Capítulo 43
1496palavras
2023-02-17 04:51
Foram necessárias quatro visitas com a preciosa distração gerada por Yuri, mas a natureza libidinosa de Bárbara e a vocação amorosa de Miguel provaram, em meados de janeiro, ter um encaixe perfeito.
- Conseguiu? – perguntou Teresa assim que Miguel bateu a porta da cobertura. É claro que todos sabiam onde ele fora numa noite em pleno meio de semana.
Cristina desviou o olhar de Isabella, que ensaiava uma espécie de luta livre infantil com Gregori no chão. A mãe do garoto não estava lá. Desde o início da campanha contra Bárbara, a parte comunista da aliança se afastara dos outros aliados.
- Consegui – respondeu ele, um tanto desanimado, antes de se atirar no sofá ao lado de Cristina – Onde está Olga?
Teresa o ignorou.
- Como foi? – indagou, impiedosa.
Miguel a olhou com incredulidade.
- Mãe, não vou contar esses detalhes para você.
- Isso é guerra, Miguel – argumentou - Temos que saber de tudo.
Ele sacudiu a cabeça.
- Desculpe, mas não. Falar sobre a minha vida sexual para a minha mãe me deixaria perturbado.
Teresa estalou a língua de irritação.
- Então conte para a sua cunhada – disse, mandona, e saiu. Ambos ouviram ao longe a porta da suíte batendo.
Um silêncio sepulcral se instalou entre eles, quebrado apenas pelos risos das crianças. Cristina foi reunindo coragem para cumprir seu dever. Afinal, ela era a principal general de Teresa. Tinha que se manter controlada.
- Você foi bem? – perguntou por fim, a voz quase quebrando no final da frase.
- Você quem sabe – sugeriu ele, cheio de malicia – Normalmente sou bom com você?
- Não interessa como foi comigo – retrucou ela com voz gélida, sentindo um curioso incômodo - Você pode ser deserdado por essa mulher. Preciso saber de tudo. Diga.
- Melhor tapar os ouvidos da sua filha, então.
- Não tanto assim – respondeu Cristina entredentes.
Miguel suspirou de cansaço.
- Quer saber do quê? Se ela é melhor de cama do que você?
Uma quentura de ódio começou a subir pela garganta dela.
- Conte tudo – disse com dificuldade, ignorando-o.
Miguel hesitou, e então começou.
- Ela marcou esse encontro na última vez que Yuri esteve lá comigo, como sabe.
- Sei.
- Então, aconteceu. Ela foi igual a quando era minha amante, anos atrás – fez uma pausa pensativa e prosseguiu – Pensando bem, houve algumas melhorias.
- Sabe – disse Cristina rapidamente, já rubra de raiva – Decidi que não quero saber de detalhes desnecessários.
- Então quer saber do quê?
Ela engoliu em seco.
- Ela sentiu prazer? Isso é de máxima importância.
Miguel a encarou como se ela o tivesse ofendido pessoalmente.
- Você ainda pergunta? – indagou, do alto do seu nariz empinado.
- Claro. Do que adianta ter conseguido levar Bárbara para a cama se você é uma merda de amante?
- Bem, você acha que sou uma merda de amante?
- Você desviou da pergunta.
- Porra, Cristina, é claro que eu fui bem – e após uma pausa – Duas vezes bem.
Cristina se recostou no sofá e olhou Miguel com impaciência.
- Se foi duas vezes medíocre, não adianta de nada.
- Se baseia numa experiência própria, Cristina?
- Pode ser – desviou ela – Mas isso não importa. Tenho que saber isso. Se você não foi bem, pode muito bem ser trocado. Deus sabe como Bárbara tem uma alta rotatividade de amantes. Então, você foi bem?
- Claro que sim.
- Garante? Isso é importante.
- Sim, Cristina.
Os dois ficaram em silêncio. Miguel a encarava com certa expectativa, enquanto Cristina se perguntava por que ele estava tão desanimado quando chegara, se tudo fora mesmo bem. Mas não importava. Se Miguel garantia, então estava tudo encaminhado. E era com isso que ela devia se importar, não com o que ele poderia ou não estar sentindo.
- Se você diz – falou, dando os ombros pouco antes de levantar-se e pegar Isabella no colo, desgrudando-a de Gregori – Marcou um próximo encontro, suponho.
- Sim, Cristina, mas eu...
- Ótimo. Continue assim, Miguel. Avise para sua mãe que tudo ocorreu bem e, que se quiser, passo mais informações depois. Tchau.
E foi-se com a filha.
-
As férias terminaram com um presságio particularmente funesto: o nascimento de Dimitri bem no meio na madrugada de domingo para segunda, fazendo Teresa acordar Cristina e Maurício e arrastá-los para o hospital junto com uma mulher em trabalho de parto, um marido nervoso e dois filhotes infernais. Olga acabou parindo seu terceiro filho em menos de duas horas, mas Cristina não teve tempo de dormir mais um pouquinho. Assim sendo, quando chegou ao Colégio das Irmãs, estava é muito puta da vida.
Assim, quando viu James e Tânia saindo do carro, seus piores instintos vieram à tona. Ela estalou o pescoço, estufou a barriga e foi até eles.
Nas partes das férias que não estava hibernando, cuidando de Isabella, armando contra Bárbara ou pensando em Miguel, Cristina estava pensando no que faria quando encontrasse James de novo. A última vez que haviam estado juntos fora no baile de formatura e, embora os eventos posteriores ao beijo tivessem sido muito mais divertidos do que Cristina esperava, não o haviam feito desistir do casamento. Ele estava mesmo decidido a agradar a mamãe ao casar e procriar com aquela coisa nojenta.
Cristina não deixaria isso acontecer. E já pensara como.
- Olá, James – disse assim que chegou perto do casal.
Ele só acenou com a cabeça bem de leve, enquanto Tânia direcionava a ela uma paródia de olhar ameaçador.
Cristina se aproximou mais um passo. Pôs as mãos sobre a barriga estufada e sorriu.
- Estou grávida – declarou.
James arregalou os olhos.
- Ah, de novo não – suspirou ele.
Esse foi seu grande erro, a reação. Se tivesse se controlado, poderia ter disfarçado na frente de Tânia. Mas o pânico faz os homens cometerem burrices inacreditáveis.
Como confessar um adultério.
Tânia virou o rosto incrédulo de Cristina para encarar James, que estava mais pálido do que já era naturalmente.
- Você... – parou, engoliu em seco e continuou, aumentando sensivelmente o tom de voz – Você dormiu com ela?
- Tecnicamente, não – começou Cristina – Só transamos, mesmo. Mesas de sinuca têm mesmo mil e uma utilidades.
Tânia pareceu ignorá-la com muito esforço. Queria ouvir James.
- Dormiram? – indagou, a voz angustiada feriando os ouvidos de qualquer um, mas com um subtom furioso já começando a aparecer.
James hesitou. Cristina rolou os olhos diante daquela baboseira romântica toda.
- Dormi – confessou ele finalmente.
Foi quando Tânia teve a primeira atitude de respeito desde que Cristina a conhecera. Respirou fundo e chutou James entre as pernas.
A cena que se seguiu foi tão bonita que Cristina até se afastou para observar melhor, com um pouco de inveja de Tânia – afinal, ela devia ter feito aquilo. James caíra no chão e praguejava de tanta dor, e, quando ele conseguiu levantar a cabeça, encarou Tânia com uma expressão que sugeria que estava repensando seriamente aquela ideia de não bater em mulheres.
- Traidor! – berrou Tânia, atraindo a atenção do colegiado presente para a cena – Seu hipócrita de merda! Deveria ter percebido quem você é depois que conheci a vaca da sua mãe. Sangue ruim sempre resiste.
James começava a tentar se levantar de novo, balbuciando alguma coisa em defesa, quando ela o chutou de novo, mirando evidentemente no mesmo lugar, mas acertando ao invés disso a parte inferior da barriga. Cristina, que quase aplaudira a garota na parte da mãe, começou a achar que ela estava sendo violenta em excesso. O homem agora parecia estar totalmente sem ar.
Tânia arrancou seu anel do dedo anelar e o atirou em cima dele.
- Pode dar para a sua prostituta! – berrou – Nosso casamento está cancelado!
A plateia estudantil fez Uhhh. Em seguida, Tânia abaixou-se, pegou as chaves do querido Alfa Romeo da mão de James, entrou no carro e arrancou, passando a meio metro de Cristina quando disparou para a saída.
James ainda estava se levantando quando todos ouviram a batida. Sem pensar na aula que teria que dar e nem ligar para as freiras que observavam a situação com ar crítico, enfiou o anel que pegara do chão no bolso e disparou para fora, com evidentes pensamentos sombrios sobre seu carrinho.
Cristina, satisfeita ao cubo, virou-se para os alunos.
- Olhando o quê? – indagou, usando sua voz de poder – Vamos saindo!
De má vontade, eles se dispersaram. Algumas irmãs sombrias ainda continuam lá, olhando Cristina com atenção, mas ela as ignorou. Ajeitou a bolsa no ombro e rumou para a sala dos professores para pegar seu material.
Ela não esperava que Tânia nocauteasse James – não daquela forma, pelo menos -, mas fora incrivelmente satisfatório. Sem dúvida, ele pagara por todos os seus pecados, e talvez mais um pouco.