Capítulo 93
553palavras
2023-02-02 07:00
Como a gente se despedir de um grande amor? Como saber que o Allan nunca poderá ser meu? Eu fechei meus olhos com força, enquanto entregava o celular de volta a Bentinho e sentia ele se sentar ao meu lado. Eu tentava afastar o desespero, a dor que eu sentia. Meu coração estava completamente destroçado e eu tentava arrumar forças para continuar.
— Desculpa ter feito você passar por isso.
Disse Bentinho, e mesmo com tão pouco tempo da presença dele na minha vida, sentia como se nos conhecêssemos a muito tempo.
— Eu precisava disso – abrir os olhos olhando para ele – eu só conseguiria seguir em paz depois que falasse com ele.
— Juro que não foi planejado – ele se defendia – mas acho que nunca presenciei uma conversa tão sincera em toda a minha vida.
— Verdade – sorri, enquanto enxugava as lágrimas – só peço que não faça mais isso.
— Isso o que?
— Quando estiver conversando com ele, não menciona mais o meu nome ou qualquer coisa relacionada a mim – disse – essa foi a última conversa que eu tive com o Allan. Foi um adeus.
— Pode deixar – concordou – e como o Allan disse, você merece ser feliz.
— Não foi exatamente isso que ele disse – sorri.
— O significado é o mesmo – ficou sério – e eu vou cuidar de você como ele me pediu.
Então eu me levantei, tentando inspirar um pouco de ânimo.
— Como vocês dizem lá em Pernambuco – peguei minha bolsa que estava sobre o sofá – deixe de leseira, e vamos comer alguma coisa. Estou com muita fome.
— Oxente! – ele se levantou também animado – seu pedido é uma ordem.
E saímos juntos para almoçar.
Durante o tempo em que Bentinho morou em São Paulo ele cumpriu a promessa que fez ao Allan. Cuidou de mim, me protegeu e foi o meu melhor amigo. Eu me casei também, porque nada nessa vida dura para sempre, nem mesmo um grande amor. Mas cada caso tem suas exceções. O amor que o Allan sentia pela Charlote durou para sempre e amores assim eram raros nos tempos de hoje. O meus sentimentos pelo Allan logo se dissiparam e eu dei uma nova chance ao amor. Conheci meu marido em Pernambuco, que ironia da vida. Fazia uma viagem de negócios e ele era um dos clientes das empresas Agenor. Foi amor ao quarto encontro e hoje eu tenho a família que sempre sonhei, um marido bom e dois filhos. Já o Bentinho arrumou uma namorada para cada estação do ano, ele soube aproveitar bem a vida enquanto viveu ali, até também se apaixonar. Foi o homem mais companheiro que já conheci na vida.
Mesmo que eu tenha sido apenas uma mera figurante na história do Allan, nós deixamos marcas um na vida do outro. Lembranças inesquecíveis, ensinamentos eternos. Porque as pessoas nunca entram em nossas vidas por acaso, cada uma delas tem um propósito a cumprir. O Allan cumpriu o seu na minha trajetória, ele me mostrou a beleza do amor e me preparou para caminhos mais duradouros. Porque só crescemos e aprendemos as coisas mais valiosas da vida quando estamos no fundo do poço. Eu passei pelo deserto para encontrar a minha felicidade.