Capítulo 41
1510palavras
2023-02-13 04:41
- Não.
James parou de falar no meio da frase e olhou para ela, sério.
- Cristina, isso não é realmente um pedido que você possa negar.
- E quem é você, meu chefe?
- Não, mas...
- Então você não pode fazer nada.
James ficou meio desconcertado, mas conseguiu se recuperar.
- Quando se trabalha em equipe, existe algo chamado cooperação. Principalmente quando um da equipe entrou de licença e uma turma está sem professor.
- Então eu não sou cooperativa. Fim.
E deu as costas para ele. James não desistiu e a seguiu.
- Eu posso ter uma conversa com a madre sobre isso – ameaçou ele.
- Ninguém pode me obrigar a aceitar uma carga maior do que já tenho – retrucou ela – Seria praticamente trabalho escravo.
- Então todos os professores de História já são escravos.
- Por que todos já são uns idiotas – respondeu ela – Inclusive um que trabalha numa universidade e ainda se submete a isso.
- Não consigo pagar minhas contas só com a universidade – justificou-se James.
- Já pensou então em controlar suas despesas?
- Improvável. É a minha qualidade de vida.
Cristina bufou.
- Se você diz – resmungou, ao mesmo tempo em que sentia seu celular vibrar dentro da bolsa – De qualquer forma, não vou assumir outra turma.
Ela pegou o celular e viu a mensagem. Apenas propaganda. Ano após ano, as operadoras não mudavam. Quando jogou o celular de volta na bolsa, viu o convite da festa de formatura que recebera mais cedo.
- Ei – fez ela para James, que continuava ali, à espera de mais uma chance para importuná-la, apontando para o convite – Você recebeu?
Ele assentiu.
- Mas Tânia não. Então, não vou.
O cérebro de Cristina foi imediatamente acionado. James poderia estar num lugar sem o polvo grudento. Isso parecia uma chance para ela.
- Ah, vai – pediu ela, pegando no braço dele – Por favor. Não quero ficar sozinha.
James ergueu as sobrancelhas.
- Lá, você pode ficar tudo, menos sozinha.
- Ah, por favor. Faço qualquer coisa.
Ele ficou interessado.
- Qualquer coisa?
Ela assentiu, aproximando-se.
- Qualquer coisa – repetiu.
- Isso é uma promessa?
- Se você for, pode apostar.
- Ótimo. Assuma a turma do oitavo ano que eu vou com você.
Cristina murchou.
- Filho da puta.
James sorriu como tivesse sido elogiado.
- Se você fizer isso, eu juro que vou ao baile.
Cristina ponderou se a troca valia a pena. Não valia, e ela decidiu desconsiderar sua decisão racional e optar pela emocional, que dizia exatamente o oposto.
- Tudo bem – concordou ela, suspirando – Mas acho bom mesmo você ir.
-
- Yuri.
O garoto olhou para ela.
- Ouviu o que eu disse?
Ele assentiu.
- Então repete – mandou Cristina.
O garoto ergueu os olhos, contrariado e com um mau-humor contagiante. Antes daquele dia, só fora duas vezes à casa do avô, e não era um programa que apreciava. Devia gostar mais do Guitar Hero 3D.
- Vou sorrir – começou ele, enquanto dava um riso forçado ilustrativo – E ser simpático. E conversar bastante com vovô.
Cristina ergueu as sobrancelhas.
- Só isso?
Yuri fez uma careta.
- Sei lá.
Cristina se agachou e o segurou pelos ombros, olhando-o firmemente.
- Não deixar o vovô olhar para o outro lado – recitou – Não o deixe tirar os olhos de você. Entendeu?
Yuri assentiu.
- Fale que entendeu.
- Entendi – resmungou ele.
- Pare de apertar o garoto, Cristina.
Ela ergueu os olhos e encarou Maurício. Relutantemente, largou Yuri, que se jogou, chateado, no sofá. Seu marido pegou seu braço e a levou para um canto da grande sala.
- Tem certeza disso? – perguntou.
- De usar o garoto para distrair o avô?
- Não, fazer Miguel de...
- Até parece que você está preocupado.
- Não – disse ele, muito sério – É com Olga.
- Por quê? Só porque ela saiu batendo o pezinho naquele...
- Cristina, ela está grávida.
Cristina ficou muda por alguns segundos, em choque.
- De novo? O segundo acabou de fazer dois anos!
Maurício balançou a cabeça, indicando sua desaprovação.
- Eu sei. Também acho isso. Principalmente o pai sendo o meu irmão.
Cristina concordou, distraída. Não confiaria em Miguel para cuidar nem de um cachorro, quanto mais de uma criança. Três, melhor dizendo.
Pela segunda vez, Cristina perguntou-se se Olga Rachmaninoff sabia o que era camisinha, pílula anticoncepcional, qualquer coisa. Se continuasse daquele jeito, Teresa podia esperar bem uns oito netos.
Porém, Cristina sabia que ela não era muito chegada na coisa – não como ela própria, pelo menos. Então, podia ser que o problema não fosse Olga e sua ignorância sobre anticoncepcionais, mas sim Miguel e sua fertilidade.
Nesse caso, Cristina podia engolir em seco e começar a se preocupar, se a sua menstruação já não tivesse descido desde a última longínqua vez que eles haviam ficado juntos. De qualquer maneira, desde a questão da paternidade de Isabella, ela tomava muitos cuidados para jamais repetir alguma coisa como aquela.
- Mamãe já contou, pelo visto.
Cristina quase morreu de tanto susto. Depois de se recuperar, olhou para Miguel, que acabara de fechar a porta de fininho. Um segundo depois e o filho mais velho já estava agarrado às suas pernas.
- Não sabia que era segredo – comentou Maurício, enquanto Cristina analisava seu ex-amante detidamente.
- Não é – respondeu Miguel – Yuri até já escolheu o nome.
- Escolhi sim – confirmou o moleque – Dimitri.
Cristina franziu a testa, perguntando-se se Olga alfabetizava seus filhos em russo.
- E se for menina? – perguntou Maurício.
- Não vai ser.
Cristina ergueu os olhos de Yuri para Miguel.
- Já sabem o sexo?
Miguel assentiu.
- Outro menino – disse com certa infelicidade.
Cristina sorriu. O lugar de sua filha no coração da vovó continuaria indisputado.
- Precisamos conversar – disse ela – Sobre a sua visita hoje. Yuri, não quer ver os passarinhos da vovó? Vá com seu tio.
Eles foram sem contestar, deixando Cristina e Miguel a sós na sala. Assim que se certificou que estavam realmente sozinhos, e que Teresa, recuperada da fortíssima enxaqueca que a derrubara na cama, não os espiava, ela adiantou-se uns bons centímetros e respirou fundo perto dele. A pele do seu rosto roçou numa camisa macia.
- Cristina, o que você...
- Cigarro – decretou ela, erguendo a cabeça para encará-lo – Falei para não fumar nessa semana que iria à casa do seu pai.
- Você não...
Cristina o beijou.
Na verdade, a intenção não era aquela. Era somente enfiar a língua na boca dele para saber se ele andara bebendo. Um segundo de contato, apenas. Mas Miguel não entendeu assim, e, no momento que seus lábios se tocaram, a envolveu com os braços e a puxou para si, pressionando e sufocando Cristina com seu beijo e seu corpo.
Quando ela finalmente se desvencilhou, vermelha e sem ar, soube que nunca, desde o primeiro dia que o vira, tivera qualquer chance para resistir àquilo, mesmo quando seu subconsciente adotara a estratégia da culpa. Miguel era simplesmente gostoso demais para resistir.
Mesmo assim, ela tinha que manter sua pose.
- Está louco? – vociferou ela, irritada – E se alguém visse?
- Foi você que me beijou – disse ele, convencido.
- Para saber se você também estava com gosto de bebida na boca – ralhou ela, pegando um vidrinho de perfume da calça jeans – Vem aqui.
Miguel foi, feliz, mas Cristina apenas espirrou algumas gotas daquele líquido no pescoço dele.
- Perfume – esclareceu ela antes que ele abrisse a boca para perguntar – Para disfarçar esse maldito cigarro. E aqui – acrescentou, esticando uma pequena embalagem para ele – Halls. Disfarça o hálito.
- Odeio Halls – reclamou ele, mas enfiou o troço no bolso.
- Não interessa. Além disso, existem outras utilidades para ela. Aposto que você já ouviu falar do truque mágico da Halls preta.
- Truque mágico da... Ei, Cristina. Não vou fazer isso com ela hoje.
Ela ergueu as sobrancelhas.
- Não? Você não me parece que nega sexo quando tem uma mulher à disposição. Sei fazer contas, Miguel. Esse novo bebê foi concebido quando você ainda estava comigo.
- E daí, Cristina? – questionou ele, desafiador - Olga é minha esposa. Não quero acabar com meu casamento. Além disso, se você está me cobrando fidelidade, está sendo hipócrita. Você transava com seu cunhado, e tinha outros amantes.
- Outros amantes? – repetiu Cristina, enfurecida com aquela súbita amostra do veneno dele.
- Sim. Tenho certeza que um tipo como você não ia ficar satisfeita só com um.
Cristina avançou para cima dele disposta a arranhar aquela cara estúpida toda, mas ele conseguiu segurar e empurrá-la de volta para a parede.
- Espero que morra de sífilis, idiota – sussurrou ela, cheia de raiva no coração, e foi para a cozinha, seguindo os sons das risadas de Yuri.