Capítulo 44
1080palavras
2023-01-18 21:51
1
A conversa com Emília
O sol estava de lascar!
Eu caminhava avexado em direção a casa de Emília e torcia para que Bernardo não estivesse lá. Então a sorte sorriu para mim, quando avistei Emília lá de longe, caminhando despreocupada, sorridente, na companhia de mais duas outras moças. Ela não devia saber que Morgana estava em apuros, eu preferi acreditar nisso.
Então fui me aproximando e quando ela me viu seu semblante mudou completamente.
— Oi – cumprimentei elas. Emília virou o rosto para mim com toda a sua soberba – Preciso falar com você, e é urgente.
— Oxente! – Olhou bem para mim – Já se arrependeu do fora que me deu, foi?
— Deixa de leseira, muié! – Falei, então observei as moças se despedirem dela e irem embora, e só então eu continuei – Vim falar sobre Morgana. Charlote me pediu…
— Já pode parar por aí – ficou mais arretada ainda – se a Charlote está no meio, eu não quero saber de nada.
— Mas vai saber – bati o pé – Morgana está na diretoria da escola porque agrediu uma colega e ela está hospitalizada. A diretora está feito uma louca atrás de tu.
— A pois – não havia nenhuma preocupação no rosto dela – se a menina foi parar no hospital foi porque mereceu. Morgana jamais agrediria alguém sem motivos.
— É o que? – Eu fiquei abismado com aquilo. Horrorizado seria a palavra certa – Você não mudou nadinha, ou melhor, mudou sim, para bem pior.
— Tu veio aqui pra me ofender foi cabra? – Apontou o dedo no meu rosto – onde é que eu estou com a cabeça pra ainda gostar de tu?
— Eu vim aqui para te avisar que a sua filha está com sérios problemas – segurei o dedo dela e o baixei – mas pelo jeito você não se importa. Agora eu entendo porque Morgana agiu assim.
E ela riu, não sei de quê, mas Emília agia feito uma louca.
— Chame a polícia então – cruzou os braços – Eu não me importo e não me espere ir lá para salvá-la.
Eu passei a mão no rosto e tentei pensar em uma solução, mas não consegui. Não existiam soluções para o caso de Emília. Era falta de caráter; lhe faltava afeto pela própria filha e contra isso eu não podia lhe dar.
— Onde está Bernardo?
Eu sabia que a minha atitude de procurá-lo seria loucura.
— Oxê! Está querendo apanhar de novo é Allan?
— Só me diz onde ele está – insistir – Se vocês dois não forem capazes de cuidar da própria filha, Charlote dará um jeito nisso.
— De jeito maneira – então ela me peitou – se Charlote se meter de novo entre eu e Morgana eu vou arrebentar aquela carinha linda que ela tem.
Foi então que eu me obriguei a sair dali. Enquanto caminhava para longe, Emília gritou algo como: Vai encontrá-lo em qualquer bar por aí.
2
Bernardo e as suspeitas sobre Fernandinho
Corajosamente peregrinei por Noronha atrás de Bernardo, e o encontrei no bar Duda Rei. Estava sentado em uma mesa com mais dois homens. Então parei e fiquei observando de longe, porque achei a atitude deles um pouco suspeita. O homem moreno entregou um embrulho para Bernardo e ele lhe entregou uma porção de dinheiro. Eu esperei até que eles fossem embora para ir até lá.
— Que embrulho é esse? – Eu cheguei por trás de um modo que ele nem percebeu minha presença. Bernardo caiu da cadeira, tentou segurar-se na mesa, mas ela caiu também, formando-se uma bagunça só – Tu está envolvido com drogas, Bernardo?
— Que diacho é isso? – levantou-se rapidamente e me peitou – Tá querendo levar outra coça é, cabra?
— Se quiser, é só tentar – me afastei – é bom que assim a polícia apareça e aí você vai ter que explicar a eles que diacho de embrulho é esse aí.
— Você não se meta a besta comigo, Allan – Ele pegou o embrulho que estava no chão e enfiou no meio das calças. Estava com um bafo horrível de cachaça e aparentemente embriagado – Se você não quiser terminar com Jacob, fique de bico fechado.
— O que você sabe sobre a morte de Jacob? – Segurei no braço dele para que não fugisse da conversa – Você não está envolvido nisso, não é?
— Oxente! – Sacudiu o braço, mas eu não o larguei – Eu posso ser um bêbado chifrudo, mas assassino jamais. Eu só sei quem matou ele, aliás, Fernandinho também sabe.
Meus neurônios deram um nó.
— Se vocês sabem, por que não contaram à polícia?
— Eu não vou me meter nessa confusão, não sou cagueta, visse – apanhou um copo que estava sobre a outra mesa, o encheu de cerveja e a tomou em um gole só – O que diacho tu queres comigo, Allan?
No meio de toda aquela confusão eu tinha até esquecido o que tinha que fazer. Na verdade, eu queria mesmo ir a fundo sobre o que Bernardo realmente sabia sobre a morte de Jacob, e tentar entender o que Fernandinho tinha a ver com aquilo.
— A pois! – Me concentrei no que importava – Morgana agrediu outra aluna do colégio e a menina foi parar no hospital. A escola precisa falar com você. Conversei com Emília, mas ela…
—Tu foi atrás da minha muié de novo, Allan? – Ele me agarrou pela camisa, fechou os punhos novamente já pronto pra me bater – Será que a última coça que eu te dei não lhe ensinou nada.
— Que coça? – Encarei ele sem recuar – você mais apanhou do que bateu. Na verdade, é você quem tem que aprender a não bater em mulher.
— Não se meta na minha vida.
— Se eu te der um empurrou você cai, de tão bêbado que está – obriguei ele a me soltar – não é capaz de sustentar nem as próprias pernas.
Ele se calou. Estava arretado, mas não ousou materializar sua fúria.
— Você vai ou não ajudar sua filha?
Então ele recuou. Limpou a boca, ajeitou o cabelo e começou a caminhar, meio cambaleando pela rua, talvez em direção ao colégio, eu não sabia. Portanto, eu tinha certeza que no estado em que Bernardo se encontrava ele só pioraria as coisas para o lado da própria filha.