Capítulo 15
2464palavras
2023-04-03 10:00
Rose
Fui atrás de Otávio que a essa hora já estava na cozinha tirando a paz das meninas e as divertindo sem parar. Depois que aprendeu a engatinhar o céu era o limite para aquele bebê. Tudo parecia muito curioso para ele.
— Já, já seu pai me manda embora por não cuidar direito de você — Peguei ele no colo que não ficou feliz com a atitude. — Não faça bico, meu amor, vamos para o jardim, assim você continua brincando e deixa as meninas trabalharem.

— Ele não nos atrapalha — ri com o comentário que nem elas mesmas acreditavam.
— Vou fingir que acredito — sorri para as duas.
— Rose, não fique brava com Janice, ela só... — interrompi Luana.
— Não se desculpe por ela, por favor, depois eu converso e nos entendemos.
— Ela só queria uma chance e como o senhor Antônio está sozinho, achou que talvez tivesse alguma chance. Ela disse que ele já lançou alguns olhares para ela. — Isso era novo para mim. Será que esse encanto que ele possuía era direcionado a todas?
Não que eu pudesse dizer que Janice era uma mulher feia, longe disso, seus olhos claros cor de mel e sua pele branca rosada levariam qualquer homem a loucura. Sua cintura de violão e o quadril avantajado chamavam a atenção.

— Então ela tinha que resolver isso com ele e não comigo. Eu não tenho culpa se ele faz questão da minha presença.
— Nós sabemos, não fique brava. A senhorita nos dá medo quando fica assim. — fiquei perplexa com o comentário.
— Medo? Eu? Não diga uma bobagem dessa, menina.
— Não é bobagem não. A senhorita fica brava, igual ao senhor Antônio quando contrariado. — Luana confirmou as palavras de Bianca e eu tive um acesso de riso.

— Vocês só podem estar brincando com uma coisa dessa, não é possível. — As duas se entreolharam e nada disseram. Sai com meu pequeno para o jardim e o deixei livre para explorar todo o terreno, contudo as informações ainda martelavam em minha cabeça.
— Quer saber, vamos dar uma volta. — Peguei o bebê no colo e voltei a cozinha, avisando a Bianca que iria até a casa da Emma com Otávio.
Sai com o bebê nos braços, minha irmã morava a poucas quadras de distância e seria bom para fazer um pouco de exercício só para variar.
— O senhor está bem gordinho, minhas costas já estão doendo com seu peso — reclamei com Otávio que olhava tudo com curiosidade. Eram poucas as vezes em que saiamos de casa para dar uma volta. Eu podia até mentir, mas eu ainda tinha medo de alguém tentar nos raptar e vender. Aquela situação que meu pai nos colocou me deixou traumatizada, mas isso era uma coisa que eu tinha que resolver comigo.
A praça em frente à casa de Emma estava fazia e os passarinhos se divertiam na fonte central, Otávio ficou encantado com os bichinhos e começou a apontar sem parar e o levei mais perto para que ele os visse tomar banho.
— Não é lindo? Olha como eles mergulham? — Seu olhar estava vidrado e cheio de emoção. Ele me olhava querendo dizer o que estava acontecendo e eu concordava com todos os sonhos que saiam de sua boca. — Agora vamos para a casa das titias, elas vão adorar te ver. — ele resmungou um pouco, porém quando chamei por minhas irmãs, Bria veio correndo ao encontro dele que já se jogou em sua direção querendo que ela o pegasse no colo.
— Cuidado pequena, ele tem a mania de se jogar para trás. Mantenha a mão nas costas dele — ela concordou.
— Pode deixar irmã, cuidarei bem dele — entramos na casa de Emma que continuava do jeito que eu lembrava. Sua barriga parecia ainda maior, isso porque não fazia nem 1 semana que eu a tinha visto.
— Você parece que vai explodir. — falei enquanto a abraçava.
— Ahh Rose, nem me fale, estou começando a inchar e minhas costas doem tanto. — Ela se sentou na poltrona e Dulce correu para colocar um apoio para seus pés. — Estar grávida é uma dádiva e um sacrifício ao mesmo tempo.
— Não posso imaginar o que está passando. — falei dando uma olhada em seu rosto cansado. — Tem se alimentado bem? Descansado?
— Claro, acha mesmo que Álvaro me deixa fazer qualquer coisa? O médico me deu um monte de restrições por causa da minha doença. Não sabemos como a mamãe ficava quando ficou grávida.
— Não acredito que não lembrou de mim nesse momento? — Falei indignada.
— Não entendi.
— Emma, eu posso não me lembrar de como foi a gravidez dela quando esperava você porque eu só tinha um ano, mas a das meninas eu me lembro muito bem. Ajudei mamãe a cuidar de vocês antes mesmo de terem nascido.
— Ahh Rose, acho que vou te roubar do Antônio então. Mamãe inchava desse jeito? — ela me mostrou seus pés de pãozinho e eu ri.
— Sim, na gravidez da Bria foi onde ela mais inchou, mas assim que nasciam tudo voltava ao normal, mas ela se mantinha sempre descansada. Ainda bem que naquela época ela tinha como pagar alguém para fazer os serviços da casa.
— Ainda bem mesmo, eu não sei o que faria se tivesse que fazer tudo isso.
— Eu e Bria ajudaríamos você, é claro. — Dulce falou indignada. Bria concordou. Ela estava sentada no chão com Otávio que mexia nos brinquedos que ela trouxe para ele.
— E eu não teria arranjado um trabalho. — falei séria — Irmã se precisar, sabe que pode contar comigo. Posso tentar ver com Antônio de revezar os cuidados ou vir ficar com vocês enquanto Álvaro trabalha. Até o bebê nascer se precisar. — Eu começava a ficar preocupada com Emma.
Mamãe sofreu muito na gestação de Bria, a doença já estava avançada e cobrava um alto preço pela insistência dela em manter a gravidez. Acho que ela só não morreu naquele dia porque eu rezei tanto para Deus me deixar ficar com ela por mais um tempo.
— Eu acho que vou precisar de você somente quando ele nascer, pois você está praticando todos os dias com Otávio e eu nem sei por onde começar.
— Será uma mãe incrível, tenho certeza. — Sorri para ela e estendi minha mão para que ela segurasse — Mas quero que me chame assim que perceber que está sentindo algo. Não é para me esconder nada, Emma, nada mesmo.
— Tudo bem, não vou. E nem que eu quisesse eu conseguiria, Álvaro fala tudo para Antônio, ele não te falou não?
— Irmã, ele é meu chefe, não meu marido.
— Mas vocês têm que resolver essa situação logo — Dulce falou e a olhei com um ponto de interrogação bem grande na testa — E não faça essa cara, você sabe o que eu quero dizer. — Olhei para Emma que sorria com a minha falta de informação.
— Dulce tem uma teoria muito interessante sobre você e Antônio e claro que eu gostaria muito que ela estivesse correta.
— Que teoria? — olhei para elas sem entender.
— Que Antônio é apaixonado por você — Não acreditei no que minha irmã acabara de falar. Quase cai da poltrona quando a informação terminou de sair dos seus lábios.
— Como assim apaixonado? Está doida?
— Não estou não — Dulce se irritou — Você é que é muito lerda, Rose. Ele te olha como se você fosse a pessoa mais bonita que ele já viu.
— Ele olha assim para o filho e não para mim.
— É para você, não se menospreze.
— Até eu já vi esse olhar, irmã — Emma concordou.
— Eu também — Bria que nem estava na conversa respondeu.
— Eu acho que vocês todas estão precisando ser examinadas pelo dr. Daniel. — ri me levantando do sofá. — Não há nada disso, não da parte dele. E cada dia que passa eu tenho mais certeza disso. — Olhei para as três que me encaravam.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês? — Emma questionou.
— Não, nós só brigamos o tempo todo, não tem como isso dar certo.
— Eu e Álvaro brigamos muito também e olha só — ela alisou a barriga.
— É diferente, vocês se amavam antes de tudo acontecer. Não era para ter acontecido como foi.
— Então por que tem tanta certeza assim?
— É complicado — soltei os ombros. — Eu não posso querer algo que não está disposto a entregar seu coração.
— Você nem tentou, como sabe que ele não quer.
— Ele me falou — as três me olhavam sem entender — Ele fez uma promessa a falecida esposa, ele não vai quebrar. Como posso me envolver com alguém pela metade?
— Nisso você tem razão. Eu já tentei arrancar algo de Álvaro e ele de Antônio, mas ele diz que o irmão sempre fala a mesma coisa.
— Viu? Então parem de criar ilusões. Minha vida já é complicada demais para isso. Fora que querer ser algo para Antônio implicaria em entrar em uma grande fila.
— Álvaro também tinha e olha só, aqui estou casada e enorme prestes a ter um filho dele. Você tem que parar de ser pessimista.
— É diferente — falei de novo pensando nos atributos físicos das outras que diziam ter os olhares dele.
— Então está bem Rose, não está mais aqui quem falou, mas quando estiver se casando com ele não diga que eu não avisei.
— Acho que eu não quero ser só mais uma opção, irmã — falei voltando a me sentar e pensando em como minha vida tinha tomado um rumo totalmente diferente do que eu queria.
Antônio
Eu estava irado com a audácia daquele infeliz dentro de minha casa, ele achava mesmo que eu tinha dado aquele tipo de liberdade para ele? Achar que podia vir aqui e ficar de conversinha com a Rose?
Tinha que tomar uma providência e seria agora mesmo!
Corri para o meu quarto e troquei de roupas, as marcas já nem estavam mais tão visíveis. Em menos de 5 minutos eu já estava pronto para resolver tudo o que precisava com aquele idiota.
— Rose? — chamei assim que desci as escadas. Ela tinha que estar em algum canto da casa — Rose? — Falei mais alto.
— Senhor? — Janice apareceu em meu campo de vista com aquele sorriso faceiro de sempre. Eu não sei o que ela achava que poderia acontecer, mas eu tinha que falar para Rose conversar com ela, não podia deixar essa menina pensando coisas erradas. Na verdade, eu tinha mesmo era que achar uma governanta para casa. Rose era tão boa em deixar tudo organizado e as coisas fluindo tão bem que eu me esquecia que ela estava ali somente para cuidar de Otávio. — Rose saiu com o pequeno. Disse que ia para a casa da irmã. Achei que o senhor soubesse.
— Eu não sabia — falei.
— Ela não deveria sair com o pequeno sem a sua autorização. Ela é uma mera empregada aqui, está agindo como se fosse dona da casa — encarei Janice demoradamente, tanto que seu sorriso se alargou. Eu não estava entendendo o porquê de ela falar de Rose daquela forma, já que ela tinha carta branca para ir com Otávio onde ela bem entendesse. Teria que conversar isso com ela também.
— Eu me resolvo com ela depois — falei para não dar margem de entendimentos errado a menina.
— Faz bem, senhor — ela falou.
— Obrigado, vou para a fábrica — sai sem olhá-la novamente, eu não estava gostando nada dos caminhos que aquela conversa estavam me levando.
Porém a fábrica não era o meu destino e sim o hotel Green Park, o mesmo em que estive hospedado na noite anterior com a mulher gato. Porque vamos concordar, só podia ser esse o nome da fulana que me desfigurou.
Sérgio me levou até o hotel em silêncio, eu até podia imaginar o que ele estava pensando. Ele ainda não tinha conseguido falar com a mulher com quem eu tinha saído e nem descoberto nada. Talvez fosse melhor assim.
— Não pretendo demorar, me espere aqui — falei saindo do carro e arrumando meu blazer.
Todos já me conheciam e não precisei dar muitos passos até que um dos funcionários viesse me abordar.
— Senhor Campos, que honra o senhor estar aqui novamente, posso te ajudar?
— Sim, quero falar com Arthur Vasconcelos, poderia anunciar minha presença? — falei para o gerente que tinha os olhos brilhando em minha direção.
— Claro, só um momento, se quiser aguardar no bar. — Ele me indicou o local e agradeci.
Me sentei na baqueta do balcão, eu até pensei em pedir algo forte para tomar, mas depois da ressaca de ontem, eu não queria sentir aquela sensação de novo tão cedo. Pedi apenas um copo de água e esperei que o futuro duque aparecesse.
— Estava me procurando? — ouvi alguns minutos depois que chegue até lá. — Eu imaginava mesmo que o veria tão logo.
— Deve imaginar o porquê de eu estar aqui — falei me virando para ele e o encarando.
— Fui até sua casa sem sua autorização? — ele debochou — Rose, não é sua propriedade. Estou apenas sendo gentil com ela. Não fiz nada para ofender nem a ela nem a você.
— Rose está sob minha proteção e eu não autorizo que a corteje. Ela não é para homens como você.
— Não é o que ela pensa.
— Então o que ela pensa? Sabe mesmo tanto sobre ela.
— Ela sempre fica feliz quando me vê, não seja implicante. Se ela não quiser mais que eu vá visitá-la em sua casa, ela que me diga.
— Pode deixar que a lembrarei de fazer tal comentário.
— Qual o seu problema, Antônio? Adora ficar no meu caminho. Primeiro foi Margareth e agora Rose. Você só pode estar obcecado por mim.
— Faz me rir. Eu? Obcecado por você? Acho que é o contrário, não acha? — me levantei ficando de frente com ele.
—Só te digo uma coisa, estou interessado em Rose e meus planos são pedi-la em casamento assim que as coisas se desenrolarem, com ou sem o seu consentimento. Então não tente atrapalhar, pois dessa vez eu passo por cima de você — ele se aproximou de mim e me encarou mantendo um sorriso debochado nos lábios me fazendo tremer de ódio.
— Isso é o que vamos ver.