Capítulo 52
1113palavras
2023-03-10 03:01
Algumas semanas depois, Cristina descobriu que não-mais-tão-pirralho Yuri Alexei estudava no colégio das Irmãs Beneditinas. Inclusive, era aluno de Bruno, o ex-monitor. Depois de se sentir uma velha trintona – afinal, ela vira aquele garoto nascer, e agora ele já era um projeto de pegador -, ela se perguntou por que, entre todos os colégios do Rio de Janeiro, seu sobrinho estava justamente naquele em que ela trabalhava.
Naquele final de semana, ela questionou Miguel sobre aquilo.
- Por que você colocou Yuri no Colégio das Irmãs Beneditinas?
Miguel olhou para ela com ar distraído.
- O quê?
- Por que você colocou seu filho no colégio que trabalho? – repetiu ela pacientemente.
- Você trabalha lá? – perguntou ele, agora mais atento, evidentemente surpreso – Não sabia. Só o coloquei lá porque é um bom colégio. Mesmo que eu tenha sido expulso, eu...
- Espera. Você já estudou lá?
- Já. Por quê?
- Eu também! – exclamou ela, sentando-se na cama - E nunca vi você.
Miguel se sentou também.
- Quando você começou a estudar lá?
- Segundo ano do Ensino Médio.
- Foi justamente quando fui expulso.
Cristina arregalou os olhos.
- Como?
Miguel deu um sorriso sorrateiro.
- Fui “convidado a me retirar” depois que me pegaram com uma garota num dos vestiários. As freiras são muito sensíveis.
Cristina não disse nada, pensando naquilo. Eles poderiam ter se conhecido antes. Eles poderiam ter ficado juntos muito antes. E, quem sabia, Maurício poderia ser, ao invés de seu marido, seu cunhado gay. E Olga poderia simplesmente nunca ter estado ali.
- O que aconteceu?
Cristina saiu do transe.
- Nada – respondeu – Só me distraí.
- Enfim, mesmo sendo expulso, sabia que era um bom colégio. Foi por isso que coloquei Yuri lá. Mas por que perguntou isso? Tem algum problema?
Cristina sorriu para ele enquanto pensava no que dizer. Como aluno daquele colégio, Yuri se convertia imediatamente numa possível testemunha dos seus flertes e armações. Então sim, tinha um problema. Mas ela não podia falar isso para Miguel. Não existia nada pior do que um amante ciumento, afinal.
- Nenhum – respondeu ela – Só fiquei curiosa. Agora, porque não aproveitamos esse resto de tempo que as crianças estão longe com a sua mãe e Alice está dormindo?
Miguel, sonsamente, fingiu pensar por alguns segundos. Então, sem aviso, derrubou Cristina na cama.
- Maurício deveria trabalhar mais nos finais de semana – sussurrou ele bem perto de ouvido dela enquanto jogava o lençol para longe, e, naquele instante, ela bem poderia ter morrido feliz.
-
Naqueles meses, Bruno, o ex-monitor, se aproximou muito de Cristina, com o pleno consentimento e alegre incentivo dela. Andavam juntos de cima para baixo, descobrindo a cada dia semelhanças maiores do que Bruno dar aula para o sobrinho peste de Cristina. Não que Bruno quisesse ser apenas amigo de Cristina. Ah, não. Ele até ficaria muito feliz de conversar com ela, mas apenas entre uma transa e outra. Sabendo disso, Cristina começou a usar o pobre homem.
E não poderia ter sido melhor.
Com a ascensão (de novo) de Tânia, Cristina foi deslocada como frequente companhia de James. O que não significava que agora ela ficaria sozinha os intervalos. Claro que não. Subitamente, Bruno era ótima companhia para o almoço. Tinham excelentes conversas. E era muito engraçado. Enfim, Cristina grudou nele por semanas e semanas a fio, abandonando James com Tânia sem luta nem contestação. Foi isso que despertou o alarme do homem.
Depois de um tempo, ficou óbvio que ele não estava gostando de ser deixado de lado. Não era bem ciúmes. Não. Ciúmes fora quando ele a pegou beijando Bruno. Agora era outra coisa. Era a Síndrome do Caçula Mimado, jamais rejeitado ou privado de algo na infância. Mas, até certo ponto, ele foi capaz de disfarçar.
Até o dia que ele e Bruno discordaram numa reunião do departamento. Para tomar uma decisão, foi necessária uma votação. Cristina acabou sendo o voto de Minerva, e decidiu por Bruno, com a consciência limpa. Apesar de não estar sendo imparcial, aquela era mesmo a melhor decisão.
Foi a gota d’água para James. Ter sua opinião preterida era mesmo o fim para aquele ego. Depois da reunião, Cristina começou a contar os dias para sua reação.
Demorou dois.
- Nunca soube que você era amiga de Bruno – começou sondando.
Cristina quase riu.
- Realmente, não era – respondeu.
- Vocês se aproximaram muito rápido.
- Ah, sim – concordou Cristina, com ar sonhador – É incrível o que um tratamento de pele faz, não?
James a olhou com descrença.
- Não me diga que você está pensando em...
- Talvez. Agora, pelo menos, dá para dar uns belos amassos.
- Fale a verdade, Cristina. O que você está pensando para ficar por aí com Bruno?
Era a hora do golpe fatal. Cristina o encarou bem.
- Nada – disse, e então – Por que, James? Não me diga que está com ciúmes.
James começou a rir.
- Ciúmes? Faça-me o favor. Não tenho mais idade para isso.
- Então qual é o problema de conversar com ele?
- Nenhum. Eu só sei que você não faz nada sem objetivo.
- E daí?
- E isso me preocupa – explicou ele gravemente – Escuta. Não sei o que você quer com isso, mas eu quero ter uma família e vou casar com Tânia. E não há nada que você possa fazer.
- Acho que você disse isso da última vez – zombou ela, e o puxou pela camisa.
- James! – chamou alguém perto, antes que ela tivesse tempo de beijá-lo.
Insatisfeita, ela o soltou. Então, Tânia apareceu. Quando viu os dois juntos naquela proximidade, a aparência de diva temporariamente desabou para dar lugar, mesmo que por poucos segundos, àquela garota insegura na qual Cristina pisara em cima.
- Cristina – cumprimentou ela com evidente nojo – O que pensa que está fazendo?
- Nada. Estávamos apenas conversando.
Tânia examinou ambos com atenção. Pegou James pelo braço e puxou-o para seu lado.
- Sei o que quer fazer – sussurrou ela – Mas não vai acontecer de novo. Essa sua mania de seduzir professores já foi longe demais.
- Você fala como se eu já tivesse seduzido todo o corpo docente – comentou Cristina.
Tânia apertou os olhos.
- Eu me lembro do que aconteceu àquele pobre professor de química. Você destruiu a vida daquele homem. Não vou permitir que faça a mesma coisa com James.
Enquanto isso, James olhava de uma para outra, obviamente nada entendendo. E, depois de um último olhar feio para Cristina, Tânia foi embora o arrastando pelo braço.