Capítulo 51
508palavras
2023-01-18 21:53
Eu havia ligado para Betânia no caminho, pedindo para que ela fosse até a delegacia. Ela estava nervosa, andava de um lado para o outro, com as mãos unidas, o rosto contraído. Quando eu contasse tudo para ela, seria um baque:
— Esses fuxiqueiros de Noronha andam dizendo por aí que Fernandinho foi preso – ela foi logo falando, assim que chegamos – avalie só a maldade desse povo de inventar uma mentira dessa.
Então eu olhei para Allan e Allan olhou para mim. Eu não sabia como responder aquilo a ela, de uma maneira que não fosse tão chocante. Eu conhecia tão bem o carinho que Betânia tinha por Fernandinho, algo conquistado ao longo de todos aqueles anos. Ela gostava mesmo dele e seria decepcionante para ela saber que ele era responsável por toda aquela sujeira.

— Sinto muito, minha amiga – ela foi logo chorando – mas é verdade sim. Por todo esse tempo Fernandinho sabia quem havia matado Jacob e não nos contou nada. Está também envolvido com o tráfico de drogas e com a partida de Allan para São Paulo.
Ela projetou o corpo para a poltrona que tinha logo atrás dela, e ficou com cara de abestalhada.
— Como o Fernandinho pôde fazer isso comigo, com a gente? – Eu me sentei ao lado dela e a envolvi em um abraço – Eu confiei meus segredos a ele. Como eu poderia ter pensado na possibilidade de você chamegar com ele?
— Se eu tivesse a ouvido naquele dia em que você tanto me pediu para não deixá-lo entrar para ONG, talvez as coisas não teriam terminado assim – desabafei – A culpa também é minha.
— Oxente! – Allan se aproximou e sentou-se do lado esquerdo de Betânia – Isso não é verdade, Charlote. Ninguém aqui tem uma bola de cristal para adivinhar o caráter das pessoas.
— Allan está certo – ela olhou para mim – e quando eu ver aquele fio duma égua, vou arrebentar as fuças dele, visse.

— Eu já fiz isso – Ele olhou para ela e os dois caíram na risada – Eu bati tanto na cara dele que o cabra deve tá procurando até agora onde perdeu a razão.
E os dois comemoraram, com apertos de mão, abraços. Como se fossem velhos e bons amigos. Como se aquilo tivesse sido bem mais do que uma vitória. Betânia tinha esse dom, de conquistar amizades com apenas um gesto. Era impossível não gostar dela. A tamborete de zona tinha um humor de fazer até a tristeza rir. Era companheira. Sempre a minha companheira. Arretada que só. Amava o café do seu Chico; era ótima para guardar segredos, quer dizer, nem sempre, mas era o ser humano mais confiável que eu conhecia. Por isso e por outras centenas de coisas que eu não enumerei, eu amava ela e era imensamente grata por ter a sua amizade.
Então entramos na delegacia, apesar da dor das revelações do dia, estávamos mais leves. Eu tinha meus amigos e isso era quase tudo.