Capítulo 32
678palavras
2023-01-18 21:46
Quando eu chegava em casa, os problemas pareciam se multiplicar. Lembro quando Jacob começou a se perder. Lembro daquele dia em que seu Zé me chamou na vendinha para relatar que meu filho andava roubando. Talvez eu tenha errado em deixar a fúria tomar conta de mim. Eu poderia ter me acalmado e conversado com ele, como pai, mas era frustrante demais ver meu filho, a quem eu tanto amava se perdendo daquela forma. No outro dia coloquei Jacob para trabalhar na agência. Era uma maneira que eu via para endireitar aquele cabra. Essa foi a única época em que ficamos mais próximos.
— Como você está hoje, Jacob? – eu sentei ao lado dele na cozinha, enquanto ele comia um bolo de macaxeira – Joaquim me disse que você está com dificuldades com os turistas.
— Que diacho, painho – ele olhou para mim avexado – Joaquim é que não tem paciência, visse.

— Avoado que nem tu, nem eu teria.
Ele jogou o resto do bolo que comia na mesa e se levantou. Estava com a moléstia.
— Então por que me levou para lá?
— Avalie só – eu quis dá uma bela chapuletada nele – ande na linha, que muito em breve não precisará mais ir.
Ele me olhou pela última vez e saiu.
Eu amava meu filho. Meu coração doía ver o potencial que ele tinha sendo desperdiçado daquela forma. Jacob era um rapaz inteligente, quando se esforçava conseguia ser o melhor da turma. Dos três filhos, ele era o mais sabido e tinha um futuro incrível pela frente. Eu acreditava nisso, mas ele, talvez não. Por mais problemas que Jacob pudesse me arrumar, eu não desistiria dele assim, tão facilmente. Eu lutaria pelo meu filho até o último dia.

—Precisa ter paciência com ele, hômi – Lúcia entrou logo em seguida, avexada – acochando ele dessa forma, não vai ajudar.
— O que queres que eu faça então, mulher?
Eu perguntei, mas sabia a resposta.
— Seja o pai dele – ela me olhou – e não o patrão. É disso que ele precisa.

Ela estava certa, mas eu precisava aprender como agir assim, sem ser rude ou grosseiro.
No caminho indo a agência naquele dia, eu observava Jacob e Bentinho conversando tão amigavelmente. Os dois se davam bem, era diferente de Jacob com Charlote. O carro chacoalhava e os dois davam risada entre uma conversa e outra. De algum modo eu fiquei feliz. Aquela cena encheu meu coração de paz.
— Bentinho – eu esperei Jacob se afastar assim que chegamos – aconselhe o seu irmão. Vocês se dão muito bem, tenho certeza que você escutará.
—Tá certo, painho – ele bateu levemente em minhas costas, sorrindo. Entrou novamente no carro e partiu.
Naquele dia eu pedi para trocar de turno com Joaquim para poder ir acompanhar Jacob com os turistas. Ele estranhou, fez cara de azuretado.
— Porque veio, painho? – ele me perguntou – quer garantir que eu não vou fazer nada de errado.
— Tenho certeza que não o fará – sorri para ele – Já pensou que faculdade você quer fazer daqui a alguns anos?
Jacob me encarou por longos segundos, pensativos. Eu fiquei sem jeito, não era de costume meu ser tão sentimental, mas Jacob precisava disso.
— Ah – ele pensou – engenharia civil, talvez.
— Oxente! - a resposta dele foi satisfatória – você é o cabra mais inteligente que eu conheço, tenho certeza que vai conseguir.
Eu vi um brilho diferente nos olhos de Jacob naquele momento. A expressão dele mudou e eu me senti bem em ter aquela conversa.
— A pois – ainda sorrindo ele continuou – e quem vai pagar essa fortuna?
— Acha que estou debaixo desse sol quente, cuidando desse tanto de gente esquisita por quê?
Nos entre olhamos e rimos juntos. Em toda a minha vida eu nunca havia tido um momento assim com nenhum dos meus filhos. Eu não podia mudar a história da vida de Jacob, mas eu poderia mostrar a ele os melhores caminhos.