Capítulo 47
739palavras
2023-02-27 04:33
Poucos dias depois, Miguel tocou a campainha do apartamento dela. Depois de certa hesitação, Cristina abriu. Não é como se ela não soubesse que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde.
- Achei uma Barbie na minha casa – anunciou ele de cara, fornecendo logo a desculpa para estar ali ao sacudir uma boneca loira pelos cabelos, apenas com um bebê ferrado no sono no apartamento além deles – Não é dos meus filhos, garanto.
Cristina pegou a Barbie. Muitos anos de manejo por um bebê ativo como Isabella já a haviam feito perder um braço e metade dos cabelos, mas não o sorriso sonso.
- Você está bem? – perguntou ela, sem ousar erguer o olhar da boneca – Sobre o fato de agora ser desempregado.
Pelo canto do olho, ela viu Miguel assentir brevemente.
- Estou, claro. Não tem jeito, tem?
- Mas já sabe o que vai fazer?
- Não faço ideia. Por enquanto, Olga vai segurar as pontas.
Cristina ergueu a cabeça e o encarou. Ela sabia tão bem quanto ele que um salário de enfermeira não seguraria uma família de cinco membros por muito tempo depois que o marido herdeiro de uma fortuna fora privado dela.
- Mamãe também vai dar uma ajuda - acrescentou ele antes que Cristina dissesse qualquer coisa.
- Ah, sim.
- Até eu arranjar um emprego, claro – observou ele com uma nota de insegurança perfeitamente compreensível na voz.
- Entendo.
Ninguém falou nada por um tempo.
- Você sabe que não tem nenhum bom motivo para ficarmos assim, não sabe? – perguntou ele mansamente – Eu estou cansado de ficar brigado com você.
Cristina suspirou.
- Ah, Miguel. Você sabe tão bem quanto eu que isso é uma aberração.
- E você sabe tão bem quanto eu que está pouco se ferrando para isso.
Cristina não respondeu nada. Miguel se aproximou dela e a segurou pelos ombros.
- Eu detestava ter que transar com Bárbara, sabe.
Cristina franziu a testa. Se aquilo era uma tentativa de reconciliação, Miguel estava fazendo errado.
- Por que está me dizendo isso?
- Porque eu sempre pensava em você. Como acha que eu consegui fazer aquilo? Pensava em você, mas estava com ela. Estou feliz que tenha dado certo e Bárbara tenha ido embora, porque ficaria muito irritado se todo o esforço tivesse sido à toa.
- Pensava em mim, é? – indagou ela, o orgulho batendo forte, junto com uma sensação de medo pelo que aquilo poderia significar.
Miguel sorriu.
- Precisava de estímulo.
Bem, poderia ter sido pior. Ele poderia ter dito, sei lá, que a amava. E isso faria soar as trombetas do apocalipse. Mesmo assim, Cristina sentiu-se subitamente tomada pela decepção. Forçou-se a controlar esse súbito romantismo. Melhor que as coisas entre ela e Miguel continuassem no território da simples paixão física.
Ele se aproximou mais, fazendo Cristina estremecer. Estava tão perto que ela poderia sentir a respiração dele.
- Eu não te vejo como uma puta.
- Eu sei disso – assumiu ela.
- Então estamos bem agora? – animou-se ele.
- Claro que não – retrucou ela, decidida a manter a pose.
- Cristina, nós brigamos por nada e continuamos brigados por nada. Você sabe disso. Não se faça de difícil.
- Então peça desculpas.
Miguel fez uma careta de impaciência, mas assentiu.
- Me desculpa, Cristina. Eu fui um babaca, você não transou com todos os seus professores na faculdade para se formar. E seus peitos são maravilhosos.
Cristina sorriu, contrariada. Ele sorriu de volta.
- Está bom?
- Está – admitiu ela.
- Podemos ir para a cama agora?
Cristina rolou os olhos.
- Deus, Miguel. Dá para mudar o disco não?
- Não se faça de santa – disse ele, envolvendo-a com os braços – Sei que você quer muito isso também. E entenda o meu lado: estive numa situação muito difícil por muito tempo, e mereço um prêmio pelo meu bom desempenho. Não mereço?
Cristina franziu a testa. Ser amante de uma linda mulher como Bárbara não estava propriamente no seu grupo de situações muito difíceis.
- Certo – cedeu ela, beijando-o de leve – Você foi um bom rapaz. E eu também quero ficar com você de novo.
E assim foi. Os dois ficaram juntos pelo resto da tarde, fazendo o diabo na suíte principal enquanto, no quarto ao lado, Isabella dormia com os anjos.
Uma semana depois, começaram os sintomas.