Capítulo 40
1161palavras
2023-02-10 04:47
- Olga me disse que você já foi amiga de Bárbara Nascimento.
Cristina relanceou os olhos para Teresa, à cabeceira da mesa, para Olga, sentada logo a sua frente. Esta lhe lançou um olhar absolutamente neutro.
- Fui – respondeu a contragosto – Mas já tem muito tempo.
- O que aconteceu?
- Ela tentou roubar o meu marido.
- Na época, ex-marido – lembrou Olga com delicadeza, e acrescentou – Ela também foi amante de Miguel.
- Ah, claro – disse Teresa – Isso quer dizer que ela está rondando essa família há tempos. E foi você quem a trouxe, Miguel.
Miguel se empertigou todo.
- Não fiz nada. Como eu ia saber quem ela era? Em último caso, quem fez isso foi a Cristina.
Cristina o fuzilou com o olhar.
- Não fui eu quem subiu na cama dela – comentou, venenosa.
- Você não pode falar nada sobre... – parou quando Cristina lhe mandou um olhar de alerta - ...ah, esquece.
Agora ela entendia por que Olga parecia frequentemente à beira do divórcio com Miguel; ele falava certas coisas que podiam ser muito estressantes. Como, por exemplo, duas noites antes, quando ele comentara, depois deles terem ido para a cama, como seus seios pareciam em queda constante após os meses de amamentação de Isabella.
Ela brigou com ele depois disso. Mas talvez as coisas tivessem ficado menos ruins se Cristina não tivesse falado que o único motivo que ele sempre roubava as namoradas do irmão era porque este demorara a perder a virgindade, porque Maurício era muito melhor de cama. Isso piorara sensivelmente a situação.
Agora, os dois estavam se estranhando. E, do jeito que estavam se alfinetando, sem muita chance de reconciliação. O que era uma pena, porque a coisa sobre Maurício ser melhor de cama não era verdade. De jeito nenhum.
- O que era? – perguntou Teresa.
- Nada importante – respondeu Cristina com displicência – É que Miguel às vezes é um pouquinho idiota.
Do seu lado, Maurício abriu um grande sorriso. Miguel fechou a cara para ela e desviou o olhar, suspirando quase imperceptivelmente.
- Não posso realmente desmentir essa acusação – concedeu Teresa.
- Depois dessa, eu saio da mesa – ameaçou Miguel, se levantando, agora relampejando mal humor.
- Não, não sai – mandou a mãe.
Miguel se soltou de volta na cadeira, irritado.
- Mas vamos ao que interessa – continuou ela – Quero me livrar dessa mulher. Preciso de conselhos. Vamos, falem.
Ninguém disse nada a princípio.
- Bem – começou Cristina devagar – Antes de dar conselhos, acho que precisamos de um plano já montado. Digo, suponho que não precise disso só para dar um tiro nela.
Maurício a encarou horrorizado.
- Não tinha pensado nisso – disse Teresa lentamente – Parece bom.
- Mãe! – exclamou Maurício – Ninguém mata ninguém. Por favor.
- É só que parece mais fácil – argumentou ela – Não precisaria de nenhum esquema elaborado para tirá-la daqui.
- Nem sempre o mais fácil é o melhor caminho – rebateu ele – Se fosse assim, Gandalf e Frodo teriam montado numa das águias gigantes e jogado o anel do monte Doom, ao invés de terem ido por todo o caminho a pé.
Todos olharam intrigados para ele.
- Senhor dos Anéis – explicou ele, corando um pouco – Ninguém leu o livro?
Ninguém disse nada.
- Precisamos de ideias – declarou Teresa com autoridade depois de alguns segundos, esquecendo o tópico anterior – Ideias concretas. E não vejo quem melhor do que você, Cristina, para nos fornecer isso.
Cristina olhou para Miguel.
- Eu vejo – disse, suave.
Miguel se fez de desentendido.
- Eu o quê? – perguntou finalmente, encarando-a com firmeza.
- Não se faça de idiota, Miguel. Você foi amante dela por muitos anos.
- E você foi amiga dela por muitos anos – observou Olga de volta.
- Compartilhar a cama é outra coisa.
- Se é assim, Maurício também pode ajudar.
- Só jantei uma vez com ela – defendeu-se Maurício.
- Claro que sim – disse Olga, soando puramente descrente.
- Por que não teria sido? – atacou Cristina, sentindo-se ofendida – Não é por que o seu marido te traiu um milhão de vezes que todos são...
- Parem.
As duas desgrudaram o olhar, relutantes, e se viraram para Teresa.
- Não convoquei vocês para discutirem entre si – prosseguiu ela – Quero uma solução para o meu problema. Aliás, nosso problema.
- Estou tentando – disse Cristina baixinho.
- Teve alguma ideia? – perguntou Teresa.
- Sim.
- Diga.
Ela respirou fundo, as engrenagens de sua mente funcionando a toda velocidade.
- Quanto Adriano ficaria aborrecido se fosse traído?
- Aborrecido seria um eufemismo – respondeu Teresa imediatamente.
- Pois então.
- Qual é a parte que meu marido entra? – perguntou Olga, ainda disposta a brigar.
Cristina meramente pousou os olhos nela.
O silêncio reinou enquanto todos processavam.
- Você quer oferecer o meu marido para Bárbara Nascimento? – perguntou Olga, pálida e furiosa, enquanto Miguel encarava Cristina, estupefato.
- Se você quiser interpretar nesses termos, sim – confirmou, sorrindo - Não seria a primeira vez.
Olga assentiu.
- Pensando com outra lógica, seria melhor oferecer Maurício.
O sorriso se Cristina se dissolveu enquanto Maurício arregalava os olhos.
- Se é verdade que eles nunca ficaram juntos, seria alguém que ela cobiçaria. Um desafio, por assim dizer.
- Bárbara não pensaria dessa forma. Não há motivo para ela querer Maurício, agora que tem o pai dele e, indiretamente, todo o dinheiro. Acredite, eu a conheço.
- Conhece? Mesmo agora, depois de tudo o que ela fez?
Cristina resolveu apelar.
- E o que você acha? – perguntou, olhando para Teresa.
Teresa ergueu os olhos, pensativa.
- É um bom plano – disse por fim – Adriano ficaria furioso. É um homem muito possessivo. Não ficaria surpresa se essa mulher fosse expulsa da casa aos pontapés.
- E quem seria? – inquiriu Olga, ainda com um quê de tom ofensivo – Maurício ou Miguel?
Teresa variou o olhar entre seus filhos.
- Miguel – declarou.
Olga ergueu o rosto furioso, disparou um olhar mortal para Cristina e ergueu-se da cadeira, pisando com força enquanto ia embora. Miguel continuou sentado, aturdido. Maurício suspirou de alívio.
- Graças a Deus – disse ele depois que Olga bateu a porta, apertando a mão de Cristina por baixo da mesa – Não faço esse estilo.
- E eu pareço gigolô, por acaso? – questionou Miguel, aborrecido.
- Na verdade... sim.
Miguel bufou.
- Não se faz de vítima, Miguel – provocou Cristina - Todos sabem que isso não vai ser difícil para você.
Miguel fez uma careta.
- Não gosto de estar sendo ofe...
- Falando nisso, aliás – interrompeu Teresa – Como o colocaremos lá dentro? Digo, ele precisa de uma desculpa para entrar lá.
Cristina sorriu. Já pensara naquilo.
- Precisaremos de outro homem – respondeu.