Capítulo 65
854palavras
2023-04-10 03:48
James não dava advertências. Muito menos suspensões. Cristina achava que era por que elas significavam uma admissão que perdera o controle sobre uma turma de selvagens em formação, e isso seria o fim da picada para o homem. Ele, no máximo, quando a situação já estava se desagregando, convidava uma ou duas pessoas para irem passear pelos lindos jardins do colégio. Se eles encontrassem uma das irmãs, bem, problema.
Naquele dia, ele deu três suspensões em sequência. Uma delas foi para Gregori. Quando deu o intervalo, Cristina foi tirar satisfações. Afinal, podia não gostar do garoto, mas ele sempre fora comportado e bom aluno.
- Ele mereceu – disse ele, conciso, ainda sem dar confiança.
- Mas por quê? – insistiu ela – Sabe, eu ouvi dizer que Isabella estava no meio e quase também foi suspensa. Você precisa e vai me dizer o que minha filha fez.
James hesitou. Então enfiou a mão no bolso e pegou um papel.
- Por isso.
Cristina olhou o papel.
- Mas isso é uma advertência. Do tipo que as irmãs usam.
- Sim. Isabella me entregou.
- O que está escrito?
James endireitou os óculos, pigarreou e aproximou o papel.
- James Edward Colbert. Advertência gravíssima: suspensão. Motivo: excesso de viadagem.
Cristina mordeu o lábio inferior para não rir.
- Mas como Isabella estava no meio disso? Ela não parece esse tipo de garota.
- E não é. Os garotos a enganaram. Pediram para ela entregar isso para mim. Quando ela viu o que era, ficou mais roxa que a sua blusa. Não sabia de nada, evidentemente. Por isso que não foi suspensa. Para mim, foi tudo obra do seu sobrinho.
Cristina se lembrou de Gregori quebrando o lápis e assentiu. O garoto tinha mesmo cara de vingativo.
James dobrou o papel e enfiou novamente no bolso.
- Não posso dizer que eu não avisei – disse ela – Você tem um jeitinho, sabe.
- Ah, eu sei.
Cristina ergueu as sobrancelhas.
- Ah, eu sei? Como assim? Descobriu seu verdadeiro eu agora, é?
- Se eu dissesse que sim, você não ficaria surpresa, ficaria?
Cristina se virou lentamente para ele, só para encontrar uma ausência total de humor. Ele não estava de brincadeira.
- Meu Deus! – exclamou ela assim que a mensagem bateu no cérebro – Eu sabia! Eu sempre soube!
- Não use o nome dele em vão – alertou ele, sério.
Cristina colocou as mãos no rosto, espantada, ainda processando a informação.
- Então você é gay! Eu sabia.
- Não. Bissexual.
Cristina o olhou com humor, pensando que ele estivesse brincando. Não estava. Então ela desmanchou o sorriso.
- Bem – começou depois de pigarrear – Tenho uma opinião bem forte sobre bissexuais.
- E qual é?
- Tudo gay.
James a olhou, ofendido.
- Então sou gay sem saber há anos?
- Não, claro que não. Você sabe. Sempre soube, provavelmente a vida toda. Mas é bem mais fácil para você fingir que é hétero, entenda.
- E no que você se baseia para ter essa opinião?
Cristina o encarou.
- Você já transou com um homem?
Ele não respondeu nada a princípio, desconcertado pela pergunta.
- Sim ou não?
- Sim – assumiu ele, desviando o olhar do dela como se estivesse confessando algo vergonhoso.
- Foi igual a transar, por exemplo, comigo? Uma mulher?
- Claro que não. São duas coisas muito diferentes.
- Exatamente! São duas coisas muito diferentes. Como se pode gostar dos dois ao mesmo tempo? Você tem que convir que não é como gostar de chocolate e baunilha.
- Pois eu creio que é uma metáfora plenamente aceitável.
- Eu acho que não. Acho que bissexualidade é a homossexualidade ainda com um pezinho no armário. Quando você pensa em transar com alguém do mesmo sexo que você, e aceita a ideia, não tem realmente volta.
- Você interpreta pessoas como se fossem computadores, Cristina. Não é assim. Não necessariamente se sente atração por só um sexo. Se você é assim, não interprete os outros pela sua perspectiva.
Cristina sacudiu a cabeça, exasperada.
- Não, isso não é honesto.
- Se eu falasse que você é uma linda mulher, tenho certeza que acharia honesto.
Cristina sorriu, lisonjeada.
- Então posso achar que estamos bem novamente?
James hesitou.
- Pode. Já faz muito tempo. Mas não vou ser seu amante de novo.
- Nem eu quero. Você é evidentemente gay.
- Outras mulheres bonitas não pensam como você.
- Como, por exemplo?
- Isabella, a mais entusiasmada das fãs do meu fã-clube não oficial nesse colégio – respondeu ele com um sorrisinho.
Subitamente, pareceu que uma bola de cimento caíra no estômago dela.
- O que... você está... você está interessado nela, James?
Ele hesitou novamente.
- Não se atreva – ameaçou Cristina – Ela é sua aluna. E minha filha. Se fizer isso, te cubro de processos até você perder sua vida.
James riu, um riso que podia ser tanto zombeteiro como nervoso.
- Para com isso, Cristina.
Mas ela não podia. Não quando estava vendo a roda da fortuna girar daquela maneira tão perversa.