Capítulo 49
755palavras
2023-03-03 04:14
Já era tarde da noite quando Maurício estacionou na frente do prédio de James. Ele e Cristina desceram do carro e entraram no prédio. O porteiro, um imigrante paraguaio provavelmente ilegal chamado Ramirez, sorriu para Cristina e mandou um simpático Hola, cumprimentando educadamente Maurício com um aceno de cabeça.
Os dois subiram no elevador em silêncio. Quando chegaram ao andar, Cristina tocou a campainha do apartamento de James. Maurício, encostado na parede, apenas observava.
Passaram-se talvez 20 segundos antes que Cristina ouvisse os passos se aproximando. Um instante depois, a porta se abriu.
E uma gata se esgueirou furtivamente para o corredor. James, que estava abrindo a porta com uma cuidadosa lentidão, escancarou-a para tentar segurá-la, mas Anne escapuliu de suas mãos e acelerou em direção às escadas.
Maurício abaixou-se rápido e a pegou. Colocou-a nos seus ombros, onde a gata ficou quieta. Cristina fitou os olhos de safira com ressentimento. Se tivesse sido ela que tivesse parado Anne, provavelmente teria levado uma rosnada e várias arranhadas. Mas não. Como tinha sido Maurício, Anne era só amor. Até ronronava.
James também pareceu impressionado.
- Se você quiser ficar com Anne no colo, pode ficar, mas é melhor discutirmos lá dentro.
Cristina hesitou um segundo diante de tal situação irreal. Depois, se recuperou e entrou. Maurício a seguiu.
James fechou a porta e voltou-se para ambos, em pé no meio da sala. A princípio, ninguém disse nada. As circunstâncias eram mesmo esquisitas demais. Da última vez que os três haviam se encontrado em conjunto, tudo era muito diferente. Maurício e ela estavam quase em lua de mel, para começar.
Maurício colocou Anne no chão como se fosse um bebê. Cristina viu com o canto do olho a gata pular no sofá e se ajeitar nas almofadas.
James pigarreou.
- Alguém me explicaria o motivo disso? – perguntou como se não soubesse de nada.
- Eu também gostaria – disse Maurício em voz baixa.
- Como?
Maurício ergueu os olhos e encarou James. Ele sustentou o olhar por trás dos óculos.
- De saber por que vocês fazem questão de serem flagrados com um intervalo tão regular. De três em três anos, aproximadamente, vocês escorregam. Fico pensando se é de propósito.
- Eu gostaria de entender algo menos abstrato. Só a explicação do por que vocês estarem no meu apartamento me deixaria satisfeito.
- Você nos passou gonorreia! – exclamou Maurício.
James ficou calado por um tempinho, com ar culpado, bem de acordo com o que haviam combinado.
- Ah, sim. Bem, me desculpo.
Maurício parecia que tinha engolido uma laranja inteira de uma vez, tamanho o vermelho que subitamente tomou o seu rosto.
- Me desculpo? Me desculpo? É a única coisa que tem a dizer?
James o olhou com pouca simpatia.
- Creio que sim.
Maurício se virou para Cristina.
- E agora? Você vai continuar com ele?
Cristina deu uma olhada em James. Então, virou-se para seu marido.
- Desculpa, Maurício, mas é... meio que uma força da natureza. Não posso prometer que não vou vê-lo de novo. Sempre acabo voltando.
- Mesmo depois que ele te passou gonorreia? – insistiu Maurício – Isso quer dizer que ele dorme com outras, você sabe.
- Claro que sei, não somos casados.
- Então qual é o sentido disso? Não acredito que haja uma força da natureza que você não possa controlar, se quiser.
Cristina encarou bem seu marido.
- Talvez a psicologia explique. Veja, meu pai sempre foi muito ausente. É natural que eu procure a figura dele em outros homens mais velhos.
- Cristina, por favor. Estou tentando resolver isso.
Visto que fora excluído da discussão, James sentou no sofá e começou a acariciar sua gata.
- Maurício, por que você acha? Procuro um homem para aquecer a cama, já que você nunca faz isso.
Maurício corou.
- Isso não é verdade – disse baixinho – Cumpro meus deveres conjugais.
James deu uma risadinha. Maurício o olhou com irritação.
- Quer saber? – disse ele num rompante de raiva – Não me importo. Faça o que quiser, Cristina, na hora que desejar. Só não me conte.
Cristina ficou sem palavras por algum tempo.
- Então são essas suas condições?
- Não só. Eu o quero longe de mim. E longe de Isabella. Ela não precisa saber de nada disso.
- Maurício, ela é um bebê.
- Em breve, não mais. Não quero que ela se prejudique com isso.
Ninguém disse nada.
- Agora, vamos.
Cristina foi. E começou a pior fase do casamento deles.