre era novidade e adorava as viagens de carro.
Chegamos em casa e Sérgio abriu a porta para ela que agradeceu e perguntou como estava a esposa dele. Vi o senhor ficar vermelho e agradecer o cuidado que ela tinha em perguntar por ela.
Entramos em casa e Rose subiu com Otávio para o quarto para lhe dar um banho e lhe preparar para o sono da tarde. Fui para o meu escritório e ouvi fortes batidas na porta.
— Entre — falei enquanto andava de um lado para o outro na sala.
— Senhor, acho que precisa ver isso — Janice tinha um brilho no olhar diferente.
— Ver o que? — Perguntei não querendo sair dali, eu precisava resolver meu assunto com Rose e não queria nada além de esperar por ela.
— Eu não sei como explicar, senhor — resolvi que deveria segui-la, quem sabe talvez eu me acalmasse. Ledo engano.
Segui Janice até a parte externa de minha casa, na entrada ao qual tínhamos acabado de passar, lá se encontravam tantas flores, mas tantas que pareciam um mar de rosas. Não havia uma parte do chão em frente a minha casa que não estivesse coberto.
— O que é isso? — Olhei incrédulo.
— Esse envelope veio junto — ela me entregou um pequeno envelope branco que tinha o brasão da família do duque.
— Só podia ser — meu humor acabava de ganhar uma nova tonalidade de preto.
Rose
Vi Janice e Antônio parados a frente da porta olhando para fora com muito interesse. Cheguei mais perto para ver o que estava acontecendo.
— O que está acontecendo? — Perguntei atrás deles, mas tive vontade de correr quando os olhos negros de Antônio se cravaram nos meus como duas adagas de fogo.
— É para você — ele me entregou o envelope e me deu passagem para ver o que acontecia do lado externo.
Eu não entendia o porquê ele estava tão bravo e quando olhei para a entrada da casa acabei entendendo. Havia flores de todos os tipos e cores, em sua predominância eram rosas, porém consegui ver gerberas, begônias, lírios, violetas, bromélias e girassóis. Eram tantas que parecia impossível que todas estivessem lá.
— Assim que acabar de admirar me encontre no escritório. — Falou saindo pisando duro. O olhei sem entender nada da mesma forma que olhava para todas aquelas flores.
— Acho que o patrão não gostou nada disso ai — Janice apontou para as flores. — É melhor você dar algum destino antes que ele volte. — Ela saiu rindo da minha cara e eu fiquei desesperada sem saber o que fazer.
Abri o bilhete de Arthur, e nele dizia que a cada momento ele sentia que algo me ligava a ele, que estava sempre pensando em mim e que nós devíamos nos conhecer melhor.
Ele só podia ser louco, isso sim, meia dúzia de palavras não foram trocadas para que ele fizesse tais sandices como vinha fazendo. Eu precisava fazer ele parar com aquilo o quanto antes ou acabaria perdendo o emprego.
Fui até a cozinha e encontrei Bianca e Luana sentadas a mesa.
— É verdade o que Janice falou?
— Sobre as flores? — As duas se revezaram em falar.
— É sim, infelizmente. Pobre plantinhas.
— Do que está falando? Você está ganhando flores do futuro duque, ele está muito interessado em você, é a sua chance.
— Que chance, Bianca? Eu não sei o que quero e não com toda essa intensidade que ele vem me mostrando. Acho até deselegante da parte dele fazer isso em meu local de trabalho, ele quer mesmo que eu perca o emprego.
— Se por acaso se casar com ele, não irá mais precisar trabalhar, sua boba. Aceite esse presente dos céus.
— Não tenho certeza se é presente. — falei bufando — Preciso que me ajudem.
— É só dizer — Luana falou chegando mais perto.
— Quero que coloquem todas as flores no carro e levem-nas ao asilo, as escolas, ao comércio. Distribuam para fazer qualquer pessoa que acharem merecedora feliz.
— O QUE? — As duas gritaram.
— Isso que ouviram, olha só as duas últimas que ele me deu, estão morrendo e não terei onde colocar tudo aquilo. Se o senhor Antônio vê-las novamente, tenho certeza que me mandará embora.
— Não diga uma coisa dessas — Luana falou se levantando. — Vamos agora fazer o que pediu.
— Não voltem com nenhuma, por favor — elas confirmaram e saíram correndo, enquanto eu me preparava mentalmente para ir até o escritório conversar com Antônio, que já estava tenso antes de eu sair de casa, agora somente um milagre poderia me ajudar.
Peguei um copo d'água e bebi devagar, tentando colocar todas as minhas ideias em ordem, passei um pouco da água em minha nuca para tentar tranquilizar a loucura que estava minha vida.
Respirei fundo duas vezes antes de voltar a me movimentar e ir em direção ao escritório. Otávio estava tão cansado, que assim que tomou o seu banho ele adormeceu e eu sabia que demoraria ao menos duas horas para ele acordar novamente.
Bati na porta com medo e ouvi a voz grave de Antônio me autorizando entrar.
— Queria falar comigo? — Foi a única frase que me veio à cabeça.
— Sente-se — ele indicou a cadeira que estava ao seu lado. Antônio andava de um lado para o outro da sala e não parecia que iria se sentar. Fiz o que ele pediu e esperei pelo tornado que se iniciaria assim que ele abrisse a boca.
— Pelo visto você conquistou o coração de alguém. — Ele falou baixo, mas em sua entonação eu podia sentir que a raiva envolvia todo o seu ser.
— Não acredito nisso — falei o mais simples que pude.
— E como me explica tudo isso? — Ele parou a minha frente e me encarou, esperando que eu tivesse alguma resposta diferente.
— Ele gosta de me presentear, não quer dizer que queira algo. — Eu nunca tinha sido cortejada, nem imaginava como poderia ser.
— Rosely, não se faça de inocente. O que está acontecendo entre você e filho do duque?
— Nada! — Seu olhar acusatório estava me assustando e minha vontade de me defender de algo que eu não tinha feito começava a minar em meu peito.
— NÃO MINTA PARA MIM! — Ele bateu a mão com força na mesa me assustando. Levei minha mão ao coração e o encarei com raiva. — Ele não para de te procurar e de te mandar flores. Não faria isso se você não o tivesse dado esperanças.
— O que eu faço ou deixo de fazer, é problema meu. — Me levantei e lhe encarei do alto dos meus 1,65m. — Eu não dei esperanças para nada, se ele se sentiu à vontade em me presentear, isso é problema dele.
— Não é isso que ele pensa. — Me surpreendi com sua revelação.
— Falou com ele? — Ele interpretou errado a minha surpresa.
— Viu? Como pode dizer que não tem nada se ficou assustada por saber que fui atrás dele.
— E por que fez isso?
— Por que eu já disse que não quero você perto dele.
— Antônio, você não tem esse direito. — Me aproximei dele o encarando. As cicatrizes em seu rosto estavam tão claras que quase não se eram vistas. — Eu não fico indo atrás das mulheres com quem você anda. — Quando percebi já tinha falado.
— Você não teria por que — ele levantou a sobrancelha e deu mais um passo em minha direção.
— Do mesmo jeito que você também não tem. Como já disse e repito, eu não tenho nada com Arthur e mesmo se tivesse não seria da sua conta. — Ele bufou irado.
— Você é minha responsabilidade — estreitei meus olhos.
— EU SOU SUA FUNCIONÁRIA! — eu já podia sentir sua respiração em meu rosto — Não sua propriedade — ele sorriu perverso, de uma forma que eu nunca imaginei que poderia.
— Mas está sob meu teto e obedecerá às minhas regras. — Eu estava a ponto de mandá-lo para o inferno.
— Do portão para fora, eu faço o que quiser da MINHA VIDA! — Me virei para sair da sala, mas suas mãos me trouxeram de volta para perto dele.
— Você só sai daqui quando eu falar que pode — eu o encarava como um desafio. Eu faria o que eu quisesse da minha vida.
— Não sou sua mulher para me mandar o que fazer — o desafiei e senti suas mãos me trazerem para ainda mais perto. Eu o estava acusando demais e isso estava me desnorteando ainda mais.
— Não, não é — ele afundou sua boca na minha, me prendendo em um misto de emoções. Eu queria correr, mas ao mesmo tempo era tudo que eu quis durante as últimas noites. Uma de suas mãos me trouxe para mais perto dele e ambas se apoiaram em minhas costas. Sua língua dançava por meus lábios que permaneciam fechados, mas algo me fazia querer sentir mais e acabei o abrindo levemente. Antônio aprofundou nosso beijo sutilmente, me fazendo sentir algo que eu nunca tinha experimentado, um frio na barriga tão forte como se algo estivesse sendo arrancado de mim. Eu podia ficar ali flutuando em sensações se batidas na porta não me trouxessem à tona o que estava acontecendo de verdade. O empurrei para longe e seu olhar estava tão assustado quanto o meu.
Sai correndo do escritório e passei por Janice que estava na porta, sem esperar o que ela tinha para falar. Eu só precisava me esconder naquele momento e entender o que tinha acabado de acontecer.