Capítulo 89
1238palavras
2023-01-31 08:25
Chegou o grande dia. O dia que eu vou me casar com Charlote. E avalie só a aperreação que esses cabras a qual eu chamo de amigos resolveram aprontar comigo, visse.
Na noite anterior eles resolveram por si só fazer uma despedida de solteiro, digo por si só porque eu não queria nada daquilo, mas sabe como é, azuretaram tanto no pé do meu ouvido, que não teve jeito, aceitei como um bom agrado. Mas aí eles beberam a noite toda, se embriagaram mesmo, até Bentinho que não tinha costume de agir assim, estava bêbado. No outro dia, nada deles aparecerem. O casamento estava marcado para às quatro da tarde e já ia dar meio-dia, e ninguém aparecia para me ajudar.
Mainha estava na casa de dona Lúcia, painho estava na praia ajudando a Betânia na decoração, porque Bentinho estava de ressaca e provavelmente dormindo até aquelas horas, e eu, bem eu estava arretado porque Noronha inteira resolveu me abandonar logo no dia do meu casamento. Não que eu não fosse capaz de me vestir sozinho, faria isso sem nenhum problema, mas a questão era, onde enfiaram a minha roupa.
Liguei para os garotos, para todos eles, mas o celular chamava tanto que acabava caindo na caixa postal. Que diacho! Sai de casa apressado, e fui em direção a casa de Charlote.
— O que você faz aqui, Allan? – Mainha estava com a moléstia, me parou ainda no portão e não me deixava entrar de maneira nenhuma – dá azar ver a noiva antes do casamento.
— Eu não quero ver a Charlote, Mainha – eu estava mais arretado que ela – eu preciso de ajuda para me arrumar para o casamento.
— Até parece que a noiva é você – mainha estava agitada demais – o Bentinho ficou responsável pela sua roupa, onde está ele?
— A pois – cocei a cabeça, porque não queria confessar a ela que os meninos passaram a noite inteira enchendo a cara – ele está atrasado e não consigo encontrá-lo em lugar nenhum.
— Fodeu a tabaca de chola – pareceu pensar em uma solução, mas não encontrou nenhum – volte para casa, Allan. Eu vou dar um jeito nisso.
Eu a observei entrar de volta para dentro da casa e fechar a porta. Ele ia se esquecer, porque o foco dela era cuidar da Charlote, como se o casamento pudesse acontecer sem mim. Voltei pelo mesmo caminho que vim, tentando eu mesmo pensar em uma solução para aquele problema. O sol estava de lascar e antes de eu chegar em casa a catinga de suor já subia. Estava todo peguento e sem paciência nenhuma, quando avistei aqueles fi duma égua, tudo parado na porta da minha casa.
— Resolveram aparecer – eu estava arretado com eles.
— A gente dormiu mais do que devia – Bentinho estava com um bafo de lascar – e estou morrendo de dor de cabeça.
— Você está de ressaca, seu cabra – resmunguei – dor de cabeça tenho eu, que não tenho a mínima ideia onde está a minha roupa.
— Eita! – bateu a mão na testa – eu me esqueci completamente disso.
— Avalie só os amigos da onça que eu tenho – eu tive vontade de dar outro tapa nele – quer que eu me case pelado?
— Seria engraçado – Fábio se meteu. Ria feito uma hiena – imagina a cena do Allan chegando na praia com o bingulinho de fora.
— Diacho – eu estava virado no mói de coentro – é o dia do meu casamento, boy. Eu preciso da ajuda de vocês.
— Desculpa, Allan – Bentinho bocejava – a gente não fez por mal.
— Então se avexe – saí empurrando-o pelo meio da rua – e vá buscar minha roupa.
Então Bentinho saiu apressado pela rua, enquanto eu ficava com Mateus e Fábio, de ressaca no meio da minha sala. Quase uma hora depois ele voltou, já de banho tomado e arrumado para o casamento, como se o noivo fosse ele. Preferi não dizer nada sobre aquilo, me vestir depressa, avexado sem conseguir aproveitar como deveria, aquele momento.
— Você está bonitão, Allan – os meninos me olhavam admirados.
Eu estava mesmo. E foi naquela hora, quando me olhei no espelho que vi o brilho dos meus olhos voltarem. Observei Mainha adentrar avexada pela porta de casa. Estava linda, mas eu não tive a chance de dizer isso a ela. Dona Francisca estava mais nervosa do que eu.
— Você ainda me mata do coração, viu menino – mas apesar de toda apreensão, os olhos delas ofuscaram em direção a mim, quando me viu pronto para casar – você está lindo demais.
Os olhos dela inundaram.
— O que a senhora faz aqui? – perguntei, quebrando todo o clima.
— Oxente! – pronto, agora ela voltara a ficar avexada – não lembra que você foi lá na casa da Charlote me pedir ajuda? E além do mais, vou te acompanhar até o altar.
— Se acalme, Mainha – abracei ela – se continuar nesse ritmo, não vai conseguir me ver casando.
— Não fale um besteira dessas, Allan.
Mas ela continuou abraçada comigo, como se não estivéssemos atrasados para a cerimônia. Ninguém mais do que Mainha esperou por aquele momento. Ela era a mais animada, a mais disposta e a mais ansiosa. Preparou cada detalhe com tanto amor, que ainda que eu achasse tudo muito exagerado, seria perfeito.
— Que você seja muito feliz – me largou, olhando nos meus olhos e as lágrimas já desciam – e que você e Charlote me dê muitos netos, visse.
Lascou-se tudo. Mainha pensava naqueles netos desde quando eu ainda era adolescente. Ela sentia falta de ter crianças correndo pelo meio da casa, não podia ter outra explicação. Eu apenas sorri para ela e preferi não prolongar mais aquele assunto. Fomos caminhando até a praia, que ficava a poucos minutos da nossa casa. Eu que por tantas vezes percorri aquele mesmo caminho, correndo descalço, debaixo do sol quente, esbarrando com os turistas que iam e vinham sorridente da praia do Leão. Charlote amava aquele lugar, de todo lugar do mundo, aquele sempre seria o seu favorito. Porque passamos a nossa infância quase inteira ali, brincando naquela areia, banhando naquele mar.
Estava tudo tão lindamente decorado. O mar agitado, a brisa, o sol de lascar. Os convidados, a música, tudo como Mainha e dona Lúcia haviam planejado. Então eu caminhei pela praia ao lado de Mainha, que chorava o caminho inteiro sem parar. Me posicionei em frente ao altar improvisado, quando vi, lá de longe, ela. A mais bela de todos, com o seu vestido branco e sua coroa de flores na cabeça. Nossos olhos se encontraram e eu não pude evitar, lágrimas escorreram pelo meu rosto. Charlote era a coisa mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida. E a cada passo que ela dava em minha direção, meu coração faltava saltar pela boca, e quando mais ela se aproximava, mas eu chorava e quando percebi éramos os dois chorando no meio da braça. Seu Chico, apertou minha mão, me entregando a filha dele. A menina a qual por tantas vezes, ele brigou para que não se envolvesse com o filho do seu melhor amigo. Mas a vida tem dessas coisas, hoje ele estava lá, orgulhoso e feliz de ver Charlote casando comigo.