Capítulo 45
587palavras
2023-01-18 21:51
Eu estava peguento. Só a inhaca. Enquanto corria pelas ruas do arquipélago parei na lojinha em que Bentinho trabalhava. Eu sabia que ele tinha um carro e então descaradamente pedi que ele me levasse até o colégio. Ele não pensou duas vezes, apanhou as chaves do carro e pediu para que o outro funcionário cuidasse de tudo. Bentinho era gerente de uma loja que vendia artesanato, lembrancinhas para turistas se lembrarem de Noronha. A maioria da população tirava sua renda do turismo e do artesanato.
No caminho pensei em contar a ele sobre o que Bernardo me falou, mas desisti. Eu precisava contar primeiro para a Charlote. A viagem foi rápida, menos de cinco minutos eu já estava na porta do colégio. Agradeci a Bentinho e corri lá pra dentro.
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A verdade difícil de engolir
Esperei até que Charlote terminasse a conversa com o conselheiro tutelar. Já haviam se passado dez minutos desde que eu cheguei e Bernardo não havia dado as caras.
Assim que ela terminou parecia mais avexada, nervosa e triste.
— O que aconteceu? – Se aproximou – Não encontrou Emília?
— Encontrei – respondi – mas aquela infeliz da costa oca não virá atrás da filha, visse. Encontrei também Bernardo, avisei ele, mas pelo jeito nenhum dos dois se importa com essa menina.
Então Charlote me contou que entregou o caso ao conselho tutelar de Fernando de Noronha, e pelo andar da carruagem tinha uma grande chance de Emília e Bernardo perderem a guarda de Morgana.

— Encontrei com Bernardo no bar – comecei a contar – estava na companhia de uns maloqueiros, comprando drogas.
— Fudeu a tabaca de chola de vez – falou com pesar.
— O pior eu não te contei – encostei meu corpo no dela e sussurrei – Bernardo sabe quem matou Jacob, e por algum motivo, Fernandinho também.
Charlote me lançou um olhar tão apavorante que eu senti medo do que ela estava pensando sobre aquilo.

— Não pode ser – força de expressão, porque no fundo ela sabia que podia sim – Eu vou já falar com aquele fi duma égua e ele vai ter que me contar tudinho, visse.
— Charlote, espere! – Segurei seu braço a impedindo de prosseguir – Se você for lá perguntar, ele vai negar. É melhor investigar e descobrir se isso é verdade.
— Você acha que ele está envolvido na morte de Jacob?
— Eu não sei – então ela começou a chorar. Então me aproximei devagar e a abracei – Eu prometo para você que vou descobrir.
— Não me faça promessas que você não pode cumprir.
— Oxente! – Olhei bem nos olhos dela – Dessa vez eu não vou falhar com você.
— Isso também é uma promessa?
— É um compromisso.
Por algum motivo ela acreditou em mim. Sorriu, fechou os olhos e me abraçou novamente.
Foi nesse instante que Bernardo adentrou a escola, cambaleando. Não soube onde procurar Morgana e quando avisaram a ele que o conselho tutelar havia levado-a, o homem virou um pantel. Veio na nossa direção, falando as coisas mais absurdas para Charlote, como se a culpa do que havia acontecido fosse dela. Eu tive vontade de socar as fuças dele, mas seria covardia. Saímos de lá o mais rápido possível antes da confusão aumentar. Charlote me pediu para levá-la até o posto de saúde. Queria saber notícias sobre a menina agredida, e mesmo diante das circunstâncias, eu me vi feliz de estar ao lado dela pelo resto do dia.